
A razão por meio da ciência
Fabiano Agrela Rodrigues
Os mecanismos cerebrais por detrás da persuasão
- Partilhar 09/06/2022
Quando pensamos um pouco sobre o tema
conseguimos compreender que, ao longo da
nossa vida quotidiana somos constantemente
confrontados, em diferentes níveis de
intensidade, com tentativas de persuasão.
Este tema está diretamente relacionado com a
neurociência pois, de certa forma, podemos
estudar que processos neurobiológicos estão
subjacentes.
O nosso comportamento
enquanto seres humanos é afetado, de
variadíssimas maneiras por diversas formas
de persuasão pois esta é uma das formas
fundamentais de influência social na tomada
de decisões humanas. A persuasão tem relação
com a integridade de diferentes conexões
cerebrais, que tem como referência o córtex
pré-frontal no controle emocional,
criatividade, entre outras regiões
participando os lobos temporal, parietal e
occipital.
A nossa sociedade
condiciona-nos no nosso dia-a-dia. Estamos
na era do imediato, do fácil acesso, de
informações que chegam a uma velocidade
nunca vista. Hoje em dia cada um tenta
vender uma imagem, uma teoria, um produto,
uma verdade. Os chamados peritos, experts,
influencers, coachs nada mais são que
peritos em persuasão.
Vários estudos
já mostraram que associar um produto ou uma
ideia a uma celebridade ou a uma influencer
altera a forma como o percepcionamos e ajuda
a que esse permaneça na memória. Este tipo
de ação resulta numa modulação a longo prazo
da memória, induz à actividade lateral
esquerda do cérebro devido à maior
elaboração de pares celebridade-objecto, ou
seja, a recuperação e processamento de
informação semântica (social) relacionada
com a celebridade e o objecto.
Há um
lado emocional que fica ativado quando
usadas estas estratégias que resulta numa
recuperação das atitudes iniciais dentro da
amígdala e do córtex insular. Face ao que
tem sido revelado nos últimos estudos sobre
o tema, não tenho qualquer dúvida que
pessoas com grande poder persuasivo modulam
a actividade num conjunto de regiões
cerebrais envolvidas na aprendizagem de
comportamentos de confiança e na codificação
de regiões cerebrais envolvidas na
aprendizagem de comportamentos de confiança
e na codificação de memória declarativa que
provavelmente permite uma persuasão eficaz.
Regiões da vida: Núcleos da base e sistema límbico
- Partilhar 27/04/2022
Quando pensamos no que somos, em qual a
nossa essência, a resposta pode variar de
acordo com as nossas vivencias,
experiências, cultura, conhecimento, entre
uma infinidade de outras coisas. Mas afinal
o que nos faz e torna humanos? Num artigo
científico recentemente aprovado e publicado
na revista científica Ciencia Latina, o qual
denominei de “Regiões da vida: Núcleos da
base e sistema límbico", tentei responder a
essas questões que tocam a cada um de nós.
Dessa forma, tentei demonstrar que o
ser humano é o que os neurônios sensitivos
tomam de conhecimento para que seja
armazenado em engramas de memórias. É esse
processo que faz o ser humano ser quem é.
Desde a gestação, o código genético humano
já pré-determina a personalidade que será
moldada pela experiência dos sentidos e
armazenada em forma de memória, ou seja, o
ser humano é suas memórias.
Devido a
essa compreensão óbvia, o objetivo desse meu
estudo foi pontuar todas as regiões
cerebrais relacionadas com a memória, com
tudo o que o indivíduo faz que determina o
engrama necessário para formar quem ele é:
as regiões do cérebro relacionadas ao que o
formata como ser humano.
Ao longo do
artigo tratei de forma sucinta o cérebro em
especial o córtex pré-frontal, os
neurotransmissores, os núcleos de base e o
sistema límbico envolvidos na formação de
memórias. Ou seja, o sistema límbico
associado às demais áreas do cérebro atua
efetivamente na memória, nas emoções
associadas ao hipotálamo e na área
pré-frontal. Sendo assim, pode se dizer que
o cérebro recebe informações e as organiza
para distribuir suas funções no corpo
humano, atuando no arquivamento das
memórias, sensações de prazer, sentimentos,
aprendizagens.
Estudo publicado na
Revista Ciência Latina
O sequestro da amígdala:
Como se pode formatar uma sociedade inconsciente
- Partilhar 08/04/2022
A terminologia "sequestro da amígdala"
pretende identificar que temos uma estrutura
antiga no nosso cérebro, a amígdala, sendo
que esta é projetada para responder
rapidamente a uma ameaça.
Mesmo que o
objetivo primário seja proteger-nos do
perigo e das ameaças, ela pode intrometer-se
nas nossas ações no mundo moderno, onde as
ameaças geralmente são mais subtis por
natureza.
Quando vê, ouve, toca ou
saboreia algo, essa informação sensorial vai
primeiramente para o tálamo, que atua como
estação de retransmissão do cérebro.
Seguidamente, este retransmite essa
informação para o neocórtex (o “cérebro
pensante”). Já no neocórtex as informações
são enviadas para a amígdala (o “cérebro
emocional”) que produz a resposta emocional
que considera apropriada.
Contudo,
quando enfrentámos uma situação que é
interpretada como uma ameaça, o tálamo envia
informações sensoriais tanto para a amígdala
quanto para o neocórtex. Se a amígdala
sentir o perigo, esta toma uma decisão muito
rapidamente, em frações de segundo, para
iniciar a resposta de luta ou fuga antes que
o neocórtex tenha tempo de anulá-la.
Esta catadupa de eventos acaba por
desencadear a libertação de hormónios
relacionados com o stress, incluindo os
hormónios epinefrina (também conhecido como
adrenalina) e cortisol.
Esses
hormónios dispõem o corpo para reagir ou
fugir, aumentando a frequência cardíaca,
elevando a pressão arterial e ampliando os
níveis de energia, entre outras coisas.
Embora muitas das ameaças que
enfrentamos hoje sejam simbólicas,
evolutivamente, os nossos cérebros
progrediram para lidar com ameaças físicas
que colocavam em causa a nossa sobrevivência
que impunham uma resposta rápida. Como
resultado, o nosso corpo ainda responde com
mudanças biológicas que nos preparam para
lutar ou fugir, mesmo que não haja uma
ameaça física real que tenhamos de
enfrentar.
Estudo com ratinhos comprova que sentimento de solidão está ligado à hormona amilina
- Partilhar 15/02/2022
Os resultados do estudo determinam que a
amilina é o protagonista no cérebro,
necessário para detectar e buscar contactos
sociais.
Buscando entender a base
neural da solidão, que já era percebida
antes do confinamento durante a pandemia de
Covid-19 por causa da cultura tecnológica e
das redes sociais, uma pesquisa liderada por
Kansai Fukumitsu da RIKEN Center for Brain
Science (CBS) no Japão, encontrou um
indicador molecular e regulador do
isolamento social em ratinhos de laboratório
fêmeas.
Tendo em vista que a solidão
é um problema que precisa de atenção, é
necessário entender melhor o estudo e de que
forma ele poderia interferir nos humanos,
após encontrarmos similaridades na memória
primitiva, burla de código genético e
processo evolutivo. Está determinado em
nosso código genético a necessidade de
interação e quando burlamos esta
determinação, sofremos consequências que
podem elevar a ansiedade e trazer danos para
a saúde mental.
O novo estudo relata
que o comportamento de busca de contato
social em ratinhos de laboratório é
impulsionado pelo peptídeo amilina, um
hormônio amiloidogênico sintetizado e
co-secretado com insulina pelas células β
pancreáticas, na área pré-óptica medial
(MPOA) do prosencéfalo, e que estar sozinho
diminui a quantidade de amilina nessa região
do cérebro.
A sinalização do
receptor de amilina-calcitonina (Calcr) na
área pré-óptica medial (MPOA) medeia
contactos sociais afiliativos entre ratinhos
de laboratório fêmeas adultas. Após o
isolamento, a primeira reação foi a busca
pelos contactos, depois comportamentos
depressivos, ansiedade, em paralelo a perda
da expressão do mRNA da amilina no MPOA.
Isso quer dizer que a socialização física
ativa os neurônios que expressam amilina e
Calcr e leva a uma recuperação da expressão
do mRNA da amilina.
Cientistas desde
Darwin já vinculavam essa afiliação social
como evolutivo do cuidado parental. Os
resultados do estudo determinam que a
amilina é o protagonista no cérebro
necessário para detectar e buscar contatos
sociais.
Os pesquisadores
descobriram que seis dias de isolamento
levaram ao desaparecimento quase completo da
amilina, que voltou ao normal duas semanas
depois que os ratinhos de laboratório se
reuniram com seus companheiros de gaiola.
Isso leva-nos a pensar sobre como o
confinamento, assim como a falta de
interação, pode prejudicar a homeostase e a
outros problemas que afetam a saúde mental.
Microinfartos cerebrais corticais
estão relacionados à atrofia cortical
perilesional
- Partilhar 25/01/2022
Indivíduos com microinfartos cerebrais
corticais (CMIs) apresentam atrofia cortical
perilesional em uma grande área e isso pode
comprometer a cognição que está relacionada
ao CMI. Mesmo que estes já tenham sido
relacionados ao declínio cognitivo em
indivíduos com doenças como a demência, os
mecanismos sobre essa relação ainda não são
compreendidos de maneira adequada.
Estudos já fornecem evidências que danos
perilesionais contribuem de maneira
significativa para a atrofia cortical global
em pacientes com CMI. Isso pode auxiliar na
percepção dos impactos do CMIs na estrutura
do cérebro e no desempenho de funções de
modo geral.
Os CMIs podem funcionar
como marcadores de doenças
cerebrovasculares. Por isso é tão importante
estudar profundamente a relação entre o CMIs
e essas doenças, pois quanto mais
compreensão obtivermos sobre o tema, melhor
poderemos debater possíveis soluções e
tratamentos para as pessoas afetadas.
Os estudos comprovaram que os CMIs
afetam a estrutura cerebral além da área
lesionada. A presença de CMI também foi
associada à redução do comprometimento
cognitivo e a espessura cortical global teve
um efeito significativo na relação entre a
presença de CMI e MMSE.
Ou seja,
apesar de saberem da relação entre a
presença de CMI e o declínio cognitivo,
somente agora a ciência começa a explorar
tais fatos de maneira aprofundada. Mais uma
vez, podemos perceber o quanto é fantástico
o que descobrimos quando começamos a estudar
o cérebro profundamente. É um local no qual
as descobertas nunca cessam, por isso,
acredito que mudanças transformadoras estão
por vir.
Neurociência no tratamento dos transtornos depressivos
- Partilhar 02/12/2021
A neurociência é a parte da ciência que
estuda o sistema nervoso, principalmente o
cérebro. Entender o sistema nervoso humano e
suas limitações, é uma chave crucial para
melhor tratar transtornos como a depressão.
O cérebro doente desenvolve um corpo doente
e um corpo doente desenvolve um cérebro
fraco em todos os aspectos.
Um bom
funcionamento do sistema nervoso se pauta em
uma boa conexão entre neurônios, dendritos,
corpo celular, axônios e fenda sináptica.
Quando a conexão do SNC falha, promovem-se
alterações demonstradas pela ausência,
redução ou excesso de neurotransmissão ou
tempestades elétricas. Estudos apontam que 1
a cada 5 pessoas podem apresentar doença
mental durante a vida e aproximadamente 4%
da população sofre de transtorno mental
crônico grave.
Atualmente, a
depressão tem sido considerada o grande mal
que afeta a sociedade civil. A Organização
Mundial da Saúde (OMS), aponta que, no mundo
todo, cerca de 350 milhões de pessoas
convivem com a depressão, classificando o
quadro, inclusive, entre as doenças
degenerativas que desenvolvem mortes
prematuras. A depressão não é um problema
nos neurotransmissores e sim um problema
anatômico do cérebro, que prejudica o
funcionamento dos neurotransmissores. O
cérebro é plástico, logo, traumas ou
impactos constantes no humor podem moldá-lo
de maneira prejudicial.
A depressão é
caracterizada por uma aflição orgânica,
psicológica, ambiental e espiritual. É uma
espécie de angústia que impacta diretamente
no humor e é seguida por perda de interesse,
de prazer e alegria na vida. Com a angústia
e a aflição, a pessoa desenvolve dores
físicas e psicológicas, gerando um ciclo de
sofrimento tão intenso que parece não ter
fim.
Além disso,
os pacientes têm que enfrentar preconceitos
que podem agravar o quadro sendo, muitas
vezes, visto como um preguiçoso ou acomodado
pelas pessoas que estão próximas a eles. Ou
seja, ao invés de receber socorro, recebem
mais uma dificuldade para driblar. É
importante ressaltar que, sem o devido
tratamento e atenção médica de qualidade, os
pacientes apresentam recaídas e um ciclo de
euforia e retorno do quadro depressivo até
pior do que o anterior.
Por isso,
compreender os aspectos neurobiológicos dos
transtornos mentais são importantes para a
aproximação da neurociência e da
psiquiatria. Ainda é necessário avançar em
tratamentos melhores, mais rápidos e
eficientes. Estudos de terapia como a EDMR,
que estimula o cérebro a processar memórias
perturbadoras, estão ganhando espaço no
tratamento para alívio dos sintomas. Vários
aspectos estão sendo compreendidos pelos
clínicos e cientistas, permitindo uma melhor
compreensão do estado crítico nos
transtornos de humor e abrindo caminhos para
a busca de técnicas mais eficazes de
diagnóstico, tratamento, prevenção suicídio
e eventuais sequelas cognitivas.
Link do estudo: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v5i6.1149
Estudo revela a importância de gene na incidência do Parkinson
- Partilhar 20/11/2021
A doença de Parkinson, caracterizada por
tremores, instabilidade muscular, rigidez,
contrações e outros, é um problema global
que afeta todas as etnias e, uma vez
instalada, representa inúmeros prejuízos
para os pacientes e para a economia e saúde
mundiais de forma geral. O estudo de
associação genômica ampla (GWAS), revelou
que a incidência da doença está crescendo no
mundo todo, porém, nos Estados Unidos, por
exemplo, foi percebido um maior número de
casos de Parkinson relacionados a pessoas
latinas e hispânicas.
O estudo
abrangeu materiais recolhidos do Uruguai,
Peru, Chile, Brasil e Colômbia e os
resultados apontaram que pessoas hispânicas
e latinas têm uma tendência de terem uma
mistura padrão de três vias: africana,
europeia e ancestrais nativos americanos.
Além disso, foi percebida uma maior
estimativa de hereditariedade do que nos
europeus.
Estima-se que para uma
pessoa desenvolver a doença de Parkinson,
50% dos fatores são relacionados ao ambiente
e a qualidade de vida como alimentação,
poluição e estresse e os outros 50% são
relacionados à genética. Dentro do nosso DNA
existem pequenas diferenças, chamadas de
polimorfismos e estas podem aumentar ou
reduzir riscos de algumas enfermidades.
A pesquisa foi feita para explorar a
genética da doença de Parkinson na América
Latina, o que representa um importante passo
por considerar as individualidades de
pessoas miscigenadas, o que pode levar a
revelar dados que se apliquem diretamente às
nossas particularidades.
De acordo
com os resultados obtidos, o gene SNCA, que
abriga a proteína alfa-sinucleína, tem áreas
associadas ao surgimento da doença. Além
disso, outros dois genes foram apontados
como relacionados à doença de Parkinson,
porém na análise específica para indivíduos
com ancestralidade ameríndia e africana.
Essas descobertas demonstram a importância
de incluir outras etnias nos estudos da
doença de Parkinson. Pois, talvez assim,
possa-se caminhar em direção a descoberta de
uma cura.
Perda progressiva de memória em pacientes recuperados da Covid-19
- Partilhar 06/10/2021
Mesmo anulando a hipótese da Sars-CoV-2 /
Covid-19, já estávamos a sofrer devido às
dificuldades na memorização. A cultura de um
povo, vinculada à ansiedade e como esta é
conduzida, assim como fatores genéticos, são
precursores para as consequencias/sintomas
que podemos observar em pacientes
recuperados da Covid-19, entre eles,
dificuldade de concentração, raciocínio e
memória. Neste artigo, de forma resumida,
escrevo sobre a relação do novo coronavírus,
Covid-19, com o sistema nervoso central, que
pode resultar em sequelas permanentes ou
progressivas no foco atencional,
compreensão, memória e como tentar reverter
este quadro mediante a neuroplasticidade
cerebral. Efeitos da infecção também têm
relação com uma maior propensão a episódios
de trombose, AVC, insuficiência renal e
cardíaca, fibrose pulmonar, entre outros
fatores, mas o foco será na minha área,
neurociência e mais especificamente na
memória.
O Instituto do Coração
(InCor) do Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo (USP), no Brasil,
mostrou que 80% das pessoas recuperadas da
Covid-19 apresentaram perda de memória.
Solicitei aos psicólogos membros do Centro
de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), um
relatório dos recuperados e também relataram
um alto índice desses sintomas como;
dificuldade de concentração, problemas de
compreensão, sonolência, falta de
equilíbrio, problemas no raciocínio e na
memória. Os dados do Brasil não
necessariamente refletem os mesmos números
percentuais de outros países uma vez que
outros fatores interferem, entre eles, o
facto do brasileiro ser considerado o povo
mais ansioso do mundo, segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS). Um
estudo no centro médico académico Cleveland
Clinic, nos Estados Unidos, publicado na
revista médica “Alzheimer`s Research &
Therapy” aponta que a Covid-19 é capaz de
provocar neuroinflamações semelhantes às
causadas pela doença de Alzheimer,
comprovando que o vírus pode ter impacto em
vários genes ou vias envolvidas na
neuroinflamação e lesão microvascular
cerebral. Este estudo confirma que proteínas
presentes no Sars-CoV-2 / Covid-19 permitem
que o vírus ultrapasse a barreira
hematoencefálica, que é uma estrutura de
permeabilidade altamente seletiva que
protege e bloqueia a entrada de substâncias
neurotóxicas no sangue para o cérebro.
Uma análise de dados publicado na
revista científica “The Lancet Psychiatry”
com dados de 236.379 pacientes, revelou que
um a cada três infectados pelo Covid-19
foram diagnosticados com efeitos
neurológicos seis meses após a infecção.
Outros estudos apontam casos de sequelas
neurológicas em pessoas com outras doenças
como Síndrome Respiratória Aguda Grave
(Sars-CoV-1), Síndrome Respiratória do
Oriente Médio (MERS) com comprometimento
continuo de memória e défices cognitivos. Há
então relação das doenças respiratórias mais
graves com o foco atencional para um
processo de memorização. A névoa no cérebro,
impedindo a capacidade de pensar com
clareza, foram os relatos de diversos
pacientes.
A atenção, a depender do
tipo, envolve regiões no cérebro como a
formação reticular e suas ligações como as
áreas frontais, estruturas límbicas, tálamo
e os gânglios basais, quando é um sistema
ativador reticular ascendente ou rede de
alerta. Áreas relacionadas com o córtex
parental posterior, núcleo pulvinar lateral
do tálamo e o colículo superior no sistema
atencional posterior ou rede de orientação.
Área relacionada com o córtex pré-frontal
dorsolateral, córtex orbito-frontal, córtex
cingulado anterior, área motora
suplementária e o núcleo caudado no sistema
atencional anterior ou rede de execução, ou
seja, o foco atencional tem relação com o
sistema límbico, núcleos da base no cérebro
e os córtices. Analisando o cérebro de
pessoas com o transtorno mais conhecido da
atenção que é o Transtorno por Défice de
Atenção com Hiperatividade (TDAH), onde a
pessoa tem dificuldade para enfocar,
controlar a atenção e na conduta,
descobriu-se diferenças anatómicas no núcleo
accumbens, no núcleo caudado, no putâmen, na
amígdala, hipocampo, tálamo e nas áreas
pré-frontais.
As células neuronais
precisam de um fluxo ininterrupto de
oxigénio para seu correto funcionamento, foi
relatado uma queda do nível de oxigénio
sanguíneo em alguns pacientes com SARS-CoV-2
que pode ser denominada como hipóxia
silenciosa, que tem como sintomas falta de
ar, fadiga, desorientação, confusão, perda
de memória, problemas cognitivos, entre
outros. Os astrócitos podem modular a
respiração liberando ATP que age em um
receptor específico no neurónio controlando
a respiração. Essa relação dos astrócitos,
“ajudantes” dos neurónios e o sistema
respiratório, justificam os danos cerebrais
consequente a doenças respiratórias graves.
Os astrócitos são células gliais que
servem como suporte protegendo, sustentando
e nutrindo os neurónios através da corrente
sanguínea. O SARS-CoV-2 o usa como veículo
para infectar o cérebro, mesmo esta glia
tendo a função de manter as partículas
nocivas à distância. Os astrócitos são
infetados pelo vírus porque expressam a
proteína ACE2 a que o vírus se "agarra". As
mitocôndrias dos astrócitos, responsáveis
pela produção de energia, se alteram devido
a diminuição dos níveis de piruvato, como
consequência do lactato pelo maior consumo
de glicose da célula infectada,
influenciando neurotransmissores como
glutamato, relacionado com a memória e o
aprendizado e o GABA, inibidor de disparo
excessivo que promove a sensação de calma e
relaxamento.
A perda de memória é
relatada em muitos casos e em alguns pode
ser irreversível como qualquer modificação
no organismo, mas o cérebro é plástico,
podendo recuperar o funcionamento mediante
práticas que favoreçam a neuroplasticidade.
Exercícios para melhorar a função cognitiva
podem ajudar a combater o problema, a
depender do caso, pode ser necessário o uso
de medicamentos e/ou suplementação. O
treinamento cerebral envolve aprender coisas
novas, saindo da zona de conforto com
mudança de hábitos, exercícios, dieta
direcionada à memória, exercícios de lógica
e jogos de memória.
Estamos vivendo um coletivo de transtorno de personalidades dramáticas
- Partilhar 13/09/2021
Fatores sociais, hábitos do cotidiano, uso
exacerbado de aparelhos tecnológicos,
estresse, conflitos pessoais, além, é claro,
de fatores genéticos, podem alterar o
funcionamento do cérebro. Apesar de estar
sempre em mudança e em busca de adaptações,
os transtornos de personalidade que afetam
diretamente esse órgão, como o narcisista e
o histriônico, eram vistos pela ciência
apenas como patológicos inatos, ou seja,
nasciam com a pessoa. Porém, um estudo
recente questionou a tese e comprovou que,
assim como outros transtornos de
personalidade, tais distúrbios podem ser
decorrentes de fatores adquiridos, inclusive
na fase adulta e relacionado com esses
hábitos.
Vale ressaltar que o
transtorno de personalidade pode ser natural
ou patológico, levando a outras vertentes
que prejudicam a saúde mental, bem como a
expressão comportamental em sociedade. O
estudo "Neuropersonalidade e neuroterapia"
mapeou esses comportamentos e os
neurotransmissores relacionados a cada um
deles, criando assim, um tipo de terapia
personalizada e baseada no perfil bioquímico
do paciente.
Os neurotransmissores
são mensageiros químicos que podem
transmitir, estimular e equilibrar os sinais
entre os neurônios ou outras células do
corpo e esses bilhões de mensageiros
químicos podem afetar uma variedade de
funções físicas e psicológicas como
frequência cardíaca, apetite, sono, medo,
emoções respiração, aprendizagem,
concentração entre outras diversas funções.
A partir de conhecimentos prévios e de
relatos de pacientes, foi criada a chamada
neuroterapia, um tratamento personalizado
com o determinante bioquímico, ou seja, os
neurotransmissores específicos a cada
personalidade. Todos os neurotransmissores
estão envolvidos em processos que resultam
na personalidade. A rede neural é conectada
e o mau funcionamento de um neurotransmissor
pode acarretar mau funcionamento de outros.
Ou seja, foi comprovado o que já havia sido
previamente revelado pela neuroplasticidade,
onde novas conexões são formadas, formatando
assim uma personalidade relacionada às
disfunções no sistema límbico do cérebro
acarretando em transtorno de personalidades
dramáticas, como Borderline, Histriônica,
Narcisista, entre outros.
Há,
atualmente, um coletivo de transtornos de
personalidades dramáticas que tem como
alguns sintomas: se fazer de vítima, pensar
ter razão o tempo todo, não buscar
conhecimento pleno, manipulação,
incoerência, memória prejudicada,
dificuldade no foco atencional, oscilações
de humor, selecionar culpados sem analisar a
si mesmo, falta de empatia, tentar chamar a
atenção, provocadores, sensação de
merecimento, inveja, arrogância, entre
outros.
A teoria da neuroterapia foi
criada com o determinante bioquímico, ou
seja, com foco nos neurotransmissores
específicos à personalidade, já que está
relacionada aos agentes bioquímicos que
conduzem todo o funcionamento para todos os
processos relacionados ao comportamento.
A neuropersonalidade é uma neuroanatomia
da construção da subjetividade, como
identidade; e a neuroterapia um processo
terapêutico que visa uma melhor eficácia
trabalhando diretamente na razão, no foco ou
nas nascentes originárias que resultam em
síndromes, transtornos ou doenças. Porém, há
obstáculos para o tratamento de transtornos
com vínculo narcisista pela falta de
consciência do paciente. Assim como a
permanência da razão abstrata, a construção
de uma realidade paralela e ficcional por
parte de pacientes acometidos por
Transtornos de Personalidade.
Deste
modo, o tratamento direcionado aos traços
característicos destas personalidades e aos
neurotransmissores específicos pode, junto a
assertividade dos processos terapêuticos,
trazer uma eficácia em um período menor,
simplificando o tratamento. Principalmente
quando levamos em conta o fator ansiedade,
que contribui para a falta de colaboração do
paciente, como também pelo fato de pessoas
com transtornos necessitarem de uma visão
clara do resultado para não haver uma
desistência do tratamento. O tipo de manejo
com protocolo determinado para cada tipo de
transtorno garante o engajamento do
paciente, assegurando com isso o sucesso do
método Neuroterapia.
Saiba mais aqui:
https://www.ijmcer.com/wp-content/uploads/2021/09/IJMCER_BB0340271279.pdf
O estilo musical de pessoas inteligentes
- Partilhar 27/08/2021

“Sem música a vida seria um erro”, já disse o filósofo primaz Nietzsche, em 1889. A manifestação sonora, porém, muito antes da constatação do pensador, já era capaz de unir povos, demarcar crenças e costumes e estabelecer identidades culturais. Segundo relatos, seu surgimento pode ser datado ainda na pré-história, até mesmo antes da formação da linguagem e do aparecimento da agricultura. Hoje, todavia, apreciada pela maioria da população, a música também é instrumento de avaliação sobre a personalidade de um indivíduo, como, por exemplo, ser possível, por meio dela, categorizar qual estilo é mais apreciado por pessoas com QI elevado.
Levando em consideração que somos mais inteligentes que os demais animais devido ao desenvolvimento do lobo frontal, onde há no córtex pré-frontal humano a chamada sinaptogênese, intensa comunicação entre neurônios num processo de formação, fortalecimento e eliminação de conexões sinápticas que estão relacionadas com a habilidade de raciocinar sendo esta região responsável pelo comportamento social e raciocínio lógico, logo, não há outra maneira de definir o estilo musical de pessoas inteligentes que não seja entrevistando pessoas cujo alto QI foi comprovado em testes válidos.
No estudo “O estilo musical de pessoas inteligentes”, o objetivo era compreender a preferência musical de pessoas com QI acima do percentil 98 (que equivale a acima de 130 pontos pelo teste WAIS), em diferentes ocasiões e a razão pela predição do estilo.
A pesquisa foi realizada com um grupo de 50 pessoas dentro da categoria estabelecida que responderam à pergunta: Qual seu estilo musical preferido? Lembrando que, como conceito de inteligência gera sempre muita discussão, já que muitos falam dos diferentes "tipos de inteligência", também por isso criei a definição de inteligência DWRI (veja mais em Tecmundo). Já que sim, existem tipos de inteligência, mas existe uma inteligência lógica que orquestra todas as demais e esta só pode ser medida através de teste de QI, utilizados em todos os países do mundo.
Para analisar as respostas, foi preciso compreender qual a influência da música no cérebro, já que é sabido que processamento musical é envolvido por percepção musical, reconhecimento e emoção, e que o córtex cerebral auditivo primário e o giro temporal superior são responsáveis por trazer a percepção musical.
O córtex primário é sensível à percepção do tom, a associação auditiva está relacionada ao processo de melodia e não lineares como harmonia e que o ritmo está relacionado ao cerebelo, gânglios basais e lobos temporais superiores.
Em relação ao reconhecimento memorial musical e a emoções ligadas à música estão envolvidas as partes do cérebro como: órbito-frontal e o sistema límbico. Sendo assim, partimos do pressuposto de que a música consegue ativar diversas áreas cerebrais.
O estudo foi realizado através de entrevistas qualitativas com amostra de conveniência. Concluiu-se que o estilo rock, seguido pelo heavy metal são os preferidos das pessoas mais inteligentes, e que a música instrumental clássica é a mais utilizada em momentos de estudo e concentração destes.
Por fim, após a entrevista e a conclusão, sugere-se a realização de estudos com população amostral maior e um grupo controle, para a retirada de vieses de pesquisa, no entanto, pode-se concluir que pessoas inteligentes preferem estilos musicais mais elaborados e fundamentados na teoria musical e que gêneros mais “populares” não são apreciados por estas pessoas.
Saiba mais aqui:
https://cpahjournal.com.br/index.php/cpahofhealth/article/view/33/79
Fabiano de Abreu Rodrigues é doutor e mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia. (ver CV)