Paulo Falcão Alves

Vaguear na Maionese

Paulo Falcão Alves

CISNE NEGRO

Estou a ler um livro de um autor libanês residente nos Estados Unidos, Nicholas Taleb, que nos fala sobre a forma como lidamos com acontecimentos improváveis - os Cisnes Negros.
Para este autor, um Cisne Negro tem três caraterísticas principais. Em primeiro lugar é altamente improvável, criando uma enorme perplexidade devido à sua inesperada ocorrência. Em segundo lugar, causa um enorme impacto face à sua imprevisibilidade e aos seus efeitos devastadores. Por fim, a terceira e não menos importante caraterística, é que após o seu impacto, procuramos encontrar explicações, muitas das vezes assentes em discursos perpetuados em teorias esdrúxulas, com o objetivo de os tornar menos aleatórios e previsíveis do que de facto são na realidade.
Podemos enumerar a ocorrência de alguns Cisnes Negros como o ataque terrorista do 11 de setembro, a tomada do Afeganistão pelos talibãs e respetiva retirada das tropas americanas, a pandemia causada pelo vírus do SARS-CoV-2 ou ainda a mais recente maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições legislativas.
Esta lógica faz com que muitos destes fenómenos sejam encarados com uma certa perplexidade, fruto de uma sociedade positivista que parece distanciar-se paulatinamente do pensamento reflexivo, filosófico, abafada sob os estrondosos aplausos de um coliseum atulhado de almas presas à pressa do agora. Talvez esta visão de uma realidade diminuída, motivada pelo nosso distanciamento do real, resultante de uma sociedade de consumo cada vez mais frenética e consumista, nos deva levar a refletir sobre esta nossa incapacidade de prever o óbvio, onde o indubitável, como uma crise energética mundial causada por uma guerra cibernética, não se venha a tornar em mais um Cisne Negro.