Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

A educação musical através da TV

Sempre que ligo a TV e, no período da manhã e da tarde, passo pelos vários canais generalistas, surpreendo-me constantemente com a quantidade de novos intérpretes de música apelidada de pimba que despontam nos vários programas de entretenimento.

Sendo Portugal um país, geograficamente, pequeno, tem na sua população mais velha e proveniente do interior, um público fiel e entusiasta para este género musical com raízes musicais na música tradicional e popular portuguesa, onde a letra tem um papel preponderante na aceitação da mesma.

Com uma harmonização pouco variada e uma estrutura rítmica assente num compasso binário simples, a principal aposta e estratégia dos muitos intérpretes que pululam pelos arraiais, festas e feiras que fazem as delícias de muitos que cá vivem todo o ano e dos que apenas retornam às suas raízes no verão é o recurso aos trocadilhos jocosos e satíricos, acompanhados por coreografias bem torneadas.

Sendo uma companhia para as donas de casa e para os reformados, os programas que dão palco aos muitos intérpretes e grupos musicais que repetem até à exaustão a mesma fórmula desta música de assimilação fácil e imediata, acabam por ter um efeito replicador nos mais jovens, enquanto ouvintes e intérpretes.

Embora muitos jovens já não elejam a TV como plataforma para aceder aos conteúdos pretendidos e preferidos, a mesma continua ainda a ter influência na sua educação musical. Faria, pois, todo o sentido que as respetivas direções de programas dos vários canais generalistas em sinal aberto colocassem também na programação matutina e vespertina muitos dos jovens músicos que por este país fora dão os seus primeiros passos em vários géneros musicais. Seria uma forma de os promover, dando espaço e visibilidade a outras músicas e, ao mesmo tempo, captaria para a TV a geração Youtube.

Sei que os interesses económicos e financeiros falam mais alto no que toca à gestão da carteira de anunciantes e patrocinadores por parte dos vários canais privados e públicos, copiando-se, duma forma concorrencial, na oferta de conteúdos. Mas sei também que é na inovação e na coragem de arriscar que, pela diferença, se conquistam e fidelizam novos públicos.

Já é mais do que a altura de ligarmos a TV e, nos horários convencionados como de entretenimento, começarmos a ouver algo mais do que música estilizada e composta ao minuto. Temos, enquanto país rico em diversidade cultural, muito mais para divulgar do que a mesma receita servida há tantos anos.

Como poderemos nós apreciar o que não conhecemos? Entretanto, o tempo vai passando e os gostos não mudam nem evoluem. Estaremos assim condenados a ser vistos lá fora, apenas como o país do fado e da música pimba? Espero que não, a bem da atual e das futuras gerações. Porque todos os meios são úteis e necessários para educar um povo.