
A razão por meio da ciência
Fabiano Agrela Rodrigues
O sequestro da amígdala:
Como se pode formatar uma sociedade inconsciente
- Partilhar 08/04/2022
A terminologia "sequestro da amígdala"
pretende identificar que temos uma estrutura
antiga no nosso cérebro, a amígdala, sendo
que esta é projetada para responder
rapidamente a uma ameaça.
Mesmo que o
objetivo primário seja proteger-nos do
perigo e das ameaças, ela pode intrometer-se
nas nossas ações no mundo moderno, onde as
ameaças geralmente são mais subtis por
natureza.
Quando vê, ouve, toca ou
saboreia algo, essa informação sensorial vai
primeiramente para o tálamo, que atua como
estação de retransmissão do cérebro.
Seguidamente, este retransmite essa
informação para o neocórtex (o “cérebro
pensante”). Já no neocórtex as informações
são enviadas para a amígdala (o “cérebro
emocional”) que produz a resposta emocional
que considera apropriada.
Contudo,
quando enfrentámos uma situação que é
interpretada como uma ameaça, o tálamo envia
informações sensoriais tanto para a amígdala
quanto para o neocórtex. Se a amígdala
sentir o perigo, esta toma uma decisão muito
rapidamente, em frações de segundo, para
iniciar a resposta de luta ou fuga antes que
o neocórtex tenha tempo de anulá-la.
Esta catadupa de eventos acaba por
desencadear a libertação de hormónios
relacionados com o stress, incluindo os
hormónios epinefrina (também conhecido como
adrenalina) e cortisol.
Esses
hormónios dispõem o corpo para reagir ou
fugir, aumentando a frequência cardíaca,
elevando a pressão arterial e ampliando os
níveis de energia, entre outras coisas.
Embora muitas das ameaças que
enfrentamos hoje sejam simbólicas,
evolutivamente, os nossos cérebros
progrediram para lidar com ameaças físicas
que colocavam em causa a nossa sobrevivência
que impunham uma resposta rápida. Como
resultado, o nosso corpo ainda responde com
mudanças biológicas que nos preparam para
lutar ou fugir, mesmo que não haja uma
ameaça física real que tenhamos de
enfrentar.
- n.35 • abril 2022