Uma Pequena História da Música [66]
Piotr Ilitch Tchaikovski
- Partilhar 31/03/2025
O sucesso alcançado por Tchaikovsky (1810-1893) ao longo da sua carreira musical contrasta com a profunda insegurança e falta de confiança nos seus talentos que sempre o acompanharam. Embora contemporâneo do “grupo dos cinco” na Rússia, a sua formação no conservatório de São Petersburgo distanciou a sua música da cultivada pela escola nacionalista.

Tchaikovsky
nasceu no seio de uma família de classe
média que sempre pensou que o futuro do seu
filho passava por uma carreira de
funcionário público.
Ele, por outro lado,
adorava a música e desde cedo mostrou grande
talento para ela.
DE FUNCIONÁRIO A
MÚSICO
Para não contrariar os pais,
ingressou na Escola Imperial de
Jurisprudência de São Petersburgo e, aos
dezanove anos, já tinha obtido um lugar no
Ministério da Justiça.
Insatisfeito com a
sua posição, e apesar da forte oposição da
sua família, em 1862 entrou para o
Conservatório de São Petersburgo, onde o seu
diretor, Anton Rubinstein, o considerou um
“jovem talentoso”. Em 1865, foi nomeado
professor de harmonia no novo Conservatório
de Moscovo.
PRIMEIRAS CRISES E
RELAÇÃO COM “OS CINCO”
Em 1866 sofreu o
seu primeiro esgotamento nervoso, causado
pelo excesso de trabalho na sua Primeira
Sinfonia. Infelizmente, esta foi a primeira
de muitas crises pessoais e depressões que
sofreu ao longo da sua vida. A sua tendência
para a neurose e a infelicidade permanente
em que vivia parecem dever-se em grande
parte a um sentimento de culpa pela sua
homossexualidade e às suas tentativas de a
reprimir.
Por esta altura, conheceu
Balakirev e teve uma relação independente,
mas cordial, com o grupo “Os Cinco”, que
acolheu a sua abertura fantasiosa Romeu e
Julieta. Mais tarde, porém, esta relação
tornou-se bastante complicada, pois
Tchaikovsky não partilhava os objectivos e o
estilo da escola nacionalista russa. Chegou
mesmo a parodiar a sua utilização de
melodias exóticas orientalistas nas danças
do seu bailado O Quebra-Nozes (1892).
COMPOSITOR DE SUCESSO
Tchaikovsky
combinou o seu trabalho de compositor com o
de crítico musical, desempenhando ambas as
tarefas com sucesso. A sinfonia A Pequena
Rússia (1872), o Primeiro Concerto para
Piano – estreado pelo pianista Hans von
Büllow em 1874 –, as Variações sobre um
Tema Rococó (1876) e o bailado O Lago
dos Cisnes (1877) datam deste período.
Em 1877, começou a receber cartas de
amor de uma desconhecida, Antonina
Milyukova, ameaçando-o de suicídio se não
aceitasse encontrar-se com ela. Nessa
altura, o compositor estava a trabalhar na
sua ópera Eugene Onegin, baseada num
poema de Pushkin com um enredo muito
semelhante ao que o músico estava a viver: o
herói rejeita as cartas de amor que lhe são
enviadas pela heroína Tatiana. No final,
devido a várias circunstâncias, Tchaikovsky
aceitou casar-se com Antonina e a
experiência foi um desastre. Ela era
mentalmente instável e ele acabou por fugir
para São Petersburgo num estado de colapso
nervoso.
Só completou a sua ópera
Eugene Onegin em 1878, altura em que
estreou também a Quarta Sinfonia e o
Concerto para Violino. Com estas
obras, estabeleceu-se como um mestre da
invenção melódica e introduziu um novo
elemento na música russa: a intensidade das
emoções pessoais.
VIAGENS PELA EUROPA
Entre 1870 e 1889,
Tchaikovsky viajou quase todos os anos pela
Europa, fazendo digressões como maestro e
encontrando-se com Brahms, Dvorak, Grieg e
outros músicos famosos. Apesar desta
atividade, não deixou de compor e concluiu a
Quinta Sinfonia (1888) e o seu grande
bailado A Bela Adormecida (1889).
A SUA ÚLTIMA OBRA
Em 1893, durante a
sua última viagem a Inglaterra, a
Universidade de Cambridge concedeu-lhe um
doutoramento honoris causa em música.
Regressou definitivamente à Rússia e estreou
a Sexta Sinfonia ou Pathétique, da
qual ele próprio disse: “É a obra de que
mais gosto de toda a minha produção
musical”. Nove dias após a estreia da obra,
Tchaikovsky morreu, aparentemente de cólera,
embora alguns autores tenham colocado a
hipótese de suicídio.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte
Tchaikovsky: Symphony No. 6 Pathetique
Dresden Philharmonic,
Marek Janowski, conductor,
Kulturpalast Dresden, 2019
Uma Pequena História da Música
- Ano VI • 69 • março 2025