A razão por meio da ciência
Fabiano Agrela Rodrigues
Estudo com ratinhos comprova que sentimento de solidão está ligado à hormona amilina
- Partilhar 15/02/2022
Os resultados do estudo determinam que a
amilina é o protagonista no cérebro,
necessário para detectar e buscar contactos
sociais.
Buscando entender a base
neural da solidão, que já era percebida
antes do confinamento durante a pandemia de
Covid-19 por causa da cultura tecnológica e
das redes sociais, uma pesquisa liderada por
Kansai Fukumitsu da RIKEN Center for Brain
Science (CBS) no Japão, encontrou um
indicador molecular e regulador do
isolamento social em ratinhos de laboratório
fêmeas.
Tendo em vista que a solidão
é um problema que precisa de atenção, é
necessário entender melhor o estudo e de que
forma ele poderia interferir nos humanos,
após encontrarmos similaridades na memória
primitiva, burla de código genético e
processo evolutivo. Está determinado em
nosso código genético a necessidade de
interação e quando burlamos esta
determinação, sofremos consequências que
podem elevar a ansiedade e trazer danos para
a saúde mental.
O novo estudo relata
que o comportamento de busca de contato
social em ratinhos de laboratório é
impulsionado pelo peptídeo amilina, um
hormônio amiloidogênico sintetizado e
co-secretado com insulina pelas células β
pancreáticas, na área pré-óptica medial
(MPOA) do prosencéfalo, e que estar sozinho
diminui a quantidade de amilina nessa região
do cérebro.
A sinalização do
receptor de amilina-calcitonina (Calcr) na
área pré-óptica medial (MPOA) medeia
contactos sociais afiliativos entre ratinhos
de laboratório fêmeas adultas. Após o
isolamento, a primeira reação foi a busca
pelos contactos, depois comportamentos
depressivos, ansiedade, em paralelo a perda
da expressão do mRNA da amilina no MPOA.
Isso quer dizer que a socialização física
ativa os neurônios que expressam amilina e
Calcr e leva a uma recuperação da expressão
do mRNA da amilina.
Cientistas desde
Darwin já vinculavam essa afiliação social
como evolutivo do cuidado parental. Os
resultados do estudo determinam que a
amilina é o protagonista no cérebro
necessário para detectar e buscar contatos
sociais.
Os pesquisadores
descobriram que seis dias de isolamento
levaram ao desaparecimento quase completo da
amilina, que voltou ao normal duas semanas
depois que os ratinhos de laboratório se
reuniram com seus companheiros de gaiola.
Isso leva-nos a pensar sobre como o
confinamento, assim como a falta de
interação, pode prejudicar a homeostase e a
outros problemas que afetam a saúde mental.
- n.33 • fevereiro 2022