Crónica
Fernando Correia
DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
- Partilhar 05/05/2023
Os países de cultura
lusófona celebram a 5 de Maio a língua
portuguesa, uma das mais faladas no Mundo,
estimando a UNESCO e a CPLP que mais de 265
milhões de pessoas se sirvam do português
para comunicarem entre si e para legarem ao
Mundo um manancial de cultura, expressa pela
história, pelos livros, pelos feitos, pelas
raízes, pela memória de uma cultura única e
universal.
Tinha razão Fernando Pessoa.
Tiveram razão todos os que a escreveram em
Portugal, no Brasil, em Moçambique, Angola,
Cabo Verde ou São Tomé.
Mesmo em Timor,
Índia ou Guiné.
E antes de Pessoa tinham
razão Camões, António Vieira e os que
ajudaram a edificar este imenso edifício
solidário que projectou o Quinto Império e
deixou povos comuns à beira da mesma Pátria.
E ainda que seja importante respeitar os
territórios, as fronteiras, os costumes,
tradições e história, não é menos relevante
dizer que a língua portuguesa serviu para
edificar uma pátria comum, como muito bem
disse Fernando Pessoa: a minha pátria é a
língua portuguesa!
Que pena, então, os
atropelos, os acordos sem acordo, a
ortografia deficiente, o descuido na fala, o
desencontro na construção linguística, a
distorção vocabular!...
A televisão seria
uma boa forma de ensinar, a imprensa escrita
de corrigir, a Escola de formar, os livros
de construir, mas para tanto seria
necessário que houvesse disponibilidade para
respeitar a beleza da língua portuguesa,
dando – lhe o doce da pronúncia e o mel do
conceito, unidos pela forma única de dizer
saudade no respeito pela partida, sempre à
espera da chegada, como se o Mundo começasse
na palavra mãe e terminasse na palavra amor,
para definir uma existência de paz e um doce
embalo de purificação espiritual.
Mas
não.
Nestas coisas dos sábios há sempre
quem se queira arrastar pelos caminhos de
uma discutível notoriedade, estabelecendo
regras que adulteram a verdade e a vontade,
não respeitando o povo que fez a língua, nem
os obreiros da palavra que a escreveram e a
pensaram em páginas e páginas de história
literária cobertas pela poeira do tempo, mas
disponíveis para o reencontro da prosa e da
poesia com a verdade de quem nasceu,
embalado pela cadência única da língua
portuguesa, no seu berço da lusofonia.
É
em Maio que se celebra a língua portuguesa e
se projectam a sua grandeza e a sua
importância.
Maio. Mês de Maria.
Mês
de mãe. E da rosa das descobertas.
Da
que trazemos ao peito, guardada numa redoma
de esperança, depois de vermos transformado
o Cabo das Tormentas em Cabo da Boa
Esperança.
A Rosa de Santa Maria também é
uma flor da língua portuguesa.
Está no
coração de quem a ama.
SEGREDOS DE CONFESSIONÁRIO
- Partilhar 13/02/2023
A Comissão
constituída para analisar e quantificar os
abusos sexuais na Igreja Católica apresentou
as suas conclusões e deu a conhecer que
existem cerca de cinco mil vítimas
(conhecidas) de padres e de outros membros
da Igreja.
É um rosário
impressionante de factos que vão desde as
insinuações às carícias, masturbação, sexo
oral e penetrações consumadas, tanto em
rapazes como em raparigas, numa idade média
preferencial de onze anos!
A situação
mereceu de D. José Ornelas a qualificação de
dramática e, muito naturalmente, justifica
uma ponderação atenta e cuidada de um
problema que não é novo, como se sabe, mas
que desde 1995 foi inscrito como crime no
Código Penal e desde 2007 tornado público, o
que contribuiu para as dimensões trágicas
atingidas e agora divulgadas.
É
preciso fazer notar que a Comissão apenas
contabilizou e analisou os crimes sexuais
dos quais teve conhecimento, porque grande
parte das vítimas refugiou-se num silêncio
temente a Deus e à exposição pública, o que
se percebe e justifica.
Perante os
factos conhecidos e sabendo-se que muita
coisa ficou por dizer, a questão que se
coloca tem a ver com o facto de vários
homens sentirem o chamamento de Deus e
optarem pela vida eclesiástica.
Porque razão o fazem?
Por vocação?
Porque a família assim o deseja? Por
qualquer desgosto sofrido? Como alimento de
alma? Como solução de vida?
Responder
a estas questões é essencial, muito mais do
que criticar a Igreja Católica por não
permitir o casamento dos sacerdotes.
Porquê?
Porque nada obriga a ser
Padre e porque ao iniciar os estudos
eclesiásticos, os que os seguem saberem
muito bem ao que andam, ao que vão e ao que
os espera.
Sendo assim e
prevaricando, não há desculpa!
O
reconhecimento da tragédia não chega. O Papa
pedir perdão pelos crimes cometidos não
desculpa. O servir-se do Confessionário ou
da Sacristia para cometer abusos sexuais,
não tem qualquer enquadramento nas tentações
e na fraqueza humanas, sendo actos
repulsivos e aberrantes.
Por isso
torna-se fundamental analisar os candidatos,
estudar o seu comportamento, perceber a
razão da escolha, avaliar a sua
disponibilidade mental para uma entrega
total à religião professada, entender as
razões espirituais que os vão conduzir ao
sacerdócio e, sobretudo, acompanhar o seu
comportamento, a sua progressão e o seu
crescimento na Igreja Católica.
Não o
fazer é permitir que os abusos sexuais sejam
continuamente praticados, até mesmo quando
já se desempenham altos cargos e se atingem
divisas eclesiásticas do mais elevado grau.
Não se sabe se Deus está disposto a
perdoar a quem comete crimes destes, quando
se deixa uma criança de onze anos marcada
para toda a vida.
Creio que não.
A MANIA DAS GRANDEZAS
- Partilhar 27/01/2023
A Jornada Mundial da
Juventude vai trazer a Portugal o Papa
Francisco, enquanto representante máximo da
igreja Católica e enquanto símbolo do
sofrimento de Jesus Cristo, dito filho de
Deus, na sua passagem mensageira e
transformadora pela Terra, e vai trazer
também milhares de jovens, muitos deles
acompanhados pelos seus familiares, que
comungam dos mesmos ideais de paz,
concórdia, amor pelo próximo e crescimento
espiritual.
Serão jornadas de fé e de
manifestação da unicidade de Deus com os
Seres Humanos, percebendo-se ser uma
ocasião abençoada para se preparar o Mundo
para um futuro melhor, mais digno e de maior
transparência.
Francisco já manifestou,
por diversas vezes, a sua identificação com
os mais pobres, com os desprotegidos pela
sociedade, com os marginalizados, com os que
sofrem por estarem sós, por não terem
trabalho, por não terem casa, por não terem
quem olhe por eles e para eles.
Para além
dessas manifestações e do seu interesse em
querer uma vida pessoal afastada de riquezas
e de pompas, afinal mais de acordo com a
religião Católica e com a palavra de Jesus,
Francisco pôs de parte a ostentação do
Vaticano, desde a sua morada às suas vestes,
até à forma como se faz transportar e às
mensagens que a sua voz irradia, sempre em
favor dos mais desfavorecidos.
É nessa
zona da sociedade civil que ele se sente bem
e é por esse tipo de sofrimento que mais
deseja espalhar a sua palavra e nas
encíclicas a que dá visibilidade exterior,
existem sempre sinais de humildade e de
aperfeiçoamento interior.
Por esta
razões, não pode estar feliz ao saber que só
o palco-altar a construir para a Jornada
Mundial da Juventude, onde ele será o
personagem principal, vai custar cinco
milhões de euros (fora o resto) ao erário
público português, acrescentando ainda os
custos inerentes à sua deslocação, à sua
permanência e às suas outras visitas
programadas. A estimativa das despesas
relativas à deslocação papal e de tudo o que
a envolve anda pelos 160 milhões de euros.
Curiosamente, ou não, porque nada acontece
por acaso, Deus transmitiu um aviso a
Portugal, deixando-o ao frio do Inverno e
Lisboa (temperada por natureza) a viver uma
experiência gelada, sobretudo para os sem-abrigo da cidade que ganharam a bondade
temporária do Município (o dos 5 milhões
para o palco-altar) ao mandar abrir,
durante a noite, algumas estações de metro
para eles pernoitarem e facultando-lhes,
até, a utilização de um pavilhão desportivo,
contendo algumas dezenas de camas, a fim de
os albergar por uns dias.
Quando o frio
abrandar, fecha-se o Pavilhão Desportivo e
as estações de metro encerram as suas
portas.
Neste momento e por tal razão
estará o Papa Francisco a pensar o mesmo que
muitos de nós: os cinco milhões de euros
(fora o resto, num total de 160 milhões)
davam e sobravam para construir
infraestruturas destinadas a albergar os sem-abrigo da cidade, em zonas devolutas ou
expectantes de Lisboa, suficientes para
diminuir a desgraça em que caíram pelas mais
diversas razões.
E dava para comprar
camas funcionais, almofadas, lençóis e
cobertores. Não daria a bondade social para
lhes enxugar as lágrimas, mas certamente
iriam sentir que alguém se preocupava com
eles.
E o Papa Francisco ficaria feliz a
abençoar os jovens que virão de várias
partes do Mundo, num palco-altar, mesmo
raso ao chão, com flores portugueses ao seu
redor, que custasse o preço da dignidade e
do bom senso.
Jesus foi pregado numa Cruz
e deu ao Mundo o exemplo do seu sofrimento.
Como que criou um palco natural do tamanho
do Universo para albergar a fé dos Homens.
CR7 NA ARÁBIA SAUDITA
- Partilhar 23/01/2023
Tenho lido e ouvido
e, por certo, vou continuar a ler e a ouvir,
as mais diversas opiniões sobre o contrato
celebrado entre Cristiano Ronaldo e o
AL-NASSR da Arábia Saudita, por valores
inusitados e invulgares, mesmo para grandes
figuras do futebol.
Os comentários
andam todos à volta da “má opção” feita pelo
futebolista português; da perda de
visibilidade que vai ter; do facto de
ignorar os graves problemas sociais e
humanos da Arábia, ou colaborar neles; do
volume de dinheiro que vai ganhar; de
“vender a sua alma ao diabo”; de ser um mau
fim de carreira para ele; e por aí fora, ao
sabor do critério emocional de cada
analista.
Mesmo considerando que têm
todo o direito de dizer o que pensam, não
posso deixar de alertar esses comentadores
para a realidade de Cristiano Ronaldo que
deixou de ser o menino madeirense à procura
de uma vida melhor, através do futebol, para
ser a marca CR7, ao chegar aos trinta e tal
anos de idade.
Sendo uma marca não
pensa, apenas, como um Ser Humano, nem reage
como tal.
Vive num Mundo
completamente à parte, de valores
diferentes, construído com critérios sociais
diferentes e, por vezes, até artificiais,
onde o dinheiro tem um valor que não
conhecemos nem entendemos e onde uma joia,
vale o mesmo que um chocolate ou meia dúzia
de caramelos para os mortais comuns.
Ou seja: por imperativo da vida, dos
caminhos que percorreu, do seu talento para
o futebol e pelo dinheiro que ganhou,
Cristiano tornou-se órfão de si próprio,
para passar a ser um símbolo de qualquer
coisa ou mesmo a marca CR7, que não pensa
como nós, não vive como nós, não age como
nós, mas actua, existe e comporta-se, dentro
de parâmetros completamente diferentes que
são, simplesmente, os exigidos pela
importância da própria marca.
E nesse
caso vale quase tudo.
É verdade
que se dá, nestes casos, como que uma
desumanização da pessoa, para se criar um
automatismo robotizado do símbolo.
Aos 38 anos de idade, multimilionário, cheio
de automóveis, palácios, negócios, aviões,
barcos, joias, boa roupa, mulheres que
gostam dele, família que ele ampara e que
ampara, sobretudo, os seus filhos, CR7
chegou a Riade para se apresentar como uma
das maiores marcas, senão mesmo a maior, do
futebol mundial.
Neste momento, já
não é um Ser Humano igual a nós.
É outra coisa
qualquer que pode jogar, não jogar, treinar,
não treinar, despedir treinadores, orientar
a equipa em campo, não apertar a mão a
ninguém, ser mais do que um Príncipe (talvez
mesmo Rei), encher o estádio com a sua
figura atlética, constituir-se como
Embaixador de uma candidatura mundial e
rir-se um bocado com as críticas negativas
que lhe fazem.
Tenho muita pena de
vos dizer que o Cristiano Ronaldo já não
existe como nós. Não é igual a nós.
Não é mais a criança que saiu da Madeira, a
chorar pobreza, mas determinada em ser
alguma coisa de invulgar neste Mundo.
E conseguiu. Por ele e pelo destino.
Agora é o CR7. É uma marca. É um
símbolo. É uma história de vida, para contar
aos mais pequenos, como se fazia antigamente
com os contos de fada.
Roubar para não ter fome
- Partilhar 25/10/2022
Os supermercados
estão a colocar alarmes nalguns produtos
alimentares que são, ao que dizem,
facilmente subtraídos às caixas de
pagamento.
Conservas, congelados,
queijos, manteiga, leite e por aí adiante,
desde que facilmente manobráveis, são
produtos que têm sidos desviados por gente
com fome, por pessoas no limiar da pobreza,
ou por mães que não têm nada para os filhos
comerem e que já os mandam à Escola mais
para eles comerem uma refeição quente por
dia, do que para aprender as letras e as
contas.
É um Portugal triste este em
que vivemos.
É um lugar disfarçado de País,
com ricos e pobres, portanto sem a produtiva
classe média que faz avançar a economia.
É um pedaço da União Europeia sem bases de
sustentação para resistir ao efeito
“boomerang” das sanções impostas aos que
fazem a guerra.
Os ricos “enchem–se” com os fundos europeus (está na moda),
com desvios, espertezas, subtilezas,
dinheiro empresta(da)do pelos bancos,
negócios de exploração do próximo ou do
desprevenido, compadrios familiares e
empregos partidários.
A classe média vive
uma pobreza envergonhada, fazendo números
constantes de equilibrismo para resistir às
exigências dos trinta dias do mês.
Os
pobres pedem dinheiro nas ruas, acorrem às
ajudas alimentares das organizações que
existem para o efeito, dormem ao relento e,
algumas vezes, recorrem aos supermercados
para disfarçar a fome.
E nós? Os que
somos apenas números? Os que não importamos?
Disfarçamos. Sofremos. Escondemos.
Resistimos.
Quando eu tiver fome e
roubar para comer, só consinto em ser preso
se os outros que roubam de barriga cheia
forem presos também.
FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)
Mais uma lágrima, Jorge!
- Partilhar 22/09/2022
Jorge Fonseca é um
grande campeão português.
Homem de
medalhas, de vitórias sucessivas, de
bandeira nacional, de hino e de lágrimas.
Jorge Fonseca foi condecorado pelo
Presidente da República pelos seus feitos
desportivos na modalidade que escolheu, o
judo, misto de físico e mente, de força e de
arte, de raciocínio rápido e músculo, de
lealdade!...
O sonho do Jorge, nascido na
Amadora, num bairro pobre de gente pobre,
foi sempre o de ser polícia, um agente de
segurança pública capaz de evitar situações
que ele próprio detectava no seu bairro.
Aos 29 anos concorreu à PSP. Finalmente
estava à porta do sonho mais difícil de
concretizar do que uma medalha Olímpica.
Teve 7,8 na prova de cultura geral. Foi
reprovado. Nem sequer chegou às provas
físicas. Chumbou.
A PSP precisa de
homens cultos, mesmo que tenham
comportamentos anti-patriotas, mesmo que
batam indiscriminadamente, mesmo que
insultem, mesmo que pratiquem actos anti-democráticos.
Têm é de ser letrados.
Mesmo cultos. Talvez sábios.
O que não
devem poder ser é negros, campeões
Olímpicos, condecorados pelo Presidente da
República, homens que choram quando o hino
português é tocado por eles e para eles e a
bandeira portuguesa sobe ao mastro de honra.
Não. Isso não podem. Têm de ser cultos.
O
Jorge Fonseca, grande Campeão Mundial quer
entrar para a PSP mas não o deixam, porque
no teste de cultura geral teve 7,8 valores.
Por favor abram os olhos e tenham juízo!...
O Jorge Fonseca deve ser agente da polícia
de segurança pública…por mérito!
FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)
FALANDO DE MISTÉRIOS ENTRE A VIDA E A MORTE
- Partilhar 08/09/2022
A morte é um
mistério, mas a vida também é e não se torna
possível pensar numa coisa sem pensar na
outra.
Antes de nascer, o que era eu?
E se eu não tivesse nascido, onde estava?
A resposta fácil tem a ver com aquilo que
toda a gente sabe.
O Ser Humano
acontece, forma-se, desenvolve-se
através da fecundação de um espermatozoide
que atinge o óvulo e forma o zigoto, a
primeira célula do novo Ser.
Ponto final.
Tudo isso é belo e misterioso, mas não
explica tudo, porque continua a não me dizer
donde venho e o que era eu antes de ser
alguma coisa.
É neste mistério que vivo e
é neste mistério que morro.
Ou seja: o
mistério de não saber, de não descodificar,
de não explicar o essencial, leva a que eu
encare a morte como parte imprescindível do
processo existencial e que essa segunda
parte seja tão misteriosa como a primeira.
Dir-se-à: então vale a mais a pena que
não saiba, desde logo porque ninguém me
consegue explicar.
Os livros Sagrados
aproximam-se (ou não) e tentam uma
explicação sobrenatural que se baseia na
vontade de Deus, mas logo entram em
contradição ao dizer que Deus selecciona as
almas e umas morrem, outras não.
A
omnipotência divina não deve ser medida
assim, nem pode ser avaliada como se se
tratasse de um julgamento.
Esse Deus que
avalia, que decide, é único, criativo,
bondoso, igualitário, fraterno e tem
capacidades invulgares que são intraduzíveis
em pensamentos e palavras comuns.
ELE
está para além de tudo, logo está também
para além da minha (da nossa) compreensão.
A morte é um mistério, mas não é o fim, tal
como a vida é um mistério mas não é o
início.
Entre uma coisa e outra há uma
mancha cinzenta não explicada, ou então
explicada de acordo com a nossa capacidade
de entendimento e de avaliação dos
mistérios.
E tudo isto está tão bem
feito, tão correcto, que só podia ter sido
concebido por uma inteligência superior.
Não há volta a dar e por muito de científico
que eu consiga colocar nas palavras, nas
razões, nas explicações, nos estudos, nas
fórmulas, sobeja sempre a dúvida: donde
venho e para onde vou?
Seria simples
dizer: venho do nada e vou para o nada. Mas
essa seria uma explicação demasiadamente
fácil e redutora, perante a natureza.
Eu
venho de alguma coisa e vou para a alguma
coisa.
Não sou pó amassado, nem me
sopraram o fôlego da vida, nem vou dormir o
sono eterno, até que me acordem outra vez.
O meu processo só pode ser de transformação
permanente e mesmo sem que eu saiba, Sou e
volto a Ser.
Fico por aqui.
Faz bem
pensar. Mas faz melhor acreditar na minha
pequenez, na minha reduzida dimensão perante
a grandeza infinita do que me rodeia.
A
explicação pode estar aí: no infinito!
E
é no infinito da vida que está, desde hoje,
o meu amigo Paulo Lepetri, Professor da
Universidade do Algarve e Mestre da minha
alma, sempre à procura de quem goste dela.
Tenho dele (já) uma infinita saudade. Mas
sei que o vou voltar a ver.
FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)
PERDI MAIS UMA FEIRA
NA FEIRA DA MINHA VIDA
- Partilhar 11/07/2022
O Presidente da
Câmara Municipal, Carlos Moedas, anunciou a
desistência de Lisboa do projecto da Feira
Popular, em Carnide.
Segundo ele (e
só ele) é uma desistência por falta de
investidores e porque hoje em dia já não há
quem procure este tipo de equipamento, como
acontecia na nossa juventude (estou a falar
de nós, os mais velhos), elevando – nos ao
plano da escolha da diversão, da brincadeira
graúda, do petisco ocasional, da fartura, do
algodão doce, do carrossel, do comboio
fantasma, da grande roda, do poço da morte e
do jogo dos espelhos que nos fazia mais
gordos ou mais magros, consoante o formato,
fazendo – nos rir que é algo de muito
saudável que hoje é quase proibido fazer.
Estamos em tempo de guerra, de carestia
de vida, de inflação galopante, de
desemprego, de greves, de fome, de desespero
para conseguir sobreviver, juntamente com o
nosso agregado familiar.
Mal seria
que tentássemos ultrapassar, nem que fosse
por uma tarde ou por uma noite, esse
desespero, com uma ida à Feira Popular de
Lisboa a troco de um bilhete de ingresso
simbólico, ou de uma bifana e um copo de
cerveja, embrulhados em luzes e cobertos
pelo único som que nos protege as dívidas: o
som da vida!
Para além disso havia
emprego e trabalho para muita gente e havia
os carrinhos de choque, talvez o circo de
feira e o comboio fantasma, e uma mulher
para ler a sina.
Havia restaurantes e
artesanato, exposições, vendas solidárias e
livros…
Também havia o lago, o
comboio, a montanha russa (ou ucraniana), o
passeio de charrete e a imaginação…
Ah! A imaginação!...
Mas imaginação
sem investidor, não é possível, porque na
actual Câmara de Lisboa não há quem imagine!
O Presidente não quer.
O
Presidente nunca foi criança.
O
Presidente nunca teve um balão.
O
Presidente de feiras só conhece a “Ovibeja”.
O Presidente não avalia a dimensão e a
importância do investimento popular, nem
sabe rir de olhos arregalados para a
primeira surpresa da infância das
descobertas.
O Presidente já nasceu
apreensivo e tantas contas fez que lhe
falharam as contas da alma, porque não havia
investidor para elas.
Estou triste e
ofendido.
Triste, por mim, pelos meus
filhos, pelos meus netos, pelas crianças da
minha cidade.
Ofendido, porque me
andam a esconder a verdade e me relegam para
uma posição de subalternidade intelectual que não mereço, enquanto homem livre e
cidadão de Lisboa.
FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)
JOSÉ SARAMAGO: A MEMÓRIA QUE NÃO SE PERDE
- Partilhar 11/05/2022
A imortalidade
conquista-se pela diferença. A memória
perpetua-se pelo conteúdo da vida.
José
de Sousa Saramago foi um Ser Humano que
lutou por si e pelos outros, através da
palavra escrita, dos conteúdos corajosos,
das lutas internas pela conquista da
liberdade de expressão.
Por isso, pelo
seu talento, pela prosa pensada e obtida no
direito de ser diferente, pela coragem com
que deu voz e sentido às palavras mudas,
José Saramago foi distinguido em 1998 com o
Prémio Nobel da Literatura, depois de ter
recebido o Prémio Camões em 1995 e fez com
que o menino nascido em Azinhaga do Ribatejo
fosse crescendo com a profissão de
serralheiro mecânico e se tornasse adulto
como um dos maiores escritores de sempre em
língua portuguesa.
Cem anos passam sobre
o seu nascimento, em 1922, e nesta memória
em que se revisita o jornalista, o poeta, o
dramaturgo, o ficcionista e o romancista,
caem dos sentidos, numa emoção descontrolada
e sublime, títulos como: “Os poemas
possíveis”, “A Noite”, “Manual de pintura e
caligrafia”, “Memorial de Convento”, “ A
jangada de pedra”, “O Evangelho segundo
Jesus Cristo”, “O ano da morte de Ricardo
Reis”, ficando a paixão por Lanzarote como
último recado da sua vida cheia de palavras,
de mensagens, de sonhos, de premonições, de
certezas e de esperança.
Disse José
Saramago: “O espelho e os sonhos são coisas
semelhantes. É como a imagem do homem diante
de si próprio”.
E essa é a imagem de
Saramago que resta para o futuro do tempo.
Por ser um fiel seguidor da prosa de
Saramago e por me entender nos conceitos das
suas obras, relevantes e significativas em
cada época da sua criação, sinto alguma
dificuldade em distinguir um livro. Mas
sendo essa a proposta, não posso deixar de
salientar a obra que “acordou” a crítica
literária, o poder político e a opinião
pública para a verdade do escritor. Refiro–me ao título “O Evangelho segundo Jesus
Cristo” que me mostrou um homem diferente e
sem medo, uma personalidade literária, um
ser humano, na linha de continuidade daquele
que descobri na redacção do jornal “A
Capital”, quando nela trabalhámos juntos,
sendo um incansável lutador pela liberdade.
O romance foi publicado em 1991 e
excomungado pelo político Sousa Lara, quando
se dizia Secretário de Estado Adjunto da
Cultura, que tentou proibir a sua leitura e
não o conseguindo retirou-o de uma lista
de romances candidatos a um prémio europeu.
Foi o alerta para a atribuição do Prémio
Nobel, em 1998, embora já ao lado de outros
títulos relevantes e anunciadores da beleza
da sua prosa despontuada, mas repleta de
ineditismo e de mensagem, que o havia de
encaminhar para a imortalidade.
Trata-se de um romance de grande criatividade,
imaginativo, revelador, modernista, com uma
construção literária invulgar, que deixa ao
leitor a capacidade de compreender o
Profeta, entendendo o escritor, ou perceber
o escritor não entendendo o Profeta.
Os
protagonistas da obra são o leitor e Deus,
ambos no cumprimento de uma capacidade de
julgamento e de premonição que atravessam o
livro, através dos seus vinte e três
capítulos, e se projectam no Tempo,
deixando, por vezes, o Diabo à solta.
Ficará como um Evangelho apócrifo, é
verdade. Mas, também, como uma demonstração
de enorme talento.
Por outro lado, e
embora se tente dizer o contrário, Deus sai
deste livro de Saramago com uma auréola de
esperança a enfeitar o futuro da humanidade.
NACIONALISMO LEVADO AO EXTREMO DA INCOMPREENSÃO
- Partilhar 04/03/2022
Provavelmente é
redundante referir que o nacionalismo é
extremista, mas no caso vertente da Rússia e
da Ucrânia pode fazer sentido falar em
extremos aplicados às duas partes em
confronto.
Talvez por razões diferentes,
mas conduzindo a fins comuns.
Os russos e
os ucranianos têm origens eslavas e a
Ucrânia fez parte da Rússia durante a maior
parte da sua existência. De tal modo que
Kiev foi capital da Rússia.
Após a
desagregação da URSS, os ucranianos
declararam a sua independência, mas as
ligações ficaram lá, como se percebe pelo
que se passa em Lugansk e Donetsk, regiões
claramente viradas para a Rússia, tendo o
presidente russo reconhecido a independência
dessas duas regiões.
Porquê, então o
ataque actual?
A resposta é: por causa do
nacionalismo russo, levado a um extremo que
toca o absurdo. Mas pode ser, também, por
causa da aproximação da Ucrânia ao Ocidente
europeu, com possível entrada para a NATO, o
que serve às mil maravilhas os interesses
norte-americanos de terem um país amigo às
portas da inimiga Rússia.
E aqui está o
grande busílis da questão.
Ou seja: a
guerra acaba quando a Rússia e os EUA
minimamente se entenderem a esse respeito,
porque, valha a verdade, o papel da
Comunidade Europeia nisto tudo é de pouca
substância e significado.
Existe ainda
uma questão subjacente. É que, quer se
queira ou não, a Ucrânia tem dado grande
alimento ao “batalhão Azov”, que é
constituído por nacionalistas neo-nazis, bem
conhecido pelo seu constante recrutamento
além-fronteiras, como já acontecia no tempo
de Stepan Bandera, que chefiava a
Organização dos Nacionalistas Ucranianos, e
se aliou aos nazis para combater os judeus
da Ucrânia que supostamente estariam a
apoiar o comunismo russo.
Diz a história
que foram mortos quatro mil judeus nessa
altura, porque os nacionalistas ucranianos
queriam oferecer uma “prenda” a Hitler.
De todas estas referências históricas talvez
se consiga retirar alguma coisa de
proveitoso para a total compreensão do
conflito.
Mas há algo que não é possível
subestimar e tem a ver com o sofrimento de
tantos homens, mulheres e crianças que em
nada contribuíram para esta guerra
fratricida.
Esses são os que não têm
culpa, são os indefesos, são as vítimas
inocentes, são os maiores prejudicados, são
os que neste momento cruel percebem que não
têm futuro à vista.
Ao menos, por eles,
devia haver a decência de colocar um ponto
final numa guerra entre povos irmãos que tem
um efeito devastador.
A FESTA EM DOWNING STREET
- Partilhar 13/01/2022
Convenhamos que
o número 10 de Downing Street, em Londres,
tem muita história para contar,
essencialmente por ser a residência oficial
do “Prime Minister” e porque as paredes
daquela casa secular ocultam muitos segredos
e são fiéis depositárias de acontecimentos
que, provavelmente, não deviam ter
acontecido.
A fama não vem de agora. Em
1530 já havia rua e já havia casas, embora a
que tinha o número 10 fosse partilhada com
outras três habitações, todas resultantes da
construção idealizada por George Downing.
A partir de 1732, as três casas deram lugar
a uma casa só que passou a ser a residência
e escritório do Lord do Tesouro, ao mesmo
tempo considerado Primeiro Ministro.
Chamavam – lhe a “casa dos fundos” e
actualmente podem, até, vir a chamar – lhe
mais qualquer coisa, depois de o ex –
jornalista Boris Johsson ter tomado conta do
poder, desafiando o poder da União Europeia,
e deixando história escrita no seu país
pelos piores motivos ou, pelo menos, os não
desejáveis pela maioria britânica escondida
ou distraída.
Esta célebre casa de
Westmisnter - que dá para St. James Park –
sofreu um abalo político quando o
desgrenhado Boris promoveu uma festa em
“sua” casa, no mês de Maio de 2020, durante
o rigoroso confinamento a que obrigara os
pares do reino e os cidadãos comuns, através
de uma fiscalização rigorosa e dura e no
meio de centenas de mortes provocadas pelo
“covid”.
Pois, nos jardins de Downing
Street houve uma festa (sabe – se lá porquê)
e os convidados até levaram bebidas porque a
sede, em Londres, é sempre muita.
Boris
esteve presente porque “pensava que era um
evento de trabalho” e, talvez por isso, até
se apresentou com uma fatiota ligeira que
mais parecia um fato de treino!
Desde aí,
os Trabalhistas nunca mais lhe deram
descanso, apoiados na razão política e
social que tinham, e agora, no Parlamento
obrigaram Boris a retratar – se.
O
Primeiro Ministro pediu desculpa e
apresentou razões esfarrapadas para o seu
consentimento e para a sua presença.
Ficou mal na explicação dada que ainda foi
pior do que se tivesse ficado calado e abriu
uma brecha profunda no seu “reinado”.
Aquela cabelo loiro, artisticamente
despenteado, já não disfarça nada; já não
significa “saudável loucura”; já não traduz
um “homem desalinhado”; já não serve de
desculpa nem de retrato.
Boris foi
incompetente. Mais uma vez.
Por isso, o
líder do Partido Trabalhista, Sir Keir
Starmer, lhe disse o seguinte em pleno
Parlamento: “(…)Será o povo a expulsá – lo;
será o seu Partido a expulsá – lo: ou será o
senhor a demitir – se. Não tem outra solução
(…)”
E Boris é capaz de não ter mesmo
outra solução.
A HISTÓRIA DOS VELHOS SEM HISTÓRIA
- Partilhar 09/11/2021
Agora já não
presta. Passou o prazo de validade. As rugas
são valas abertas pelas dores da vida e pelo
sofrimento obrigado, para que outros fossem
felizes.
A pele ficou engelhada, como se
fosse papel inútil que nem para embrulho
serve. Podia ser pergaminho, porque ao menos
teria a ver com história. E podia o
amarelecido pelo tempo ser cor de vida,
honra e felicidade de quem foi capaz de a
viver com a dignidade da génese. Mas não. O
corpo passa a ter a forma de fardo pesado e
inútil, espécie de embrulho de pesadelos
para os que se obrigam a cumprir os mínimos
que a sociedade impõe.
E os fardos
abandonam-se.
Os lares são, por isso,
depósitos de almas envelhecidas e de corpos
tisnados por mágoas e ventos e tempestades
do coração.
E são, também, um arquivo
consentido de “gente que já não presta” e,
muitas vezes, são os familiares mais
chegados a aliviar o estorvo.
Porquê?
Porque para além da falta de respeito se
convencionou que apenas se pode ser útil à
sociedade até determinada idade (pouco
depois dos sessenta anos) quando a esperança
de vida aumentou significativamente e cada
vez há mais gente idosa válida, capaz,
inteligente e sabedora que é deitada fora,
qual desperdício de vida.
De longe, de
terras do Oriente e da sabedoria de África
vem o sinal correcto, transformado em luz de
alerta para a humanidade. Os velhos são os
sábios, os respeitados, os conselheiros, os
experientes. Os que devem ser sempre ouvidos
para o desfazer das dúvidas e para a
orientação proveniente do conhecimento e da
longevidade.
Estamos a chegar a uma
quadra convencional de fraternidade e
respeito. É uma época de reflexão, altamente
recomendada por determinadas orientações
religiosas. E mesmo levando em conta a
ambiguidade dos festejos, vale a pena
aproveitar o ensejo para alertar as boas
almas para esta incoerência da vida que é o
menosprezo dos sábios e o refutar da
capacidade humanística dos mais sabedores.
E os velhos morrem. E os velhos não
importam. E os velhos são fardos. E os
velhos são pesadelos. E os velhos são
marginalizados.
E tu que és filho e que
devias ter a honestidade genética e
sensorial de respeitar o teu pai és o
primeiro a ajudá-lo a subir a montanha e a
dar-lhe, como última mortalha para enrolar o
corpo gélido, uma manta que descobriste por
acaso no fundo da arca das recordações.
Talvez não tivesses percebido, mas na hora
do derradeiro adeus, o teu pai ainda soube
entregar-te nas mãos a última lição da sua
vida. Rasgou a manta ao meio, embrulhou- se
em metade e deu-te a outra metade dizendo: –
“Toma, meu filho! Fica com ela até ao dia em
que o teu filho te fizer o mesmo e subir
contigo a montanha do adeus eterno. Pode ser
que ele se esqueça de levar a manta para te
cobrires e, se assim acontecer, terás esta
para aguardares a hora da tua morte sem
sofreres o frio do abandono”.
Mesmo
pegando numa história da História, o que
sobra é algo que se deve definir como
respeito e como acto de solidariedade e de
amor.
Quando as pessoas entenderem o
significado de ser Velho e medirem o tempo
pelo respeito que a idade merece e significa
teremos uma sociedade mais justa, mais
perfeita, mais adulta e onde os afectos
crescem como flores.
DO LADO DE CÁ É O LIMITE DA NATUREZA
- Partilhar 06/10/2021
O Padre Vítor Feytor
Pinto deixou–nos fisicamente e foi sentar–se ao lado de Deus, como sempre desejou.
No entanto, ficou connosco em espírito,
mostrando, através da sua alma pura, tantas
obras que são o seu legado, para que
possamos meditar no valor da vida, na
importância da ética, no que representa
lutarmos, em conjunto, por um Mundo melhor.
Andamos juntos pela nossa juventude em
Coimbra, na Figueira da Foz, em Buarcos, em
Alvaiázere (com o Vaz de Morais) e mais
tarde por muito Mundo, ele cumprindo os seus
desígnios de sacerdote e eu atravessando as
conquistas radiofónicas que me deslumbravam.
Diria que vivíamos ambos os nossos sonhos de
infância e nos realizávamos nas nossas
vocações, mas os corações batiam em conjunto
pela importância e pela responsabilidade de
darmos significado à vida.
O Vitor dizia
muitas vezes que: a MORTE É APENAS UMA
PORTA.
DO LADO DE CÁ É O LIMITE DA
NATUREZA.
DO LADO DE LÁ É A TERNURA DE
DEUS.
O Padre Feytor Pinto andou pela
Ermida dos Três Reis, no Campo Grande,
durante vinte anos, a espalhar a sua palavra
amiga que, mais tarde, reuniu num livro
chamado “A Palavra Vivida”.
Para mim não
foi só a palavra vivida. Foi também a
palavra da descoberta, da revelação, do
amor, da verdade, do espírito, que sorvi
avidamente e guardei dentro de mim.
Quando o Padre Vitor deu o seu impulso
criativo ao movimento “Por um Mundo Melhor”
ou foi Alto Comissário para o “Projecto
Vida” ninguém se admirou. Era ele no seu
esplendor espiritual, sempre à procura de
novas portas para a vida, de novas entradas
para a eternidade, onde agora se encontra.
Foi Capelão do Papa Bento XVI, não como
reconhecimento pelo seu trabalho fraterno e
construtivo, mas sim como aproveitamento das
suas qualidades humanas.
E era isso,
apenas isso, que tinha significado para ele.
Lutar por um Mundo melhor e mais justo, com
menos desigualdades sociais, onde coubessem
a Verdade e o Amor e onde dessemos as mãos
compreendendo como era importante vivermos
unidos, trabalhando para o mesmo fim de
aperfeiçoarmos o Templo Divino que existe
dentro de cada um de nós.
A porta abriu –
se para ele. Já está do outro lado da vida,
onde tudo tem mais significado.
Acredito
que esteja feliz, ao pé de Deus, como sempre
desejou.
FERNANDO CORREIA, 06/10/2021
UM ESTADO POLICIAL?
- Partilhar 20/07/2021
Acredito no bom senso das pessoas e acredito, sobretudo, que algumas vezes somos levados a fazer “coisas” com as quais não concordamos.
No entanto, há ocasiões em que o cidadão comum, investido em ocasionais funções profissionais que deviam ser respeitadas, é conduzido à prática de irregularidades morais, das quais se vem a arrepender, mais cedo ou mais tarde, ou quando perde o estatuto que o conduziu a tal prática.
Este “desabafo” tem a ver com uma “moda” recente de certos órgãos de informação (principalmente de televisão) que resolvem andar pelas estradas de Portugal atrás dos carros dos ministros a medir-hes a velocidade. Ou seja: para difundirem uma notícia sensacionalista de prática de uma falta grave em condução automóvel, cometem uma idêntica, sem que pelo facto lhes aconteça alguma coisa.
Mais: um carro do Estado a circular em excesso de velocidade, com membro, ou membros, do Governo no seu interior, responde por si mesmo à falta e assume-a perante a circunstância. Se não provocou qualquer acidente, nem pôs em perigo a condução de terceiros, a velocidade fica, apenas, como registo de uma ocorrência de condução igual a tantas outras que diariamente se nos deparam, incluindo as praticadas por alguns carros da Comunicação Social, como se prova.
Portanto, estamos perante uma falsa moralidade!
Outra falsidade moral: circula (ou circulou) nas redes sociais uma foto tirada a um eurodeputado português, fora da sua hora de trabalho no Parlamento, caminhando inseguro por uma rua de Bruxelas, supostamente regressando a casa a pé, após um jantar com amigos.
Qual é o problema?
Qual é a questão?
É proibido comer? É proibido beber? É proibido confraternizar com amigos ou familiares? É proibido andar a pé?
Tenham paciência e, também, decoro e dediquem-se a outros assuntos e a outras questões que há muitas para resolver, a bem da sociedade, do progresso, do rigor e do bem estar geral.
FERNANDO CORREIA
O QUE É JOE BERARDO?
- Partilhar 05/07/2021
Sabe-se quem é Joe Berardo. Conhece-se o seu historial, desde a Madeira à África do Sul, passando por enriquecimento à custa de negócios inventados e conseguidos, pelas obras de arte, pelos esquemas bancários, pelas garantias que, afinal, não são e pelo montante da dívida anunciada de mil milhões de euros à banca.
Portanto, o povo português sabe, perfeitamente quem é Berardo, o tal que foi detido recentemente; que prestou (ou não) declarações, como já tinha feito à Comissão de Inquérito da Assembleia da República; que terá de pagar uma caução de cinco milhões de euros para não ficar em prisão preventiva até ao julgamento; que montou um esquema fraudulento com várias empresas pelo meio, algumas delas (ou muitas) empresas ocasionais, sem movimento, para conseguir os empréstimos bancários; que deu obras de arte como garantia desses empréstimos de grande vulto, para depois esvaziar a sua validade através de novo esquema ambíguo; que é um sujeito de más falas e de soberba acima do normal; que diz viver apenas com uma pensão de reforma de cerca de dois mil e quinhentos euros; e que, obviamente, lesou o País, lesou o Povo, lesou as Instituições e obteve mais valias artificiais em proveito próprio.
Este senhor está
indiciado de oito crimes de burla!.
Sabe-se, então, perfeitamente a história de
Joe Berardo, o falso moralista madeirense.
Falta definir o que é este indivíduo,
aparentemente sem escrúpulos, e sem se
preocupar com a vida dos outros.
Retirar
da banca dinheiro que não é dele, atingindo
o astronómico montante de mil milhões de
euros, seria uma verdadeira obra de arte, se
tudo fosse feito com base na honestidade e
na transparência.
Mas, de acordo com o
que se sabe, não foi!
Então, o que é Joe
Berardo em português de lei?...
Cada um
que tire as conclusões que entender.
FERNANDO CORREIA
À BEIRA DA INSENSATEZ
- Partilhar 07/06/2021
Confesso que fiquei
desconfiado com a atitude da Uefa ao
conceder a Portugal e à cidade do Porto a
organização da final da Liga dos Campeões
entre duas equipas inglesas.
No entanto, e como
acredito nas boas intenções e nas boas
soluções, entendi que a responsabilidade
organizativa, cometida aos portugueses, se
devia à forma como o governo português
estava a lidar com o “covid – 19”.
A primeira
desconfiança surgiu quando percebi que havia
autorização para o jogo ter público nas
bancadas, o que conflituava, desde logo, com
o facto de os jogos entre portugueses se
terem disputado (sempre) à porta fechada.
Mesmo assim fui capaz
de me convencer que não podia ser doutra
maneira, para que os ingleses deixassem cá
algum dinheirinho.
Na verdade, a final
canalizou para a região do Porto um
vastíssimo número de adeptos que gastaram,
de facto, muitos milhares de euros, o que
foi muito bom para a economia local. Só que,
a par dos adeptos convictos, também lá
chegou um elevado número de arruaceiros que
fizeram questão, aliás habitual neles, de
espalhar confusão e, provavelmente, vírus,
insensatez, destruição, má educação, álcool,
desrespeito e despropósito.
Remediada a questão
como foi possível surgiu a seguir o
impensável: o governo britânico retirou
Portugal da lista verde, só porque sim,
mandando os seus cidadãos regressar às ilhas
de imediato, para não terem de cumprir
quarentena.
Foi a debandada. Foi
o caos. Foi ridículo. Foi insensato. Foi
aberrante. Foi absolutamente injustificado.
Esta atitude de má
política e de mau relacionamento entre povos
de aliança ancestral, não foi explicada, a
não ser através de um titubeante argumento
de doze casos de uma suposta variante,
detectados em Portugal, o que obviamente não
colhe quando comparado com o resultado da
“invasão” britânica pelo futebol. Ou seja:
abre – se para o jogo, porque convém e, a
seguir, fecha – se ao turismo comum e
regrado, porque os países da Comunidade
Europeia não são precisos para nada.
Gostava de não ter de perceber aquilo que estou a perceber!
FERNANDO CORREIA
AS PRAXES QUE NÃO SÃO PRAXES
- Partilhar 05/05/2021
Voltou ao primeiro plano das notícias e das preocupações gerais o caso do Meco, onde morreram vários estudantes, supostamente no desenvolvimento de uma praxe académica de todo desajustada e perfeitamente evitável.
O julgamento decorre e tem contornos de grande complexidade de decisão, ou seja, de atribuição de culpa, tendo em vista a forma do sucedido e como foi sucedido, embora tenha surgido um novo testemunho que aponta para o facto de os praxados terem pedras amarradas aos pés, o que violenta a praxe e a coloca num plano de todo indesejável.
Não posso, nem devo, percorrer um caminho que apenas diz respeito ao Tribunal.
O que posso e devo é insurgir-me contra determinadas praxes que não têm razão de ser e que apenas são actos de violência gratuita, claramente condenados pelas entidades responsáveis pelo ensino, pelos encarregados de educação, pelos familiares e pelos próprios praxados.
Acredito e percebo que a praxe configura um acto académico a recordar pela vida fora, tal como a queima das fitas e a imposição do grelo. Mas não acredito na bondade académica de quem praxa e na suposta inocência colocada na elaboração do acto e é contra isso que me insurjo, me revolto e protesto.
Imagino a dor dos pais que perderam os filhos na praia do Meco, no meio de uma suposta acção académica que apenas pretendia “marcar” uma etapa da vida universitária. E imagino que eles estarão nesta altura a pensar que aquela acção, tal como foi feita, não servia para nada, ou em contraposição servia para colocar em perigo a vida dos filhos.
Ora, isto não faz sentido, não tem razão de ser, não é lógico, não é humano, não tem nada a ver com uma academia saudável. Por isso, entendo que estas situações devem ter um limite de bom senso e de costumes aceitáveis que deixem os praxados felizes e possam recordar os dias da iniciação de uma forma perfeitamente sorridente e positiva.
FERNANDO CORREIA
Uma conversa com dois centímetros
- Partilhar 07/04/2021
Passei algum tempo da
minha vida a falar de futebol, tentando
explicar o inexplicável, ou seja, que apesar
de não ser uma Escola de virtudes, o futebol
profissional tinha os seus méritos; que os
adeptos mereciam todo o respeito pela sua
dedicação à causa; que os dirigentes
exageravam nas suas opiniões, tantas vezes
doentias e unipessoais; que os árbitros
erravam demais transmitindo, algumas vezes,
para as bancadas a ideia de uma condenável
falta de isenção nos julgamentos; que eram
ofensivos e pornográficos determinados
ordenados pagos a jogadores e a treinadores;
que as verbas envolvidas em transferências,
desde os absurdos pagamentos às comissões
atribuídas a empresários eram atentatórias
da dignidade humana; que haver três jornais
desportivos diários representava um atestado
de incultura passado ao povo; que as
televisões e as rádios vendiam futebol como
quem vende água, só que a sede não era a
mesma; que tudo o que é exagerado não
presta.
Continuo a pensar que
tudo o que é exagerado não presta, mas
praticamente já não falo de futebol.
Abro uma excepção
para saudar a introdução do papel do vídeo-árbitro na modalidade, pela clarificação que
pode dar ao público em geral, relativamente
a determinadas jogadas, faltas, foras de
jogo, irregularidades, golos que são e
outros que não são, etc.
Só que, recentemente,
Portugal ganhou à Sérvia, mas o golo da
vitória não contou, porque a equipa de
arbitragem em campo não viu a bola passar,
por completo, a linha de baliza e não havia
vídeo–árbitro.
Não havia porquê? Não
viram porquê?
Ninguém deu uma
explicação razoável sobre estas duas dúvidas
que ficaram assim mesmo, ou seja, metidas no
saco do esquecimento, ignorando a FIFA, a
UEFA e mais quem seja, que Portugal pode não
ser apurado para a fase seguinte da prova
apesar de ter marcado um golo legal, que é a
finalidade e o objectivo do futebol.
Por outro lado, soube
que, há dias, o vídeo–árbitro invalidou um
golo porque o jogador que o marcou estava
dois centímetros fora de jogo.
Espantoso!
Dois centímetros.
Imaginem a precisão
que é preciso ter para garantir uma coisa
destas. Porquê? Porque o operador que está a
manusear a aparelhagem que conduz a esta
realidade, ele próprio, não tem capacidade
para garantir se aquele “frame” é o correcto
para a visualização do lance, tal como ele
sucedeu, ou se é uma “frame” mais à frente
ou mais atrás. E basta esta dúvida para dar
cabo da realidade virtual dos dois
centímetros.
Um conselho aos senhores que pensam futebol: o homem erra, a máquina também. Então no caso deste disparate de uma posição irregular por escassos centímetros estabeleçam uma margem de erro. Sugiro que até aos cinco centímetros não anulem um golo, porque senão o vídeo–árbitro só serve para introduzir mais dúvidas no futebol.
O DIA DA MULHER
- Partilhar 04/03/2021
As Nações Unidas
promoveram, em 1975, o Ano Internacional da
Mulher e, em 1977, proclamaram o dia 8 de
Março como o Dia Internacional da Mulher.
Porquê?...
Porque se percebeu
que, em todo o Mundo, a mulher continuava a
ser vítima de uma discriminação
indiferenciada, sempre com o sentido e a
finalidade de ser subjugada pelo homem.
Podemos dizer que é
verdadeiramente espantoso que esta
subalternidade, verificada em vários
sectores da vida de todos os dias, obrigue a
que celebremos as nossa mães, as nossas
irmãs, as nossa filhas, as nossas amigas, as
nossas companheiras, uma vez por ano, sem
cuidarmos de saber e aprofundar a razão de
ser desta subalternidade, desta angústia,
deste drama social que leva à violência
doméstica, às diferenças salariais
relativamente aos homens, à escassez de
cargos públicos reservados às mulheres (uma
espécie de dádiva), ao trabalho caseiro, às
limpezas, às perseguições sexuais, ao
acompanhamento dos filhos (como se eles não
tivessem pais) e aos trabalhos inferiores
que são reservados para elas, ainda de Sol a
Sol, ainda exploradas, ainda como reserva de
favores ao “macho”, ainda como Seres
comandados e orientados.
Isto é absolutamente
inacreditável, mas verdadeiro e, por isso,
regredimos no tempo até 1857 nos EUA; a 1911
no mesmo país; ou a 1917 na Rússia, para
concedermos à mulher o direito à emancipação
e à igualdade, tão exploradas eram naquele
tempo, tão exploradas são agora. Em vários
países, a diferença de tratamento e de
oportunidades entre o homem e a mulher
continuam a ser notórias e angustiantes.
Neste dia 8 de Março
de 2021 aqui estamos, de sorriso nos lábios
e flores na mão, a dizermos às mulheres
portuguesas que lhes pedimos desculpa pela
atitude doentia de todos os outros dias do
ano.
Basta!
É hora de acordar.
E, se não cansar
muito, de pensar nos valores humanos, na
igualdade social, no equilíbrio genético, na
importância das mulheres e dos homens na
comunidade da paz, do bom senso, da
consciência e da construção.
Fazemos parte da
mesma vida, do mesmo espaço, do mesmo mundo,
respiramos o mesmo ar, sofremos as mesmas
dores.
Sejamos
suficientemente honestos e capazes de
contribuir para a inversão desta situação.
Se não houver razão
mais poderosa (e há) que o façamos pelas
nossas Mães.
Os beijos, as flores, a paz, a consideração, o carinho, o amor, tudo isto é para nos darmos mutuamente (homens e mulheres) durante todos os dias do ano.
FERNANDO CORREIA
(Jornalista)
PARA ANA GOMES JÁ CHEGA
- Partilhar 04/02/2021
Ana Gomes, figura
proeminente na política portuguesa e mulher
de antes quebrar que torcer, talvez padeira
de Aljubarrota, talvez Maria da Fonte, mas
certamente Ana Gomes para a história de
Portugal, pediu a ilegalização do partido
“Chega”, tornado evidência por André
Ventura, por entender que fere a
Constituição e vai contra a democracia
conquistada em 1974 pelo Movimento das
Forças Armadas.
O pedido de ilegalização é
endereçado ao Tribunal Constitucional e ao
Ministério Público (via Procuradoria Geral da
República) e dado a conhecer a todas as organizações
a que Portugal pertence, começando pela União
Europeia, baseado em quarenta aspectos formais da
existência e do procedimento do próprio “Chega”.
Esta é uma questão séria que
não pode ser apreciada com um sorriso de desdém nos
lábios ou com um leviano encolher de ombros.
E é sério, porque a
democracia portuguesa também se obriga a ser séria.
Ou seja: se este partido tem
uma forma de proceder ilegal; se defende uma
política que vai contra a Constituição da República
Portuguesa; se actua usando processos não
democráticos; se tem nas suas fileiras conhecidos
extremistas de direita; se se deixou infiltrar por
elementos nazis; se é segregador e racista, é óbvio
que, à luz da Constituição, não pode existir em
Portugal.
Se não é nada disto e apenas
tem votos porque o seu líder é benfiquista, então
não se vê razão para que acabe, a não ser em
consequência dos maus resultados que o seu clube tem
feito no futebol.
Voltando à seriedade do
texto: como português respeitador da Constituição,
exijo ser esclarecido, de uma vez por todas, se
posso ou não admitir o “Chega” como partido político
integrante do quadro democrático nacional, surgindo
nas listas eleitorais ao lado de todos os outros
partidos que reconheço como respeitadores da
Constituição da República.
Apenas isto. Porque também não gosto de ser enganado.
FERNANDO CORREIA
Meu querido “irmão” Carlos do Carmo
- Partilhar 04/01/2021
Afinal juntaste a tua
saída dos palcos à tua saída da vida
terrena! Não foi nada que eu não esperasse,
porque te conheço bem e sei que és um homem
determinado. Sempre foste, desde os tempos
do “Faia”, da mãe Lucília, da Cila, do Becas
e do Gil, até ao “João Sebastião Bar” onde
afogávamos as dores de crescimento da
democracia bebé em copos de bom vinho tinto,
a acompanhar um prato de “camarões à baiana”
feitos pela Eulália sob as ordens da amiga
Vera.
Nessa altura
andávamos a gatinhar à procura de um caminho
saudável para as politiquices que
discutíamos, uns mais esquerda, outros mais
ao centro, com evidente repudio das
“direitas” que alguns saudosistas do estado
novo ainda defendiam, com mais unhas do que
dentes.
Eram dias e dias,
noites e noites, tu, eu, o Tordo, o Ary, o
Solnado, o Bastos, o Cardoso Pires, o
Orlando Costa, o Vitorino de Almeida, o
Nicholson, o José Viana, o Henrique, e todos
aqueles que iam lá para vos ver e para vos
ouvir.
Às vezes nem saíamos
de lá e juntávamos a noite ao dia em
conversas saudáveis sobre o tempo novo que
era o nosso.
Depois, ias cantar ao
estrangeiro, naquelas salas cheias de
saudade, dos portugueses trabalhadores que
tinham saído da pátria desiludidos e que
queriam voltar para participarem na nova
vida portuguesa. Mas quando voltavas, lá
estávamos todos à tua espera para mais uma
boa conversa e para ouvir as boas notícias
que trazias na bagagem.
Até que um dia fomos
todos ao Rio de Janeiro e a São Paulo levar
fado e poesia aos portugueses. E que
êxito!... Eras tu a cantar, o Ary a dizer
poesia e eu a apresentar os espectáculos.
Não é possível
esquecer.
Como não é possível
esquecer o programa “No calor da noite”, na
Rádio Comercial, onde tu cantaste e
contaste, em episódios semanais, a história
do fado, cujas bobinas gravadas guardo no
meu armário de vida, representando um dos
meus grandes tesouros.
Como não é possível
ignorar as tuas apresentações no “Olympia”,
em Paris, onde Aznavour e Piaff também
aplaudiram o teu sucesso.
Recordo a tua
generosidade, a tua ternura pelas minhas
três filhas, as brincadeiras de criança com
os teus três filhos, na Malveira, no
“Burrico”, onde também cantaste.
E hoje a notícia, a
primeira do ano de 2021.
Partiste para o
Oriente desconhecido, onde te espera uma
nova luz e a certeza derradeira da vida
eterna.
Fico a olhar para ti.
Recordo Braga, o
“Teatro – Circo”, onde iniciaste a tua
última ronda de canções. Estivemos juntos no
hotel. Jantamos juntos. A Maria Judite
estava presente. Sempre presente.
Dia 1 de Janeiro.
Os jornais falam de
ti, meu irmão.
Na Segunda–Feira é
dia de luto nacional. Bem mereces que te
lembrem. O professor Marcelo dedicou–te
palavras bonitas e o António Costa, o filho
do Orlando, falou no amigo que perdeu.
Não perdeu. Tu apenas foste preparar o teu próximo concerto fadista. No meio dos anjos.
“Nós somos tempo!” –
Eduardo Lourenço dizia isto no tempo em que
tinha tempo de ser tempo. Mas, agora que o mundo o
transformou em história e em saudade, o que fica
dele é a memória. A memória grandiosa de quem
dedicou a sua vida a pensar, provando que do Ser
Humano o que resta é o pensamento, quando ele nos
atinge transformado em inesgotável lição. Eduardo Lourenço era um
pensador, dos poucos que Portugal teve, na sucessão
de Fernando Pessoa e de Agostinho da Silva. E tal
como estes, mesmo morrendo não nos deixou, porque
teve espaço de vida suficiente para nos legar as
ideias escritas. E mesmo não sendo os
portugueses um povo que prime pela afirmação
colectiva, não podemos deixar de pensar ao lado do
Mestre que: “Nós somos tempo. Compreender aquilo que
somos é compreender o tempo que nós somos, aquilo
que o tempo exterior, o tempo da história, o tempo
da sociedade, é em nós. Não se faz essa aprendizagem
sem que ela seja uma metamorfose permanente daquilo
que nós somos.” Saibamos entender o alcance
deste pensamento e o que ele encerra de crítica, de
verdade e de futuro aconselhado a gente boa que se
desculpa permanentemente com a falta de tempo e que
faz dessa ideia, transformada em dogma, um modo de
vida. Pensar Portugal continua a ser
preciso. Procurar a razão de ser do tão proclamado
“Quinto Império” é a explicação que mais se deseja.
Perceber a índole sebastiânica de gente marcada pela
instante procura de si mesma e pelo reencontro com o
Mundo é algo que se impõe como tarefa transformadora
de um desígnio de sofrimento e dor. É uma tarefa enorme. Mas é
nossa. Termino recordando palavras do Cardeal José
Tolentino de Mendonça: “O caixão de Eduardo Lourenço
tem, qualquer que seja a sua forma, a forma de
Portugal.” Não gosto muito da
via política para me debruçar sobre o que
está mal e podia estar bem, nem sobre o que
estando bem podia estar melhor. Também não sei se os
Partidos Políticos resolvem todos os
problemas das pessoas e se contribuem, sem
equívocos nem bandeiras artificiais, para
que os cidadãos tenham uma vida melhor. O que sei é que os
seus membros são, de uma forma geral,
demagogos e que todos afinam pelo mesmo
diapasão, ou seja, se não estás do meu lado
é porque estás contra mim! E, a verdade é que
muitas vezes não é assim e uma diferença de
opinião pode não querer dizer que estejamos
em polos opostos. Reconhecendo o
direito à liberdade de opinião e ao voto,
não entendi muito bem a argumentação de
alguns Partidos que votaram contra o
Orçamento de Estado na generalidade. E não
entendi por debilidade argumentativa; porque
determinada esquerda especulativa votou ao
lado de uma direita conservadora e
oposicionista por tradição; e porque não se
tinha discutido, ainda o orçamento na
especialidade que é a discussão que, na
verdade, interessa. Ou seja: o voto
contra é um voto às escuras, é um voto cego,
é um voto “porque sim”. E, sendo assim, não é
sério. Também li uma
entrevista do único Deputado do “Chega” na
AR, em que, por entre muitas afirmações de
enorme gratuitidade e de sentido claramente
agitador, afirma ser contra algumas posições
assumidas pelo Papa Francisco, porque as
considera anti – cristãs e, com jeitinho,
anti – clericais. Não sei se por apoiar
o casamento civil entre homossexuais; não
sei se por condenar a pedofilia de uma
maneira geral e, nomeadamente, na Igreja
Católica; não sei se por estar contra as
desigualdades sociais; não sei se por ser
contra as guerras; não sei se por admitir o
casamento dos sacerdotes em determinadas
condições; não sei se por ser contra a
ostentação, o luxo e a riqueza na Igreja;
não sei se por dar mais força ao espírito do
que à religião, sem negar a importância da
oração. Não sei. O que sei é que para
mim já é demais! As comemorações do “5
de Outubro” foram, obviamente, mais
simbólicas do que vividas ao pormenor, não
só pelos efeitos das possíveis celebrações
em grupo e suas consequências, mas também
porque vários protagonistas dessas
celebrações ainda viviam, com alguma
apreensão viral, os efeitos do último
Conselho de Estado onde participou António
Lobo Xavier, já infectado com o “covid-19”. Mas, apesar da
contensão e da apreensão, o Presidente da
República voltou a ser bem claro no seu
discurso comemorativo da data, tendo a
inteligência e a capacidade política de o
orientar para aquilo que, na verdade, parece
ser neste momento mais importante. Ou seja,
o interesse colectivo dos portugueses e a
necessidade de uma convergência no essencial
das forças políticas. No primeiro caso, a
leitura interpretativa vai no sentido de ser
fundamental, numa altura em que estão a
chegar os fundos europeus, manter o
interesse colectivo acima dos interesses
individuais, que o mesmo é dizer muita
atenção porque o dinheiro que aí vem não é
só para alguns. Por outro lado, também há
uma leitura política orientada para a
necessidade de haver cedências para que a
convergência seja viável no essencial e o
Orçamento de Estado permita uma governação
séria e cuidada. Mas a leitura pode ir
ainda mais longe baseada no pressuposto que
deve imperar uma ética republicana contra a
corrupção. No fundo são duas faces da mesma
moeda que só pode chamar-se “Euro da
transparência e da integridade”. Sabe-se que palavras
e actos percorrem distâncias diferentes, mas
bom seria que, de uma vez por todas, se
pensasse nos País e não numa dúzia de
portugueses privilegiados, os tais que são
sempre os “protegidos” e “beneficiados”
nestas ocasiões. Fundos passados já
demonstraram onde está o problema,
permitindo uma distribuição muito pouco
equitativa. Chegou a hora de se
mostrar ao Mundo a tal transparência e a tal
integridade, para que possamos dizer que, em
Portugal, nos encontramos todos a trabalhar
para o mesmo fim, pensando na sociedade
global, nos problemas da comunidade e nas
crescentes zonas de pobreza. FERNANDO CORREIA A frequência
obrigatória das aulas da disciplina de
“Educação para a Cidadania” está a ser posta
em causa por alguns sectores políticos e
católicos da sociedade portuguesa, não se
sabe se por alguma razão plausível, se por
mera conveniência de contexto. Tenta-se, por essa
razão, que os alunos não sejam obrigados a
frequentar as aulas e a obter na disciplina
uma classificação positiva, argumentando-se
com a figura da objeção de consciência que,
aparentemente não encontra no caso vertente
qualquer campo aceitável de análise e de
aceitação. Porquê? Porque não se
encontra na sua fundamentação nenhum
conteúdo ideológico que esteja aquém ou para
além da Constituição da República Portuguesa
e porque defender que seja uma disciplina
opcional permite um aprofundamento das
muitas desigualdades, infelizmente, já
existentes na nossa sociedade. Não vejo que faça
mal, que seja contraproducente, que ancilose
os sentidos, não tratar da matéria
ambiental, da defesa do consumidor, das
finanças, das necessidades culturais, da
segurança, da defesa, da paz, da igualdade
de género, dos direitos humanos, do
voluntariado ou da saúde. Sinceramente não vejo
que alguma destas matérias possa motivar
objeção de consciência, a não ser por
comodismo dos alunos que não estão para
perder tempo, ainda por cima apoiados por
alguns pais, com uma disciplina obrigatória
como esta, “inventada” pela sociedade atual. Fico preocupado com
os objetores, por temer que eles estejam, de
facto, a seguir um condenável caminho
político, absolutamente contrário à
Constituição Portuguesa, aprovada em acto
democrático pela Assembleia da República. Só por essa razão dou
visibilidade a esta matéria. FERNANDO CORREIA Afinal queremos, ou
não, turistas estrangeiros em Portugal e,
nomeadamente, no Algarve? Portugal precisa da
indústria turística e reclama (com razão) da
decisão de Boris em excluir o nosso país dos
destinos seguros. Recentemente chegaram
ao Algarve 2.400 jovens holandeses. Olha que
bom! Mas atenção: vão um bocadinho à praia,
mantendo as regras do distanciamento, bebem
água ao jantar e, a seguir, toca a ir para a
caminha. Está-se mesmo a
ver!... Por isso não escondo
as minhas dúvidas e quero partilhá-las para
me sentir útil à comunidade. As regras internas
estão estabelecidas e as fronteiras estão
abertas. A livre circulação de pessoas
voltou a ser (quase) um facto. Precisamos
urgentemente de relançar a economia e
necessitamos de turistas como de pão para a
boca. Os hotéis,
restaurantes, bares e discotecas têm de
funcionar. A própria Inglaterra
reabriu os “Pubs”. Bom. E nós? Mandamos
patrulhas da GNR para as ruas da Oura e
corremos com a malta toda, por causa dos
ajuntamentos. Acabou. E não há um pouco de
flexibilidade racional? Claro que os turistas
vão procurar outros destinos. Claro que a
Espanha rejubila. Claro que a Grécia bate
palmas. A Itália põe colchas à janela e a
França abre o Louvre e o Moulin Rouge com a
mesma vontade de cativar a rapaziada que vem
da estranja, seja lá como for. Pensemos, então, com
alguma clareza. Bem-vindos os
turistas. Que tragam dinheiro e o gastem cá.
Que bebam umas cervejas. Que comam marisco.
Que cumpram as regras possíveis para evitar
contágios. Que riam. Que cantem. Quer se
sintam bem. Que passeiem. Que visitem. Que
vejam. Que fiquem. Que voltem. Isto não é uma
“balda”. De facto, não é. Mas sejamos
coerentes e pensemos que se não fizermos o
mesmo que os outros países, vamos certamente
ficar sozinhos a “chorar baba e ranho de
todo o tamanho”, sem dinheiro, sem turismo,
com mais desemprego, com mais dívida
pública, com a hotelaria fechada e… com
“covid”. Isto só vai lá quando
a doença conhecida como “covid-19” deixar de
ser avaliada como uma pandemia e passar a
ser tratada como uma endemia. Mais uma, entre
muitas que andam por aí à solta, e que matam
todos os dias. FERNANDO CORREIA Andou o Padre António
Vieira pelo Brasil a pregar aos peixes,
defendendo os índios e lutando contra a
escravatura, para ser vandalizado por quem
não sabe “História” e transforma as palavras
de pedra em arma insultuosa de arremesso. Andou o Padre António
Vieira a pregar, por D. João IV e pelo reino
português, contra a inquisição e não lhe
bastou ser preso como agora insultado na sua
morada esfíngica. Andou o Padre António
Vieira a consumir a alma pela justiça dos
homens, pondo em causa a justiça de Deus,
para lhe agradecerem com as cores do demónio
pintadas no rosto. Andou o Padre António
Vieira a lutar contra os comerciantes de
carne humana pelo imenso Brasil, para ser
agora escorraçado e pela calada da noite
afastado das páginas de gratidão e
reconhecimento da história universal. Andou o Padre António
Vieira a semear a sua palavra, em sermões de
fé e esperança, para nos dias de hoje, ditos
de civilização avançada, fazerem chover
granizo para evitar uma boa colheita. Ando eu, como Santo
António, de menino ao colo, à espera que
este povo, abençoado pelo quinto império de
Pessoa, olhe para dentro de si e resgate do
passado quem merece. A verdade, por vezes,
transforma – se em mentira. A mentira
repetida transforma – se em verdade para
quem a deseja. A história escrita, contada e
perpetuada em memórias de pedra e bronze,
jamais pode ser apagada, mesmo que não se
goste dela. E o Padre António
Vieira merecia que se soubesse da sua luta
interior contra as almas penadas do comércio
fácil da carne humana, essas sim, a valerem
a revolta dos que nobremente lutam pela
igualdade, pela fraternidade e pelo amor
entre os povos. FERNANDO CORREIA
Regina Duarte deixou
de namorar o Brasil mas, ao que parece, isso
não lhe custa nada. Pelo menos percebe–se
que foi o Brasil a acabar com o namoro,
provavelmente por já estar farto dela, o que
nem se deve censurar. Os namoros são assim e
servem para isto mesmo. Ou seja, tudo começa
por aquilo quer se pode definir como
compreensão mútua, por entendimento mútuo,
por se achar que não há ninguém igual, mas
depois, a pouco e pouco, verifica–se que
há pormenores que não são ultrapassáveis,
que afinal a beleza não é tudo, que o
corpinho apetitoso não esconde os defeitos
da alma e que as palavras são tão feias que
nem uns lábios carnudos as disfarçam. Não se sabe se Regina
Duarte ainda gosta do Brasil, mas percebe-se que o Brasil já não gosta de Regina
Duarte. Pelo menos, muito do que se vê e do
que se ouve aponta nesse sentido, correndo
até “abaixo–assinados” contra o facto de
Regina continuar a ser Secretária da
Cultura, o que ultrapassa de longe o facto
de ser uma simples namorada do País. E porquê? Exactamente por não
ter feito fosse o que fosse pela cultura
brasileira, que tem um belíssimo historial
de poetas, escritores, músicos, actores,
compositores, pintores, pensadores e por aí
fora. E tem, também, um historial pouco
recomendável de falta de apoio a todas as
pessoas que poderiam contribuir para a
subida do nível cultural do país e para o
projectar no desejável universo da arte e da
sabedoria mundiais. Regina foi uma
esperança. Mas não passou disso. Regina
tinha um passado artístico que podia dar
garantias de apoio e compreensão das
necessidades culturais. Mas não passou
disso. Regina foi uma boa actriz. Mas não
passou disso. Actualmente, o papel
que representa é de um absurdo e
inconveniente cariz político e, os
brasileiros assim o dizem, muitíssimo mal
representado. Já não passa disso. E para aqueles que
olham o mundo global com olhos de ver e
percebem o que nele se passa com coração de
sentir, estes casos de ascensão ao poder
(sempre efémero e enganador) são reveladores
de algo que está disfarçado, ou escondido,
na alma de determinadas pessoas, personagens
de si mesmas no palco da vida, ainda que
durante algum tempo estejam sentadas na
plateia do dia a dia a baterem palmas aos
outros. Claro que são aplausos de inveja,
palmas de conveniência, sorrisos forçados de
mentira para compor a falsidade da peça que
estão a representar. E há quem se lembre
daquela “Malu Mulher” – que por pouco
escapou à feroz censura da ditadura
brasileira – protagonizada por Regina
Duarte, nessa altura apenas para espectador
ver, uma grande defensora dos direitos
humanos, dos direitos do seu povo,
essencialmente dos direitos das mulheres. O tempo é outro e,
agora, nem o “senhôzinho Malta” lhe pode
valer, porque até ele deixou de estar
enamorado pela “viúva porcina”!
Estamos a assistir a
uma espécie de revolta da natureza contra
todos aqueles que tanto mal lhe têm feito.
A notícia é amarga e surge logo a seguir ao apregoado e proclamado mês da fraternidade: Dezembro!
Portugal e Lisboa continuam a ser destinos preferidos internacionalmente, o que contribui largamente para que
a economia, a nível do Estado, “sorria” feliz. Alguns senhorios, infelizmente, mas porque a lei o permite,
desataram a despedir inquilinos e a promover o turismo local que é uma espécie de galinha dos ovos de ouro,
mas que só pode ser “comida” por alguns. Ou seja: cria-se a galinha, ela põe os ovos de ouro e, depois,
quando se esgotam os ovos, ainda dá para fazer uma cabidela, servida à mesa dos tais privilegiados, mas
cozinhada com o sangue dos que ficam sem casa.
A história repete-se. Nunca se sabe donde vem a riqueza, mas normalmente é sempre feita à custa da
pobreza dos outros.
Para além desta dura realidade a que ninguém consegue pôr cobro (por enquanto), o abuso turístico é uma
constante e se não houver uma vigilância constante e atenta, a especulação sobe de tom e aqueles que nos
visitam, porque o destino é bom e atractivo, começam a perceber que alguma coisa vai mal e que, por vezes,
os custos são exagerados.
É importante perceber o que se está a passar e exercer uma vigilância atenta e um controlo total das situações
para que este magnífico destino turístico não feche as suas portas, por culpa dos que querem enriquecer a
qualquer custo.
Também se torna importante recordar alguns exemplos anteriores ocorridos com outros destinos portugueses,
onde a especulação deu cabo das belezas turísticas, transferindo os visitantes para Espanha, onde lhes deram
(e dão) condições mais vantajosas. É, por isso, o momento de travar o que está errado, de incentivar o que
está bem e não ter contemplações com os do costume que não olham a meios para atingir os seus objectivos
imediatos.
Portugal é um destino turístico de eleição. São múltiplas as belezas e o povo é carinhoso, tranquilo e fraterno.
Com toda a naturalidade, abre as portas de casa aos visitantes e partilha o que tem sem querer nada em troca.
Pois bem. Que este exemplo seja seguido pelos grandes proprietários, hoteleiros e comerciantes e que juntos,
defendam e tratem bem a nossa “galinha dos ovos de ouro”.
NÓS SOMOS TEMPO
CHEGA OU É DEMAIS
VÊM Aí OS FUNDOS EUROPEUS
AS OBJEÇÕES DE CONSCIÊNCIA
CONFESSO QUE NÃO PERCEBO
OS VÂNDALOS DA HISTÓRIA
A “NAMORADINHA DO BRASIL” NÃO TEM NAMORADO
UM AVISO SÉRIO
TODA A CAUSA TEM O SEU EFEITO
E a notícia é esta: cresce o número de portugueses endividados, ao mesmo tempo que duplica o número dos
que não têm abrigo ou tendo abrigo não têm dinheiro para comer, nem para remédios, nem para sustentar os
filhos, muito menos para os educar, nem para comprar roupa, nem para a electricidade, nem para os
transportes, nem para sorrir!...
A maré enche e vaza com a força dos fluxos e refluxos da natureza e se do Natal ficou a história cristã,
também ficou a aridez de um bolso vazio ou de uma vida penhorada. O Ser Humano é assim e, por vezes,
gasta o que tem e o que não tem, apoiado num enganador cartão de crédito que só serve a quem o emite;
outras vezes gasta – se a si mesmo, a reivindicar os direitos que não lhe dão e quando procura trabalho para
“sair da rua”, as portas fecham – se -lhe na cara, com as mais variadas e invulgares justificações.
É por isso que o Estado Social se deveria envergonhar do que faz na maioria das suas acções, deixando como
herança histórica o facto de cada vez haver mais gente rica e, como consequência, mais pessoas na miséria ou
no limiar da miséria.
Não pensarmos no que isto quer dizer é iludirmos o significado da nossa própria existência e ignorarmos a
razão de ser da humanidade, tal como foi concebida e criada.
Ou seja: o cidadão abastado (que não divide o que tem) e se serve dos outros para conseguir, para si, mais
riqueza, é um simples Ser abastardado que tem uma visão distorcida da realidade, não sendo capaz de
perceber a importância do esforço colectivo, nem de avaliar a grandeza de uma existência repartida e,
certamente, mais de acordo com o significado da vida terrestre, da vida material. E, por essa via de
procedimento, jamais encontrará o caminho do espírito, jamais será iluminado pela grandeza da dádiva, pela
importância da partilha, pela nobreza do caracter que, afinal, não tem e pela alegria de estender a sua mão a
quem dela precisa.
Alguns justificam – se dizendo que foi o acaso que lhes deu o dinheiro, o poderio, a voz de comando, a
supremacia…
Falácia. Justificação que nada justifica. Sombra da realidade.
Para esses recomenda – se vivamente a consulta do “Caibalion”, se tiverem a coragem de o ler e de o
entender, ou mesmo só de o ouvir. Se o fizerem encontrarão a “voz” de uma consciência diferente: TODA A
CAUSA TEM O SEU EFEITO; TODO O EFEITO TEM A SUA CAUSA; TODAS AS COISAS ACONTECEM DE ACORDO
COM A LEI SUPERIOR; O ACASO É SIMPLESMENTE O NOME DADO A UMA LEI NÃO ENTENDIDA E NÃO
CUMPRIDA.
É preciso, então, perceber e tomar boa nota do que estas palavras significam, porque, de facto, toda a causa
tem o seu efeito.
Quando os Seres Humanos menos avisados entenderem o que isto quer dizer, poderá ser demasiadamente
tarde.
A Galinha dos Ovos de Ouro