Carla Marçal Grilo

Asclépio

Carla Marçal Grilo

Santo Graal

  •         14-03-2021

A endometriose é uma doença inflamatória crónica e benigna, a maior parte das vezes dolorosa, que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Foi descrita em 1860 por Von Rokitansky e a causa exata ainda é desconhecida, sendo provavelmente por predisposição genética, imunitária ou ambiental.

O endométrio é a camada interna que reveste a parede do útero e que regenera ciclicamente através de um processo de descamação durante o ciclo menstrual. Quando as células do endométrio, que deveriam ser expelidas na menstruação, crescem fora da sua localização normal designa-se de endometriose.

Este tecido endométrio, para além de surgir no útero, trompas de Falópio, ovários, vagina ou locais próximos ao abdómen, também pode ser encontrado na parede abdominal, diafragma, intestino delgado e grosso, ureteres, bexiga e reto. À medida que a doença progride e o tecido aumenta gradualmente de tamanho pode afetar novas estruturas mais distantes, como os pulmões, o coração, o nariz ou a pele. A endometriose tende a ficar inativa durante a gestação ou após a menopausa.

A sintomatologia mais comum é a dor intensa, às vezes incapacitante, na região inferior do abdómen e/ou região pélvica e infertilidade. Também pode ocorrer dor durante as relações sexuais. Os sintomas urinários ou intestinais são comuns aquando compromisso dos respetivos órgãos. A intensidade da dor varia durante o ciclo menstrual, que habitualmente é severa não cessando com medicação, associada a menstruação abundante e/ou hemorragias prolongadas e intensas. Por vezes esta variação da dor está correlacionada com a extensão ou estádio (I a IV) da endometriose. A dor grave está associada a maior parte das vezes a lesões infiltrativas profundas. Os sintomas variam consoante o local onde se encontra o tecido endométrio.

O diagnóstico precoce é habitualmente difícil e depende da anamnese, sendo diagnosticada por volta dos 30-40 anos, comprometendo a fertilidade da mulher. Raramente é observável no exame ginecológico, podendo ser detetável no exame pélvico com a suspeita de nódulos ou massas de tecido, diminuição da mobilidade do útero e aumento da dor e de sensibilidade. A ultrassonografia pélvica é o exame de 1ª linha para identificar inicialmente a doença com lesões grandes de endometriose. A ressonância magnética é o exame de eleição para esclarecer ou complementar o estudo ecográfico em lesões mais pequenas e para avaliação pré-operatória global da cavidade pélvica, permitindo identificar todos os locais de envolvimento pela doença. A laparoscopia ou laparotomia é um exame de referência para diagnóstico final ou tratamento, permitindo observar e operar o interior da cavidade abdominal. Trata-se de um exame invasivo através de pequenos furos no abdómen, onde se insere os instrumentos cirúrgicos e uma câmara permitindo o tratamento, se necessário.

O tratamento da endometriose pode ser clínico (analgésicos, anti-inflamatórios ou hormonais) ou cirúrgico, dependendo da fase da endometriose, sintomatologia, idade e planos para gravidez. Nos casos menos graves, o tratamento será a administração da combinação de contraceptivos hormonais orais com anti-inflamatórios. Frequentemente opta-se por tratamento cirúrgico nos casos moderados e graves com a remoção ou eliminação do tecido endométrio ectópico, sendo necessário em casos mais graves a remoção de ovários, útero e segmentos de intestino.

O impacto desta doença é enorme na qualidade de vida. A dor é um sintoma subjetivo e individual que interfere e limita as atividades da vida diária, como tomar banho, vestir, caminhar ou qualquer pequena tarefa. A infertilidade, a dor e a angústia, à medida que os anos passam, levam à depressão e baixa autoestima. Estas alterações emocionais interferem no relacionamento familiar, social e laboral. É necessário pedir ajuda, tanto médica como familiar, bem como sensibilizar a sociedade sobre o impacto desta doença crónica e promover o bem-estar físico e emocional da mulher com endometriose.


Tríade

  •         11-02-2021

A pandemia de Covid-19 e o confinamento acentuaram os comportamentos de risco, como o sedentarismo, as dietas pouco saudáveis e o aumento do consumo de tabaco e abuso do álcool.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal, em que matam cerca de 35 mil pessoas por ano. A população com doenças cardiovasculares, fatores de risco e outras comorbilidades apresentam mais probabilidade de terem sintomas severos, internamento em cuidados intensivos e até a morte. Sendo este grupo mais vulnerável, principalmente os idosos, e apesar dos centros hospitalares da rede da via verde coronária e da via verde do AVC continuarem a funcionar em disponibilidade permanente, verifica-se que muitos pacientes evitam recorrer a urgências hospitalares nas primeiras horas de evolução dos acidentes cardiovasculares. O enfarte do miocárdio ou as arritmias graves não tratadas de imediato podem ter pior prognóstico que a Covid-19. Não se deve descurar os doentes crónicos e as situações de emergências cardiovascular associadas a risco de mortalidade.

A pandemia dificultou o exercício físico, quer por terem ficado em isolamento social quer por terem acesso limitado aos locais onde poderiam praticar desporto, caminhar ou correr. Uma das exceções ao confinamento decretado pelo Governo é a prática de exercício físico na rua, desde que sozinho ou com elementos do mesmo agregado familiar. O stress e o medo de contrair o vírus afeta a saúde mental, do coração e acentua os comportamentos de risco contraproducentes. Algumas das sugestões passam pelo uso de tecnologia na promoção e educação para a saúde com enfoque no exercício físico em casa. Durante o período de confinamento social as pessoas organizaram-se e disponibilizaram mais tempo à prática de exercício físico em casa com recurso a programas de treino auto recreativos ou realizados com recurso a plataformas digitais.

A população portuguesa tem uma alta prevalência para o excesso de peso. A obesidade é uma comorbilidade prevalente em casos graves de Covid-19 e o isolamento social pode aumentar a acumulação de gordura. As alterações orgânicas causadas pela obesidade quando associadas à infeção pelo vírus SARS-CoV-2 aumentam a necessidade de assistência ventilatória, risco de tromboembolismo, filtração glomerular reduzida e alterações na resposta inflamatória crónica. A literacia nutricional reflete-se nas escolhas e na compra de alimentos dos nossos hábitos alimentares. Hoje, sabemos que a carência de nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo, como o zinco, o selénio, o ferro, as vitaminas A, C, D, E, B6 e folatos aumenta a vulnerabilidade da população e o risco de doença grave. Para a população que se encontra em casa a cumprir o distanciamento social, será importante uma diversidade alimentar durante este período, sendo a melhor forma de fortalecer e proteger o sistema imunitário.

A doença cardiovascular, o sedentarismo e a má nutrição constituem uma tríade de risco para doença grave, aconselhando-se que mantenha hábitos saudáveis:

- Adote uma alimentação variada

- Aproveite e ouça música, dance e pratique exercício físico em casa

- Recupere os sonhos e planeie o futuro

- Faça parte da História do Planeta em tempo de pandemia.


Alô, Alô!

A tecnologia tornou-se imprescindível na prática médica e no desenvolvimento da aplicação dos cuidados de saúde, principalmente em tempo de pandemia.

Os médicos e os pacientes são os principais alvos e utilizadores desta técnica remota, que visa a melhoria e eficiência da prestação de cuidados de saúde.

O grau de sofisticação pode ir de um simples telemóvel até aos sistemas de videoconferência via-satélite entre prestadores de cuidados de saúde entre 2 ou mais países.

A telemedicina não é um conceito recente, fruto de filmes de ficção científica. É uma técnica que remonta à invenção do telégrafo e do telefone e que rapidamente se adaptou a meios mais eficazes na troca de informação. O surgimento do primeiro estetoscópio eléctrico em 1910 e aliado à tecnologia rádio, permitiu a realização de consultas com auscultação, produção de diagnósticos e prescrição. Em 1920 realizavam-se consultas a marinheiros em alto mar. Com o início das viagens espaciais monitorizaram-se sinais vitais dos astronautas. O aparecimento da televisão e mais tarde, em 1966, com a criação do sistema de videoconferência alargaram-se as capacidades da telemedicina. Com o impulso dos últimos anos da massificação da Internet e a ampla difusão dos telemóveis de última geração tornou-se num conceito mais amplo – eHealth ou “Saúde digital” – que surge como potencial alternativa para o Sistema Nacional de Saúde, permitindo o acesso a cuidados de saúde a partir do domicílio do doente ou de qualquer outro lugar.  

As vantagens são imensas tanto para profissionais de saúde como para pacientes, promovendo melhores condições no tratamento dos processos clínicos, optimização do tempo, retoma e recuperação de rastreios e redução de custos ao sistema de saúde, com um importante aumento da literacia em saúde e tecnologia, criando condições para que qualquer pessoa consiga ter acesso às consultas, monitorização, rastreio ou cirurgia à distância.

Mas não são só virtudes na telemedicina. Existem desvantagens que têm origem na necessidade de garantia de segurança da informação, na dificuldade ético-legal de estabelecer níveis de responsabilidade entre os intervenientes, nos preconceitos tecnológicos, na maior probabilidade de conclusões erradas por falta de informação histórica do paciente e na diminuição da interação e humanização entre a relação médico-paciente.

No contexto atual, a pandemia Covid-19 e o isolamento social obrigou a reequacionar o tipo de acompanhamento dos pacientes e a forma mais sustentável de dar respostas na área da saúde, bem como a adaptação dos profissionais de saúde ao mundo digital. Impôs a utilização imediata da telemedicina como uma das medidas mais eficazes para impedir que o número de infetados aumente e como forma de combater consultas perdidas, cumprir listas de espera e tempos de resposta para consultas.

O tempo é determinante para a sobrevivência e o atraso no diagnóstico contribui para um pior prognóstico.

A telemedicina veio para ficar muito para além da pandemia Covid-19.

A saúde do futuro: Alô, Alô!


Arma Eficaz

A pandemia veio introduzir uma grande preocupação na estação Outono/Inverno com o aumento dos riscos de infeções respiratórias, resultantes da circulação conjunta do vírus SARS-CoV-2 com os vírus da gripe sazonal.

No período mais frio do ano predominam as infeções do trato respiratório superior, as viroses, as bronquites, com realce para as agudizações infeciosas da DPOC, pneumonias, gripe e Covid-19.

A gripe não é uma doença benigna, sobretudo na população mais frágil. É uma doença infeciosa do aparelho respiratório, altamente contagiosa, causada pelo vírus Influenza. A gripe é geralmente transmitida por via aérea (propagação de partículas virais através da tosse ou de espirros), por contato direto (libertação de muco diretamente nos olhos, nariz ou boca de outra pessoa) ou por contato com superfícies contaminadas. Os sintomas mais comuns no adulto são a febre, calafrios, rinorreia (corrimento de muco nasal), dores de garganta, dores musculares, dores de cabeça, tosse fadiga e sensação geral de desconforto. Em crianças também podem ocorrer vómitos, náuseas e diarreia. A gripe pode levar ao aparecimento de pneumonia, tanto viral como bacteriana, mesmo em pessoas saudáveis.

A pneumonia é uma inflamação do parênquima pulmonar, área do pulmão onde se dão as trocas gasosas essenciais à vida. Os alvéolos e os bronquíolos respiratórios ficam preenchidos com líquido resultante da inflamação, não se realizando as trocas gasosas e com redução da elasticidade do pulmão provoca dificuldade respiratória. A pneumonia pode deixar sequelas irreversíveis, reduzir a qualidade de vida ou mesmo levar à morte, principalmente em grupos de risco. É uma das principais causas de hospitalização e mortalidade em Portugal.

A melhor forma de evitar ambas as doenças e reforçar o nosso sistema imunitário será apostar na vacinação. A vacina da gripe é segura, com uma eficácia de cerca de 50% comprovada em todas as faixas etárias e altamente recomendável em pessoas com mais de 65 anos e pessoas de todas as idades com doenças crónicas, para quem as complicações da gripe, como a pneumonia, são um risco grave. A vacina da gripe é constituída por vírus inativos que provocam a produção de anticorpos para tentar eliminar o vírus causador de doença. Posteriormente, as nossas defesas reconhecem o agente patogénico e neutralizam-no. De acordo com as orientações da DGS, aconselha-se a vacinação a todas as pessoas vulneráveis ou com indicação para a mesma.

Assegure a higiene das mãos. Mantenha o distanciamento físico e siga as regras da etiqueta respiratória.

Não faça parte do número dos internamentos.

Proteja-se e proteja os outros.

É imperativo reforçar a imunização.

Vacinação: A arma mais eficaz.


Pocahontas!

A norma confirmou o ditado “Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Apesar de ser controlada como paciente de alto risco, tudo se desmoronou no dia 21 de março de 2019.  Faltou-me o chão naquela manhã solarenga. Duas semanas antes da consulta de Senologia de rotina tinha feito uma Ressonância Magnética. A médica da Radiologia não me deixou sair sem fazer uma biópsia à mama esquerda. Já não era a primeira vez. Um ano antes tinha tentado tirar um nódulo e não conseguiu. Estava marcado, tanto fisicamente como para a vida. Entrei na sala de exame, olhei para a minha colega, esbocei um sorriso e disse em tom de brincadeira para quebrar o medo – “Então Teresa, fui sorteada?”. Eu como profissional de saúde tinha consciência que aquele nódulo me podia alterar a vida. Mas sentia-me bem física e psicologicamente. Não tinha de ter medo.

Estava feliz naquele dia da consulta da mama. Por tudo o que era e pela família que tinha. Haveria outra razão para não estar feliz? Não. Toda eu emanava alegria naquela manhã, apesar de algum nervosismo. De repente, o dia transformou-se negro como se de uma tempestade se tratasse. Sentei-me em frente à médica. E após abrir o meu processo clínico, algo não estava bem. Os seus grandes olhos verdes expressaram preocupação ao ler o resultado anátomo-patológico da biópsia. “A notícia que tenho para lhe dar não é boa”, foram as palavras que lhe saíram da boca. Senti um arrepio pelo corpo. Deixei de sentir o chão numa fração de segundo. E os meus sonhos? E a minha família? E o meu trabalho? E o meu dia a dia? Como seria? Vou morrer cedo? Porquê eu? Esta situação iria se repetir ao fim de alguns anos. Lembrei-me da minha mãe com cancro da mama e a sua luta pela vida durante anos. Do meu pai que não teve tempo de lutar contra o cancro no cérebro. Toda eu tremia. E com as primeiras lágrimas a saltar dos olhos, respondi: “Tenho Cancro da mama.” Não conseguia processar os passos que se seguiriam. Pedi para o meu marido entrar. Ele é o meu Porto de Abrigo. Naquele momento, ele era o único que conseguiria processar a informação e os passos seguintes “Operação e Tratamentos”. Chorei. O meu cérebro só processava as palavras Cancro e Morte.

Eu sabia como profissional de saúde que a ciência está muito avançada e que o cancro da mama se tornou numa doença crónica. Mas a palavra Cancro é assustadora. Estava a ser difícil estar do lado de lá, do lado do doente. Não estava habituada. Os meus olhos pareciam a foz de um rio. E como iria dizer aos meus filhos? E às minhas irmãs e irmão? Todos eles me tinham enviado mensagens a perguntar como tinha corrido a consulta. Estava a queimar tempo para arranjar coragem. Finalmente, respirei fundo e dei a notícia. Do outro lado da linha, com cada um deles senti um silêncio que pareceu uma eternidade. Iríamos reviver tudo outra vez. A operação, os tratamentos, os enjoos, a queda de cabelo…  Senti o dia infindável.

As minhas pernas tremiam de nervosismo. Não era normal. Eu trabalhava há 25 anos em meio hospitalar e parecia que era a primeira vez que entrava num internamento. Fiquei baralhada com aquela agitação. Todos eles pareciam que bailavam naquele piso. Os médicos, as enfermeiras, as auxiliares e até os equipamentos. Como era possível eu estar baralhada? Chorava? Fugia? Não podia. Não servia de nada. Era o início do fim da doença. Tratar a derrota como a vitória não é fácil, mas é possível. Após um ano e meio, entre operação, quimioterapia, radioterapia, terapêutica de anticorpos e hormonal, exames complementares, queda de cabelo da Pocahontas! e sumos de beterraba, sinto-me bem. Isso é mais importante. Quero viver e ser feliz.

O cancro da mama é uma neoplasia (crescimento ou proliferação anormal, autónoma e descontrolada de um determinado tecido do corpo) com origem nos tecidos mamários, geralmente nos ductos (canais que transportam o leite até ao mamilo) ou nos lóbulos (glândulas que produzem o leite). A deteção de nódulo na mama ou na axila, a modificação do tamanho da mama, a modificação do aspeto da pele da mama ou do mamilo e a secreção no mamilo são sintomas de alerta. É o tipo de tumor mais comum na mulher (apenas 1 em cada 100 cancros se desenvolvem no homem) e o segundo mais frequente em todo o mundo. Há entre 5 a 10% dos cancros da mama diagnosticados com características genéticas e hereditárias que obrigam a um acompanhamento das famílias.

Os métodos e tratamentos no cancro de mama, são eficazes na cura entre 90% a 95%, quando diagnosticados precocemente. O exame clínico e a mamografia são meios para um diagnóstico precoce, sobretudo a partir dos 40-45 anos, sendo determinante para os resultados clínicos alcançados.

Esteja atento aos sinais de alerta e principais mecanismos de prevenção.

Repense os seus valores e prioridades.

Tenha uma vida saudável.

Prevenir é o melhor remédio. A defesa é o melhor ataque.   


Tic-Tac, Tic-Tac

Para assinalar o Dia Mundial do Coração (29 de setembro) venho promover e sensibilizar os leitores para a importância de cuidar do nosso coração e prevenir as doenças cardiovasculares.

O coração é um órgão muscular presente no sistema cardiovascular que funciona como uma bomba. Ele contrai e relaxa de forma rítmica, bombeando o sangue que o organismo necessita e consumindo a menor energia possível durante cada batimento.

As contrações são controladas por correntes elétricas que percorrem o coração de forma precisa, seguindo trajetórias e velocidades específicas. A corrente elétrica tem origem num marca-passo natural do coração (nódulo sinusal), localizado no alto da aurícula direita. A frequência cardíaca é determinada pela frequência com que o nódulo sinusal descarrega a corrente elétrica e pelos níveis de hormonas específicas na corrente sanguínea.

O coração de um adulto saudável em repouso bate regularmente a cerca de 60 a 100 batimentos por minuto. Deve ser considerado um ritmo cardíaco anormal se as sequências de batimentos cardíacos forem irregulares, muito rápidos (mais de 100 bpm – taquicardia), muito lentos (inferior a 50/60 bpm – bradicardia) ou se percorrerem o coração por vias anormais de condução elétrica. O quadro clínico é inofensivo em pessoas que apresentam batimentos irregulares ocasionais. No entanto, as arritmias podem ser desconfortáveis e, por vezes, colocar a vida em risco. O coração pode não ser capaz de bombear sangue suficiente para o corpo, causando danos no cérebro, coração ou outros órgãos.

Todas as patologias que atingem o coração ou a circulação sanguínea podem causar insuficiência cardíaca. As patologias mais comuns que podem originar o seu desenvolvimento são:

- Doença das artérias coronárias;
- Arritmias;
- Alterações das válvulas cardíacas;
- Miocardites (processos inflamatórios e/ou infeciosos do músculo cardíaco);
- Pericardite (inflamação da membrana que envolve o coração);
- Hipertensão arterial não controlada;
- Diabetes;
- Hipertiroidismo;
- Obesidade;
- E qualquer doença não tratada que provoque um esforço adicional do coração.

Estamos a viver tempos sem precedentes. Não sabemos que curso a pandemia tomará no futuro, mas sabemos que cuidar dos nossos corações é mais importante do que nunca. Se tem um problema de saúde subjacente, como as doenças acima referidas, não deixe o Covid-19 impedi-lo de fazer os seus check-ups regulares.

Seja consciente. Tic-tac, tic-tac, ouça o seu coração!

Um ato importante numa altura em que o mundo enfrenta uma pandemia.

Contemple o mundo que o rodeia, desfrute e celebre a vida. Este é um destino que fará bem ao seu coração.  


Parou-nos a boneca!

As alterações de saúde mental são consideradas as doenças sociais mais inquietantes da atualidade, tanto pelo aumento de morbilidade como por afetarem de forma aguda a tranquilidade, o bem-estar e o equilíbrio da vida familiar e da comunidade.

Segundo a OMS (2002), a saúde mental é “o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere”.

O sentimento de bem-estar é diferente e subjetivo de indivíduo para indivíduo, dependendo do contexto económico, social, cultural e político em que se insere.

A saúde mental é fundamental para o bem-estar do indivíduo e é inseparável da sua saúde física, sendo necessário encontrar uma saudável harmonia entre a mente, o corpo, os comportamentos e as relações.

A evidência científica aponta para um impacto na saúde mental de 25% do total de população afetada pela pandemia num futuro a longo-prazo, principalmente em crianças e jovens, que colocam em perigo a sua sociabilização geracional. A sala de aula contribui para a igualdade e socialização, para que crianças e jovens escapem um pouco a meios familiares mais desfavorecidos. Quantas crianças e jovens não estão a sofrer de solidão, tédio, violência doméstica e fome?

O isolamento é importante para proteger a saúde física, impedindo o contágio de um vírus, mas quanto mais tempo estivermos isolados maiores serão os riscos de doenças psiquiátricas. O confinamento pode ter originado sintomas psicopatológicos (depressão, ansiedade, medo, irritabilidade, insónia, entre outras) em indivíduos com condições mais vulneráveis. As condições económicas decorrentes da pandemia, nomeadamente o risco de desemprego está associado a um agravamento da saúde mental da população e ao aumento de stress pós-traumático. Devido às medidas preventivas de saúde pública, muitos familiares e amigos ficaram privados dos abraços, dos afetos, da socialização. Até no luto se viram privados da despedida do seu ente querido.

Fechados numa bolha auto-suficiente, em que tudo o que está para além da porta das nossas casas não tem relevância!

Cidades, vidas e economias estão suspensas!

Parou-nos a boneca!

O medo é paralisante. É preciso acabar com o discurso do medo. A incerteza e o medo estão a minar a saúde mental dos indivíduos e as suas relações interpessoais.

Qual será o verdadeiro impacto da pandemia na saúde mental e os seus efeitos colaterais? A nível anatómico cerebral, como serão afetadas as áreas de associação pré-frontal, parieto-temporal ou límbica? Estaremos a caminhar pelo desconhecido, sem bússola?

É muito importante cuidar da saúde físico-mental, porque estão intrinsecamente ligadas. 

A vida é a maior empresa do mundo. Só você pode evitar que ela vá à falência.


Com ou sem canela

O risco de uma segunda vaga de Covid-19 é extremamente elevado, em que o número de pessoas suscetíveis de contágio permanece alto e de imunizado baixo.

Segundo as autoridades de saúde, “Um indivíduo infetado é transmissor do vírus desde 2 dias antes do início de sintomas, sendo a carga viral elevada na fase precoce da doença”.

As gotículas respiratórias do vírus SARS-CoV-2 (Covid-19) são grandes e não permanecem no ar por muito tempo, caindo em superfícies próximas. Qualquer pessoa pode ser infetada se as gotículas caírem sobre a boca, o nariz e os olhos ou tocar numa superfície com essas gotículas e depois tocar no rosto.  

A maior parte dos contágios faz-se em primeiro lugar em contexto laboral, sendo alastrado posteriormente ao seio familiar. É aconselhável prudência no desconfinamento, desde o distanciamento social, as medidas de higiene, etiqueta respiratória e o uso de máscara facial, principalmente em espaços fechados.

Com a propagação do Covid-19 a nível mundial, o uso de máscara cirúrgica, respiradores ou comunitária tornou-se quase omnipresente e obrigatória em transportes públicos, no comércio, em escolas e noutros espaços fechados. O seu uso serve de barreira quando uma pessoa espirra ou tosse, ajudando a reduzir a propagação de gotículas da boca e do nariz do utilizador e a minimizar os riscos de contágio comunitário de uma possível infeção por SARS-CoV-2 ou outro tipo de coronavírus. Para uma proteção facial eficaz, o uso correto deve cobrir desde o nariz até ao queixo e ajustar-se bem ao rosto. Deve permitir respirar sem restrições.

Em Portugal, a DGS tem seguido as orientações da OMS e do ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control) no âmbito da pandemia de Covid-19. De acordo com as orientações e normas publicadas, é recomendável o uso de máscara cirúrgica a profissionais de saúde, a pessoas com sintomas respiratórios ou mais vulneráveis (idosos, doentes com doenças crónicas ou com o sistema imunitário comprometido, pessoas que entrem e circulem em unidades de saúde, bem como elementos de alguns grupos profissionais (bombeiros, agentes funerários, entre outros).

Apesar de não estar provada a eficácia da utilização generalizada de máscaras comunitárias na prevenção da infecção por SARS-CoV-2 é recomendável o uso de máscaras por todas as pessoas como medida para reduzir a propagação do vírus e de proteção adicional ao distanciamento social, à higiene das mãos e à etiqueta respiratória.

Proteja-se, por si e por todos. A decisão é sua, é de todos.

E saboreie a vida, como se saboreia um pastel de nata, com ou sem canela. .