Paulo Falcão Alves

Vaguear na Maionese

Paulo Falcão Alves

| O plano perfeito! | A decadência do civismo | Ti piace la mountain bike? Allora pedala! | Com este Senhor não vamos a lado nenhum! | A inflação a subir e os cães a ladrar | Surra de Bunda | Estou farto de te ouvir! | Os mesmos de sempre | Cisne Negro | O Povo quer é Festa | E tudo voltará ao normal | Famintos de conhecimento | Aprender com a História | Viagem sem rumo | (Des)governo | Palhaçada!!! | Os novos hiper incluídos |


COM ESTE SENHOR NÃO VAMOS A LADO NENHUM!

O mundo está de olhos postos no Mundial de Futebol e nós, portugueses, a sonhar com o título de campeão. Infelizmente, as nossas aspirações, como em quase tudo em Portugal, estão muito aquém da realidade...

Como diz o provérbio popular “mais vale um exército de burros comandados por um leão, do que um exército de leões comandados por um burro” – e nós temos com certeza uma das melhores seleções de todos os tempos...

Não tenho nada pessoal contra o selecionador nacional, mas em relação à sua prestação muito há a dizer. Sei que quem vê caras não vê corações mas este senhor tem tudo menos cara de selecionador nacional, talvez de eletricista, tasqueiro ou revisor dos STCP – tudo menos de treinador da seleção portuguesa de futebol.

Depois podemos falar de eficiência. É certo que ganhamos o Europeu em 2016 mas isso, como todos sabemos, foi pura sorte!!! Como é possível que alguém que tem uma equipa de luxo e receba um salário bruto anual de 2.25 milhões de euros (1) - e que ainda se dá ao luxo de criar esquemas com a Federação Portuguesa de Futebol de forma a fugir ao fisco, não se afirme com a excelência que o cargo, a função e a matéria exigem. Isto para não falar do lobby Jorge Mendes....

Posso estar a escrever este texto hoje e amanhã os factos contrariarem a minha visão mas meus caros amigos – com este senhor não vamos a lado nenhum!

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(1) https://www.sabado.pt/ultima-hora/detalhe/fernando-santos-e-o-sexto-treinador-mais-bem-pago-do-mundial


A INFLAÇÃO A SUBIR E OS CÃES A LADRAR

Nos últimos dias surgiram várias notícias a retratar a forma injuriosa com que Pedro Abrunhosa se dirigiu ao presidente da Rússia - VLADIMIR PUTIN, VAI-TE F*DER!!!
Como diz o velho ditado português - quem não se sente, não é filho de boa gente, a embaixada da Rússia retaliou este comportamento, criticando e lamentando a conduta profissional do artista, abrindo uma caixa de pandora que Marcelo e Costa ainda não se dignaram a pronunciar...
Este fait-divers surge quando alguém do público, num remoto e longínquo concerto municipal do nosso Portugal, decide gravar a atuação de Pedro Abrunhosa. Após a disseminação desse vídeo nas redes sociais, e da resposta da embaixada Russa em Portugal , o artista ganha espaço de antena e insurge-se sobre a sua má criação defendendo-se atrás da liberdade de expressão, aproveitando o populismo gratuito que toda esta situação favorece, colocando-se ao lado da nova vaga liberal pós-moderna, retratada pelas vozes de artistas e figuras públicas à procura de subsídios, tachos e votos, defendendo que Portugal é um país livre e que todos temos liberdade para expressar as nossas opiniões com base nos direitos básicos da liberdade e democracia  - ora meus amigos, opinar não é a mesma coisa que insultar...
Segundo o Código de Ética e Conduta da Direção-Geral das Artes[1], organismo público do Ministério da Cultura da República Portuguesa, os artistas devem ser imparciais e isentos, estando impedidos de ter comportamentos que resultem em benefício ou prejuízo de terceiros, devendo agir sem atender a favoritismos ou preconceitos que gerem descriminações de qualquer natureza, atuando com zelo e responsabilidade esclarecendo de forma respeitosa, clara e simples os intervenientes no assunto.
Deste modo, à luz da ética e da deontologia portuguesa, o comportamento do artista foi imprudente, desrespeitando um dos princípios éticos de todos os povos - o respeito pelos valores nacionais - o que vale é que o SIRESP continua a falhar, a inflação a subir e os cães a ladrar.



[1] https://www.dgartes.gov.pt/sites/default/files/codigo%20etica%20dgartes.pdf


SURRA DE BUNDA

A curiosidade levou-me a esperar pelo último dia do Rock´in Rio para ver o concerto de uma das suas cabeças de cartaz - a cantora brasileira Anitta, uma personagem cuja imagem tenta colar-se a estrelas pop como Beyoncé ou Rihanna
Confesso que nunca tinha ouvido falar desta senhora, mas pela adesão do público pensei que fosse algo digno de se pagar bilhete – infelizmente estava errado.
O concerto inicia-se ao som dos Dire Straits, miseravelmente empobrecido por uma coreografia brejeira onde Anitta e as suas partners rabudas iniciam as suas danças tribais de acasalamento - e foi isto quase todo o espetáculo...
O concerto foi de tão fraco nível que a certa altura um dançarino aproxima-se da protagonista, ambos põem as línguas de fora e durante cinco segundos tocam-se como colibris...mais tarde os comentadores do concerto disseram que era o seu marido ou namorado, já não sei, só sei que foi muito mau.
Entretanto sobe mais uma “artista” ao palco e aqui apercebo-me, através da letra da música, que na verdade Anitta, tal como a sua compincha, é da favela. Atenção que não tenho nada contra as pessoas da favela, apenas gostaria de referir que não lhe devia bastar ser do morro e representar os oprimidos para ser considerada uma pop star – valha-me Deus, devia ser preciso ter o mínimo de talento musical e esta senhora não tem nenhum. Como se não bastasse, desfila em palco com a bandeira de Espanha revelando uma ignorância boçal... reconheço que gostos não se discutem mas meus amigos isto foi fraco demais.
Para terminar, e para resumir este concerto, faço minhas as palavras de um dos comentadores do evento (Tatanka, vocalista dos Black Mamba) – surra de bunda.


ESTOU FARTO DE TE OUVIR!

Embora possa parecer estranho, a guerra da Ucrânia e a pandemia causada pela Covid-19 têm mais coisas em comum do que à partida podem parecer.
Em primeiro lugar, ambos os fenómenos são comentados por especialistas que opinam ao sabor do vento aproveitando uma exposição mediática parola para se tornarem nos verdadeiros famosos do bairro – desta vez os médicos foram trocados por generais.
Depois, ambos os episódios tentam criar na população um medo generalizado, explorando à exaustão, através da disseminação, na maior parte das vezes ridícula, os aspetos trágicos deste conflito.
Por fim, e não menos importante, os resultados destas políticas têm efeitos desastrosos nas populações mais frágeis, revelando a incompetência e a prepotência da Europa na gestão de crises internacionais.
Senão vejamos, quando a União Europeia aplica uma sanção à Rússia é aplaudida como uma ação estratégica. Se a Rússia retalia, como por exemplo no corte do fornecimento de gás, é acusada de vingança – poupem-me!!!
Face a estas políticas incompetentes, a taxa de inflação continua a subir e os mais pobres estão a ficar sem opções – é triste ver o povo continuar a aplaudir em frente ao ecrã e a lamentar-se quando olha para a carteira na hora de comprar pão.
Os combustíveis aumentam a níveis históricos, enquanto os bens primários, aproveitando a ganância de grupos empresariais ávidos de lucro e livres de quaisquer políticas de controlo, atingem valores nunca antes vistos.
Paralelamente, e ao som da mesma banda, o comediante Zelensky vai perpetuando esta palhaçada, continuando a encher os bolsos com biliões de dólares que o Ocidente lhe vai doando sem qualquer tipo de escrutínio ou verificação.
Lamentavelmente, embora a opinião pública comece a dar sinais de algum cansaço, este filme, apoiado por um circo mediático vergonhoso, ainda nem sequer parece ter chegado ao intervalo. Zelensky, estou farto de te ouvir!


OS MESMOS DE SEMPRE

Embora a minha formação ideológica seja democrática e pró-capitalista, sinto um descrédito cada vez maior pelo estado das nações. Assistimos a uma guerra em que todos criticam o agressor, mas onde ninguém se insurge contra o principal causador desta fatalidade – o presidente dos Estados Unidos da América. Primeiro acenam à Ucrânia uma entrada na NATO e depois escondem-se atrás de insultos e de uma insurgente falta de carácter.
Lamentavelmente, por incompetência ou excesso de confiança, as grandes nações do ocidente, como os Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido, julgaram que os avisos da Rússia que visavam uma ação bélica em prol da proteção do seu território face à instalação de bases militares na vizinha Ucrânia seria apenas um bluf – estavam enganados! E pior, enganaram o líder ucraniano ao fazê-lo pensar que protegeriam o seu povo na eventualidade de uma qualquer invasão – outra mentira...
Levado por estas falas mansas, Zelensky afrontou uma das maiores potências bélicas do mundo, ainda ferida pelo desmantelamento humilhante da sua ex-URSS, chegando mesmo a assinar um pedido formal de adesão à União Europeia. O resultado foi o espicaçar do urso branco que, de um dia para o outro e após vários avisos, começou a disparar em todas as direções sem receio de possíveis danos colaterais mostrando ao mundo que mother Russia is still alive. Agora que já todos percebemos que a Ucrânia não vai aderir à NATO, falta saber quem irá pagar os custos desta guerra – os mesmos de sempre!


CISNE NEGRO

Estou a ler um livro de um autor libanês residente nos Estados Unidos, Nicholas Taleb, que nos fala sobre a forma como lidamos com acontecimentos improváveis - os Cisnes Negros.
Para este autor, um Cisne Negro tem três caraterísticas principais. Em primeiro lugar é altamente improvável, criando uma enorme perplexidade devido à sua inesperada ocorrência. Em segundo lugar, causa um enorme impacto face à sua imprevisibilidade e aos seus efeitos devastadores. Por fim, a terceira e não menos importante caraterística, é que após o seu impacto, procuramos encontrar explicações, muitas das vezes assentes em discursos perpetuados em teorias esdrúxulas, com o objetivo de os tornar menos aleatórios e previsíveis do que de facto são na realidade.
Podemos enumerar a ocorrência de alguns Cisnes Negros como o ataque terrorista do 11 de setembro, a tomada do Afeganistão pelos talibãs e respetiva retirada das tropas americanas, a pandemia causada pelo vírus do SARS-CoV-2 ou ainda a mais recente maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições legislativas.
Esta lógica faz com que muitos destes fenómenos sejam encarados com uma certa perplexidade, fruto de uma sociedade positivista que parece distanciar-se paulatinamente do pensamento reflexivo, filosófico, abafada sob os estrondosos aplausos de um coliseum atulhado de almas presas à pressa do agora. Talvez esta visão de uma realidade diminuída, motivada pelo nosso distanciamento do real, resultante de uma sociedade de consumo cada vez mais frenética e consumista, nos deva levar a refletir sobre esta nossa incapacidade de prever o óbvio, onde o indubitável, como uma crise energética mundial causada por uma guerra cibernética, não se venha a tornar em mais um Cisne Negro.


O POVO QUER É FESTA

Após alguns meses sem partilhar convosco os meus desabafos, aproveito este momento, a um dia das eleições autárquicas, para aqui, uma vez mais, refletir sobre os tempos nossos.
Todos estamos de acordo que estas eleições representam um barómetro para os poleiros que se vão personificando nos arraiais políticos um pouco por toda a parte.
Em relação ao resultado final já pouco haverá a dizer – o PS vai ganhar as eleições! E vai vencer porque a máquina política no poder, habilmente oleada e manipulada pelos media, funciona na perfeição. Aproxima-se o anunciado dia da libertação, com discursos políticos oportunistas, apoiados por um star system a roçar a parolice, apregoando o fim da maioria das restrições impostas pela pandemia.
Para mal dos nossos pecados vamos assistindo a uma cromaticidade política onde, quer à esquerda, quer à direita, não é possível vislumbrar uma fala sábia. Na ausência de vozes primas, resta à oposição coligar-se com partidos à beira do abismo, numa luta desenfreada contra uma morte há muito anunciada – como referia Luís Pedro Nunes “o Rio perde mesmo que ganhe”(1).
Para os ainda parcos gritos de revolta (democrática), resta-lhes a (re)conquista dos ainda não-alienados, numa luta desigual entre conhecimento e ignorância, marcada pela ausência da participação cívica, daqueles que, como alguns de nós, mesmo não sendo “sócios pagantes”, ainda sonham por uma democracia saudável.
Segunda-feira, depois de todo este circo acabar, onde reinaram palhaços e acrobatas, o povo já só vai querer pensar nas castanhas e na bela da Jeropiga – Viva o S. Martinho! O povo quer é festa!

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(1) Luís Pedro Nunes. (23 de setembro, 2021). Eixo do Mal. Carnaxide: SIC Notícias.

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E TUDO VOLTARÁ AO NORMAL

Como é sabido, os media têm uma enorme capacidade em abafar certos temas inconvenientes através da criação de pseudo-acontecimentos — o caso dos trabalhadores explorados de Odemira é apenas mais um desses exemplos. Uma vez mais, em vez de assistirmos a discussões esclarecedoras sobre a forma como a lei permite que este tipo de situações aconteça, e como nada é feito para acabar com este tipo de infrações, somos obrigados a assistir a conversas de café e a ações políticas dignas de um estado totalitário como foi o caso da aplicação da providência cautelar decretada aos proprietários do ZMar.

Ao contrário de se discutir se a culpa é dos capatazes, dos arrendatários ou dos empresários, devíamos antes questionar o porquê da ausência de legislação capaz de punir com mão pesada quem promove e lucra com este tipo de situações. Em vez disso falamos de suspeitas de tráfico de pessoas em Odemira - “Estará em causa o crime de escravatura” (Edição da noite - SIC 4 abril), ou discutimos “As condições degradantes em que vivem estes trabalhadores” (TVI24h, 4 abril).

Esta telenovela surge porque Odemira se encontra numa cerca sanitária e como o atual Presidente da Câmara de Odemira pertence ao atual partido no poder, foi urgente criar uma diversão de forma a que a sua imagem não ficasse prejudicada nas eleições autárquicas que se avizinham.

Estou certo de que logo que Odemira ultrapasse a fase de confinamento em que atualmente se encontra, iremos deixar de falar de imigrantes ilegais, de exploração do trabalho, de invasões da propriedade privada e tudo voltará ao normal


FAMINTOS DE CONHECIMENTO

A operação Marquês, um dos casos de corrupção mais mediáticos da justiça portuguesa, provocou recentemente a indignação pública com a decisão instrutória proferida pelo juiz Ivo Rosa.

Embora o desfecho deste caso ainda não tenha chegado ao fim, somos obrigados a assistir passivamente ao julgamento grosseiro da justiça através de movimentos de indignação nas redes sociais e discursos políticos fartos de oportunismo.

Importa lembrar que o direito tem como base um corpo de regras e preceitos morais que têm como principal objetivo dirigir as ações do homem através das leis da honestidade e do pudor das quais resultam as normas – a regulação social. É através das normas e da regulação social que nascem as leis que, depois de harmonizadas, originam o direito - a qualidade daquilo que é justo. Cabe aos tribunais a função de julgar os conflitos de interesse, submetidos à sua apreciação, através da interpretação que cada juiz faz dos casos que lhe são atribuídos e não ao comum cidadão, habituado a assistir a julgamentos públicos através dos media, fruto de contínuas fugas de informação promovidas por um sensacionalismo cada vez mais grotesco. Embora possamos concordar que o sistema judicial português nunca será saudável enquanto os altos cargos do poder judicial continuarem a ser nomeados pelo governo, isso não nos confere o direito de julgar quem de direito tem a competência para o fazer.

Em vez de perdermos tempo com petições públicas, devíamos antes refletir sobre a forma como nos estamos a alienar da nossa praxis social, consequência de um mundo líquido (Bauman), um mundo leve (Lipovetsky) que todos ajudamos a construir e que inconscientemente continuamos a alimentar, permitindo que a ignorância amordace a sabedoria através de pequenas narrativas (Lyotard), personificadas na incerteza de uma sociedade à deriva inundada de informação e faminta de conhecimento.


APRENDER COM A HISTÓRIA

Regimes totalitários sempre existiram e continuarão a existir. Um dos ditadores mais famosos da história foi Mao Tse Tung, o primeiro Presidente da República Popular da China. Na sua campanha – Great Leap Forward, levada a cabo pelo partido comunista chinês entre 1958 e 1962, Mao aplicou uma série de medidas políticas e económicas com o objetivo impulsionar a economia.

Uma dessas medidas consistia em aumentar a produção de cereais. Entretanto, ao perceber que os pássaros eram responsáveis pelo desaparecimento de muitas das sementes plantadas, Mao não teve meias medidas – decidiu exterminar toda a população de pardais.

Para levar a cabo a sua ideia “mirabolante”, Mao ordenou a milhares de chineses que fossem para as ruas e telhados, hastear mastros com panos brancos e fazer barulho com panelas, impedindo que os pássaros pudessem poisar, obrigando-os a cair mortos de cansaço. A sua ideia teve sucesso garantido – morreram cerca de dois biliões de pássaros. O que Mao não previu foi o resultado da sua ação. Ao exterminar estes pássaros, a população de insetos e vermes explodiu, provocando um desastre ecológico, levando a que mais de 40 milhões de chineses morressem à fome, obrigando o governo chinês a importar pássaros à União Soviética para voltar a conseguir equilibrar o ecossistema.

Outra das suas estratégias teve como objetivo a produção massiva de aço de forma potenciar a indústria. Porém, ao verificar que as fábricas não estavam a dar resposta à sua demanda, Mao voltou a mobilizar o povo, obrigando-o a entregar todo o aço que tinham em sua posse para que pudesse ser fundido e assim conseguir atingir o seu objetivo. Uma vez mais o resultado foi catastrófico – o aço produzido foi de tão má qualidade que teve de ser todo deitado fora.

Meio século depois parecemos estar assistir a um filme idêntico, com governos obcecados em aplicar políticas “cegas”, sem capacidade intelectual de preverem os danos colaterais das suas ações, revelando de forma completamente ignorante nada terem aprendido com a história.


VIAGEM SEM RUMO

Hoje é o último dia de campanha eleitoral e o povo português prepara-se para eleger o seu novo Presidente da República – e diga-se, a escolha não está fácil! Não para quem vai ganhar, já todos sabemos que o Marcelo vai ser reeleito, mas sim para que irá ocupar o restante “poleiro”.

Infelizmente, independentemente de quem ganhe estas eleições, uma coisa ficou clara aos olhos dos portugueses – a fraca capacidade intelectual dos nossos políticos em todos os quadrantes ideológicos. Dos debates que tive oportunidade de assistir, pouco ou nada se falou de Portugal ou do seu futuro, apenas “intriguices” de vão-de-escada. Não ouvi falar da pandemia nem de políticas para a combater – não era isso que todos gostaríamos de ouvir, neste momento, de um candidato à Presidência da República?

Pelo contrário, não ouvimos falar de nada, pois falar de nada parece que é a única coisa que a maioria destes políticos sabe fazer e bem!!! Nem o facto de alguns terem estado em Bruxelas a conviver com a nata política da Europa os ajudou. Pelos vistos, a única coisa que aprenderam foi a vestirem-se melhor e a falarem com mais acutilância, quanto ao resto, enfim…apenas chegou para borratar lábios com um qualquer batom vermelho.

Infelizmente este fenómeno tende a piorar com o tempo. A falta de competência intelectual dos nossos políticos é gritante, agora ainda mais visível face à sua incapacidade de gerir situações que requerem competências sem “filtros” e decisões atempadas, fruto de uma máquina partidária que nunca se preocupou com qualificação dos seus pares. Como costuma referir um amigo meu – na política só é preciso ter QI (Quem Indica).

E assim vai o nosso país, com um sistema político desgastado e uma classe política agarrada ao poder há demasiado tempo, legitimada por um povo brando, obediente e desinteressado, pouco se importando se o barco vira para a esquerda ou direita, pois sabem que quer de um lado, quer do outro, a resposta aos seus problemas será sempre a mesma.

Por fim, e para ajudar à “festa”, lá vamos nós para mais um confinamento, imposto sem qualquer fundamentação científica, com regras que vão sendo aplicadas ao som dos gritos do povo enquanto o barco se prepara para zarpar em mais uma viagem sem rumo.


(DES)GOVERNO

Costumo comparar o governo de um país a uma família pois em ambas estruturas existe quem governa e quem é governado. No caso da família, o pai e a mãe têm o dever e a preocupação em promover o futuro dos seus filhos através da educação e dos valores que lhes vão transmitindo ao longo da vida como a justiça, a honra, a honestidade, entre outros. No caso dos governos, os dirigentes têm a responsabilidade de garantir o bem-estar dos cidadãos através das suas políticas em áreas como a educação, cultura, justiça, saúde, etc.

Ora, se tivéssemos que descrever uma família à imagem do nosso governo, teríamos a imagem de uma família disfuncional, mal governada, com os pais a viverem de subsídios e a gastarem todo o seu dinheiro sem se preocuparem com a educação, futuro e bem-estar dos seus filhos, revelando uma incapacidade e imaturidade “intelectual” inconcebível.

Entretanto, Portugal está prestes a receber uma elevada quantia de dinheiro da Europa, diga-se 13 mil milhões de euros a fundo perdido, contudo, em vez de aproveitarmos este apoio financeiro para aplicar em políticas estruturais como a reforma do nosso sistema judicial, ou na melhoria do nosso sistema de saúde e educação, iremos direcionar esse dinheiro para subsídios pontuais, efémeros, que um dia irão acabar, deixando tudo da mesma forma que estava antes – a realidade de um país à deriva, habituado a governar à vista!

Penso que a única solução passará pela intervenção “direta” daqueles que governam a Europa e que em breve tomarão o leme do nosso barco, tornando-se parte ativa do nosso sistema legislativo, executivo e judicial, acabando de vez com a nossa identidade, com as nossas tradições – o preço a pagar pelo nosso total (des)governo.


PALHAÇADA!!!

Uma vez mais este meu “desabafo” acaba no SARS-CoV-2 ou no novo coronavírus – sim, porque o antigo já passou à história e o novo é bem pior...ou pelo menos alguns querem parecer que assim seja...

Ao mesmo tempo, entre as lamúrias da desgraça, assistimos a discursos ideológicos agarrados à razão do povo, tentando justificar o injustificável – a realização de uma festa com dezenas de milhares de pessoas aprovada por uma Direção-Geral da Saúde completamente “manietada” por um governo ludibriador, tentando convencer-nos, de forma patética, que existe uma forma de juntar 16.000 indivíduos em 30 hectares durante três dias de forma segura, indo contra o bom senso do povo em detrimento de interesses políticos - Como é possível??? Não tenho nada contra o partido comunista, mas, neste momento, colocar interesses monetários à frente da saúde não me parece de todo aceitável.

Este filme tem um enredo simples, só não vê quem não quer ver. Por um lado, temos um primeiro ministro cujo silêncio é pago com a promessa da aprovação de um orçamento de estado à esquerda. Por outro, um presidente que, de selfie em selfie, vai tentando fugir à razão por entre os “pingos da chuva” na esperança de uma reeleição à esquerda e à direita, pois o centro há muito que deixou de existir, evitando ao mesmo tempo o ressoar de bombos como a “novela” de Tancos ou o exílio do rei emérito Juan Carlos – quanto à última vamos ver até quando...

Por fim, e como se não bastasse, assistimos a mais um folhetim propagandista do governo com o anúncio da tão esperada aplicação Stayway Covid, fruto de longas e refletidas reuniões entre as mais altas patentes do governo e da Comissão Nacional de Proteção de Dados, aproveitando o paradigma tecnológico para ganhar mais uns votos, garantindo algo que ninguém consegue garantir - a proteção de dados, esquecendo-se ao mesmo tempo daqueles que dela mais precisam e que não têm nem os meios nem o conhecimento para a utilizar – os idosos – palhaçada!!!


OS NOVOS HIPER INCLUÍDOS

Em 2004 Castells definia o termo info-exclusão como a incapacidade dos indivíduos em acederem à tecnologia. Para o autor este fenómeno poderia vir a ser responsável pela criação de um «quarto mundo», um mundo formado por aqueles que têm possibilidades de viajar e adquirir conhecimentos e por aqueles que não o podem fazer, aumentando assim as desigualdades entre os que têm e os que não têm acesso à informação.

Entretanto, com o avanço tecnológico da última década, a realidade de Castells já não se pode resumir ao não acesso à tecnologia. Basta olhar para os populares que se aglomeram nos centros comerciais às portas das grandes operadoras de telecomunicações na esperança de verem o seu “pesadelo” resolvido em troca de mais um ano de fidelização.

Famílias completamente alheias às estratégias e planos maquiavélicos de uma superestrutura cujo principal objetivo continua a ser o de extorquir ao máximo o último tostão de um proletariat imerso numa amálgama de entretenimento anárquico e brejeiro, cada vez mais alienado do mundo que o rodeia, impotente para alterar a sua situação de carência social.

Depois, como do nada, surge um vídeo de violência policial ou de maus tratos a animais e lá sai o povo à rua para protestar, pilhar ou derrubar estátuas – gritos de desespero de uma “vida sem sal” imortalizados em smart mobs como se de um último suspiro se tratasse.

Gritos de revolta de quem já pouco espera de uma sociedade que nada mais tem para lhes dar a não ser pistachio para conversas de café – uma sociedade privada de sonhos e projetos de vida, desvairada pela inovação tecnológica tentando desmerecer a visão de um futuro inóspito e miserável – um «quarto mundo» formado por não pela incapacidade de acesso à tecnologia, mas antes no seu oposto – os novos hiper incluídos.


MUNDO ÀS AVESSAS

Há um ditado do povo que diz «não há nada que o tempo não cure», pois bem, desde março que este ditado me assola a alma!!! – Para já o tempo parece não ter curado nada, antes pelo contrário, só tem piorado...

Perante todas as minhas incertezas questiono-me uma vez mais sobre a real gravidade desta situação em que todos nos encontramos – novamente, muitas perguntas para uma razia de respostas...

Os discursos contraditórios das altas figuras responsáveis pela saúde pública em Portugal deixam-me sem paciência... ontem as máscaras não eram eficientes, mas hoje já são! Areia para os olhinhos do povo! – Em pleno estado de emergência o governo teima em manter as comemorações do 25 abril e do 1.º maio...não sei se por complexos de inferioridade ou se por insanidade mental, mas lá tivemos que “engolir mais um sapo”.

Entretanto no meio de tanto “pisca, pisca” ligamos a televisão e assistimos aos discursos de Trump e Bolsonaro a ignorarem as advertências da OMS e a assumirem “sem complexos” uma postura contraditória ao resto do mundo, tentando não parar a economia com a justificação de que se não morrerem da doença, irão certamente morrer da cura. Na Europa, a Suécia, um país considerado exemplar no que diz respeito a políticas sociais, assume uma postura idêntica com a justificação de que é melhor keep walking do que chacinar todo um sistema económico e social.

O que continuo sem perceber é por que razão um vírus com uma taxa de mortalidade a rondar os 3%, cerca de 0,003% da população mundial, consegue dizimar toda uma economia mundial? Como podemos continuar a justificar estas políticas de confinamento despótico sabendo que a taxa de mortalidade incide principalmente nos idosos sendo que nas crianças, jovens e adultos é relativamente baixa ou quase inexistente? Porque é que as políticas de controlo sanitário não se aplicaram de forma estratégica aos mais velhos e àqueles com quadros clínicos mais débeis, evitando este shutdown global que ficará para sempre na história como um exemplo daquilo que não se deve fazer?

Digam-me senhores Comissários, Deputados, Presidentes, Chefes de Estado e “coisas assim” – vai ser o povo a pagar uma vez mais pela incompetência das vossas políticas? Vamos ter que voltar a encher os bolsos daqueles que enriquecem à custa dos juros da dívida pública dos países mais pobres? O que é que andamos todos a fazer neste mundo às avessas?...


HABITUA-TE!

Nos finais do século XVIII, Jeremy Bentham idealizava um sistema de vigilância a que chamou – Panopticon, uma forma de controlo prisional assente numa estrutura circular, similar à do Coliseum de Roma, onde no centro se encontrava uma torre circular com vidros a toda a volta e um guarda que vigiava todos os reclusos sem que estes pudessem ter a noção de estarem a ser vigiados, não permitindo ao mesmo tempo a comunicação entre eles. Embora fosse fisicamente impossível um único guarda observar todas as celas ao mesmo tempo, os prisioneiros nunca sabiam de facto se estariam a ser observados condicionando assim o seu comportamento.

Face ao fenómeno pandémico que hoje todos vivenciamos, esta Panopticon tende a ser subliminarmente substituída por infinitos algoritmos e desmesuráveis sistemas de vigilância permitindo aos Estados-nação, para já apenas os totalitários, a legitimação das suas ações de vigilância através de um processo coercivo de controlo e invasão da privacidade, apoiado pela promessa de uma maior segurança e bem-estar social.

O monopólio da violência que Max Weber atribuiu aos Estados-nação do século XIX é hoje substituído pelo monopólio da vigilância, obrigando os cidadãos a agir de acordo com as políticas definidas pelo poder político através da manipulação da informação como forma de condicionamento social.

Enquanto no passado o ideal social assentava no equilíbrio entre segurança e liberdade quanto mais liberdade, menos segurança e vice-versa, num futuro próximo esse ideal social irá recair sobre o equilíbrio entre privacidade e controlo, mas com uma pequena diferença - desta vez o controlo será exercido independentemente dos nossos esforços para preservar a nossa privacidade.

As políticas de vigilância e controlo têm agora a oportunidade de saltar as fronteiras dos países totalitários e começarem a implantar-se nas mais variadas sociedades democráticas do Ocidente, exercendo políticas de controlo e punição cada vez mais implacáveis, aproximando-nos cada vez mais das visões futuristas de George Orwell ou Aldous Huxley. Parafraseando Scott McNealy, co-fundador da Sun Microsystems – Já não tens qualquer privacidade – habitua-te! ...


PEDRO E O LOBO

Em janeiro, confidenciava em família – vamos deixar de falar do coronavírus, o mais tardar, em finais de fevereiro – estava completamente enganado. Hoje tenho mais dúvidas que respostas. O impacto que este fenómeno está a ter nas nossas vidas torna-o efetivamente preocupante. Não me estou a referir apenas à propagação do vírus, mas aos efeitos colaterais como o desfalecimento gradual dos setores económicos que, num curto prazo, irão ter um enorme impacto nas nossas vidas futuras.

Os media, e sobretudo os agentes políticos, estão a revelar que não sabem lidar com esta situação – estamos perante uma nova forma de coerção social – o medo, ao mesmo tempo que assistimos incrédulos, impávidos e serenos ao descalabro social, económico e político mundial.

Mas sendo a informação uma das armas para combater o medo porque é que ela continua praticamente inexistente? Porque é que em vez de ouvirmos falar do número de infetados e mortes não ouvimos a opinião de especialistas, das mais diversas áreas, ajudando a esclarecer as dúvidas que pairam nas nossas cabeças?

A resposta a estas questões deve-se sobretudo a duas razões. A primeira, deve-se ao facto de os meios de comunicação terem deixado de exercer há muito tempo a sua principal função – informar, contribuindo para um clima de dúvida e desconfiança, apregoando vezes sem conta a vinda de um lobo que agora, sem ninguém estar à espera, chegou e ninguém sabe como controlar. A segunda razão deve-se à ideologia da nossa contemporaneidade, uma ideologia caracterizada pela descrença no discurso público e na disfuncionalidade das instituições. Uma ideologia que não aceita a ordem prevalecente, questionando-a e adaptando-a aos gostos pessoais de cada um, assente numa consciência individual e egoísta.

Espero que quando tudo isto passar não surjam estudos a defender que este alarme social podia ter sido evitado e, tal como em 2009 na pandemia do vírus H1N1, não apareça outro Wolfand Wodarg[1] a afirmar que a pandemia do coronavírus não tenha passado de um alarmismo exacerbado, alimentado pela desinformação e pela incapacidade dos governos em gerir toda esta situação.

Talvez seja este o preço que devemos pagar por vivermos numa sociedade consumista, mercantilista, egoísta e incompetente, onde a tecnologia e o conhecimento técnico são mais valorizados que a sensatez e a reflexão filosófica de outros tempos...

[1] Presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa em 2009.


ESTÓRIAS SEM FIM

O panorama mediático em que hoje nos encontramos deve-se sobretudo às notícias que abrem os telejornais e que enchem as primeiras páginas dos jornais, praticando um jornalismo de matilha criando aquilo a que Ramonet chamou de «espetáculo do acontecimento», um pântano patético onde todos parecemos estar-nos a afundar (1).
Senão vejamos, a senhora Isabel dos Santos é agora acusada por um consórcio “independente” de jornalistas, pago sabe-se lá por quem, de desviar elevadas quantias de capital de Angola para proveito próprio. Mas o que é que se passa? Todos nós sabemos que isto acontece em Angola há mais de quarenta anos – o desfalque selvagem de um país extraordinariamente rico em recursos naturais, gerido por um regime político corrupto que só pensa em si e não no seu povo – para quê tanto frenesim à volta da senhora?
Depois temos o caso Rui Pinto, um suposto pirata informático que é detido e acusado de extorsão e acesso ilegal a informação privada e confidencial (...) coitado, ele só queria ajudar e ganhar algum dinheirito se possível…tem de ser libertado diz o povo! Mas como é que alguém que não age de acordo com a lei pode fugir da justiça por entre os pingos da chuva? É óbvio que tem de ser julgado e caso se verifiquem as acusações deve ser condenado!
Para animar ainda mais a festa temos o caso do assalto ao paiol de Tancos, onde as evidências parecem apontar para comportamentos eticamente incorretos por parte de altas figuras do Estado em assuntos de extrema delicadeza como é o caso do armamento militar. Contudo, tendo em conta os protagonistas da novela, não creio que esta investigação traga mais novidades do que aquelas que nos trouxe até agora – enquanto os altos cargos do poder judicial continuarem a ser nomeados e escolhidos pelo governo, o sistema judicial português nunca será isento.
Por fim temos o caso do coronavírus, lenha seca para esta fogueira mediática! No dia 3 de fevereiro uma jornalista da TVI relatava o seguinte: «18 portugueses aterraram às 23:53 na base aérea de Figo Maduro e seguiram de imediato para o hospital Pulido Valente para isolamento profilático, voluntário, para tranquilizar as famílias e o país». Um claro discurso de medo e tragédia com apenas um objetivo: alarmar audiências.
Estes são alguns exemplos de como os media tendem a transformar o simples em algo mais complexo, convidando-nos a sentar à volta de uma fogueira não para a “ouvir coisas de sonho e de verdade”, mas estórias sem fim que nos impedem de pensar.

(1) Ramonet, I. (1999). A Tirania da Comunicação. Porto: Campo das Letras.


Novo Proletariado

Nestes últimos anos o mundo evoluiu de forma inigualável e vertiginosa. Entramos numa era onde tudo é feito com base na interconexão e partilha. Habituamo-nos a viver num planeta sem fronteiras, sem tabus, onde tudo é passível de ser questionado e transformado de acordo com os nossos ideais e valores – um mundo altamente tecnológico.

De todas as grandes transformações que a tecnologia nos tem brindado aquela que mais me tem inquietado é a queda da nossa multiplicidade em prol de uma singularidade solitária onde todos tendemos gradualmente a ser mais idênticos numa sociedade altamente individualizada e controlada.

Enquanto no passado, o ideal social dependia do equilíbrio entre liberdade e segurança - quanto mais liberdade menos segurança, hoje, no meio deste rebuliço tecnológico, o ideal social depende do equilíbrio entre privacidade e controlo – à medida que abdicamos da nossa privacidade vamos permitindo um maior controlo sobre as nossas vidas, sobre os nossos interesses – sobre os nossos sonhos!

Parecemos caminhar paulatinamente para um mundo homogéneo onde as diferenças passam a ser vistas como algo intolerável e as vozes divergentes tendem a ser asfixiadas por uma sociedade frenética sem tempo de reflexão.

Assusta-me esta ideia de um mundo alienado dos grandes problemas sociais, assente na exploração da privacidade, do nosso íntimo, dos nossos gostos, alimentando gratuitamente grandes indústrias tecnológicas como a Google, o Facebook ou a Apple.

Se para Marx o proletariado do século XIX era responsável pela produção da mais-valia e os capitalistas representavam a máquina que transformava essa mais-valia em capital excedente, hoje somos nós, os empregados, os desempregados, os pobres, os ricos, os migrantes, os aposentados, os estudantes – os responsáveis pela produção dessa mais valia através da partilha gratuita das nossas vidas em troca de um imediatismo narcisista alicerçado numa exposição global graciosa que subtilmente nos converteu no novo proletariado do século XXI.


The Christmas Tree

Acabamos de entrar no período mais bonito do ano – o Natal, uma festa celebrada um pouco por todo o mundo de forma singular. As decorações de Natal, o abrir dos presentes, os jantares em família, todos estes momentos fazem do Natal um momento único e especial que se vai perpetuando através dos signos que, ao longo das nossas vidas, vamos construindo no nosso imaginário coletivo.

De todos os signos que compõem este horizonte natalício, a árvore de Natal é, na minha opinião, o seu supremo representamen – não por ser o maior, mas por ser aquele que melhor personifica a essência do Natal, transportando-nos para um mundo mágico que nos faz sentir fraternos - mais humanos, fazendo-nos por vezes parar e pensar naqueles que, pelas mais variadas razões, não vão poder sentir o Natal com o mesmo calor e alegria que muitos de nós.

É a partir do momento em que “fazemos” a árvore de Natal que marcamos oficialmente a entrada do Natal nas nossas casas, permanecendo esplendorosa e iluminada, dia-após-dia, como se a lembrar-nos que ainda é Natal.

Os dias vão passando e logo chega a ceia de Natal, abrem-se os presentes, trincha-se o peru e o Natal, embora perca parte da sua magia, vai-se mantendo vivo através das cores e das luzes que vestem as nossas Christmas Trees.

Entretanto, alguns dias depois vem a passagem de ano, trincamos as passas, brindamos ao Ano Novo e entramos na fase mais melancólica – a altura de desmontar a árvore de Natal.

 O ato de “empacotar” a árvore de Natal simboliza oficialmente o fim do Natal e toda a magia que ele representa, fazendo-nos voltar para as nossas vidas, para o nosso mundo sem tempo. Sim, o Natal faz-nos parar no tempo e olhar para o “outro”, algo devíamos fazer mais vezes ao longo do ano – claro que nesse tempo não temos árvores de Natal, mas temos as memórias, os cheiros e os sons dos tempos passados que nos podem ajudar a sentir a sua magia.

Vamos, portanto, aproveitar este Natal esperando serenamente que quando este tempo mágico terminar possamos continuar a sentir algum do seu encanto dentro de nós - pelo menos durante mais algum tempo.

Um Santo e Feliz Natal para todos!


O desencantamento do Mundo
Paulo Falcão Alves

A forma como hoje o caos parece estar a sobrepor-se à ordem social deve-se sobretudo à cobertura mediática e à escassez de vozes capazes de combater uma realidade desgovernada em que parecemos estar a afundar-nos cada vez mais.

Nos últimos tempos temos assistido a manifestações violentas que em vez de defenderem posições e pontos de vista de forma democrática, partem para atos de violência gratuita, justificando esses mesmos atos com a desculpa de que estão a ser impedidos(as) de expressar o seu descontentamento — não nos deixam bloquear estradas e queimar pneus? Então partimos tudo!

Depois temos o caso da Greta Thunberg na Assembleia das Nações Unidas, desafiando, e chegando mesmo a intimidar os altos responsáveis pela paz e harmonia mundial como se tal comportamento fosse normal e compreensível — a culpa não é da menina, é de quem lá a colocou! Como se não bastasse, somos obrigados a ouvir estupefactos a uma completa indecência moral, propagada em certos programas televisivos, onde se defende que associar o azul a menino, e cor-de-rosa a menina, representa uma castração da construção da identidade de género das crianças — está tudo doido?

Por favor, não me venham dizer que a indumentária que o assessor, ou assessora, da deputada do Livre, Joacine Katar Moreira, escolheu se apresentar na Assembleia da República é normal — não, não é normal um homem vestir-se de saia!

É certo que uma visão populista, liberal e provocatória é muito mais in que uma visão ponderada e reflexiva — mas é disto que o povo gosta — de barulho!

Eu não sou contra manifestações ou alterações de estado do que quer que seja, antes pelo contrário. Eu não sou contra a irreverência juvenil — sou contra o protagonismo excessivo que lhe é dado. Eu não sou contra a expressão de opiniões — sou contra a forma como o pluralismo ideológico é explorado.


Os novos “loucos de Lisboa”
Paulo Falcão Alves

Para quem passa algum tempo em aeroportos, como é o meu caso, já deve ter reparado nestes novos “loucos de Lisboa” - indivíduos que vagueiam de um lado para o outro como doidos, completamente alienados da realidade que existe à sua volta, falando em voz alta como se o mundo só a eles pertencesse. Claro que me estou a referir à célebre canção do grupo de música portuguesa Ala dos Namorados e que no seu refrão canta algo como: “são os loucos de Lisboa, que nos fazem duvidar, a Terra gira ao contrário e os rios nascem no mar”.

E é isso mesmo que estes novos alucinados nos querem fazer acreditar – que é perfeitamente normal falar em voz alta, com alguém do outro lado da linha, incomodando e invadindo a privacidade de quem, por azar, partilha o mesmo espaço público. Por vezes vagueiam para longe, penso que por algum breve momento de lucidez, mas, logo no momento a seguir lá surgem eles a falar alto como dementes acabados de sair de um Júlio de Matos ou Magalhães Lemos - já não bastava aqueles que se põem a ver vídeos do YouTube ou a jogar Candy Crash no telemóvel com o som nas alturas?

Esta imagem é assustadora principalmente para o transeunte mais distraído ou para um qualquer sénior que tenha o azar de partilhar o seu espaço com estes indivíduos e que não se aperceba que têm uns headphones nos ouvidos e que estão a falar ao telemóvel – sim, estão a falar ao telemóvel sem mãos, UAU!

Francamente, e por muito que tente, não consigo descortinar um motivo para tal fenómeno. Poderia ser por terem as mãos ocupadas e daí não puderem segurar no telemóvel, mas não, as mãos geralmente estão nos bolsos - será que é para se fazerem notar? Também penso que não, pois na maioria, senão na sua totalidade, parecem personagens saídas de um qualquer filme do Quentin Tarantino – então qual será a razão? Será que pelo facto de terem uma tecnologia ainda pouco massificada os faz pensar que têm o direito de se auto exibirem através de um narcisismo parolo? - A discussão é a mesma de sempre – já nada é privado, tudo é publico e exposto sem qualquer pudor, mas, ao contrário do que alguns nos possam querer fazer pensar, estes novos “loucos de Lisboa” nunca nos irão fazer acreditar que os rios nascem no mar!