Aníbal de Sousa

 

Aníbal de Sousa

Devaneio em dia de São Valentim

Prestemos atenção às coisas sérias!
dizia a minha tia…“Mas sem perder
jamais de vista
                 a poesia!
falava em tom de artista
O meu tio,
Enquanto tateava sob a cama
Procurando
O bacio.

Torradas com manteiga
e algum cio, é que é para mim
a pura poesia!


E, ripando de um lenço lavajado,
Solene, ela cuspia,
Enquanto o velho ria,
Sem, contudo, parar a vil micção.

Olha o que fazes, cão!

E, um pouco atrapalhado,
Então o velho via
Que mijara …o porão…

E assim se interrompia
O devaneio e a discussão…

E a poesia, enfim, se resumia
Àquela porcaria
Ali no chão!

*In É tempo de salvar o que nos resta, inéd.