Uma Pequena História da Música [63]
Alexandr Borodin
- Partilhar 18/12/2024
O caso de Borodin é invulgar na história da música, uma vez que o foco principal da sua vida não era a arte, mas a química. Considerava-se um simples músico amador, mas a realidade é que possuía grandes faculdades, como atesta a sua obra, que, embora escassa, é de valor indiscutível..

Alexander Borodin
(1833-1887) era filho ilegítimo do Príncipe
Luká Gedianov, mas foi registado como filho
de um dos seus criados, Porfiry Borodin, uma
prática comum na corte russa. A sua mãe era
uma mulher culta que se certificou de que o
seu filho recebia uma educação adequada em
São Petersburgo.
EDUCAÇÃO PRINCIPESCA
Para além de aprender flauta, piano,
violoncelo e composição musical, o jovem
revelou uma extraordinária aptidão para a
química. Foi nesta disciplina que prosseguiu
os seus estudos na Academia Médico-Cirúrgica
de São Petersburgo, tendo-se licenciado com
distinção em 1856 e concluído o doutoramento
dois anos mais tarde. O seu trabalho como
professor na Academia Militar de Química
levou-o a viajar frequentemente para o
estrangeiro, especialmente para a Alemanha.
QUÍMICO OU MÚSICO?
Em 1861, Borodin
tratou por acaso a tuberculose de uma
pianista de renome, Ekaterina Protopopova. O
amor nasceu entre o médico e a paciente e
casaram-se em 1863, depois de regressarem a
São Petersburgo, onde Borodin foi nomeado
professor de química na Academia
Médico-Cirúrgica onde tinha estudado.
Durante todo este tempo, Borodin manteve o
seu interesse pela música e tocava
frequentemente com os seus amigos. Mas este
interesse aumentou quando conheceu
Ekaterina, que o encorajou a receber uma
educação formal em composição. Foi assim
que, em 1862, Borodin tornou-se aluno de
Mili Balakirev e, através dele, conheceu e
juntou-se ao grupo “Os Cinco”. Estes
encorajaram-no a compor a sua Primeira
Sinfonia, que demorou cinco anos a concluir
e que foi estreada em 1869.
O SEU
AMIGO FRANZ LISZT
Grande parte da fama de
Borodin na Europa deveu-se à ajuda do seu
amigo Franz Liszt, que, em 1880, organizou
uma apresentação da Primeira Sinfonia de
Borodin em Baden-Baden. Também no mesmo ano,
1880, o compositor russo completou o seu
sugestivo poema sinfónico Nas estepes da
Ásia Central, e os êxitos continuaram
ininterruptamente até 1885, quando sofreu um
ataque de cólera que o deixou gravemente
debilitado. Dois anos mais tarde, Borodin
morreu de ataque cardíaco durante uma festa
organizada pelos professores da Academia de
São Petersburgo. Ekaterina morreu cinco
meses depois.
UMA ÚNICA ÓPERA
Em
1869, encorajado pelo sucesso da sua
primeira sinfonia, Borodin começou a compor
a sua única ópera, Príncipe Igor (1887), na
qual pretendia refletir o sentimento
nacionalista russo. Não conseguiu terminar a
composição antes da sua morte devido à sua
carga de trabalho como químico, e foram
Glazunov e Rimsky-Korsakov que completaram
os dois últimos movimentos. A obra
impressiona pela sua força expressiva, pelo
impacto dos seus ritmos e pelo seu colorido
folclórico. Inclui algumas peças, como as
famosas Danças Poloutsianas, que foram
executadas independentemente, tanto na sua
versão coral como orquestral. Para além das
obras acima mencionadas, Borodin compôs duas
outras sinfonias, dois quartetos de cordas -
nomeadamente o terceiro andamento do
segundo, Noturno - dedicados à sua mulher,
um quinteto para cordas, outro para piano e
cordas, uma sonata para violoncelo e piano,
dezasseis canções para baixo e piano e
várias peças a solo para piano.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte
Prince Igor de Alexander Borodin
The Metropolitan Opera,
Gianandrea, conductor,
Uma Pequena História da Música
- Ano VI • 66 • dezembro 2024