Musique-se
Paulo Cunha
A educação musical através da TV
- Partilhar 01/08/2022
Sempre que
ligo a TV e, no período da manhã e da
tarde, passo pelos vários canais
generalistas, surpreendo-me
constantemente com a quantidade de novos
intérpretes de música apelidada de pimba
que despontam nos vários programas de
entretenimento.
Sendo Portugal um
país, geograficamente, pequeno, tem na
sua população mais velha e proveniente
do interior, um público fiel e
entusiasta para este género musical com
raízes musicais na música tradicional e
popular portuguesa, onde a letra tem um
papel preponderante na aceitação da
mesma.
Com uma harmonização pouco
variada e uma estrutura rítmica assente
num compasso binário simples, a
principal aposta e estratégia dos muitos
intérpretes que pululam pelos arraiais,
festas e feiras que fazem as delícias de
muitos que cá vivem todo o ano e dos que
apenas retornam às suas raízes no verão
é o recurso aos trocadilhos jocosos e
satíricos, acompanhados por coreografias
bem torneadas.
Sendo uma
companhia para as donas de casa e para
os reformados, os programas que dão
palco aos muitos intérpretes e grupos
musicais que repetem até à exaustão a
mesma fórmula desta música de
assimilação fácil e imediata, acabam por
ter um efeito replicador nos mais
jovens, enquanto ouvintes e intérpretes.
Embora muitos jovens já não elejam a
TV como plataforma para aceder aos
conteúdos pretendidos e preferidos, a
mesma continua ainda a ter influência na
sua educação musical. Faria, pois, todo
o sentido que as respetivas direções de
programas dos vários canais generalistas
em sinal aberto colocassem também na
programação matutina e vespertina muitos
dos jovens músicos que por este país
fora dão os seus primeiros passos em
vários géneros musicais. Seria uma forma
de os promover, dando espaço e
visibilidade a outras músicas e, ao
mesmo tempo, captaria para a TV a
geração Youtube.
Sei que os
interesses económicos e financeiros
falam mais alto no que toca à gestão da
carteira de anunciantes e patrocinadores
por parte dos vários canais privados e
públicos, copiando-se, duma forma
concorrencial, na oferta de conteúdos.
Mas sei também que é na inovação e na
coragem de arriscar que, pela diferença,
se conquistam e fidelizam novos
públicos.
Já é mais do que a
altura de ligarmos a TV e, nos horários
convencionados como de entretenimento,
começarmos a ouver algo mais do
que música estilizada e composta ao
minuto. Temos, enquanto país rico em
diversidade cultural, muito mais para
divulgar do que a mesma receita servida
há tantos anos.
Como poderemos
nós apreciar o que não conhecemos?
Entretanto, o tempo vai passando e os
gostos não mudam nem evoluem. Estaremos
assim condenados a ser vistos lá fora,
apenas como o país do fado e da música
pimba? Espero que não, a bem da atual e
das futuras gerações. Porque todos os
meios são úteis e necessários para
educar um povo.
- n.39 • agosto 2022