Uma Pequena História da Música [59]

George Bizet

Sem dúvida o mais notável sucessor de Gounod, Georges Bizet (1838-1875) soube trazer ao género operático a renovação de que este necessitava, mas sem se afastar completamente da rica tradição francesa. Foi também o primeiro a apresentar musicalmente o contexto espanhol como uma variante do exotismo tão caro aos autores românticos.

Oriundo de uma família de músicos e cantores, a precocidade musical de Georges Bizet não passou despercebida aos seus pais, que tomaram todas as medidas necessárias para que o filho ingressasse no Conservatório de Paris. As qualidades do rapazinho surpreenderam de tal forma os professores que estes decidiram ignorar a regra da idade mínima para a admissão de alunos, tendo Bizet entrado na instituição duas semanas antes do seu décimo aniversário. Foi um excelente aluno e ganhou vários prémios no Conservatório, em piano e composição. As suas qualidades extraordinárias permitem-lhe estudar com grandes mestres como Zimmermann, Gounod, Marmontel e Halévy, com cuja filha casaria anos mais tarde. Em 1857, ganhou o prestigioso Prix de Rome, uma bolsa de estudos de cinco anos que o obrigava a residir entre Roma, Alemanha e Paris.

EM BUSCA DA SUA PRÓPRIA LINGUAGEM
As primeiras óperas de Bizet continuam a ser dominadas pela grandiloquência herdada de Meyerbeer, como se pode ver em Ivan IV (1865), e muitas aderem plenamente à tendência romântica e à sua nostalgia do exótico, como em Les Pêcheurs de Perles (1863), estreada no Théâtre Lyrique de Paris. Esta ópera atraiu a atenção de vários compositores, nomeadamente Berlioz, mas não foi bem recebida pelo público. As obras que escreveu nos anos seguintes também não foram bem recebidas, algumas delas injustamente tratadas, como é o caso de La Jolie fille de Perth (1866), uma ópera influenciada por Verdi, sobretudo na economia de meios expressivos e na progressão dramática, mas com algumas caraterísticas que mais tarde se tornariam uma constante em Bizet, como a orquestração muito colorida.

A ÓPERA CARMEN
Ao longo da sua carreira, Bizet tinha demonstrado, em muitas das suas obras, o seu gosto por cenários exóticos, como nos já referidos Les Pêcheurs de Perles ou em Djamileh (1872), e tinha abordado o tema do amor e do ciúme em La Coupe du roi de Thulé. Mas foi na sua ópera Carmen (1875) que o compositor conseguiu demonstrar o seu verdadeiro talento, combinando todos estes elementos, que não eram novos, com o seu talento para descrever a vida quotidiana. A composição, baseada no romance homónimo de Prosper Mérimée, passa-se em Espanha e apresenta personagens de carácter muito contrastante, desde a protagonista Carmen, uma mulher altiva e confiante no seu poder sobre os homens, até José, sensível e apaixonado. Inicialmente rotulada de “ópera cómica” devido à inclusão de diálogos falados, a obra dificilmente pode ser classificada como tal, pois trata-se de uma obra realista e altamente dramática.
Embora hoje, Carmen seja considerada uma das melhores óperas de amor e parte essencial de qualquer repertório do género, na época não foi bem recebida nem pelo público nem pela crítica. Os primeiros escandalizaram-se com o facto de uma mulher fumar em palco e os críticos consideraram-na obscena e demasiado sensacionalista.

UMA MORTE PRECOCE
Bizet tinha sofrido de problemas de garganta recorrentes ao longo da sua vida e, aquando da conclusão de Carmen, sofreu mais um dos seus ataques. Nesta ocasião, a recuperação foi muito lenta, sem dúvida devido ao desânimo do compositor perante o fracasso da sua última ópera. Isto aconteceu em março de 1875. No final de maio, sentindo-se mais recuperado, Bizet muda-se para a sua casa de férias em Bougival. Mas, a 1 de junho, é novamente atingido pelo que parece ser um ataque cardíaco; o ataque repete-se na madrugada de 3 de junho e é fatal. Em 5 de junho, em homenagem ao compositor, Carmen foi novamente representada e, curiosamente, obteve o sucesso que lhe tinha sido negado três meses antes.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

Georges Bizet: Carmen (1875)
conducted by Ricardo Casero
Orquesta Reino de Aragón, Coro Amici Musicae (2018)


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