Não há Pachorra
Carlos Afonso
BEBO, LOGO EXISTO
- 04/06/2022
Hoje de manhã, na minha obrigatória ida à Adega Amável, o João, enquanto enchia um copo de vinho, lá começou a cantarolar o "seu refrão" do "Tudo isto é Fado": "Copos erguidos/Aos bons enchidos/Com pão caseiro/Junto ao Balcão/Está o João/ O dia inteiro/ Há vinho bom/ E até Moetchandon/Muito agradável/ Tudo isto existe/ Só aqui há disto/Isto é o Amável"! E rematou com uma das suas habituais frases publicitárias aos seus produtos: "Um copo de supertinto pela manhã é o melhor talismã"! Soltei um "In vino veritas" e brindei com ele. A frase latina (há quem defenda a sua origem grega), deu título a um ensaio de Kierkegaard, sobre os discursos do amor no Banquete de Platão. Sugeri então ao taberneiro que renovasse o seu stock dos típicos aforismos sobre o vinho que decoram as paredes da sua taberna (e de todas) com frases da sua autoria (e são muitas) e, porque não, ao lado de citações filosóficas sobre o "néctar dos deuses". Foi assim que na internet descobri o livro "I Drink, therefore I Am" com o sub título de "A Philosopher Guide to Wine". De facto se a verdade se encontra no vinho, que melhor instrumento de trabalho para quem a procura? Quem sabe se a "Tese, Antítese e Síntese" da Dialéctica Hegeliana não foi inspirada a copos de Rosé, a síntese de brancos e tintos? Porém, embora sem ter nada de relevo sobre o assunto, Hegel dá o seu nome a um vinho tinto frutado alemão, da região de Weiseberg. Curioso é saber-se que Hegel encomendava de vez em quando umas garrafas de Pontac. Ora M. Pontac era o proprietário do Chateau Haut-Brion, onde o inglês John Locke escreveu uma das suas obras. Sabendo das divergências entre os "empiricistas" ingleses e os seus "especulativos" colegas europeus continentais, podemos dizer que pelo menos o vinho os aproximava. Kant apreciava o espumante, em especial um das Canárias. De acordo com um seu biógrafo, gostava tanto que algumas vezes não dava com o caminho de regresso a casa. Devia ter seguido conselho do seu colega Aristóteles, que aconselhava comer repolho para evitar a bebedeira. Talvez fosse a receita do Treme, Treme, em cuja parede da sua antiga taberna, em Faro, estava escrito "Depois de muito beber/Quando à noite daqui saio/ Treme, treme, posso tremer/Mas cair é que não caio!". Como não tenho a certeza nem me interessa muito saber se os filósofos actuais passam mais tempo bêbados do que a pensar, termino com um silogismo de São Tomás de Aquino: "Todo o pecado tem um correspondente contrário...assim como a timidez se opões ao atrevimento... Mas nenhum pecado se opõe à bebedeira. Logo, a bebedeira não é pecado"! (in Summa Theologica) SAÚDE!
A (DES)PROPÓSITO DA ÚLTIMA CEIA
- 14/04/2022
A Última Ceia, no dia
anterior em que Cristo foi crucificado, é
seguramente a refeição mais famosa da
história. Mas outras houve que merecem
destaque.
Entre elas está o Banquete de
Platão. Quando um grupo de amigos se reúne
numa de comes e bebes, é certo e sabido que
a conversa tem de meter "gajas"! Quando num
grupo de compinchas há tipos com o gabarito
de Aristófanes, Sócrates ou Platão, a
conversa não resvala para historietas,
badalhocas ou apenas brejeiras, sobre a
quantidade de "febras" que cada um já
"comeu". Não é pois de estranhar que no
Banquete de Platão se tenham antes digerido
elevados conceitos filosóficos, de onde se
destacou o do "amor platónico". Hoje, a meio
caminho entre o "petisco" de pingunços e o
Banquete de poetas e filósofos do sec V
a.c., estarão os jantares de alguns grupos
de reflexão e promoção dos direitos sexuais.
É famoso também um jantar romântico de
Cleópatra com Marco António, onde a rainha
egípcia apostou com o general romano que era
capaz de organizar um jantar de 10 milhões
de sestércios, o que na moeda actual seriam
qualquer coisa como 15 milhões de euros!
Acho que o jantar não foi nada do outro
mundo, mas a surpresa viria com a sobremesa:
Cleópatra sacou de uma das duas pérolas
gigantes do seu colar e introduziu-a num
copo com vinagre, que ingeriu após a pérola
se dissolver na totalidade. Sabendo que cada
uma das preciosidades valiam 5 milhões de
sestércios, Marco António, com o espírito
prático próprio dos romanos, impediu a que a
sua amada engolisse o segundo cachucho e
deu-se como vencido.
Actualmente já não
há Marcos Antónios, e com frequência
assiste-se a darem "pérolas a porcos"...
Também há relatos históricos de arrepiantes
refeições macabras, como as propostas
satíricas de Jonathan Swift para combater a
fome na Irlanda no sec XVIII. Provavelmente
o autor das Viagens de Gulliver inspirou-se
na mitologia grega, mais concretamente na
história de Tereo. Este rei da Trácia era
casado com Procne, de quem tinha um filho.
Predador sexual, como hoje se diria, violou
a sua cunhada Filomena, após o que lhe
cortou a língua para que ela não o pudesse
denunciar, mas acabou por ser descoberto. E
as duas irmãs congeminaram uma vingança que
foi lhe servirem o filho num cozinhado de
uma ceia.
O que não faria hoje o CM por
uma história deste calibre!
Todos
conhecem a história do Rei Midas. O tal que
transformava em ouro tudo em que tocava. Um
dom que lhe fora oferecido por Dionísio mas
que tornou a vida do homem num inferno. Não
conseguiu mais cear (nem sequer lavar as
mãos)! Segundo Aristóteles morreu à fome.
Hoje há muitos candidatos a Midas, mas cá no
burgo aquele que se aproxima mais é o Jorge
Mendes. Jogador de futebol a que jogue a mão
é vendido a peso de ouro.
Finalmente uma
história actual, embora de ficção e contada
em filme. "Le Diner de Cons", traduzido "O
Jantar de Estúpidos" (con pode ser também
entendido como "sacana", "merdoso",
"cretino", "parvalhão" etc.)
Trata-se um
filme francês de culto, onde de um grupo de
amigos organiza semanalmente um jantar e
cada um leva consigo um estúpido. Naquele
dia o anfitrião apresentou-se com um idiota
que ele considerava de categoria
internacional: o senhor François Pignon, um
funcionário das Finanças cujo hobby era
construir miniaturas com paus de
fósforos.Acontece que o estúpido acabou por
revelar-se um mestre na arte de desencadear
catástrofes.
Cá por mim não deixo de
pensar em Putin como o personagem central.
De fósforo(s), pelo que dizem, ele gosta
para fazer bombas. Os convivas... cada um
que escolha. Candidatos não faltam, entre
amigos e inimigos!
O Doutor da Mula Ruça e a Mala Chanel da Senhora Russa
- 03/04/2022
Segundo a agência
France Information, uma senhora russa
comprou uma mala numa loja da Chanel no
Dubai e foi obrigada a assinar uma
declaração de que a mala não viajaria para a
Rússia. Parece que se trata de uma decisão
da empresa francesa de artigos de moda,
enquadrada na política de sanções a
propósito da invasão da Ucrânia. Tenho tanta
pena da mala como da senhora, um dos poucos
sentimentos que o Sr. Putin deve partilhar
comigo.
Não tenho pena nenhuma mas estou
contra, pois a Madame Coco Chanel também
estaria, se ainda andasse por aí. Afinal de
contas ela gostava dos russos: albergou o
exilado e pobre Igor Stravinski e a sua
família sob o mesmo tecto... e, ao mesmo
tempo, abrigou o Igor sob os mesmos lençóis.
Ainda por cima, quando o romance acabou
atirou-se de cabeça a outro russo, o Grao
Duque Dmitri Pavlovich Romanov. Se fosse
viva de certeza já teria andado enrolada com
algum russo. Não digo com o Putin mas com o
Lavrov era de caras, pois este é muito mais
viajado.
Agora a história da mula
ruça. Havia em Évora, no séc.XVI, um médico
que teria estudado numa Universidade
espanhola. Era conhecido naquela cidade por
"o físico da mula ruça" por se deslocar num
animal com aquela característica cromática.
Chateado por duvidarem das suas
habilitações, decidiu pedir o seu
reconhecimento ao Rei. D. João III acabou
por conceder-lhe equivalência, por alvará
régio em 1534. Terá sido aqui o início das
"barracadas" das equivalências, que chegou
aos nossos dias? Eu diria que sim, pois a
expressão "Doutor da Mula Ruça" evoluiu e
agora serve para designar "pessoa de pouco
valor" que se dá ares de saber mais que os
outros sobre os mais variados os assuntos.
Perguntar-me-ão: o que é que o "doutor da
Mula Ruça" tem a ver com a "Senhora Russa da
Mala"?
Nada! A não ser que a mala não
pode viajar para a Rússia com a senhora e há
por aí uns quantos "doutores da mula russa"
que deviam fazer a mala e viajar para lá!
"De Tróia à Ucrânia, só mudou a forma da técnica de arrasar cidades e destruir vidas"
- 23/03/2022
Li há dias esta frase
de um jornalista e escritor espanhol, além
do mais um especialista em história da
Antiguidade. Há um outro aspecto das guerras
que ele aborda e que se mantém ao longo dos
tempos e que diariamente vemos em imagens
televisivas. Vemos mulheres fortes e
decididas, com os seus filhos ao colo ou
pela mão, com a missão estóica de os pôr a
salvo. E vemos pais, maridos, e filhos mais
velhos a despedirem-se delas e a ficarem
para lutar. A cumprir uma obrigação,
voluntária ou imposta, de defender cidades,
bens e vidas. De morrer até, enquanto
velhos, mulheres e crianças tentam pôr-se a
salvo. É uma lei da história das guerras. É
verdade que há mulheres combatentes, e
sempre houve (Joana d'Arc e a farense Brites
de Almeida, há 6 séculos combatiam ao lado
dos homens). Mas a esmagadora maioria dos
que combatem são homens. Lado a lado, há
bons e maus, honrados e canalhas, decentes e
miseráveis. Vão ser corajosos ou cobardes,
vão ter actos de solidariedade mas também
sujos e atrozes. Podem até ser capazes de
uma coisa e outra num mesmo dia. Une-os a
protecção das suas famílias e da sua
comunidade.
Aos que criticam os
ucranianos por não se renderem ao exército
invasor, não os desprezem nestes dias..
Jogos de Guerra
- 18/03/2022
No dia em que os
presidentes Americano e Chinês debatem a
guerra na Ucrânia, confrontam-se
simultaneamente duas visões estratégicas do
mundo. Uma, saída da guerra fria, dum mundo
unipolar e outra emergente, de "esferas de
influência". É aquilo que os chineses dizem
ser o conflito do secXXI e em cuja vitória
acreditam. Para os chineses, a acção de
Putin não será mais que uma "escaramuça" no
quadro do conflito global entre as duas
superpotências actuais. Porém, esta
"escaramuça" já arrasou cidades ucranianas e
provocou milhares de mortes e milhões de
refugiados, sem ainda sabermos quem sairá
vencedor. Para uns China e Rússia criarão um
eixo de autocracias, para outros o
isolamento internacional da Rússia travará
os objectivos da China.
Estou mais de
acordo com os que (num debate promovido pelo
Economist), que não pensam uma coisa nem
outra.
Sintetizando as suas opiniões, a
China explora a situação actual nos seus
próprios interesses, no sentido de acelerar
do que ela entende ser o declínio americano.
O seu foco sempre foi o de estabelecer uma
alternativa à "ordem liberal" do Ocidente.
Um mundo desenhado em "esferas de
influência", onde a China "governaria" a
Ásia Oriental e o seu aliado russo teria uma
espécie de veto sobre a segurança europeia.
Aos Estados Unidos caberia o seu regresso a
casa e ao continente americano. Esta "ordem
alternativa" não leva em conta a democracia
ocidental nem os direitos humanos, que são
vistos, quer por Xi Jinping quer por Putin,
como um estratagema do Ocidente para
subverter os seus países. Por este motivo o
líder chinês gostaria que a invasão russa
revelasse a fraqueza ocidental. E se as
sanções sobre o sistema financeiro da Rússia
e a sua indústria tecnológica falharem, a
China passará a recear menos estas "armas
económicas".
Se Putin sair derrotado,
não deixará de constituir um desaire para a
imagem de Xi, que prepara o seu terceiro
mandato à frente do PC Chinês (aliás,
contrário a normas recentes). Por tudo isto,
o apoio chinês aos russos tem os seus
próprios limites: desde logo o facto do
mercado russo ser pequeno face aos dos
países ocidentais e os bancos e as grandes
empresas chinesas não querem arriscar perder
alguns deles, se ignorarem possíveis
sanções. Para a China, também uma Rússia
fraca será mais flexível a dar acesso aos
seus portos do Norte e a fornecer gás e
petróleo baratos, bem como facilitará o
controle da Ásia Central. Parece assim que o
Presidente chinês acredita que Putin não
precisa de uma vitória esmagadora: desde que
sobreviva politicamente, a China sai em
vantagem deste conflito.
Um conflito cujo
arrastamento favorece os objectivos
chineses, pois pode provocar desunião a
ocidente, dado o seu custo para os eleitores
da Europa ser elevado: energia muito cara,
aumento das despesas militares e acolhimento
de milhões refugiados.
Ao Ocidente
resta-lhe manter a união, reforçando os seus
mecanismos democráticos.
Importante
será, segundo estes analistas, que os
Estados Unidos e a Europa entendam ( e
explorem) as diferenças entre a China e a
Rússia. São dois países que há 30 anos
tinham economias semelhantes e hoje a da
China é dez vezes superior. Além disso, a
China prosperou durante estas últimas
décadas de domínio ocidental enquanto a
Rússia esteve na base de muita da sua
instabilidade. Sem falar que Xi Jinping é
diferente de Putin, cuja influência tem sido
sempre exercida pelas ameaças e força
militar.
Nunca Biden e a Europa devem
ignorar que a China, pelos seus laços
económicos, é um pilar da estabilidade do
mundo.
CONHECEM AQUELA DO ANÃO?
- 09/02/2022
Não, não devo contar, pelo menos sem
antes confirmar junto de alguém que
represente pessoas que sofrem de um
transtorno "que se caracteriza pela
deficiência no crescimento, resultando numa
pessoa com baixa estatura, se comparada com
a média da população de mesma idade e sexo"
Pelo menos assim é o que entendem os
responsáveis da Disney, questionados acerca
da nova versão do filme animado "A Branca de
Neve e os 7 Anões". Para evitar reforçar
estereótipos do filme original, um porta-voz
da Disney afirmou: "vamos adotar uma
abordagem diferente com esses sete
personagens, e estamos consultando membros
da comunidade com nanismo", afirmou um
porta-voz da Disney depois de Peter
Dinklage, actor anão que participou na
Guerra dos Tronos e Cyrano, ter criticado a
nova versão da história e dito : "Você é
progressista (...), mas ainda está fazendo
uma história atrasada sobre sete anões que
vivem juntos em uma caverna?"
Não saberá
o Peter Dinklage que a estória é um conto da
tradição oral alemã, publicada no séc. XIX
pelos Irmãos Grimm? Que os "anões" da
estória são seres mitológicos de aparência
humana, geralmente apresentados como
mineiros e artesãos do metal? Que não têm o
mínimo de comparação com a apresentação de
pessoas como aberrações de circo, como se
fazia com anões, gigantes ou mulheres
barbudas?
Depois de o "politicamente
correcto" desejar pôr fora de circulaç ão
algumas obras clássicas, com acusações
(algumas lunáticas) de colonialismo,
racismo, homofobia..., é a vez de os Irmãos
Grimm e a literatura infantil serem
visitados por este novo e global impulso
censório.
Será que a Disney também irá
consultar pessoas que sofrem de hipercifose
e disfarçar a "marreca" ao "O Corcunda de
Nôtre Dame"?
Ainda vá que não vá
preocuparem-se com o susto que a Dona Chica
apanha com o berro do gato quando lhe atiram
o pau.
Só que o gato não morreu.
E as
pazadas na cultura... podem ser enterrá-la!!
CUBRAM-SE... OU A LITURGIA DO CHAPÉU!
- 29/11/2021
O Ómicron, o jogo do
Benfica com a B Sad ou o embate Rio/Rangel
são os últimos temas que têm vindo a ser
debatidos nas redes sociais, como
habitualmente quase sempre de cabeça quente.
Ora se, do ponto de vista mental, manter
cabeça fria leva vantagem sobre ficar de
cabeça quente, com o Inverno a chegar e os
recentes dias frios, no que respeita ao
conforto físico, o contrário disso é uma
evidência. Por isso os complementos para a
cabeça já passaram para a frente do meu
roupeiro, entre eles alguns chapéus. Caídos
em desuso a partir dos anos 60 (ao que
dizem, pelo crescente uso do automóvel nas
deslocações), o uso de chapéu tem vindo a
aumentar. Não sendo um utilizador muito
frequente, sou um consumidor razoável. Tudo
começou há já alguns anos, com um Stetson
azul escuro, modelo Fedora (linha Indiana
Jones), que "gamei" ao meu irmão. A partir
daí comecei a comprar regularmente, mais do
que o necessário para o uso que lhes dou.
De feltro ou palhinha, isto de usar
chapéu tem no entanto mais que se lhe diga,
para além da sua utilidade. Chapéus há
muitos, como dizia Vasco Santana na Canção
de Lisboa, mas a linha que separa o seu uso
correcto e o ridículo é muito ténue. É
necessário escolher de acordo com aspectos
físicos e a vestimenta de quem os usa. Diz o
escritor e jornalista espanhol António Perez
Reverte, grande amante de chapéus, que uma
criatura baixinha nunca deve usar um Fedora
(abas com mais de 6 cm). Também um indivíduo
de feições bem roliças jamais deve colocar
no topo da cabeça um Porkpie (copa baixa e
aba curta voltada para cima, muito usado por
músicos e outros artistas). No verão, os
preferidos de Reverte são os panamás
Montecristi para campo e praia, com aba
nunca superior a 6 cm e, para a cidade, os
Borsalino, com copa alta e aba de 5,5 cm (já
agora, os Borsalino assentam lindamente nas
mulheres, com o cabelo apanhado).
Ainda sobre o modelo Panamá, uns cunhados
meus que viajaram pelo o Equador,
esclareceram-me que é este o país de origem
desse chapéu de palha (e um dos produtos que
mais exporta), cuja popularidade mundial foi
conseguida muito pelas fotografias de
Theodore Roosevelt, que o usou durante a
visita às obras do Canal do Panamá em 1906.
Voltando ao tema, diz também o autor
espanhol que muito importante é saber onde e
como usar o chapéu. Um detalhe importante: o
chapéu nunca deve parecer novo a estrear,
mas sim com um ligeiro uso. Relembrando uma
tirada do deputado republicano Brito
Camacho, um chapéu de palha muito usado pode
ser perigoso, não vá despertar o apetite a
muitos políticos!
E atenção, cuidado
ao escolher a medida pois com o uso os
chapéus têm tendência a encolher.
Há
ainda regras de utilização. Por exemplo,
tirá-lo sempre debaixo de tecto e em lugares
de respeito, seja lá o que isto quer dizer.
Claro que se exceptuam locais como
aeroportos, estações, recintos desportivos
ou centros comerciais. Tirá-lo ainda para
cumprimentar uma senhora, um amigo de
estimação ou pessoa de idade avançada.
Também num pedido de desculpas ou num
agradecimento se devem descobrir as cabeças.
Já para saudar um conhecido deve tocar-se na
aba com o indicador e o polegar.
Atenção, tão importante como levá-lo na
cabeça é saber quando o tirar e o que fazer
com ele. Quando se tira o chapéu, este deve
manter-se suspenso pela aba e não pela copa.
E para ser considerado uma especialista na
matéria, mais esta: num restaurante ou bar,
não havendo lugar onde pousar o chapéu,
coloque-o debaixo do assento, de copa para
baixo (se o chão estiver limpo, está visto)!
A foto usada é da Chapelaria Casa
Azevedo Rua, em Lisboa, a cobrir cabeças
desde 1886! É de se lhe tirar o chapéu!!!
Nota: Agora voltemos aos temas ditos
"sérios" e evitem andar por aí a apanhar
bonés ou, pior, a enfiar barretes!
GOD SAVE THE QUEEN
- 26/03/2021
Confesso que já nem ligo aos comentários do Pedro Simas sobre a Covid, nem às reuniões do Infarmed, nem às polémicas sobre a EDP ou a TAP. Entusiasmo-me com a bronca armada pela Megan, depois da entrevista dada num programa americano de televisão, tipo o do Goucha. Dá-me pena ver a pobre da rainha, toda arreliada. Não lhe bastavam os joanetes... Até a senhora que lhe vai arranjar os pés todas as quartas-feiras confidenciou ao The Sun (o CM de lá) que "Fortunately, the scandal caught the Queen barefoot" (trad. "Vá lá que o escândalo apanhou Rainha descalça". Mesmo assim custou-lhe imenso, adiantou Mrs Nail Cutter.
Para já custou-lhe uma data de jóias que tinha emprestado à Megan, entre elas uma dúzia de chapéus que usou em Ascott, no intervalo das duas Grandes Guerras. E agora, coitada, queixa-se que é uma chatice, porque aquilo a bem dizer não era dela, pertence à Coroa e agora é uma carga de trabalhos para dar baixa no inventário. A Megan, por sua vez, queixa-se que iam dando com ela em maluca, porque esteve fechada no Palácio, de onde só saiu duas vezes em 4 meses e mesmo assim de corrida, pois esconderam-lhe as chaves, o passaporte e a carta de condução. Eu cá não acredito. Para que é que ela precisava de ter as chaves do Palácio se há lá empregados só para puxar os ferrolhos e abrir aquelas grandes portas? Nunca se viu a rainha a jogar a mão à mala e andar à procura dum molho de chaves! Já a carta de condução, acredito que a tenham escondido. Então a menina queria pegar no carrinho e lá vai ela? Não sabe que ali se conduz do lado esquerdo e que é perigoso para quem não está habituado? Já a outra foi de Inglaterra para a França, onde se conduzia pela direita, e foi a tragédia que foi.
Também disse que o
sogro e o cunhado são racistas e que a
cunhada a fez chorar no casamento por causa
de um problema com os vestidos das
floristas. Isso já não sei. Sei é que caiu
mal no sogro, aquele senhor parecido ao
presidente do Benfica (o Orelhas) quando
está de costas, casado com a única mulher da
Commonwealth que fica melhor quando usa
máscara. O Carlos, dizia eu, por causa disto
tudo já foi falar com uns advogados e cortou
a mesada ao filho. Eles que se governem com
a herança da coitadinha da mãe que lhes
deixou qualquer coisinha, como umas dezenas
de milhões de dólares, disse. E eu digo, a
Megan que devolva é as jóias e fique com os
chapéus (também já devem estar encardidos
dos anos que têm e com tempo que faz em
Inglaterra). Ou que ponha tudo a leilão para
fins de solidariedade. Safadinha como parece
ser, já estou a vê-la a anunciar, como fez o
Presidente duma Sociedade Recreativa duma
aldeia do Alentejo, quando leiloava uma
jarra oferecida pela filha do senhor
Presidente da Junta:
"Tenho aqui esta
pulseira de ouro branco e diamantes. Foi
oferecida pela minha sogra, a Rainha de
Inglaterra! Quanto vale a puta?"
OS FURAS
- 4/03/2021
Quando se iniciaram os planos nacionais de vacinação, perante os atrasos verificados no fornecimento de vacinas, na generalidade dos países assistiu-se ao oportunismo de alguns chico-espertos que, numa atitude "salve-se quem puder", ignoraram os direitos dos grupos prioritários para conseguirem uma vacina para si.
A nível de países, também a lentidão na estratégia de vacinação europeia, aprovada pelos países da União, já conheceu os primeiros "furas". A Hungria (quem mais podia ser?) foi quem provocou o primeiro rombo no plano de Bruxelas, ao decidir telefonar ao Presidente chinês para adquirir vacinas daquele país. Pouco tempo depois Dinamarca, Áustria, Polónia, República Checa e Eslováquia seguiram o senhor Orbán e procuraram vacinas fora do quadro da União. A Eslováquia então, num dia o seu Presidente afirmava que, para um país pequeno e com poucos recursos como o seu, era fundamental aderir aos planos da União Europeia, e poucos dias depois fazia uma encomenda de vacinas Sputnik. A Hungria até se deu ao luxo de dispensar vacinas a que tinha direito, adquiridas através de Bruxelas.
De repente, desvaneceu o entusiasmo gerado pela decisão comunitária de aquisição de vacinas para todos os europeus e a sua distribuição equitativa, eliminando a evidente vantagem que as maiores potências europeias teriam se cada país negociasse a compra de vacinas isoladamente. E aquilo que parecia ser um primeiro momento de verdadeira solidariedade Europeia deu lugar a manifestações de egoísmo nacional.
Quando começarem as negociações para a distribuição dos dinheiros da "bazuca" iremos ver como se comportam os "furas"...
Provavelmente, ao contrário do que fizeram em relação às vacinas, vão seguir o lema do Sporting "Onde vai um, vão todos"
Illustration: Chen Xia/Global Times
PALAVRAS DOCES: O AMOR EM TEMPO DE COVID
- 16/12/2020
Face às barreiras
levantadas às manifestações libidinosas
impostas pelo distanciamento físico, o
Courier International desta semana aborda
como tema central o tema do amor durante a
pandemia, através de boas histórias
publicadas na imprensa estrangeira.
Mnham, mnham...
Há horas felizes
O respeitinho é
sempre muito bonito!
"Amor é fogo que
arde..."
"Tás surda ou quê?"
Há EMERGÊNCIAS e emergências
Duas jovens adolescentes que se tornaram personagens globais num curto espaço de tempo, com direito a dirigirem-se ao mundo no palco da ONU. Uma (Greta), nascida num dos países mais desenvolvidos do planeta, ficou conhecida por fazer greve às aulas, com o objectivo de alertar o mundo para os problemas climáticos do planeta. A outra (Malala), paquistanesa de origem humilde, ficou conhecida mundialmente depois de ter sido perseguida e baleada na cabeça, por desafiar os talibãs ao ir à escola quando tinha 15 anos. Greta tem milhões de seguidores nas escolas e universidades, nas ruas, nas redes sociais, nos jornais e televisões. Malala tem milhões de impossibilitados de a seguirem no direito a estudar por motivos políticos, religiosos ou económicos. Milhões que são forçados a trabalhar desde a infância para produzir alimentos, vestuário, "gadgets", destinados aos da mesma idade que se mobilizam para reclamarem a EMERGÊNCIA de salvar o planeta. E quem reclama a emergência de salvar aqueles? Ah, esses não chateiam nem votam ou dão votos...