Uma Pequena História da Música [59]
George Bizet
- Partilhar 16/09/2024
Sem dúvida o mais notável sucessor de Gounod, Georges Bizet (1838-1875) soube trazer ao género operático a renovação de que este necessitava, mas sem se afastar completamente da rica tradição francesa. Foi também o primeiro a apresentar musicalmente o contexto espanhol como uma variante do exotismo tão caro aos autores românticos.
EM BUSCA DA SUA PRÓPRIA LINGUAGEM
As
primeiras óperas de Bizet continuam a ser
dominadas pela grandiloquência herdada de
Meyerbeer, como se pode ver em Ivan IV
(1865), e muitas aderem plenamente à
tendência romântica e à sua nostalgia do
exótico, como em Les Pêcheurs de Perles
(1863), estreada no Théâtre Lyrique de
Paris. Esta ópera atraiu a atenção de vários
compositores, nomeadamente Berlioz, mas não
foi bem recebida pelo público. As obras que
escreveu nos anos seguintes também não foram
bem recebidas, algumas delas injustamente
tratadas, como é o caso de La Jolie
fille de Perth (1866), uma ópera
influenciada por Verdi, sobretudo na
economia de meios expressivos e na
progressão dramática, mas com algumas
caraterísticas que mais tarde se tornariam
uma constante em Bizet, como a orquestração
muito colorida.
A ÓPERA CARMEN
Ao longo da sua carreira, Bizet
tinha demonstrado, em muitas das suas obras,
o seu gosto por cenários exóticos, como nos
já referidos Les Pêcheurs de Perles
ou em Djamileh (1872), e tinha abordado
o tema do amor e do ciúme em La Coupe du roi de Thulé. Mas foi na sua ópera
Carmen (1875)
que o compositor conseguiu demonstrar o seu
verdadeiro talento, combinando todos estes
elementos, que não eram novos, com o seu
talento para descrever a vida quotidiana. A
composição, baseada no romance homónimo de
Prosper Mérimée, passa-se em Espanha e
apresenta personagens de carácter muito
contrastante, desde a protagonista Carmen,
uma mulher altiva e confiante no seu poder
sobre os homens, até José, sensível e
apaixonado. Inicialmente rotulada de “ópera
cómica” devido à inclusão de diálogos
falados, a obra dificilmente pode ser
classificada como tal, pois trata-se de uma
obra realista e altamente dramática.
Embora hoje, Carmen seja considerada uma das
melhores óperas de amor e parte essencial de
qualquer repertório do género, na época não
foi bem recebida nem pelo público nem pela
crítica. Os primeiros escandalizaram-se com
o facto de uma mulher fumar em palco e os
críticos consideraram-na obscena e demasiado
sensacionalista.
UMA MORTE PRECOCE
Bizet tinha sofrido de problemas de garganta
recorrentes ao longo da sua vida e, aquando
da conclusão de Carmen, sofreu mais um dos
seus ataques. Nesta ocasião, a recuperação
foi muito lenta, sem dúvida devido ao
desânimo do compositor perante o fracasso da
sua última ópera. Isto aconteceu em março de
1875. No final de maio, sentindo-se mais
recuperado, Bizet muda-se para a sua casa de
férias em Bougival. Mas, a 1 de junho, é
novamente atingido pelo que parece ser um
ataque cardíaco; o ataque repete-se na
madrugada de 3 de junho e é fatal. Em 5 de
junho, em homenagem ao compositor, Carmen
foi novamente representada e, curiosamente,
obteve o sucesso que lhe tinha sido negado
três meses antes.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte
Georges Bizet: Carmen (1875)
conducted by Ricardo Casero
Orquesta Reino de Aragón, Coro Amici Musicae (2018)
Uma Pequena História da Música
- Ano VI • 63 • setembro 2024