Uma Pequena História da Música [62]

O Grupo dos Cinco

O movimento musical nacionalista iniciado por Glinka na Rússia continuou através de um grupo de compositores com os mesmos objectivos, vulgarmente conhecidos como “o grupo dos cinco”. Este grupo era constituído por Balakirev, Borodin, Cui, Mussorgsky e Rimsky-Korsakov.

No início do século XIX, a maior parte da música feita na Rússia estava reservada à nobreza, que exigia composições que seguissem os modelos italianos, franceses e alemães, especialmente no género operático, pois estes modelos eram considerados “cultos”. Tais modelos e as suas caraterísticas técnicas e formais eram oficialmente ensinados no Conservatório de São Petersburgo, a instituição mais prestigiada do país.

UM OBJECTIVO COMUM
Por esta razão, a maior parte dos músicos russos talentosos, se podiam pagar, viajavam para o estrangeiro para completar a sua formação. A grande czarina Catarina, a Grande, no final do século XVIII, já tinha tentado introduzir algumas mudanças nesta tendência, encorajando os compositores da corte italiana a utilizarem libretos de autores russos nas suas óperas.
Mas a verdadeira mudança só ocorreu com a estreia de Vida para o Czar (1836), de Mikhail Glinka. Esta obra estabeleceu uma ópera genuinamente russa, tanto no seu tema como na própria música. E esta composição não foi um facto isolado, uma vez que vários compositores decidiram seguir esta tendência nacionalista romântica e assumiram a responsabilidade de consolidar esta mudança que estava a começar e de a levar para os estabelecimentos de ensino.
O seu percurso não foi fácil, e se alguns críticos consideraram esta nova forma de fazer música como uma experiência pouco convencional e inexperiente, outros deram-lhes um forte apoio.

OS SEUS MEMBROS
O grupo “Os Cinco” foi formado por Mili Balákirev (1837-1910) e César Cui (1835-1918) em 1856. Um ano mais tarde juntaram-se-lhes Modest Mussorgsky (1839-1881), em 1861 Nicolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) e finalmente, em 1862, Alexander Borodin (1833-1887). Todos eles eram jovens pertencentes a uma pequena aristocracia de província, com uma educação musical quase autodidata e mais próximos da arte de raiz popular do que das tendências institucionais e académicas.
De todos eles, foi talvez César Cui quem compôs as óperas menos caraterísticas do movimento, embora tenha introduzido novos aspectos dramáticos que mais tarde foram encontrados noutros membros do grupo.

UM NOVO ESTILO
Estes músicos introduziram uma série de mudanças na linguagem musical, criando um estilo genuinamente russo baseado principalmente em dois elementos. Por um lado, incorporaram nas suas composições canções e danças populares russas, bem como cânticos religiosos e um outro elemento muito caraterístico, o toque dos sinos. Por outro lado, adoptaram um estilo harmónico novo e caraterístico, diferente da música que então se fazia no resto da Europa, mas também invulgar e desconhecido no folclore russo. Neste sentido, o modelo foi a escala harmónica e melódica utilizada por Glinka nas suas obras.
No entanto, havia também outro elemento que se repetia frequentemente na música de “Os Cinco”, que era o seu gosto pelo estilo orientalista, por personagens, enredos e melodias que evocavam no público as paisagens do Cáucaso, do Médio Oriente e da Ásia Central. De tal modo que, no resto da Europa, este aspeto orientalista passou a ser identificado com o carácter nacionalista da música russa, e obras como Islamey: Oriental Fantasy (1869) de Balakirev, Prince Igor (1887) de Borodin e Scheberezade (1888) de Rimsky-Korsakov tornaram-se a expressão máxima da música desse período.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

M.A. Balakirev: Tamara symphonic poem
Orchestre Symphonique de Montreal
conductor: Kent Nagano


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