Vaguear na Maionese
Paulo Falcão Alves
CISNE NEGRO
- Partilhar 03/02/2022
Estou a ler um livro de um autor libanês
residente nos Estados Unidos, Nicholas Taleb, que nos fala sobre a
forma como lidamos com acontecimentos improváveis - os Cisnes Negros.
Para este autor, um Cisne Negro tem três caraterísticas principais. Em
primeiro lugar é altamente improvável, criando uma enorme perplexidade
devido à sua inesperada ocorrência. Em segundo lugar, causa um enorme
impacto face à sua imprevisibilidade e aos seus efeitos devastadores.
Por fim, a terceira e não menos importante caraterística, é que após o
seu impacto, procuramos encontrar explicações, muitas das vezes
assentes em discursos perpetuados em teorias esdrúxulas, com o
objetivo de os tornar menos aleatórios e previsíveis do que de facto
são na realidade.
Podemos enumerar a ocorrência de alguns Cisnes
Negros como o ataque terrorista do 11 de setembro, a tomada do
Afeganistão pelos talibãs e respetiva retirada das tropas americanas,
a pandemia causada pelo vírus do SARS-CoV-2 ou ainda a mais recente
maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições legislativas.
Esta lógica faz com que muitos destes fenómenos sejam encarados com
uma certa perplexidade, fruto de uma sociedade positivista
que parece distanciar-se paulatinamente do pensamento reflexivo,
filosófico, abafada sob os estrondosos aplausos de um coliseum
atulhado de almas presas à pressa do agora. Talvez esta
visão de uma realidade diminuída, motivada pelo nosso
distanciamento do real, resultante de uma sociedade de consumo cada
vez mais frenética e consumista, nos deva levar a refletir sobre esta
nossa incapacidade de prever o óbvio, onde o indubitável, como uma
crise energética mundial causada por uma guerra cibernética, não se
venha a tornar em mais um Cisne Negro.
- n.33 • fevereiro 2022