Uma Pequena História da Música [61]

Nacionalismo russo: Glinka

Mikhail Glinka (1804-1857) é considerado o primeiro representante do movimento musical nacionalista na Rússia e o inspirador de um grupo de compositores, conhecido como o Grupo dos Cinco, que lhe seguiu os passos. Glinka demonstrou um grande talento para evocar na sua música as caraterísticas do povo russo.

Glinka nasceu em Smolensk e as suas primeiras influências musicais foram as canções folclóricas russas. De 1822, quando terminou os seus estudos em São Petersburgo, até 1830, trabalhou como pianista e cantor, mas o pouco que ganhava mal dava para viver.

INÍCIO DIFÍCIL
As suas primeiras composições refletem a dureza deste período, mas mostram também a sua paixão instintiva pelas melodias populares.
Entre 1830 e 1833, viajou para Itália e entrou em contacto com Bellini e Donizetti, mas não gostou do estilo da ópera italiana e mudou-se para Berlim para receber a sua primeira instrução formal em composição com Siegfried Dehn. A sua estadia em Berlim não foi muito longa, pois recebeu a notícia da morte do seu pai e teve de regressar à Rússia.
Pouco depois, casou-se.

UMA VIDA PELO CZAR
Entre 1835 e 1836, Glinka trabalhou na sua primeira ópera, Ivan Sussanin ou Uma Vida pelo Czar (1836), que viria a ser o iniciador de uma música propriamente russa. O seu enredo, mais patriótico do que social, conta como o camponês Ivan Sussanin, à custa da sua própria vida, salva o primeiro czar Romanov dos inimigos polacos. A obra apresenta um equilíbrio perfeito entre perfeição formal, expressão dramática e lirismo vocal.
A estreia foi um verdadeiro sucesso, tanto entre o público, que viu na obra um verdadeiro reflexo da “alma russa”, como no seio da corte imperial. De tal forma que, no ano seguinte, o próprio czar nomeou Glinka mestre de capela imperial.

RUSLAN E LIUDMILA
Após o sucesso da sua primeira ópera, em 1837 Glinka começou imediatamente a trabalhar na sua segunda, Ruslan e Liudmila, embora só a tenha conseguido concluir em 1842 devido às complicações da sua separação matrimonial. Esta ópera foi baseada num conto de fadas de Pushkin, mas o enredo não se adequava a este género musical e, apesar de mostrar alguns dos melhores recursos do compositor, não tinha a força dramática necessária e não conseguiu alcançar o sucesso
.

VIAGEM PELA EUROPA
Um pouco desanimado com o insucesso, o músico foi para Paris, onde se encontrava o seu amigo Berlioz, e aproveitou para viajar por Espanha, estudando a música popular do país, que viria a refletir em várias composições orquestrais.
Em 1848, durante a sua estadia em Varsóvia, compôs uma peça orquestral, Kamarinskaya, que viria a ter uma influência decisiva em Tchaikovski e no Grupo dos Cinco. Nesta composição utilizou uma técnica inovadora: enquanto a melodia permanece inalterada, o acompanhamento evolui continuamente, incluindo até setenta variações.
Nos seus últimos anos de vida, Glinka regressou a Paris para visitar o seu antigo professor Dehn, e depois mudou-se para Berlim, onde, após cinco meses, morreu subitamente a 15 de fevereiro de 1857, vítima de uma constipação. Foi enterrado em Berlim, mas alguns meses depois o seu corpo foi trazido para São Petersburgo e enterrado no cemitério do Mosteiro Alexander Nevsky.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

Glinka: Ruslan and Ludmila - Overture
Benjamin Zander, Boston Philharmonic Youth Orchestra


Uma Pequena História da Música

Índice [ veja aqui...]