Musique-se
Paulo Cunha
O hino nacional como arma
- Partilhar 01/03/2022
A Ucrânia
não pereceu, nem a sua glória e a sua
liberdade,
O destino voltará a
sorrir, jovens irmãos.
Desaparecerão
nossos inimigos como orvalho ao sol
E
governaremos, irmãos, o nosso país.
Lutaremos de corpo e alma pela nossa
liberdade
E mostraremos, irmãos, que
somos uma nação de cossacos.
(O hino
nacional ucraniano é um poema de Pavlo
Chubinsky [Павло Чубинський], de 1863.
Foi musicado pelo padre Mykhailo
Verbitsky [Михайло Вербицький] e
publicado pela primeira vez em Lviv, em
1885. Tornou-se hino nacional em 1917,
com a proclamação do estado ucraniano.)
Não sendo especialmente apreciador
da forma como são musicalmente
estruturados os hinos nacionais,
compreendo que nas suas métricas
melódicas, estruturas harmónicas e,
principalmente, nas letras de pendor
patriótico resida um pouco da
solenidade, respeito e orgulho pela
história dos mesmos. É o caso do hino
nacional ucraniano.
É interessante a
forma como o hino nacional ucraniano foi
composto, pois, tal como no hino
português, através de uma perfeita
progressão harmónica/melódica, impele os
cantores para uma catarse sublimada na
letra onde a alma lutadora dos povos
está bem patente.
Não é, pois, de
estranhar ver, nas notícias, ucranianos
a cantar o seu hino nacional como forma
de desafio e afronta às tropas
invasoras, tal como incentivo e
motivação sempre que são atingidos pelos
ataques inimigos. São essas também
algumas das funções de um hino nacional:
catalisar e galvanizar o espírito
patriótico de um povo para a defesa da
sua liberdade e soberania.
No fim de
semana transato, emocionei-me ao ver a
forma como os muitos ucranianos a
residir em Portugal rasgaram o silêncio
imposto pelo pesar das mortes dos seus
conterrâneos, cantando a uma só voz o
seu hino nacional. Percebi que o hino
nacional é também uma arma. Uma arma
contra o isolamento, o esquecimento e a
diáspora.
Saibamos e queiramos
usá-los, os hinos de gente de boa
vontade!.
- n.34 • março 2022