Uma Pequena História da Música [58]

Ópera francesa

A ópera francesa do período romântico, embora tenha demorado mais tempo do que a ópera italiana a adquirir o seu cunho próprio, foi talvez a que melhor refletiu o carácter da sociedade da época. Durante o século XIX, e sempre dentro do género operístico, houve três tendências dominantes: a chamada “grande ópera”, a opereta e o drama lírico e realista.

Os anos entre 1800 e 1830 são considerados um período de transição entre o legado operístico anterior e a verdadeira ópera romântica francesa. Uma nova geração de compositores, liderada por Étienne Méhul (1763-1817) e Luigi Cherubini (1760-1842), aplicou os princípios desenvolvidos por Gluck para transformar a ópera cómica num género mais sofisticado e dramaticamente carregado.
No caso de Méhul, o tom das suas óperas é fundamentalmente melodramático e afastado do cliché, talvez até ao ponto do exagero. A sua melhor obra foi Joseph en Égypte (1807). As óperas de Cherubini, por outro lado, reflectem o grande domínio do compositor sobre todos os aspetos musicais: melodias fluidas perfeitamente adaptadas às vozes e um bom conhecimento técnico da instrumentação. As suas primeiras óperas conservam ainda um estilo clássico, como Medeia (1797), antes de sofrerem a transformação completa que se pode observar, por exemplo, em Les Abencérages (1813).

OFFENBACH E A ÓPERA CÓMICA
Ao longo do século XIX, a ópera cómica francesa evoluiu em três fases. Na primeira delas, até cerca de 1830, a tradição deste género incorpora elementos populares e enriquece-se com outros provenientes da ópera romântica. A cena é dominada por dois compositores rivais, Nicolo Issouard (1775-1818) e Adrien Boieldieu (1775-1834). Durante a segunda fase, a ópera cómica atingiu um tal grau de desenvolvimento que competiu com a “grande ópera”, assimilando alguns dos elementos que esta última rejeitava. Um bom representante desta fase é Daniel Auber (1782-1871), com a sua melhor obra, Fra Diavolo (1830). Finalmente, a terceira fase da evolução da ópera cómica coincide com o período do Segundo Império; foi então que o género se dividiu em duas vertentes muito diferentes: uma que conduziu ao drama lírico, e outra à opereta, à revista e às variedades.
Jacques Offenbach (1819-1880) é o representante mais caraterístico da ópera cómica e da opereta. As suas obras são uma paródia, um escárnio e uma caricatura que procuram divertir e desafiar a censura pelas suas alusões e ataques políticos. Com mais de uma centena de peças, destacam-se La belle Hélène (1864), La vie parisienne (1866) e La Périchole (1868). No final da sua vida, compôs uma ópera fantástica, Les contes d'Hoffmann (1881), que evoca as obras do início do movimento romântico.

MEYERBEER E A “GRANDE ÓPERA”.
Falar da “grande ópera” francesa é falar de luxo e de pompa, de grandes efeitos dramáticos, tanto musicais como cénicos, para impressionar o público, de um tom geral grandiloquente e de grandes vozes que não poupam no seu espetáculo, de grandes movimentos de massas e de bailados sumptuosos.
Foi Giacomo Meyerbeer (1791-1864) que lançou as bases deste tipo de ópera, imbuída de um certo romantismo conservador. Graças à sua formação com mestres alemães e italianos, o seu estilo musical combinava o sentido de harmonia dos primeiros com a inspiração e a expansão melódica dos segundos. As suas duas melhores obras são Robert le diable (1831) e Les Huguenots (1836). A primeira é uma ópera tipicamente romântica, ambientada na Idade Média e dominada por elementos fantásticos, marcada pela luta do homem contra as forças do mal. A segunda, criticada por muitos pelo uso excessivo de efeitos espetaculares, é considerada por outros como uma das maiores obras da “grande ópera” francesa.

GOUNOD, E O DRAMA LÍRICO
Em meados do século, o espírito tradicional da ópera romântica teve a sua continuação no drama lírico, que fundiu elementos da “grande ópera”, da ópera cómica e até da tragédia lírica de Lully. Como continuação do espírito romântico, os temas preferidos do drama lírico são a história, as lendas e os episódios fantásticos, mas a estes juntam-se mais tarde fontes do romance e do realismo. As óperas de drama lírico são obras que não pertencem nem ao género sério nem ao cómico. Trata-se de composições dramáticas refinadas e precisas, que se orientam para as personagens e são psicologicamente carregadas. O iniciador do drama lírico é Charles Gounod (1818-1893) e a sua obra mais representada, Fausto (1859), que foi a primeira a atingir o sucesso, baseia-se no drama de Goethe.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

Charles Gounod: Faust (1859)
conducted by Alain Altinoglu
Opera national de Paris: 2011


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