Uma Pequena História da Música [61]
Nacionalismo russo: Glinka
- Partilhar 23/10/2024
Mikhail Glinka (1804-1857) é considerado o primeiro representante do movimento musical nacionalista na Rússia e o inspirador de um grupo de compositores, conhecido como o Grupo dos Cinco, que lhe seguiu os passos. Glinka demonstrou um grande talento para evocar na sua música as caraterísticas do povo russo.
Glinka nasceu
em Smolensk e as suas primeiras influências
musicais foram as canções folclóricas
russas. De 1822, quando terminou os seus
estudos em São Petersburgo, até 1830,
trabalhou como pianista e
cantor, mas o pouco que ganhava mal dava
para viver.
INÍCIO DIFÍCIL
As suas
primeiras composições refletem a dureza
deste período, mas mostram também a sua
paixão instintiva pelas melodias populares.
Entre 1830 e 1833, viajou para Itália e
entrou em contacto com Bellini e Donizetti,
mas não gostou do estilo da ópera italiana e
mudou-se para Berlim para receber a sua
primeira instrução formal em composição com
Siegfried Dehn. A sua estadia em Berlim não
foi muito longa, pois recebeu a notícia da
morte do seu pai e teve de regressar à
Rússia. Pouco depois,
casou-se.
UMA VIDA
PELO CZAR
Entre 1835 e 1836, Glinka
trabalhou na sua primeira ópera, Ivan
Sussanin ou Uma Vida pelo Czar (1836),
que viria a ser o iniciador de uma música
propriamente russa. O seu enredo, mais
patriótico do que social, conta como o
camponês Ivan Sussanin, à custa da
sua própria vida, salva o primeiro czar
Romanov dos inimigos polacos. A obra
apresenta um equilíbrio perfeito entre
perfeição formal, expressão dramática e
lirismo vocal.
A estreia foi um
verdadeiro sucesso, tanto entre o público,
que viu na obra um verdadeiro reflexo da
“alma russa”, como no seio da corte
imperial. De tal forma que, no ano seguinte,
o próprio czar nomeou Glinka mestre de
capela imperial.
RUSLAN E LIUDMILA
Após o sucesso da sua primeira ópera, em
1837 Glinka começou imediatamente a
trabalhar na sua segunda, Ruslan e
Liudmila, embora só a tenha conseguido
concluir em 1842 devido às complicações da
sua separação matrimonial. Esta ópera foi
baseada num conto de fadas de Pushkin, mas o
enredo não se adequava a este género musical
e, apesar de mostrar alguns dos melhores
recursos do compositor, não tinha a força
dramática necessária e não conseguiu
alcançar o sucesso.
VIAGEM PELA EUROPA
Um pouco desanimado
com o insucesso, o músico foi para Paris,
onde se encontrava o seu amigo Berlioz, e
aproveitou para viajar por Espanha,
estudando a música popular do país, que
viria a refletir em várias composições
orquestrais.
Em 1848, durante a sua
estadia em Varsóvia, compôs uma peça
orquestral, Kamarinskaya,
que viria a ter uma influência decisiva em
Tchaikovski e no Grupo dos Cinco. Nesta
composição utilizou uma técnica inovadora:
enquanto a melodia permanece inalterada, o
acompanhamento evolui continuamente,
incluindo até setenta variações.
Nos seus
últimos anos de vida, Glinka regressou a
Paris para visitar o seu antigo professor
Dehn, e depois mudou-se para Berlim, onde,
após cinco meses, morreu subitamente a 15 de
fevereiro de 1857, vítima de uma
constipação. Foi enterrado em Berlim, mas
alguns meses depois o seu corpo foi trazido
para São Petersburgo e enterrado no
cemitério do Mosteiro Alexander Nevsky.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte
Glinka: Ruslan and Ludmila - Overture
Benjamin Zander, Boston Philharmonic Youth Orchestra
Uma Pequena História da Música
- Ano VI • 64 • outubro 2024