
Por Ondas do Mar de Vigo
Myriam Jubilot de Carvalho
Votos para 2023
- Partilhar 02/01/2023

“Julga a pessoa pela
forma como reage ao fracasso, não ao
sucesso” – teria dito Martin Luther King (1)
Julgar o Outro pelo modo como reage ao
fracasso, e não ao sucesso?
Teria Luther
King falado exactamente assim?
Se vemos
que o fracasso abate, e aniquila, anula os
ânimos a tanta gente, deprime, e desanima –
não vemos que o sucesso arrasta tantas vezes
ao orgulho desmedido, à arrogância, à
tirania?
Eu continuo de olhos postos no
conceito de “justa medida” dos antigos
Gregos.
Ainda vejo o Professor Padre
Manuel Antunes a apresentar a Poesia de
Arquíloco de Páros, e o célebre poema sobre
a contenção, a auto-vigilância de todas as
horas, que marcou a minha vida:
Coração, meu coração,
que afligem penas sem remédio,
eia!
Afasta os inimigos, opondo-lhes um peito
adverso. Mantém-te firme ao pé das ciladas
dos contrários. Se venceres, não exultes
abertamente.
Vencido, não te deites em
casa a gemer.
Mas goza as alegrias,
dói-te com as desgraças,
sem exagero.
Aprende a conhecer o ritmo que governa os
homens.
O mesmo ideal encontrei depois, no Baghavad Ghita:
“Penetrado do espírito de yoga, ó príncipe, realiza os teus trabalhos e mantém-te em sereno equilíbrio, na certeza de que tanto o sucesso como o insucesso são bons. Essa serenidade interior é yoga.”
A serenidade com que
viveu a sua missão, sabendo a que fim ela o
conduziria, diz-me que Luther King viveu a
sua vida dentro desse sentimento-conceito de
serenidade do Baghavad Ghita.
Será que no
seu íntimo, Luther King sentia que tinha
fracassado?
A sua luta não era a luta de
uma só vida, mas a de muitas gerações. E,
como repetidamente vemos, tantos anos
passados, o seu sucesso está sempre a ser
posto em causa... A sua luta não tem fim,
pois inscreve-se na luta eterna entre o Bem
e o Mal.
O Bem e o Mal, este dilema – ou
dicotomia – que nenhuma religião explicou
até hoje. Não explicou, e muito menos, nunca
resolveu.
Como dizia Graham Green (2)
numa entrevista, “o mal reside no coração do
homem”... Por isso se diz que os anjos, no
mito do presépio, cantam “Paz na Terra às
gentes de boa-vontade”...
Oh, sim,
necessitamos de PAZ.
Não só a Paz a
nível internacional, mas também e acima de
tudo, Paz nos nossos corações para
encararmos com serenidade e lucidez os
momentos difíceis, a idade que avança...
Oh, sim, e Paz também nos momentos de
alegria e bem-estar para os podermos
usufruir em plenitude.
Paz, ainda, no
nosso contacto com a Natureza, imagem
visível e sensível não só da magia do Poder
Divino como reencontro connosco próprios,
como reconforto e inspiração.
Que venha
em Paz o novo ano de 2023.
Myriam Jubilot de
Carvalho
Noite de 31 de Dezembro de 2022
(1) Martin Luther King
– (1929-1968) – Gandhi (1869-1948), Jesus
Cristo, morreram do mesmo modo, morreram às
mãos dos seus inimigos, que não suportaram
as suas mensagens de Paz, ou seja, a
Dignidade na Igualdade fraterna de Direitos
e Deveres.
(2) Graham Green – (1904-1991)
– escritor e jornalista inglês, católico.
Foi várias vezes apontado como candidato ao
Prémio Nobel.
- n.44 • janeiro 2023