Vaguear na Maionese
Paulo Falcão Alves
| O plano perfeito! | A decadência do civismo | Ti piace la mountain bike? Allora pedala! | Com este Senhor não vamos a lado nenhum! | A inflação a subir e os cães a ladrar | Surra de Bunda | Estou farto de te ouvir! | Os mesmos de sempre | Cisne Negro | O Povo quer é Festa | E tudo voltará ao normal | Famintos de conhecimento | Aprender com a História | Viagem sem rumo | (Des)governo | Palhaçada!!! | Os novos hiper incluídos |
COM ESTE SENHOR NÃO VAMOS A LADO NENHUM!
- Partilhar 05/12/2022
O mundo está de olhos postos no Mundial de Futebol e
nós, portugueses, a sonhar com o título de campeão.
Infelizmente, as nossas aspirações, como em quase tudo em Portugal,
estão muito aquém da realidade...
Como diz o provérbio popular
“mais vale um exército de burros comandados por um leão, do que um
exército de leões comandados por um burro” – e nós temos com certeza
uma das melhores seleções de todos os tempos...
Não tenho nada
pessoal contra o selecionador nacional, mas em relação à sua prestação
muito há a dizer. Sei que quem vê caras não vê corações mas este
senhor tem tudo menos cara de selecionador nacional, talvez de
eletricista, tasqueiro ou revisor dos STCP – tudo menos de treinador
da seleção portuguesa de futebol.
Depois podemos falar de
eficiência. É certo que ganhamos o Europeu em 2016 mas isso, como
todos sabemos, foi pura sorte!!! Como é possível que alguém que tem
uma equipa de luxo e receba um salário bruto anual de 2.25 milhões de
euros (1) - e que ainda se dá ao luxo de criar esquemas com a Federação
Portuguesa de Futebol de forma a fugir ao fisco, não se afirme com a
excelência que o cargo, a função e a matéria exigem. Isto para não
falar do lobby Jorge Mendes....
Posso estar a escrever este
texto hoje e amanhã os factos contrariarem a minha visão mas meus
caros amigos – com este senhor não vamos a lado nenhum!
A INFLAÇÃO A SUBIR E OS CÃES A LADRAR
- Partilhar 01/08/2022
Nos últimos dias surgiram várias
notícias a retratar a forma injuriosa com
que Pedro Abrunhosa se dirigiu ao presidente
da Rússia - VLADIMIR PUTIN, VAI-TE
F*DER!!!
Como diz o velho ditado
português - quem não se sente, não é
filho de boa gente, a embaixada da
Rússia retaliou este comportamento,
criticando e lamentando a conduta
profissional do artista, abrindo uma
caixa de pandora que Marcelo e Costa ainda
não se dignaram a pronunciar...
Este
fait-divers surge quando alguém do
público, num remoto e longínquo concerto
municipal do nosso Portugal, decide gravar a
atuação de Pedro Abrunhosa. Após a
disseminação desse vídeo nas redes
sociais, e da resposta da embaixada Russa em
Portugal , o artista ganha espaço de
antena e insurge-se sobre a sua má
criação defendendo-se atrás da
liberdade de expressão, aproveitando o
populismo gratuito que toda esta
situação favorece, colocando-se ao lado da
nova vaga liberal pós-moderna,
retratada pelas vozes de artistas e figuras
públicas à procura de subsídios, tachos e
votos, defendendo que Portugal é um país
livre e que todos temos liberdade para
expressar as nossas opiniões com base nos
direitos básicos da liberdade e democracia
- ora meus amigos, opinar não é a mesma
coisa que insultar...
Segundo o Código de
Ética e Conduta da Direção-Geral das Artes[1],
organismo público do Ministério da Cultura
da República Portuguesa, os artistas devem
ser imparciais e isentos, estando impedidos
de ter comportamentos que resultem em
benefício ou prejuízo de terceiros, devendo
agir sem atender a favoritismos ou
preconceitos que gerem descriminações de
qualquer natureza, atuando com zelo e
responsabilidade
esclarecendo de forma respeitosa, clara e
simples os intervenientes no assunto.
Deste modo, à luz da ética e da
deontologia portuguesa, o comportamento do
artista foi imprudente,
desrespeitando um dos princípios éticos de
todos os povos - o respeito pelos valores
nacionais - o que vale é que o SIRESP
continua a falhar, a inflação a subir e os
cães a ladrar.
SURRA DE BUNDA
- Partilhar 28/06/2022
A curiosidade levou-me a esperar pelo último
dia do Rock´in Rio para ver o concerto de uma das suas cabeças de
cartaz - a cantora brasileira Anitta, uma personagem cuja imagem tenta
colar-se a estrelas pop como Beyoncé ou Rihanna
Confesso que nunca
tinha ouvido falar desta senhora, mas pela adesão do público pensei
que fosse algo digno de se pagar bilhete – infelizmente estava errado.
O concerto inicia-se ao som dos Dire Straits, miseravelmente
empobrecido por uma coreografia brejeira onde Anitta e as suas
partners rabudas iniciam as suas danças tribais de acasalamento - e
foi isto quase todo o espetáculo...
O concerto foi de tão fraco
nível que a certa altura um dançarino aproxima-se da protagonista,
ambos põem as línguas de fora e durante cinco segundos tocam-se como
colibris...mais tarde os comentadores do concerto disseram que era o
seu marido ou namorado, já não sei, só sei que foi muito mau.
Entretanto sobe mais uma “artista” ao palco e aqui apercebo-me,
através da letra da música, que na verdade Anitta, tal como a sua
compincha, é da favela. Atenção que não tenho nada contra as pessoas
da favela, apenas gostaria de referir que não lhe devia bastar ser do
morro e representar os oprimidos para ser considerada uma pop star –
valha-me Deus, devia ser preciso ter o mínimo de talento musical e
esta senhora não tem nenhum. Como se não bastasse, desfila em palco
com a bandeira de Espanha revelando uma ignorância boçal... reconheço
que gostos não se discutem mas meus amigos isto foi fraco demais.
Para terminar, e para resumir este concerto, faço minhas as palavras
de um dos comentadores do evento (Tatanka, vocalista dos Black Mamba)
– surra de bunda.
ESTOU FARTO DE TE OUVIR!
- Partilhar 31/05/2022
Embora possa parecer estranho, a guerra
da Ucrânia e a pandemia causada pela Covid-19 têm mais coisas em comum
do que à partida podem parecer.
Em primeiro lugar, ambos os
fenómenos são comentados por especialistas que opinam ao sabor do
vento aproveitando uma exposição mediática parola para se tornarem nos
verdadeiros famosos do bairro – desta vez os médicos foram trocados
por generais.
Depois, ambos os episódios tentam criar na
população um medo generalizado, explorando à exaustão, através da
disseminação, na maior parte das vezes ridícula, os aspetos trágicos
deste conflito.
Por fim, e não menos importante, os resultados
destas políticas têm efeitos desastrosos nas populações mais frágeis,
revelando a incompetência e a prepotência da Europa na gestão de
crises internacionais.
Senão vejamos, quando a União Europeia
aplica uma sanção à Rússia é aplaudida como uma ação estratégica. Se a
Rússia retalia, como por exemplo no corte do fornecimento de gás, é
acusada de vingança – poupem-me!!!
Face a estas políticas
incompetentes, a taxa de inflação continua a subir e os mais pobres
estão a ficar sem opções – é triste ver o povo continuar a aplaudir em
frente ao ecrã e a lamentar-se quando olha para a carteira na hora de
comprar pão.
Os combustíveis aumentam a níveis históricos,
enquanto os bens primários, aproveitando a ganância de grupos
empresariais ávidos de lucro e livres de quaisquer políticas de
controlo, atingem valores nunca antes vistos.
Paralelamente, e
ao som da mesma banda, o comediante Zelensky vai perpetuando esta
palhaçada, continuando a encher os bolsos com biliões de dólares que o
Ocidente lhe vai doando sem qualquer tipo de escrutínio ou
verificação.
Lamentavelmente, embora a opinião pública comece a
dar sinais de algum cansaço, este filme, apoiado por um circo
mediático vergonhoso, ainda nem sequer parece ter chegado ao
intervalo. Zelensky, estou farto de te ouvir!
OS MESMOS DE SEMPRE
- Partilhar 01/04/2022
Embora a minha formação ideológica seja democrática
e pró-capitalista, sinto um descrédito cada vez maior pelo estado
das nações. Assistimos a uma guerra em que todos criticam o agressor,
mas onde ninguém se insurge contra o principal causador desta
fatalidade – o presidente dos Estados Unidos da América. Primeiro
acenam à Ucrânia uma entrada na NATO e depois escondem-se atrás de
insultos e de uma insurgente falta de carácter.
Lamentavelmente,
por incompetência ou excesso de confiança, as grandes nações do
ocidente, como os Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido,
julgaram que os avisos da Rússia que visavam uma ação bélica em prol
da proteção do seu território face à instalação de bases militares na
vizinha Ucrânia seria apenas um bluf – estavam enganados! E
pior, enganaram o líder ucraniano ao fazê-lo pensar que protegeriam o
seu povo na eventualidade de uma qualquer invasão – outra mentira...
Levado por estas falas mansas, Zelensky afrontou uma das
maiores potências bélicas do mundo, ainda ferida pelo desmantelamento
humilhante da sua ex-URSS, chegando mesmo a assinar um pedido formal
de adesão à União Europeia. O resultado foi o espicaçar do urso
branco que, de um dia para o outro e após vários avisos, começou a
disparar em todas as direções sem receio de possíveis danos colaterais
mostrando ao mundo que mother Russia is still alive. Agora que
já todos percebemos que a Ucrânia não vai aderir à NATO, falta saber
quem irá pagar os custos desta guerra – os mesmos de sempre!
CISNE NEGRO
- Partilhar 03/02/2022
Estou a ler um livro de um autor libanês
residente nos Estados Unidos, Nicholas Taleb, que nos fala sobre a
forma como lidamos com acontecimentos improváveis - os Cisnes Negros.
Para este autor, um Cisne Negro tem três caraterísticas principais. Em
primeiro lugar é altamente improvável, criando uma enorme perplexidade
devido à sua inesperada ocorrência. Em segundo lugar, causa um enorme
impacto face à sua imprevisibilidade e aos seus efeitos devastadores.
Por fim, a terceira e não menos importante caraterística, é que após o
seu impacto, procuramos encontrar explicações, muitas das vezes
assentes em discursos perpetuados em teorias esdrúxulas, com o
objetivo de os tornar menos aleatórios e previsíveis do que de facto
são na realidade.
Podemos enumerar a ocorrência de alguns Cisnes
Negros como o ataque terrorista do 11 de setembro, a tomada do
Afeganistão pelos talibãs e respetiva retirada das tropas americanas,
a pandemia causada pelo vírus do SARS-CoV-2 ou ainda a mais recente
maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições legislativas.
Esta lógica faz com que muitos destes fenómenos sejam encarados com
uma certa perplexidade, fruto de uma sociedade positivista
que parece distanciar-se paulatinamente do pensamento reflexivo,
filosófico, abafada sob os estrondosos aplausos de um coliseum
atulhado de almas presas à pressa do agora. Talvez esta
visão de uma realidade diminuída, motivada pelo nosso
distanciamento do real, resultante de uma sociedade de consumo cada
vez mais frenética e consumista, nos deva levar a refletir sobre esta
nossa incapacidade de prever o óbvio, onde o indubitável, como uma
crise energética mundial causada por uma guerra cibernética, não se
venha a tornar em mais um Cisne Negro.
O POVO QUER É FESTA
- Partilhar 25/09/2021
Após alguns meses sem partilhar convosco os meus desabafos, aproveito este momento, a um dia das eleições autárquicas, para aqui, uma vez mais, refletir sobre os tempos nossos.
Todos estamos de acordo que estas eleições representam um barómetro para os poleiros que se vão personificando nos arraiais políticos um pouco por toda a parte.
Em relação ao resultado final já pouco haverá a dizer – o PS vai ganhar as eleições! E vai vencer porque a máquina política no poder, habilmente oleada e manipulada pelos media, funciona na perfeição. Aproxima-se o anunciado dia da libertação, com discursos políticos oportunistas, apoiados por um star system a roçar a parolice, apregoando o fim da maioria das restrições impostas pela pandemia.
Para mal dos nossos pecados vamos assistindo a uma cromaticidade política onde, quer à esquerda, quer à direita, não é possível vislumbrar uma fala sábia. Na ausência de vozes primas, resta à oposição coligar-se com partidos à beira do abismo, numa luta desenfreada contra uma morte há muito anunciada – como referia Luís Pedro Nunes “o Rio perde mesmo que ganhe”(1).
Para os ainda parcos gritos de revolta (democrática), resta-lhes a (re)conquista dos ainda não-alienados, numa luta desigual entre conhecimento e ignorância, marcada pela ausência da participação cívica, daqueles que, como alguns de nós, mesmo não sendo “sócios pagantes”, ainda sonham por uma democracia saudável.
Segunda-feira, depois de todo este circo acabar, onde reinaram palhaços e acrobatas, o povo já só vai querer pensar nas castanhas e na bela da Jeropiga – Viva o S. Martinho! O povo quer é festa!
-
(1) Luís Pedro Nunes. (23 de setembro, 2021). Eixo do Mal. Carnaxide: SIC Notícias.
E TUDO VOLTARÁ AO NORMAL
- Partilhar 9/05/2021
Como é sabido, os media têm uma enorme capacidade em abafar certos temas inconvenientes através da criação de pseudo-acontecimentos — o caso dos trabalhadores explorados de Odemira é apenas mais um desses exemplos. Uma vez mais, em vez de assistirmos a discussões esclarecedoras sobre a forma como a lei permite que este tipo de situações aconteça, e como nada é feito para acabar com este tipo de infrações, somos obrigados a assistir a conversas de café e a ações políticas dignas de um estado totalitário como foi o caso da aplicação da providência cautelar decretada aos proprietários do ZMar.
Ao contrário de se discutir se a culpa é dos capatazes, dos arrendatários ou dos empresários, devíamos antes questionar o porquê da ausência de legislação capaz de punir com mão pesada quem promove e lucra com este tipo de situações. Em vez disso falamos de suspeitas de tráfico de pessoas em Odemira - “Estará em causa o crime de escravatura” (Edição da noite - SIC 4 abril), ou discutimos “As condições degradantes em que vivem estes trabalhadores” (TVI24h, 4 abril).
Esta telenovela surge porque Odemira se encontra numa cerca sanitária e como o atual Presidente da Câmara de Odemira pertence ao atual partido no poder, foi urgente criar uma diversão de forma a que a sua imagem não ficasse prejudicada nas eleições autárquicas que se avizinham.
Estou certo de que logo que Odemira ultrapasse a fase de confinamento em que atualmente se encontra, iremos deixar de falar de imigrantes ilegais, de exploração do trabalho, de invasões da propriedade privada e tudo voltará ao normal
FAMINTOS DE CONHECIMENTO
- Partilhar 15/04/2021
A operação Marquês, um dos casos de corrupção mais mediáticos da justiça portuguesa, provocou recentemente a indignação pública com a decisão instrutória proferida pelo juiz Ivo Rosa.
Embora o desfecho deste caso ainda não tenha chegado ao fim, somos obrigados a assistir passivamente ao julgamento grosseiro da justiça através de movimentos de indignação nas redes sociais e discursos políticos fartos de oportunismo.
Importa lembrar que o direito tem como base um corpo de regras e preceitos morais que têm como principal objetivo dirigir as ações do homem através das leis da honestidade e do pudor das quais resultam as normas – a regulação social. É através das normas e da regulação social que nascem as leis que, depois de harmonizadas, originam o direito - a qualidade daquilo que é justo. Cabe aos tribunais a função de julgar os conflitos de interesse, submetidos à sua apreciação, através da interpretação que cada juiz faz dos casos que lhe são atribuídos e não ao comum cidadão, habituado a assistir a julgamentos públicos através dos media, fruto de contínuas fugas de informação promovidas por um sensacionalismo cada vez mais grotesco. Embora possamos concordar que o sistema judicial português nunca será saudável enquanto os altos cargos do poder judicial continuarem a ser nomeados pelo governo, isso não nos confere o direito de julgar quem de direito tem a competência para o fazer.
Em vez de perdermos tempo com petições públicas, devíamos antes refletir sobre a forma como nos estamos a alienar da nossa praxis social, consequência de um mundo líquido (Bauman), um mundo leve (Lipovetsky) que todos ajudamos a construir e que inconscientemente continuamos a alimentar, permitindo que a ignorância amordace a sabedoria através de pequenas narrativas (Lyotard), personificadas na incerteza de uma sociedade à deriva inundada de informação e faminta de conhecimento.
APRENDER COM A HISTÓRIA
- Partilhar 10/03/2021
Regimes totalitários sempre existiram e continuarão a existir. Um dos ditadores mais famosos da história foi Mao Tse Tung, o primeiro Presidente da República Popular da China. Na sua campanha – Great Leap Forward, levada a cabo pelo partido comunista chinês entre 1958 e 1962, Mao aplicou uma série de medidas políticas e económicas com o objetivo impulsionar a economia.
Uma dessas medidas consistia em aumentar a produção de cereais. Entretanto, ao perceber que os pássaros eram responsáveis pelo desaparecimento de muitas das sementes plantadas, Mao não teve meias medidas – decidiu exterminar toda a população de pardais.
Para levar a cabo a sua ideia “mirabolante”, Mao ordenou a milhares de chineses que fossem para as ruas e telhados, hastear mastros com panos brancos e fazer barulho com panelas, impedindo que os pássaros pudessem poisar, obrigando-os a cair mortos de cansaço. A sua ideia teve sucesso garantido – morreram cerca de dois biliões de pássaros. O que Mao não previu foi o resultado da sua ação. Ao exterminar estes pássaros, a população de insetos e vermes explodiu, provocando um desastre ecológico, levando a que mais de 40 milhões de chineses morressem à fome, obrigando o governo chinês a importar pássaros à União Soviética para voltar a conseguir equilibrar o ecossistema.
Outra das suas estratégias teve como objetivo a produção massiva de aço de forma potenciar a indústria. Porém, ao verificar que as fábricas não estavam a dar resposta à sua demanda, Mao voltou a mobilizar o povo, obrigando-o a entregar todo o aço que tinham em sua posse para que pudesse ser fundido e assim conseguir atingir o seu objetivo. Uma vez mais o resultado foi catastrófico – o aço produzido foi de tão má qualidade que teve de ser todo deitado fora.
Meio século depois parecemos estar assistir a um filme idêntico, com governos obcecados em aplicar políticas “cegas”, sem capacidade intelectual de preverem os danos colaterais das suas ações, revelando de forma completamente ignorante nada terem aprendido com a história.
VIAGEM SEM RUMO
- Partilhar 22/01/2021
Hoje é o último dia
de campanha eleitoral e o povo português
prepara-se para eleger o seu novo Presidente
da República – e diga-se, a escolha não está
fácil! Não para quem vai ganhar, já todos
sabemos que o Marcelo vai ser reeleito, mas
sim para que irá ocupar o restante
“poleiro”.
Infelizmente,
independentemente de quem ganhe estas
eleições, uma coisa ficou clara aos olhos
dos portugueses – a fraca capacidade
intelectual dos nossos políticos em todos os
quadrantes ideológicos. Dos debates que tive
oportunidade de assistir, pouco ou nada se
falou de Portugal ou do seu futuro, apenas
“intriguices” de
vão-de-escada.
Não ouvi falar da pandemia nem de políticas
para a combater – não era isso que todos
gostaríamos de ouvir, neste momento, de um
candidato à Presidência da República?
Pelo contrário,
não ouvimos falar de nada, pois falar de
nada parece que é a única coisa que a
maioria destes políticos sabe fazer
– e
bem!!! Nem o facto de alguns terem estado em
Bruxelas a conviver com a
nata
política da Europa
os ajudou. Pelos vistos, a única coisa que
aprenderam foi a vestirem-se melhor e a
falarem com mais acutilância, quanto ao
resto, enfim…apenas chegou para borratar
lábios com um qualquer batom vermelho.
Infelizmente este
fenómeno tende a piorar com o tempo. A falta
de competência intelectual dos nossos
políticos é gritante, agora ainda mais
visível face à sua incapacidade de gerir
situações que requerem competências sem
“filtros” e decisões atempadas, fruto de uma
máquina partidária que nunca se preocupou
com qualificação dos seus pares. Como
costuma referir um amigo meu – na política
só é preciso ter QI (Quem Indica).
E assim vai o nosso
país, com um sistema político desgastado e
uma classe política agarrada ao poder há
demasiado tempo, legitimada por um povo
brando, obediente e desinteressado, pouco se
importando se o barco vira para a esquerda
ou direita, pois sabem que quer de um lado,
quer do outro, a resposta aos seus problemas
será sempre a mesma.
Por fim, e para ajudar à “festa”, lá vamos nós para mais um confinamento, imposto sem qualquer fundamentação científica, com regras que vão sendo aplicadas ao som dos gritos do povo enquanto o barco se prepara para zarpar em mais uma viagem sem rumo.
(DES)GOVERNO
Costumo comparar o
governo de um país a uma família pois em
ambas estruturas existe quem governa e quem
é governado. No caso da família, o pai e a
mãe têm o dever e a preocupação em promover
o futuro dos seus filhos através da educação
e dos valores que lhes vão transmitindo ao
longo da vida como a justiça, a honra, a
honestidade, entre outros. No caso dos
governos, os dirigentes têm a
responsabilidade de garantir o bem-estar dos
cidadãos através das suas políticas em áreas
como a educação, cultura, justiça, saúde,
etc.
Ora, se tivéssemos
que descrever uma família à imagem do nosso
governo, teríamos a imagem de uma família
disfuncional, mal governada, com os pais a
viverem de subsídios e a gastarem todo o seu
dinheiro sem se preocuparem com a educação,
futuro e bem-estar dos seus filhos,
revelando uma incapacidade e imaturidade
“intelectual” inconcebível.
Entretanto, Portugal
está prestes a receber uma elevada quantia
de dinheiro da Europa, diga-se 13 mil
milhões de euros a fundo perdido, contudo,
em vez de aproveitarmos este apoio
financeiro para aplicar em políticas
estruturais como a reforma do nosso sistema
judicial, ou na melhoria do nosso sistema de
saúde e educação, iremos direcionar esse
dinheiro para subsídios pontuais, efémeros,
que um dia irão acabar, deixando tudo da
mesma forma que estava antes – a realidade
de um país à deriva, habituado a governar à
vista!
Penso que a única
solução passará pela intervenção “direta”
daqueles que governam a Europa e que em
breve tomarão o leme do nosso barco,
tornando-se parte ativa do nosso sistema
legislativo, executivo e judicial, acabando
de vez com a nossa identidade, com as nossas
tradições – o preço a pagar pelo nosso total
(des)governo.
PALHAÇADA!!!
Uma vez mais este
meu “desabafo” acaba no SARS-CoV-2 ou no
novo
coronavírus – sim, porque o antigo já passou
à história e o
novo
é bem pior...ou pelo menos alguns querem
parecer que assim seja...
Ao mesmo tempo, entre
as lamúrias da desgraça, assistimos a
discursos ideológicos agarrados à razão do
povo, tentando justificar o injustificável –
a realização de uma festa com dezenas de
milhares de pessoas aprovada por uma
Direção-Geral da Saúde completamente
“manietada” por um governo ludibriador,
tentando convencer-nos, de forma patética,
que existe uma forma de juntar 16.000
indivíduos em 30 hectares durante três dias
de forma segura, indo contra o bom senso do
povo em detrimento de interesses políticos -
Como é possível??? Não tenho nada contra o
partido comunista, mas, neste momento,
colocar interesses monetários à frente da
saúde não me parece de todo aceitável.
Este filme tem um
enredo simples, só não vê quem não quer ver.
Por um lado, temos um primeiro ministro cujo
silêncio é pago com a promessa da aprovação
de um orçamento de estado à esquerda. Por
outro, um presidente que, de
selfie
em selfie,
vai tentando fugir à razão por entre os
“pingos da chuva” na esperança de uma
reeleição à esquerda e à direita, pois o
centro há muito que deixou de existir,
evitando ao mesmo tempo o ressoar de bombos
como a “novela” de Tancos ou o exílio do rei
emérito Juan Carlos – quanto à última vamos
ver até quando...
OS NOVOS HIPER INCLUÍDOS
Em 2004 Castells
definia o termo info-exclusão como a
incapacidade dos indivíduos em acederem à
tecnologia. Para o autor este fenómeno
poderia vir a ser responsável pela criação
de um «quarto
mundo»,
um mundo formado por aqueles que têm
possibilidades de viajar e adquirir
conhecimentos e por aqueles que não o podem
fazer, aumentando assim as desigualdades
entre os que têm e os que não têm acesso à
informação.
Entretanto, com o
avanço tecnológico da última década, a
realidade de Castells já não se pode resumir
ao não acesso à tecnologia. Basta olhar para
os populares que se aglomeram nos centros
comerciais às portas das grandes operadoras
de telecomunicações na esperança de verem o
seu “pesadelo” resolvido em troca de mais um
ano de fidelização.
Famílias
completamente alheias às estratégias e
planos maquiavélicos de uma
superestrutura
cujo principal objetivo continua a ser o de
extorquir ao máximo o último tostão de um
proletariat
imerso numa amálgama de entretenimento
anárquico e brejeiro, cada vez mais alienado
do mundo que o rodeia, impotente para
alterar a sua situação de carência social.
Depois, como do
nada, surge um vídeo de violência policial
ou de maus tratos a animais e lá sai o povo
à rua para protestar, pilhar ou derrubar
estátuas – gritos de desespero de uma “vida
sem sal” imortalizados em
smart mobs
como se de um último suspiro se tratasse.
Gritos de revolta
de quem já pouco espera de uma sociedade que
nada mais tem para lhes dar a não ser
pistachio
para conversas de café – uma sociedade
privada de sonhos e projetos de vida,
desvairada pela inovação tecnológica
tentando desmerecer a visão de um futuro
inóspito e miserável – um «quarto
mundo» formado
por não pela incapacidade de acesso à
tecnologia, mas antes no seu oposto
– os novos
hiper incluídos.
MUNDO ÀS AVESSAS
Há um ditado do
povo que diz «não
há nada que o tempo não
cure», pois bem,
desde março que este ditado me assola a
alma!!! – Para já o
tempo
parece não ter curado nada, antes pelo
contrário, só tem piorado...
Perante todas as
minhas incertezas questiono-me uma vez mais
sobre a real gravidade desta situação em que
todos nos encontramos – novamente, muitas
perguntas para uma razia de respostas...
Os discursos
contraditórios das altas figuras
responsáveis pela saúde pública em Portugal
deixam-me sem paciência... ontem as máscaras
não eram eficientes, mas hoje já são! Areia
para os olhinhos do povo! – Em pleno estado
de emergência o governo teima em manter as
comemorações do 25 abril e do 1.º maio...não
sei se por complexos de inferioridade ou se
por insanidade mental, mas lá tivemos que “engolir
mais um sapo”.
Entretanto no meio
de tanto “pisca,
pisca”
ligamos a televisão e assistimos aos
discursos de Trump e Bolsonaro a ignorarem
as advertências da OMS e a assumirem “sem
complexos” uma postura contraditória ao
resto do mundo, tentando não parar a
economia com a justificação de que se não
morrerem da doença, irão certamente morrer
da cura. Na Europa, a Suécia, um país
considerado exemplar no que diz respeito a
políticas sociais, assume uma postura
idêntica com a justificação de que é melhor
keep walking
do que
chacinar todo
um sistema económico e social.
O que continuo sem
perceber é por que razão um vírus
com uma taxa de mortalidade a rondar os 3%, cerca de 0,003% da população mundial, consegue dizimar toda uma economia
mundial? Como podemos continuar a justificar
estas políticas de
confinamento
despótico
sabendo que a taxa de mortalidade incide
principalmente nos idosos sendo que nas
crianças, jovens e adultos é relativamente
baixa ou quase inexistente? Porque é que as
políticas de controlo sanitário não se
aplicaram de forma estratégica aos mais
velhos e àqueles com quadros clínicos mais
débeis, evitando este
shutdown global
que ficará para sempre na história como um
exemplo daquilo que não se deve fazer?
Digam-me senhores Comissários, Deputados, Presidentes, Chefes de Estado e “coisas assim” – vai ser o povo a pagar uma vez mais pela incompetência das vossas políticas? Vamos ter que voltar a encher os bolsos daqueles que enriquecem à custa dos juros da dívida pública dos países mais pobres? O que é que andamos todos a fazer neste mundo às avessas?...
HABITUA-TE!
Nos finais do século XVIII, Jeremy Bentham idealizava um sistema de vigilância a que chamou – Panopticon, uma forma de controlo prisional assente numa estrutura circular, similar à do Coliseum de Roma, onde no centro se encontrava uma torre circular com vidros a toda a volta e um guarda que vigiava todos os reclusos sem que estes pudessem ter a noção de estarem a ser vigiados, não permitindo ao mesmo tempo a comunicação entre eles. Embora fosse fisicamente impossível um único guarda observar todas as celas ao mesmo tempo, os prisioneiros nunca sabiam de facto se estariam a ser observados condicionando assim o seu comportamento.
Face ao fenómeno pandémico que hoje todos vivenciamos, esta Panopticon tende a ser subliminarmente substituída por infinitos algoritmos e desmesuráveis sistemas de vigilância permitindo aos Estados-nação, para já apenas os totalitários, a legitimação das suas ações de vigilância através de um processo coercivo de controlo e invasão da privacidade, apoiado pela promessa de uma maior segurança e bem-estar social.
O monopólio da violência que Max Weber atribuiu aos Estados-nação do século XIX é hoje substituído pelo monopólio da vigilância, obrigando os cidadãos a agir de acordo com as políticas definidas pelo poder político através da manipulação da informação como forma de condicionamento social.
Enquanto no passado o ideal social assentava no equilíbrio entre segurança e liberdade – quanto mais liberdade, menos segurança e vice-versa, num futuro próximo esse ideal social irá recair sobre o equilíbrio entre privacidade e controlo, mas com uma pequena diferença - desta vez o controlo será exercido independentemente dos nossos esforços para preservar a nossa privacidade.
As políticas de vigilância e controlo têm agora a oportunidade de saltar as fronteiras dos países totalitários e começarem a implantar-se nas mais variadas sociedades democráticas do Ocidente, exercendo políticas de controlo e punição cada vez mais implacáveis, aproximando-nos cada vez mais das visões futuristas de George Orwell ou Aldous Huxley. Parafraseando Scott McNealy, co-fundador da Sun Microsystems – Já não tens qualquer privacidade – habitua-te! ...
PEDRO E O LOBO
Em janeiro,
confidenciava em família –
vamos deixar de falar
do coronavírus, o mais tardar, em finais de
fevereiro
– estava completamente enganado. Hoje tenho
mais dúvidas que respostas. O impacto que
este fenómeno está a ter nas nossas vidas torna-o
efetivamente preocupante. Não me estou a
referir apenas à propagação do vírus, mas
aos efeitos colaterais como o desfalecimento
gradual dos setores económicos que, num curto
prazo, irão ter um enorme impacto nas nossas
vidas futuras.
Os
media,
e sobretudo os agentes políticos, estão a
revelar que não sabem lidar com esta
situação – estamos perante uma nova forma de
coerção social – o medo, ao mesmo tempo que
assistimos incrédulos, impávidos e serenos
ao descalabro social, económico e político
mundial.
Mas sendo a
informação uma das armas para combater o
medo porque é que ela continua praticamente
inexistente? Porque é que em vez de ouvirmos
falar do número de infetados e mortes não
ouvimos a opinião de especialistas, das mais
diversas áreas, ajudando a esclarecer as
dúvidas que pairam nas nossas cabeças?
A resposta a estas
questões deve-se sobretudo a duas razões. A
primeira, deve-se ao facto de os meios de
comunicação terem deixado de exercer há
muito tempo a sua principal função –
informar, contribuindo para um clima de
dúvida e desconfiança, apregoando vezes
sem conta a vinda de um lobo que agora, sem
ninguém estar à espera, chegou e
ninguém sabe como controlar. A segunda
razão deve-se à ideologia da nossa
contemporaneidade, uma ideologia
caracterizada pela descrença no discurso
público e na disfuncionalidade das
instituições. Uma ideologia que não aceita a
ordem prevalecente, questionando-a e adaptando-a aos
gostos pessoais de cada um, assente
numa consciência individual e egoísta.
Espero que quando
tudo isto passar não surjam estudos a
defender que este alarme social podia ter
sido evitado e, tal como em 2009 na pandemia
do vírus H1N1, não apareça outro Wolfand
Wodarg[1]
a afirmar que a pandemia do
coronavírus não tenha passado de um
alarmismo exacerbado, alimentado pela
desinformação e pela incapacidade dos
governos em gerir toda esta situação.
Talvez seja
este o preço que devemos pagar por vivermos
numa sociedade consumista, mercantilista,
egoísta e incompetente, onde a tecnologia e
o conhecimento técnico são mais valorizados
que a sensatez e a reflexão filosófica de
outros tempos...
[1]
Presidente da Comissão de Saúde da
Assembleia Parlamentar do Conselho
da Europa em 2009.
ESTÓRIAS SEM FIM
O panorama mediático em que hoje nos
encontramos deve-se sobretudo às notícias
que abrem os telejornais e que enchem as
primeiras páginas dos jornais, praticando um
jornalismo de matilha criando aquilo a que
Ramonet chamou de «espetáculo do
acontecimento», um pântano patético onde
todos parecemos estar-nos a afundar (1).
Senão vejamos, a senhora Isabel dos Santos é
agora acusada por um consórcio
“independente” de jornalistas, pago sabe-se
lá por quem, de desviar elevadas quantias de
capital de Angola para proveito próprio. Mas
o que é que se passa? Todos nós sabemos que
isto acontece em Angola há mais de quarenta
anos – o desfalque selvagem de
um país extraordinariamente rico em recursos
naturais, gerido por um regime político
corrupto que só pensa em si e não no seu
povo – para quê tanto frenesim à volta da
senhora?
Depois temos o caso Rui Pinto,
um suposto pirata informático que é detido e
acusado de extorsão e acesso ilegal a
informação privada e confidencial (...)
coitado, ele só queria ajudar e ganhar algum
dinheirito se possível…tem de ser libertado
diz o povo! Mas como é que alguém que não
age de acordo com a lei pode fugir da
justiça por entre os pingos da chuva? É
óbvio que tem de ser julgado e caso se
verifiquem as acusações deve ser condenado!
Para animar ainda mais a festa temos o caso
do assalto ao paiol de Tancos, onde as
evidências parecem apontar para
comportamentos eticamente incorretos por
parte de altas figuras do Estado em assuntos
de extrema delicadeza como é o caso do
armamento militar. Contudo, tendo em conta
os protagonistas da novela, não creio que
esta investigação traga mais novidades do
que aquelas que nos trouxe até agora –
enquanto os altos cargos do poder judicial
continuarem a ser nomeados e escolhidos pelo
governo, o sistema judicial português nunca
será isento.
Por fim temos o caso do
coronavírus, lenha seca para esta fogueira
mediática! No dia 3 de fevereiro uma
jornalista da TVI relatava o seguinte: «18
portugueses aterraram às 23:53 na base aérea
de Figo Maduro e seguiram de imediato para o
hospital Pulido Valente para isolamento
profilático, voluntário, para tranquilizar
as famílias e o país». Um claro discurso de
medo e tragédia com apenas um objetivo:
alarmar audiências.
Estes são alguns
exemplos de como os media tendem a
transformar o simples em algo mais complexo,
convidando-nos a sentar à volta de uma
fogueira não para a “ouvir coisas de sonho e
de verdade”, mas estórias sem fim que nos
impedem de pensar.
(1) Ramonet, I. (1999). A Tirania da Comunicação. Porto: Campo das Letras.
Novo Proletariado
Nestes últimos
anos o mundo evoluiu de forma inigualável e
vertiginosa. Entramos numa era onde tudo é
feito com base na interconexão e partilha.
Habituamo-nos a viver num planeta sem
fronteiras, sem tabus, onde tudo é passível
de ser questionado e transformado de acordo
com os nossos ideais e valores – um mundo
altamente tecnológico.
De todas as
grandes transformações que a tecnologia nos
tem brindado aquela que mais me tem
inquietado é a queda da nossa multiplicidade
em prol de uma singularidade solitária onde
todos tendemos gradualmente a ser mais
idênticos numa sociedade altamente
individualizada e controlada.
Enquanto no passado,
o ideal social dependia do equilíbrio entre
liberdade e segurança - quanto mais
liberdade menos segurança, hoje, no meio
deste rebuliço tecnológico, o ideal social
depende do equilíbrio entre privacidade e
controlo – à medida que
abdicamos da nossa privacidade vamos
permitindo um maior controlo sobre as nossas
vidas, sobre os nossos interesses – sobre os
nossos sonhos!
Parecemos
caminhar paulatinamente para um mundo
homogéneo onde as diferenças passam a ser
vistas como algo intolerável e as vozes
divergentes tendem a ser asfixiadas por uma
sociedade frenética sem tempo de reflexão.
Assusta-me esta
ideia de um mundo alienado dos grandes
problemas sociais, assente na exploração da
privacidade, do nosso íntimo, dos nossos
gostos, alimentando gratuitamente grandes
indústrias tecnológicas como a Google, o
Facebook ou a Apple.
Se para Marx o
proletariado do século XIX era responsável
pela produção da mais-valia e os
capitalistas representavam a máquina que
transformava essa mais-valia em capital
excedente, hoje somos nós, os empregados, os
desempregados, os pobres, os ricos, os
migrantes, os aposentados, os estudantes –
os responsáveis pela produção dessa mais
valia através da partilha gratuita das
nossas vidas em troca de um imediatismo
narcisista alicerçado numa exposição global
graciosa que subtilmente nos converteu no
novo proletariado do século XXI.
The Christmas Tree
Acabamos de entrar no
período mais bonito do ano – o Natal, uma
festa celebrada um pouco por todo o mundo de
forma singular. As decorações de Natal, o
abrir dos presentes, os jantares em família,
todos estes momentos fazem do Natal um
momento único e especial que se vai
perpetuando através dos signos que, ao longo
das nossas vidas, vamos construindo no nosso
imaginário coletivo.
De todos os signos
que compõem este horizonte natalício, a
árvore de Natal é, na minha opinião, o seu
supremo
representamen
– não por ser o maior, mas por ser aquele
que melhor personifica a essência do Natal,
transportando-nos para um mundo mágico que
nos faz sentir fraternos - mais humanos,
fazendo-nos por vezes parar e pensar
naqueles que, pelas mais variadas razões,
não vão poder sentir o Natal com o mesmo
calor e alegria que muitos de nós.
É a partir do momento
em que “fazemos” a árvore de Natal que
marcamos oficialmente a entrada do Natal nas
nossas casas, permanecendo esplendorosa e
iluminada, dia-após-dia, como se a
lembrar-nos que ainda é Natal.
Os dias vão
passando e logo chega a ceia de Natal,
abrem-se os presentes, trincha-se o peru e o
Natal, embora perca parte da sua magia,
vai-se mantendo vivo através das cores e das
luzes que
vestem
as nossas
Christmas Trees.
Entretanto, alguns
dias depois vem a passagem de ano, trincamos
as passas, brindamos ao Ano Novo e entramos
na fase mais melancólica – a altura de
desmontar a árvore de Natal.
O ato de “empacotar”
a árvore de Natal simboliza oficialmente o
fim do Natal e toda a magia que ele
representa, fazendo-nos voltar para as
nossas vidas, para o nosso mundo sem tempo.
Sim, o Natal faz-nos parar no tempo e olhar
para o “outro”, algo devíamos fazer mais
vezes ao longo do ano – claro que nesse
tempo não temos árvores de Natal, mas temos
as memórias, os cheiros e os sons dos tempos
passados que nos podem ajudar a sentir a sua
magia.
Vamos, portanto,
aproveitar este Natal esperando serenamente
que quando este tempo mágico terminar
possamos continuar a sentir algum do seu
encanto dentro de nós - pelo menos durante
mais algum tempo.
Um Santo e Feliz
Natal para todos!
O desencantamento do Mundo
Paulo Falcão Alves
A forma como hoje o caos parece estar a sobrepor-se à ordem social deve-se sobretudo à cobertura mediática e à escassez de vozes capazes de combater uma realidade desgovernada em que parecemos estar a afundar-nos cada vez mais.
Nos últimos tempos temos assistido a manifestações violentas que em vez de defenderem posições e pontos de vista de forma democrática, partem para atos de violência gratuita, justificando esses mesmos atos com a desculpa de que estão a ser impedidos(as) de expressar o seu descontentamento — não nos deixam bloquear estradas e queimar pneus? Então partimos tudo!
Depois temos o caso da Greta Thunberg na Assembleia das Nações Unidas, desafiando, e chegando mesmo a intimidar os altos responsáveis pela paz e harmonia mundial como se tal comportamento fosse normal e compreensível — a culpa não é da menina, é de quem lá a colocou! Como se não bastasse, somos obrigados a ouvir estupefactos a uma completa indecência moral, propagada em certos programas televisivos, onde se defende que associar o azul a menino, e cor-de-rosa a menina, representa uma castração da construção da identidade de género das crianças — está tudo doido?
Por favor, não me venham dizer que a indumentária que o assessor, ou assessora, da deputada do Livre, Joacine Katar Moreira, escolheu se apresentar na Assembleia da República é normal — não, não é normal um homem vestir-se de saia!
É certo que uma visão populista, liberal e provocatória é muito mais in que uma visão ponderada e reflexiva — mas é disto que o povo gosta — de barulho!
Eu não sou contra manifestações ou alterações de estado do que quer que seja, antes pelo contrário. Eu não sou contra a irreverência juvenil — sou contra o protagonismo excessivo que lhe é dado. Eu não sou contra a expressão de opiniões — sou contra a forma como o pluralismo ideológico é explorado.
Os novos “loucos de Lisboa”
Paulo Falcão Alves
Para quem passa algum tempo em aeroportos, como é o meu caso, já deve ter reparado nestes novos “loucos de Lisboa” - indivíduos que vagueiam de um lado para o outro como doidos, completamente alienados da realidade que existe à sua volta, falando em voz alta como se o mundo só a eles pertencesse. Claro que me estou a referir à célebre canção do grupo de música portuguesa Ala dos Namorados e que no seu refrão canta algo como: “são os loucos de Lisboa, que nos fazem duvidar, a Terra gira ao contrário e os rios nascem no mar”.
E é isso mesmo que estes novos alucinados nos querem fazer acreditar – que é perfeitamente normal falar em voz alta, com alguém do outro lado da linha, incomodando e invadindo a privacidade de quem, por azar, partilha o mesmo espaço público. Por vezes vagueiam para longe, penso que por algum breve momento de lucidez, mas, logo no momento a seguir lá surgem eles a falar alto como dementes acabados de sair de um Júlio de Matos ou Magalhães Lemos - já não bastava aqueles que se põem a ver vídeos do YouTube ou a jogar Candy Crash no telemóvel com o som nas alturas?
Esta imagem é assustadora principalmente para o transeunte mais distraído ou para um qualquer sénior que tenha o azar de partilhar o seu espaço com estes indivíduos e que não se aperceba que têm uns headphones
nos ouvidos e que estão a falar ao telemóvel – sim, estão a falar ao telemóvel sem mãos, UAU!
Francamente, e por muito que tente, não consigo descortinar um motivo para tal fenómeno. Poderia ser por terem as mãos ocupadas e daí não puderem segurar no telemóvel, mas não, as mãos geralmente estão nos bolsos - será que é para se fazerem notar? Também penso que não, pois na maioria, senão na sua totalidade, parecem personagens saídas de um qualquer filme do Quentin Tarantino – então qual será a razão? Será que pelo facto de terem uma tecnologia ainda pouco massificada os faz pensar que têm o direito de se auto exibirem através de um narcisismo parolo? - A discussão é a mesma de sempre – já nada é privado, tudo é publico e exposto sem qualquer pudor, mas, ao contrário do que alguns nos possam querer fazer pensar, estes novos “loucos de Lisboa” nunca nos irão fazer acreditar que os rios nascem no mar!