Uma Pequena História da Música [60]

Zarzuela

Barbieri e Arrieta

O século XIX assistiu ao triunfo definitivo da zarzuela em Espanha. Nessa altura, conseguiu adquirir uma linguagem própria, longe das influências da ópera italiana, alemã e francesa, e alcançou uma unidade estrutural e temática que acabaria por lhe conferir um lugar importante no panorama musical espanhol.

Este género, marcadamente espanhol, deve o seu nome ao local onde se realizaram as primeiras representações, o Real Sitio de la Zarzuela, perto de Madrid. Parece que os primeiros autores a criar obras para este novo estilo de teatro musical foram Lope de Vega e Calderón de la Barca.
Segundo alguns investigadores, Calderón é o primeiro dramaturgo a adotar o termo “zarzuela” para uma peça sua intitulada El golfo de las sirenas, estreada em 1657 e que interpretava a vida de um jovem aventureiro que embarcava numa longa viagem cheia de mistérios e perigos. A zarzuela foi também cultivada em Cuba, onde nasceram os compositores Gonzalo Roig e Ernesto Le mona, e na Venezuela, com José Ángel Montero.

ARTE LÍRICA E CÉNICA
A zarzuela, como género lírico e cénico que é, inclui partes cantadas, sejam solos ou coros, partes instrumentais e partes faladas. Abundam as cenas cómicas ou amorosas, geralmente interpretadas por um duo, e os temas são normalmente de carácter folclórico, popular e local. Embora, talvez, para compreender o carácter deste género, seja melhor tomar emprestadas as palavras do compositor e crítico musical Manuel Valls Gorina: “A zarzuela tem um carácter de entretenimento, um tema alegre em que se expõem situações do momento (políticas, sociais, mexericos palacianos, notícias do bairro, etc.) e que, como espelho da sociedade, reflete as suas progressivas mutações”.
Durante o século XIX, esta estrutura formal da zarzuela manifesta-se sob duas formas: o género grande e o género pequeno. Em geral, a zarzuela “grande” tem dois ou três actos e inclui frequentemente fragmentos musicais que têm alguma semelhança com o género operático italiano. O género pequeno, por outro lado, agrupava as zarzuelas que se desenrolavam num só ato.

O TEATRO DE ZARZUELA
Dado o êxito que a zarzuela começou a ter em meados do século XIX, a Sociedad Lírica Española, com o apoio de alguns dos principais compositores da época, como Barbieri e Gaztambide, e com o financiamento do banqueiro Francisco de las Rivas, iniciou a construção de um teatro em Madrid para acolher exclusivamente espectáculos de zarzuela.
O projeto do Teatro de la Zarzuela foi confiado ao arquiteto Jerónimo de Gándara, embora tenha sido executado por José María Guallart. O edifício final, inspirado no La Scala de Milão, tinha uma forma de ferradura e três níveis de camarotes. A sua inauguração teve lugar numa data muito especial, 10 de outubro de 1856, aniversário da rainha Isabel II de Espanha «a Rainha Castiça», grande amante do género zarzuela.

FRANCISCO ASENJO BARBIERI (1823-1894)
Foi, sem dúvida, um dos compositores que mais contribuiu para a consolidação do género zarzuela, considerando que as suas obras foram as iniciadoras da sua consolidação e as que dariam o tom às composições posteriores.
Ao longo da sua carreira compôs cerca de setenta zarzuelas, entre as quais se destacam Jugar con fuego (1851), Los diamantes de la corona (1854), Pan y toros (1864) e El barberillo de Lavapiés (1874). Todas elas são peças cheias de humor e frescura, nas quais as influências italianas estão ainda muito presentes, exceto em El barberillo, que já prefigura uma linguagem musical propriamente espanhola.

EMILIO ARRIETA (1821-1894)
Outro dos principais compositores desta primeira geração de autores que ajudaram a dar forma ao género zarzuela foi Emilio Arrieta, embora os seus inícios estivessem ligados a outro género, a ópera, na qual também teve grande êxito. Por exemplo, a sua primeira ópera, Ildegonda (1846), ganhou o primeiro prémio de composição no La Scala de Milão. Seguiram-se La conquista de Granada (1850) e Pergolesi (1851), já estreada em Madrid.
Por esta altura, a zarzuela começa a dominar a cena musical espanhola graças aos êxitos de Barbieri e outros compositores, e Arrieta abandona a ópera para se dedicar a este novo género, no qual compõe mais de cinquenta obras. A primeira delas foi El dominó azul (1853) e a última San Francisco de Sena (1883), mas sem dúvida a mais famosa, e ainda comum nos repertórios de zarzuela actuais, foi Marina (1855), que mais tarde, em 1871, o próprio compositor adaptou como ópera em três actos.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

Emilio Arrieta: Marina (1871)
Libreto: Francisco Camprodón


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