Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

Professor: “espécie” em extinção

Como de costume, ao iniciar o segundo período, perguntei às minhas turmas se o "Pai Natal" lhes tinha oferecido alguma prenda com características musicais e que pudesse ajudar a enriquecer a sua aprendizagem da Educação Musical. Não tendo sido muitos os alunos que me referiram ter recebido como oferta um instrumento musical, os que tiveram esse privilégio referiram estar muitos felizes, pois assim já poderiam "fazer música".

Quando lhes perguntei se já tinham escolhido um professor ou se já estavam a frequentar aulas instrumentais, invariavelmente, todos me deram a mesma resposta: não precisavam, pois iriam ou já estavam a aprender com os vídeos que estão no youtube. Quando lhes questionei quais eram então os professores que tinham escolhido nessa plataforma digital, responderam-me que não sabiam, pois havia muita escolha e pouco lhes interessava quem ensinava, desde que fosse em português, mesmo do Brasil, escolhiam o primeiro a aparecer.

Não tendo sido fácil “digerir“ tais respostas, pois colocavam em causa a identidade, a formação e a qualidade pedagógica de quem tinha partilhado as suas aulas com o mundo virtual, mostrou-me também que não é um professor no sentido literal do termo que os atuais alunos procuram, mas sim um qualquer utilitário “à borla” com o qual aprendam ou tirem as suas dúvidas, tal como uma qualquer bula para a toma de um medicamento. Nada a comentar, muito menos a fazer: o tempo tornou-nos nos «Professores Kleenex»!

Por experiência própria e por testemunhos transmitidos por vários colegas professores, tenho vindo a constatar que grande parte dos nossos alunos acabam o ano letivo sem saber os nossos nomes, deixando de nos cumprimentar ou falar logo que atingem os seus objetivos. Já não necessitando dos seus antigos mestres, descartam-nos como fazem com os professores youtube. Literalmente, desligam-nos!

Como dizem muitos jovens: “Está tudo na internet!” É verdade, atualmente, há por aí muita gente a dizer com gáudio e orgulho ao mundo que não foi preciso ter tido um professor de música para viver da música. Como resultado duma Educação Musical insuficiente e deficiente é cada vez mais difícil formar ouvintes e apreciadores habilitados a separar, musicalmente, o trigo do joio. É assim que a mediania se tem vindo a tornar bitola.

Para muitos basta sonhar, pois, segundo eles, todos nascemos artistas. Para esses tenho uma boa notícia: os professores, a curto prazo, serão substituídos por aulas online, previamente gravadas para consumo fast e direcionado.

Professores - essa “espécie” em extinção que na música já está a ser substituída pelo incaracterístico e impessoal robot “Prof. Youtube”. Será que ainda não tinham reparado?...