Movimento & Ilusão
Catarina Calvinho Gil
O suspiro do planeta
“Cada ser vivo que partilha o planeta connosco teve de se adaptar e evoluir ao longo de milhões de anos. Cada flor, cada insecto, cada animal é um milagre aguardando a sua descoberta, uma maravilha a ser respeitada e amada”, poetizava Frédéric Back sobre o seu filme de animação “Illusion” (1975).
Eis-nos num compasso de incerteza. Momento delicado. Se assemelha a água que em concha tentamos manter segura mas nos escapa pelos intervalos dos dedos, com o ritmo ansioso a que nos palpita o coração em desatino. E palpita. E palpita... E entre palpitações se ouve o cantarolar dos pássaros pela alvorada. Terá este inimigo silencioso varrido as ruas de presença humana e oferecido caminho de esperança a cada pequeno ser que de si não conhece sintomas?
Vejo uma águia cortar o céu. Permito-me escutar os venturosos murmúrios das árvores. Respiro golos de serenidade. Não se vivem tempos tranquilos, mas encontro paz nos pequenos grandes tesouros que desenham este planeta. Planeta por nós esfaqueado que nem suculenta melancia. “Agir já”, nos apelam belas imagens em movimento da produtora portuguesa Praça Filmes. Os suspiros do mundo natural se engrandecem em furacões enraivecidos, o seu pranto inflamado eleva o nível de mares acidificados. Imploramos clemência, ó inebriados de inocência, por um mundo livre de nossos engodos. Descansa agora de nós, meu pai, minha mãe, porque nos tempos que se avizinham viveremos cativos de caminhos por nós traçados.
Poderemos encontrar, enfim, a harmonia? Descubro possível resposta em “Tout rien” (1978) de Frédéric Back. Venho ainda a acreditar, neste jovem coração esperançoso, num mundo regado a melodias de ecossistemas em íntima compreensão. Como o homem que plantava árvores, de generosidade sem limites, na quietude do nada e sem ego pretensioso. Descrevia-o Jean Giono em seus escritos, esse homem que todas as mulheres e homens poderiam ser. Brindava-o com nova vida Frédéric Back, para que não esqueçamos o que ainda podemos ser. A animação tem destas coisas. Com seu ilustre toque de fantasia nos faz olhar a vida de outras formas. Back observava o mundo. Seu amor se expandia no gesto de lápis coloridos a dançar em milhentas folhas de acetato fosco. Sua mensagem é translúcida que nem calmo lago de água doce: estimemos o planeta em que caminhamos e os seres que a nosso lado caminham.
(2020-04-25)
* Imagem do filme “O Homem que Plantava Árvores” (1987) de Frédéric Back
Toca-te
Quão belo é o
corpo da mulher? E quão profunda é a
teia de estereótipos, preconceitos e
tabus a que este está sujeito?
Recordo-me do dia
em que vi o filme de animação “In our
skin” de Rosa Beiroa e como este
imediatamente me cativou. Observar a
naturalidade com que o corpo da mulher
era retratado despertou-me imensas
sensações. Despertou-me, em particular,
fascínio e conforto. Fascínio pelo fluir
poético da animação a revelar a cada
sarda e a cada dobra de pele uma nova
entrada para a beleza do corpo feminino.
Conforto por compreender como esta
celebração do corpo nu, do corpo no seu
estado mais natural, é um hino de
emancipação sobre o qual nenhuma de nós
deveria sentir-se intimidada social,
política ou culturalmente.
Há muito que o
corpo da mulher se tornou um objeto de
sexualização. A própria mulher acredita
estar destinada a esse terrível fado
fortalecido por uma sociedade patriarcal
que ora sexualiza o corpo, ora o afoga
numa sólida teia de pudor e preconceito.
Mas o corpo da mulher é belo e é, acima
de tudo, um corpo. Os seios não são
objetos sexuais, as nádegas não são
motivo de troça, a vulva não é uma
palavra a temer,... são a nossa pele.
Quantas de nós
foram ensinadas a respeitar o seu corpo
e a aceitá-lo como tão somente aquilo
que é? Não um objeto vulnerável à
intimidação social, à vergonha ou à
estigmatização. “In our skin” esboça o
corpo da mulher sem tabus, sem
preconceitos ridículos e navega pelas
suas deliciosas idiossincrasias. Rosa
Beiroa expõe a delicadeza do toque e a
frescura da pele nua num filme de
animação que se celebra a si mesmo
através de uma belíssima dança de
metamorfoses e jogos visuais, de linhas
que se tornam volumes, volumes que se
transformam em formas e formas que se
moldam em figuras. A realizadora cria
uma conexão, tantas vezes esquecida,
entre a mulher e o seu próprio corpo.
Uma conexão proporcionada pelo toque,
pela autodescoberta e pela aceitação.
Uma conexão capaz de despertar as mais
íntimas e agradáveis sensações.
Liberto de
quaisquer discursos patriarcais ou
olhares hostis, este é um filme
esplêndido para mulheres que desejem
ver-se sem insegurança e tocar-se sem
vergonha, mas também para homens que
desejem viajar pelas íntimas maravilhas
do corpo da mulher.
Por fim, a todas
as mulheres que estiverem a ler este
pequeno desabafo: toquem-se,
conheçam-se, respeitem-se e não permitam
que vozes impregnadas de preconceito vos
envergonhem por aquilo que são.
(2019-12-28)
* Imagem do filme “In our skin” (2017) de Rosa Beiroa. Fonte: http://inourskin.info/
“Água Mole”, um poema sobre a desertificação
Catarina Calvinho Gil
O cinema de animação estabeleceu, desde os seus primórdios, um compromisso com os espectadores: estimular a sua imaginação. Fugindo à representação óbvia do mundo e cortejando a fantasia, a animação evoluiu lado a lado com o cinema para gestos e olhares cada vez mais complexos e diversificados sobre a realidade.
Afirmava o cineasta português João Mário Grilo, durante uma aula de realização cinematográfica por si lecionada, que “o cinema é a construção de um olhar”. Um olhar atento sobre o mundo e sobre as pessoas. Um olhar multidimensional, construído pela relação entre autor, espectador, personagem e o próprio cinema. Um olhar honesto lançado ao primeiro toque do lápis no papel, da mão a envolver a plasticina, da agulha sobre o acetato, do dedo a empurrar o alfinete… Um olhar que desafia o espectador a mergulhar nas imagens e tomar consciência daquilo que simbolizam.
Nessa dimensão metafórica do cinema, a animação expande orgulhosamente as suas potencialidades de reflexão e interpretação ambiental, social, política e cultural, numa poética visual e sonora que tão graciosamente convida o espectador a refletir. Ora perante o mediatismo de determinado tópico, ora perante temáticas igualmente urgentes mas pobremente divulgadas, a animação é uma belíssima ferramenta para desconstrução e reconstrução de realidades a fim de as oferecer ao espectador através de renovadas perspetivas. “Água Mole” (2017) de Alexandra Ramires (Xá) e Laura Gonçalves é, no legado animado português, um bonito exemplo da capacidade da animação na documentação do real sem dele ficar refém.
O filme adapta para ficção, em jeito de documentário e com um toque experimental, um conjunto de viagens feitas pelas realizadoras ao interior de Portugal, os registos sonoros que captaram, as conversas que tiveram e o ponto que descobriram transversal às quatro aldeias por onde passaram: a desertificação demográfica. E com a desertificação, o esquecimento… O esquecimento ao qual a aldeia esboçada por Xá e Laura se recusa a submergir.
Numa era cujo progresso económico aparenta sobrepor-se a tudo o resto e nos vemos cercados por um frenético fluxo de informação, o esquecimento parece tornar-se uma consequência inevitável. “Água Mole” é a construção desse olhar do cinema que nos desafia a ver além de si e nos convida a não esquecer. Um olhar sobre o mundo e sobre as pessoas, de uma forma crua mas igualmente bela. Recheado de metáforas visuais que documentam uma realidade – atual – social e política do país, o filme constrói uma espécie de arquivo essencial à preservação da memória.
Ao retratar os últimos habitantes de uma aldeia à beira do esquecimento, envoltos em recordações e amor pelo lar que recusam a abandonar, o filme de Laura e Xá tatua no espectador a memória de um interior recheado de histórias para contar. A memória de um interior que flutua, impermeabilizado às noções de progresso de uma era digitalizada. A memória de um interior que flutua, com vozes ainda em coro para a celebrar. A memória de um interior que flutua, pois, neste belo e cru poema sobre a desertificação.
(2019-10-28)
*
Imagem do filme “Água Mole” (2017) de Alexandra Ramires (Xá) e Laura Gonçalves. Fonte: otrabalhodaxa.blogspot.com
As árvores gritam enquanto morrem
Catarina Calvinho Gil
Verdes
florestas profundas e vastos oceanos
azuis, os pulmões do mundo, os pulmões
do lar que tão belos e vastos
ecossistemas acolhe, estão a morrer. O
verde extingue-se a um ritmo alarmante,
o azul é contaminado sem piedade. O
planeta colapsa diante da nossa
ingenuidade, ignobilidade e ignorância.
Mas não o soubemos hoje, sabemo-lo há
décadas.
Há trinta e cinco
anos, em 1984, o realizador e animador
japonês Hayao Miyazaki estreava a
longa-metragem de animação “Kaze no Tani no
Nausicaä (“Nausicaä do Vale do Vento”)
baseada num mangá que publicara dois anos
antes. Um evento cataclísmico dizimara
grande parte dos ecossistemas do planeta
Terra. A população humana vivia dividida e
isolada em pequenos reinos, separada por uma
floresta nociva à sua vida, mas habitada por
belíssimos seres gigantescos.
Ao recordar o
acidente de Three Mile Island, ou o desastre
nuclear de Chernobyl, ou o episódio de
Fukushima, encontraremos “Nausicaä do Vale
do Vento” mais próxima da realidade ou da
fantasia? E nós, humanos, onde estamos?
Absortos pela ilusão ou cientes da
realidade? Ou, talvez, num frágil limbo que
ameaça quebrar-se a qualquer instante?
Há trinta e dois
anos, em 1987, o animador canadense Frédéric
Back apresentava a curta-metragem de animação
“L’homme qui plantait des arbres” (“O Homem
que Plantava Árvores”), baseado no conto
homónimo de Jean Giono. Back trabalhava a
poesia do movimento a fim de celebrar a
vida, a Natureza, e em si concretizar a
visão de um planeta em harmonia. A poética
dos seus traços a lápis e pastel realçavam a
beleza da vida no seu todo, da vida que se
interlaça e interliga entre si, semeando
questões sobre as nossas ações individuais e
coletivas e acendendo consciências sobre o
mundo que herdámos e aquele que pretendemos
deixar às novas gerações.
Há vinte e dois
anos, em 1997, Hayao Miyazaki completava um
olhar mais sombrio e político do mundo com
“Mononoke Hime” (“A Princesa Mononoke”). A
mensagem não poderia adquirir maior
relevância na circunstância de emergência
que hoje enfrentamos. Naquele que parece ser
um conflito de duas frontes: a do mundo
natural e a do animal humano, onde o último
prolifera como uma praga e a coexistência
entre ambos se torna insustentável. Neste
desenho assustadoramente fiel à realidade,
onde o animal humano corrompe, destrói e
assassina o meio na busca sôfrega por
recursos, estaremos aptos a compreender o
simbolismo das imagens que vemos e dos sons
que ouvimos? Neste desenho de um mundo onde
não existe um herói ou um vilão, mas um
equilíbrio complexo e delicado, saberemos
ler o cinema? Saberemos pensar a animação?
Há onze anos, em
2008, os estúdios da Pixar lançavam
“Wall-E”, um cenário pós-apocalíptico do
planeta Terra, coberto de lixo, inóspito, e
da sociedade humana, alienada, a viver numa
nave espacial. Abrem-se portas de reflexão.
O modo como o cinema reinterpreta a
realidade entrelaçando-a à fantasia, é
mágico! Mas coloca-se inevitavelmente a
questão: iremos além dessas portas que
perante o nosso deslumbramento inicial se
abrem? Ou ficaremos simplesmente a assistir,
ora ingénuos de mais para crer sermos em
parte responsáveis pelas imagens que
observamos ou ingénuos de mais para crer
sermos capazes de fazer a diferença?
(2019-09-01)
*
Imagem do filme “A Princesa Mononoke” (1997) de Hayao Miyazaki
O encontro entre a animação... e a infância
Catarina Calvinho Gil
Que bela é a infância… tão confusa e tão ingénua. A imaginação, essa, voa livre e sem fronteiras, como um pássaro ao qual não é roubada a liberdade. A imaginação, essa, não conhece barreiras nem clausura, como às aves que perscrutam o céu, o mar e a terra.
Nos tempos de criança, os rabiscos na parede contam histórias e as figuras recortadas de revistas ou jornais falam entre si. Traços, formas e corpos preenchem folhas num dinamismo tal que parecem ganhar vida, esculturas erigidas por pequenas mãos curiosas emancipam-se ao ritmo da sua plasticidade, ao ritmo das pequenas mãos que as esculpem. Não acontecerá semelhante fenómeno às criações de um animador? A esses corpos plásticos, dinâmicos, animados, que prosperam numa dimensão tão inocente e deslumbrada quanto a da imaginação de uma criança?
Frequentemente se reage ao cinema de animação com um encolher de ombros, na crença estigmatizada de que este se dirige exclusivamente ao público infantil. As raízes são profundas, a companhia de Walt Disney poderia falar-nos sobre isso, mas com carinho arriscaremos desconstruir este preconceito semeado no início da década de 1920
Existe, sim, algo de infantil na animação. Digamos, algo de ingénuo, inocente, próprio de uma criança. Assim como o mundo real é o palco para a imaginação prosperar, a animação é o lugar onde esta se pode materializar. Um lugar onde figuras recortadas com ternura ganham vida, onde esculturas erigidas com minúcia se transformam, mesclam e descobrem, onde belos desenhos escapam ao domínio do seu suporte e voam, livres. A animação é um palco para a realidade se redescobrir e contemplar de novas e refrescantes perspetivas. A animação convida-nos a revisitar os tempos de infância, a reexperimentar imaginar sem preconceitos e, talvez por esse motivo, se dirija mais aos que já esqueceram como é ser-se criança, como é imaginar. Imaginar que um pedaço de plasticina tem sentimentos ou que os brinquedos têm uma vida secreta. Imaginar desenhos feitos numa parede a fugirem pela janela ou um recorte de papel a falar. Imaginar, simplesmente, questionando o que se receia questionar, transformando o que se acredita não poder ser transformado
Mas nem sempre a infância é bela. E porque falar de animação, cinema, arte, é também falar do mundo, importará recordar os atuais momentos de crise, tempos de urgência onde proliferam impressionantes atentados contra a humanidade. Julgam-se os justos, perseguem-se os fracos. Separam-se famílias, aprisionam-se crianças, violam-se direitos que jamais deveriam ser violados. E lá do topo vemo-los sorrir, absortos pelo poder, tão perdidos e confusos, sem qualquer memória do que é ser-se humano, do que é ser-se criança…
*
Imagem de “Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias” (2019) de Regina Pessoa, quando as duas personagens se preparam para desenhar numa parede. Fonte: http://icateca.ica-ip.pt/filme/TIO+TOMAS+E+A+CONTABILIDADE+DOS+DIAS/2234
O diálogo entre a animação... e o real
Catarina Calvinho Gil
Os olhos rejubilam
diante das imagens que, em constante
desatino com as leis do mundo físico,
criam novos mundos, novas realidades e
novas perceções da própria realidade.
Quando criança, seja perante um génio
capaz de se metamorfosear em diferentes
corpos, formas e objetos, seja ao
observar um gato fundir-se com a sua
amada lua, estes mundos são de uma
imensa frescura. O imaginário infantil
funde-se com o imaginário do filme e
proporciona-se uma explosão de sonhos e
fantasias.
Hoje, à ingenuidade
da pequenez, que embora não prevaleça
ainda perdura, junta-se uma consciência
diferente do mundo, uma consciência mais
crítica da realidade e daquilo que nos
rodeia. Compreendemos, enfim, que nesse
génio da lâmpada ou nesse gato que
procura unir-se com a lua se perpetua
algo mais profundo que o puro êxtase da
fantasia. Encontramos gestos de
consciência crítica, individual e
coletiva, que perscrutam o mundo e o
modo como nele se ramifica a vida em
sociedade.
Poderíamos afirmar,
não obstante, que os significados que
encontramos nos filmes provêm mais da
nossa própria perceção do mundo e das
preocupações que a nós nos ocupam a
mente do que da intencionalidade do
autor. Poderíamos debater como o génio
de “Aladdin” (1992), produzido pelos
estúdios Walt Disney, incorpora uma
narrativa que celebra a cultura
ocidental em contraste com o retrato
estereotipado que desenha do Médio
Oriente. Poderíamos relacionar esta
personagem mágica à responsabilidade que
advém de um grande poder, às
particularidades de uma vida sem
liberdade, à insatisfação do animal
humano,... Poderíamos ainda debater como
o gato em “Estória do Gato e da Lua”
(1995) de Pedro Serrazina discursa sobre
recordações passadas numa dança de
silhuetas que se metamorfoseiam e
misturam entre si, a partir de um olhar
presente delineado pelos contornos das
formas. Poderíamos encontrar pontos de
contacto com os sinuosos caminhos da
construção do “eu”, a perseguição de
sonhos distantes, experiências amorosas
falhadas,... Uma das
particularidades da arte é,
efetivamente, estar aberta à
interpretação. Aquilo que despoleta no
outro é por vezes mais interessante do
que aquilo que o autor quer transmitir,
ou aliás, comunicar. Mas
independentemente de uma qualquer
intencionalidade, seria demasiado fácil,
leviano até, admitir que não existe no
cinema uma relação direta com o mundo.
Existe. E se isto é verdade para o
cinema de imagem real, para a animação
parece-nos sê-lo ainda mais evidente.
Embora o advento do
digital tenha vindo dissolver as
fronteiras entre o cinema de imagem real
e o cinema de animação, a animação
continua a caracterizar-se pela sua
rebeldia face às restrições colocadas
pela realidade física. No seio de tal
especificidade, a animação faz de si
emergir um diálogo com a realidade ao
desconstruí-la, reorganizá-la, torná-la
noutra coisa através da plasticidade do
corpo animado. O génio da lâmpada não é
somente um génio, mas o espelho de um
contexto social, político, cultural e
histórico específico; o gato de Pedro
Serrazina não é somente um gato, mas a
representação do intricado caminho que é
a vida. É justamente por atuar a um
nível metafísico, oferecendo ferramentas
capazes de reorganizar o mundo e
desconstruir as nossas percepções do que
é real, que o cinema de animação
proporciona as condições favoráveis para
que uma comunicação crítica e um
inflamar de consciências se proporcione.
Os olhos continuam
a rejubilar-se diante desses corpos
animados em constante desatino com as
leis do mundo físico, mas compreendendo
agora como, à sua semelhança, nos
moldamos a contextos culturais,
históricos, sociais e políticos
específicos e constantemente nos
transformamos, nos adaptamos. Tal como o
génio que anseia por uma vida em
liberdade e tal como o gato que procura
obsessivamente o sedutor brilho da lua,
a animação traz-nos um dinâmico e
cativante retrato da vida, pois é, tal
como ela, movimento, um fluxo em
constante transformação. A animação
traz-nos, assim, uma visão alternativa
da realidade, abrindo portas ao fascínio
e ao entretenimento, mas também à
reflexão e à consciência crítica do
mundo.
(2019-06-03)
*
“Imagem retirada de “Estória do Gato e da Lua” (1995) de Pedro Serrazina. Fonte: https://vimeo.com/147128857