A razão por meio da ciência
Fabiano Agrela Rodrigues
Neurobiologia da Esperança:
Uma Análise
Detalhada dos Mecanismos Celulares,
Moleculares e Genéticos
- Partilhar 25/10/2024
A esperança é um estado mental complexo que
envolve a interação de múltiplos sistemas
neuronais e circuitos no cérebro, com base
em mecanismos neurobiológicos que integram
cognição, emoção e motivação. O papel
fundamental da esperança é promover o
comportamento orientado para metas futuras e
a resiliência perante adversidades. Para
compreender a esperança em profundidade, é
necessário analisar a sua base
neurobiológica em termos de regiões
cerebrais, neurotransmissores, sinalização
intracelular e aspetos genéticos.
Regiões e Sub-Regiões Envolvidas
O córtex
pré-frontal medial (mPFC), especialmente as
suas conexões com o núcleo accumbens (NAc) e
o sistema límbico, desempenha um papel
central na mediação da esperança. O mPFC é
responsável pela regulação emocional,
planeamento futuro e avaliação de
recompensas, processos intrínsecos à
experiência de esperança. O núcleo
accumbens, parte do sistema de recompensa,
está envolvido na antecipação de recompensas
e na motivação para ações futuras, regulando
o comportamento associado à expectativa
positiva.
No mPFC, sub-regiões
específicas, como o córtex orbitofrontal e o
córtex pré-frontal dorsolateral (dlPFC),
estão envolvidas no processamento das
consequências futuras das decisões, enquanto
o hipocampo, crucial para a formação de
memória e cenário, auxilia na criação de
projeções de um futuro desejável, outro
componente fundamental da esperança.
Tipos Celulares e Circuitos Neuronais
Ao
nível celular, os neurónios dopaminérgicos
que projetam da área tegmental ventral (VTA)
para o núcleo accumbens desempenham um papel
fundamental. Estes neurónios modulam a
libertação de dopamina, que é crítica para o
processamento de recompensas e para o
reforço do comportamento orientado para
objetivos. A esperança está intimamente
ligada ao circuito mesolímbico
dopaminérgico, onde a libertação de dopamina
atua como um sinal de previsão positiva.
Astrócitos também desempenham um papel
no suporte metabólico e na regulação da
homeostasia do ambiente sináptico,
garantindo que os neurotransmissores, como
dopamina e glutamato, possam atuar de forma
eficiente. A glia também participa da
plasticidade sináptica, permitindo que os
circuitos cerebrais se adaptem à expectativa
e ao planeamento futuro.
Sinalização
Intracelular e Neurotransmissores
A
sinalização intracelular nos recetores de
dopamina, principalmente D1 e D2, no núcleo
accumbens, regula a plasticidade sináptica.
Os recetores D1 ativam a via de AMPc/PKA,
promovendo a potenciação sináptica de longo
prazo (LTP), facilitando assim a
aprendizagem de associações positivas
futuras. Em contraste, os recetores D2
inibem a libertação de dopamina via via
PLC/IP3/DAG, promovendo o controlo
inibitório e a aversão a recompensas
negativas. A interação entre estes recetores
modula a experiência subjetiva da esperança,
regulando as expectativas futuras.
A
serotonina também desempenha um papel
crítico no mPFC, modulando a perceção de
cenários futuros e atenuando o impacto de
experiências negativas passadas, o que
facilita a manutenção de expectativas
positivas. A serotonina regula a
plasticidade e o controlo emocional, sendo
essencial na sustentação de estados de
esperança em situações adversas.
Aspetos Genéticos e Moleculares
A
expressão dos genes que codificam as enzimas
responsáveis pela síntese, transporte e
degradação da dopamina é fundamental para a
modulação da esperança. O gene TH (tirosina
hidroxilase), que controla a síntese de
dopamina, é altamente expresso nos neurónios
dopaminérgicos da VTA. A regulação deste
gene influencia diretamente a capacidade de
prever recompensas e manter expectativas
positivas.
O gene SLC6A3, que
codifica o transportador de dopamina (DAT),
controla a recaptação da dopamina e,
portanto, a duração da sua ação nas
sinapses. Alterações na expressão deste gene
podem impactar o tempo que a dopamina
permanece ativa nas sinapses do núcleo
accumbens, afetando a intensidade da
experiência de esperança. Além disso, genes
relacionados à expressão de recetores de
dopamina, como DRD1 e DRD2, modulam a
sensibilidade neuronal à dopamina e são
críticos para o equilíbrio entre
expectativas otimistas e realistas.
A
plasticidade sináptica no hipocampo e no
córtex pré-frontal é mediada por mudanças na
expressão de genes relacionados com fatores
neurotróficos, como o BDNF (fator
neurotrófico derivado do cérebro), que
facilita a adaptação sináptica e a
flexibilidade cognitiva, permitindo que o
cérebro forme e mantenha uma expectativa
positiva sobre o futuro, essencial para a
esperança.
Considerações Finais
A
esperança emerge de uma interação complexa
entre neurotransmissores, como dopamina e
serotonina, que modulam circuitos cerebrais
envolvidos na recompensa e no planeamento
futuro. Regiões como o córtex pré-frontal
medial, núcleo accumbens e hipocampo
trabalham de forma integrada, permitindo que
o cérebro projete cenários futuros positivos
e sustente a motivação orientada a metas. Ao
nível molecular, a esperança é sustentada
pela plasticidade sináptica e pela expressão
de genes que regulam a sinalização
dopaminérgica, facilitando a adaptação
neuronal a expectativas futuras. Este
processo é fundamental para a resiliência e
o comportamento proativo perante desafios.
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues,
Departamento de Ciências e Tecnologia da
Logos University International
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