Uma Pequena História da Música [56]

Giuseppe Verdi

A obra de Giuseppe Verdi (1813-1901) é o cruzamento onde se fundiram as diferentes tendências que dominaram a ópera italiana nas primeiras décadas do século XIX, servindo também de elo de ligação entre os seus antecessores, Rossini, Donizetti e Bellini, e o homem que seria o seu grande continuador, Puccini.

Verdi nasceu no seio de uma família modesta da pequena cidade de Roncole, província de Parma, Itália. O seu pai, vendo o amor de Giuseppe pela música, comprou-lhe uma espineta em segunda mão.
Um rico comerciante, Antonio Barezzi, com cuja filha Verdi casaria em 1836, reconheceu o talento do jovem e tornou-se seu patrono, proporcionando-lhe estágios com vários mestres. A sua primeira ópera, Oberto (1839), estreou no La Scala de Milão e foi um grande sucesso, mas a sua seguinte, Un giorno di regno (1840), uma comédia musical, foi um enorme fracasso.

O CORO DOS ESCRAVOS
O renascimento após esse fracasso veio com Nabucco (1842), que foi muito bem recebido pelo público italiano. O seu enredo, baseado no cativeiro dos judeus na Babilónia, despertou imediatamente a imaginação do público italiano, que se solidarizou com o sofrimento dos judeus, sentindo-o semelhante à opressão do seu próprio país, em luta com os austríacos. O famoso refrão dos escravos, "Vapensiero", foi repetido a pedido popular no mesmo dia da estreia, embora as repetições fossem proibidas, e no dia seguinte foi cantado nas ruas de Milão.

A TRILOGIA MAIS POPULAR
Rigoletto (1851), La Traviata (1853) e Il Trovatore (1853) são as três óperas mais famosas de Verdi. Existem grandes semelhanças entre elas: os mesmos princípios de composição, belas melodias sobrepostas a ritmos típicos de dança ou marcha e coros solenes, populares ou religiosos. Mas há também diferenças na abordagem das personagens principais, com uma inspiração claramente romântica em Rigoletto, dramática em La Traviata e muito mais turbulenta em Il Trovatore.
O caso de La Traviata merece uma nota à parte, pela sua delicadeza e lirismo, que já se manifestam na abertura. Verdi tinha assistido a uma representação de A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, em Paris, e ficou tão impressionado que decidiu compor uma ópera com base nesse enredo. Verdi viu uma forte semelhança entre a falsa moral burguesa retratada na peça e os mexericos que rodeavam o seu caso amoroso com a prima donna Giuseppina Strepponi, com quem acabaria por casar em 1859. O compositor demorou apenas um mês e meio a concluir a sua ópera e estreou-a em Veneza: foi um fracasso.

TRÊS ÓPERAS "IRREGULARES
Entre 1856 e 1866, Verdi reduziu drasticamente a sua produção e compôs apenas três óperas muito irregulares: Simon Boccanegra (1857), O Baile de Máscaras (1859) e A Força do Destino (1862). A primeira, escrita em Paris, nunca foi bem recebida. A segunda foi estreada em Roma e foi, sem dúvida, a melhor deste período. Com a A Força do Destino, estreada em São Petersburgo, Verdi quis afirmar a supremacia da ópera italiana sobre a ópera alemã de Wagner e a da escola russa, liderada por Mussorgsky.

MATURIDADE MUSICAL
O último período musical de Verdi, em que alcançou um domínio perfeito da ação dramática e dos meios musicais, começou com Don Carlo (1867), baseada nos conflitos entre o infante Carlos de Áustria e seu pai, Filipe II de Espanha, quando Isabel de Valois, noiva do filho, acaba por casar com o pai. A esta ópera seguiu-se Aida (1871), encomendada pelo quediva do Egipto para ser estreada no Cairo, por ocasião da abertura do Canal do Suez. Contrariamente ao que se poderia pensar a partir dos cenários evocativos e exóticos em que a obra se insere, a música é inteiramente "europeia". Pode ser considerada uma síntese entre a ópera francesa, na sua decoração e triunfalismo, a ópera italiana, na importância do canto e da orquestra, e as novas tendências da ópera alemã, na unidade dramática do conjunto.
Durante quinze anos após a estreia de Aida, Verdi não escreveu óperas, embora em 1874 tenha composto um magnífico Requiem para o aniversário da morte do poeta e romancista Alessandro Manzoni, por quem sempre sentiu grande estima. As suas duas últimas óperas, Otello (1887) e Falstaff (1893), ambas estreadas no La Scala de Milão, são o auge da sua produção.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

Giuseppe Verdi: Nabucco, Va pensiero
conducted by Riccardo Muti
Coro e Orchestra del Teatro dell'Opera di Roma, Teatro Costanzi, luglio 2013


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