Vultos da Cultura Portuguesa
Amália Rodrigues
- Partilhar 04/08/2023
Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu em Lisboa, de uma família originária da Beira Baixa. As enciclopédias registam a data de 23 de Julho de 1920, mas ela própria confessa não saber ao certo o dia em que nasceu. Por isso, escolheu 1 de Julho como data de aniversário. Mas não rejeitou o dia 23: "Resolvi guardar as duas datas, porque assim sempre podia fazer duas festas de anos". A sua estreia como fadista data de 1939, no "Retiro da Severa". Em 1940 aceitou um convite para cantar em Madrid e começou uma longa e bem sucedida carreira internacional, sendo ouvida e aplaudida por quase todo o mundo. Os seus primeiros discos, gravados no Brasil e só depois editados em Portugal, datam de 1945. Gravou, desde então, inúmeros títulos, com fados e canções, cuja lista completa se perdeu na memória dos tempos (Vítor Pavão dos Santos, no livro biográfico "Amália", editado em 1987 pela Contexto, publica a mais completa lista até agora conhecida das gravações da cantora). Comparada a Edith Piaf e Bessie Smith, pela voz de Amália passaram inúmeros poetas e letristas, de Luís de Camões a Alexandre O'Neill, passando por David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, Linhares Barbosa, Amadeu do Vale, Manuel Alegre, Pedro Homem de Melo e Vasco de Lima Couto, entre outros. Na música, teve ao seu lado os compositores Raúl Ferrão, Frederico de Freitas, Alain Oulman e Frederico Valério. Como cantora, mas também como actriz, Amália participou em mais de uma dezena de filmes. A partir de final dos anos 80, a carreira de Amália foi objecto de um levantamento quase exaustivo e, a par das inúmeras homenagens que lhe têm sido prestadas, a sua obra tem sido alvo de reedições, colectâneas e edições videográficas.
Fado português
Poema: José Régio
Música: Alain Oulman
O fado
nasceu num dia
Em que o vento mal
bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum
marinheiro
Que estando triste,
cantava.
[...]
( - Ai que
lindeza tamanha,
Meu chão, meu
monte, meu vale,
De folhas, flores,
frutos de ouro!
Vê se vês terras de
Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro...)
[...]
Na boca do marinheiro
Do frágil
barco veleiro,
Morrendo, a canção
magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que
beija o ar, e mais nada.
( -
Mãe, adeus! Adeus, Maria!
Guarda bem
no teu sentido
Que aqui te faço uma
jura
Que ou te levo à sacristia,
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me
no mar sepultura!)
[... ]
E
as mães de filhos ausentes
Acordam
batendo os dentes,
Torcendo as mãos,
e carpindo,
Sabendo todas que é a
morte
Que chega daquela sorte,
No
luar funéreo e lindo...
Ora eis
que embora, outro dia,
Quando o
vento nem bulia
E o céu o mar
prolongava,
À proa doutro veleiro,
Velava outro marinheiro
Que estava
triste e cantava.
Vultos da Cultura Portuguesa
Jaime Cortesão | José Régio | Amália Rodrigues | Teixeira de Pascoaes |
- Ano V• agosto 2023