Paulo Cunha

Musique-se

Paulo Cunha

O hino nacional como arma

A Ucrânia não pereceu, nem a sua glória e a sua liberdade,
O destino voltará a sorrir, jovens irmãos.
Desaparecerão nossos inimigos como orvalho ao sol
E governaremos, irmãos, o nosso país.
Lutaremos de corpo e alma pela nossa liberdade
E mostraremos, irmãos, que somos uma nação de cossacos.

(O hino nacional ucraniano é um poema de Pavlo Chubinsky [Павло Чубинський], de 1863. Foi musicado pelo padre Mykhailo Verbitsky [Михайло Вербицький] e publicado pela primeira vez em Lviv, em 1885. Tornou-se hino nacional em 1917, com a proclamação do estado ucraniano.)

Não sendo especialmente apreciador da forma como são musicalmente estruturados os hinos nacionais, compreendo que nas suas métricas melódicas, estruturas harmónicas e, principalmente, nas letras de pendor patriótico resida um pouco da solenidade, respeito e orgulho pela história dos mesmos. É o caso do hino nacional ucraniano.
É interessante a forma como o hino nacional ucraniano foi composto, pois, tal como no hino português, através de uma perfeita progressão harmónica/melódica, impele os cantores para uma catarse sublimada na letra onde a alma lutadora dos povos está bem patente.
Não é, pois, de estranhar ver, nas notícias, ucranianos a cantar o seu hino nacional como forma de desafio e afronta às tropas invasoras, tal como incentivo e motivação sempre que são atingidos pelos ataques inimigos. São essas também algumas das funções de um hino nacional: catalisar e galvanizar o espírito patriótico de um povo para a defesa da sua liberdade e soberania.
No fim de semana transato, emocionei-me ao ver a forma como os muitos ucranianos a residir em Portugal rasgaram o silêncio imposto pelo pesar das mortes dos seus conterrâneos, cantando a uma só voz o seu hino nacional. Percebi que o hino nacional é também uma arma. Uma arma contra o isolamento, o esquecimento e a diáspora.
Saibamos e queiramos usá-los, os hinos de gente de boa vontade!.