Myriam Jubilot de Carvalho

Por Ondas do Mar de Vigo

Myriam Jubilot de Carvalho

Votos para 2023

“Julga a pessoa pela forma como reage ao fracasso, não ao sucesso” – teria dito Martin Luther King (1)
Julgar o Outro pelo modo como reage ao fracasso, e não ao sucesso?
Teria Luther King falado exactamente assim?
Se vemos que o fracasso abate, e aniquila, anula os ânimos a tanta gente, deprime, e desanima – não vemos que o sucesso arrasta tantas vezes ao orgulho desmedido, à arrogância, à tirania?
Eu continuo de olhos postos no conceito de “justa medida” dos antigos Gregos.
Ainda vejo o Professor Padre Manuel Antunes a apresentar a Poesia de Arquíloco de Páros, e o célebre poema sobre a contenção, a auto-vigilância de todas as horas, que marcou a minha vida:

Coração, meu coração, que afligem penas sem remédio,
eia! Afasta os inimigos, opondo-lhes um peito
adverso. Mantém-te firme ao pé das ciladas
dos contrários. Se venceres, não exultes abertamente.
Vencido, não te deites em casa a gemer.
Mas goza as alegrias, dói-te com as desgraças,
sem exagero. Aprende a conhecer o ritmo que governa os homens.

O mesmo ideal encontrei depois, no Baghavad Ghita:

“Penetrado do espírito de yoga, ó príncipe, realiza os teus trabalhos e mantém-te em sereno equilíbrio, na certeza de que tanto o sucesso como o insucesso são bons. Essa serenidade interior é yoga.”

A serenidade com que viveu a sua missão, sabendo a que fim ela o conduziria, diz-me que Luther King viveu a sua vida dentro desse sentimento-conceito de serenidade do Baghavad Ghita.
Será que no seu íntimo, Luther King sentia que tinha fracassado?
A sua luta não era a luta de uma só vida, mas a de muitas gerações. E, como repetidamente vemos, tantos anos passados, o seu sucesso está sempre a ser posto em causa... A sua luta não tem fim, pois inscreve-se na luta eterna entre o Bem e o Mal.
O Bem e o Mal, este dilema – ou dicotomia – que nenhuma religião explicou até hoje. Não explicou, e muito menos, nunca resolveu.
Como dizia Graham Green (2) numa entrevista, “o mal reside no coração do homem”... Por isso se diz que os anjos, no mito do presépio, cantam “Paz na Terra às gentes de boa-vontade”...
Oh, sim, necessitamos de PAZ.
Não só a Paz a nível internacional, mas também e acima de tudo, Paz nos nossos corações para encararmos com serenidade e lucidez os momentos difíceis, a idade que avança...
Oh, sim, e Paz também nos momentos de alegria e bem-estar para os podermos usufruir em plenitude.
Paz, ainda, no nosso contacto com a Natureza, imagem visível e sensível não só da magia do Poder Divino como reencontro connosco próprios, como reconforto e inspiração.
Que venha em Paz o novo ano de 2023.

Myriam Jubilot de Carvalho
Noite de 31 de Dezembro de 2022

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(1) Martin Luther King – (1929-1968) – Gandhi (1869-1948), Jesus Cristo, morreram do mesmo modo, morreram às mãos dos seus inimigos, que não suportaram as suas mensagens de Paz, ou seja, a Dignidade na Igualdade fraterna de Direitos e Deveres.
(2) Graham Green – (1904-1991) – escritor e jornalista inglês, católico. Foi várias vezes apontado como candidato ao Prémio Nobel.