Uma Pequena História da Música [62]
O Grupo dos Cinco
- Partilhar 11/11/2024
O movimento musical nacionalista iniciado por Glinka na Rússia continuou através de um grupo de compositores com os mesmos objectivos, vulgarmente conhecidos como “o grupo dos cinco”. Este grupo era constituído por Balakirev, Borodin, Cui, Mussorgsky e Rimsky-Korsakov.
No início do
século XIX, a maior parte da música feita na
Rússia estava reservada à nobreza, que
exigia composições que seguissem os modelos
italianos, franceses e alemães,
especialmente no género operático, pois
estes modelos eram considerados “cultos”.
Tais modelos e as suas caraterísticas
técnicas e formais eram oficialmente
ensinados no Conservatório de São
Petersburgo, a instituição mais prestigiada
do país.
UM OBJECTIVO COMUM
Por
esta razão, a maior parte dos músicos russos
talentosos, se podiam pagar, viajavam para o
estrangeiro para completar a sua formação. A
grande czarina Catarina, a Grande, no final
do século XVIII, já tinha tentado introduzir
algumas mudanças nesta tendência,
encorajando os compositores da corte
italiana a utilizarem libretos de autores
russos nas suas óperas.
Mas a verdadeira
mudança só ocorreu com a estreia de Vida
para o Czar (1836), de Mikhail Glinka. Esta
obra estabeleceu uma ópera genuinamente
russa, tanto no seu tema como na própria
música. E esta composição não foi um facto
isolado, uma vez que vários compositores
decidiram seguir esta tendência nacionalista
romântica e assumiram a responsabilidade de
consolidar esta mudança que estava a começar
e de a levar para os estabelecimentos de
ensino.
O seu percurso não foi fácil, e
se alguns críticos consideraram esta nova
forma de fazer música como uma experiência
pouco convencional e inexperiente, outros
deram-lhes um forte apoio.
OS SEUS
MEMBROS
O grupo “Os Cinco” foi formado
por Mili Balákirev (1837-1910) e César Cui
(1835-1918) em 1856. Um ano mais tarde
juntaram-se-lhes Modest Mussorgsky
(1839-1881), em 1861 Nicolai Rimsky-Korsakov
(1844-1908) e finalmente, em 1862, Alexander
Borodin (1833-1887). Todos eles eram jovens
pertencentes a uma pequena aristocracia de
província, com uma educação musical quase
autodidata e mais próximos da arte de raiz
popular do que das tendências institucionais
e académicas.
De todos eles, foi talvez
César Cui quem compôs as óperas menos
caraterísticas do movimento, embora tenha
introduzido novos aspectos dramáticos que
mais tarde foram encontrados noutros membros
do grupo.
UM NOVO ESTILO
Estes
músicos introduziram uma série de mudanças
na linguagem musical, criando um estilo
genuinamente russo baseado principalmente em
dois elementos. Por um lado, incorporaram
nas suas composições canções e danças
populares russas, bem como cânticos
religiosos e um outro elemento muito
caraterístico, o toque dos sinos. Por outro
lado, adoptaram um estilo harmónico novo e
caraterístico, diferente da música que então
se fazia no resto da Europa, mas também
invulgar e desconhecido no folclore russo.
Neste sentido, o modelo foi a escala
harmónica e melódica utilizada por Glinka
nas suas obras.
No entanto, havia também
outro elemento que se repetia frequentemente
na música de “Os Cinco”, que era o seu gosto
pelo estilo orientalista, por personagens,
enredos e melodias que evocavam no público
as paisagens do Cáucaso, do Médio Oriente e
da Ásia Central. De tal modo que, no resto
da Europa, este aspeto orientalista passou a
ser identificado com o carácter nacionalista
da música russa, e obras como Islamey:
Oriental Fantasy (1869) de Balakirev, Prince
Igor (1887) de Borodin e Scheberezade (1888)
de Rimsky-Korsakov tornaram-se a expressão
máxima da música desse período.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte
M.A. Balakirev: Tamara symphonic poem
Orchestre Symphonique de Montreal
conductor: Kent Nagano
Uma Pequena História da Música
- Ano VI • 65 • novembro 2024