Uma Pequena História da Música [55]
Gioachino Rossini
Chamado o “Cisne de Pesaro”, Rossini foi a figura de proa da ópera italiana entre 1810 e 1830, e o compositor que lhe restituiu a hegemonia perdida. O seu género por excelência foi a ópera buffa, na qual alcançou uma subtileza e uma beleza melódica semelhantes, em alguns aspectos, às de Mozart.
A vida de
Rossini (1792-1868) foi sempre cheia de
vicissitudes que começaram quando ele era
apenas uma criança. Filho de um
instrumentista e de uma cantora, o pequeno
Gioacchino cedo os surpreendeu com o seu
extraordinário génio musical. O seu pai,
alguns amigos instrumentistas e o cónego de
Pesaro, a sua cidade natal, foram os seus
primeiros professores. Quando a família se
mudou para Bolonha, Rossini, com doze anos,
começou a estudar canto e entrou no Liceu,
tomando Mozart e Haydn como modelos para a
sua aprendizagem.
Ao mesmo tempo, para
ajudar as finanças da família, actuava como
cantor em igrejas, apresentava-se em palco e
dirigia uma orquestra amadora. Nesta fase,
ainda estudante, compôs a sua primeira
ópera, La cambiale di matrimonio
(1810), e teve tanto êxito que dedicou todos
os seus esforços à composição com tal
entusiasmo que, entre 1810 e 1813, escreveu
mais oito óperas.
TANCREDI, O INÍCIO
DA MUDANÇA
Todas estas composições
valeram-lhe uma merecida reputação que lhe
permitiu estrear a sua ópera Tancredi,
baseada num texto de Voltaire, em Veneza, em
1813. Esta obra marcou o início da
transformação da ópera buffa italiana, um
género que, a partir de então, teria Rossini
como mestre indiscutível. A este sucesso
seguiram-se outras obras: L'italiana in Algeri e Aureliano
in Palmira,
ambas de 1813, e Il turco in Italia
e Sigismondo, de 1814.
DESENVOLVIMENTO DRAMÁTICO
Em 1815,
Rossini foi contratado como diretor musical
em Nápoles pelo empresário Domenico Barbaia.
Esta posição permitiu-lhe contar com as
melhores vozes da época para as suas óperas,
que muitas vezes gostavam de se exibir e
exagerar. Talvez por isso Rossini, a partir
dessa altura, tenha fixado por escrito os
ornamentos vocais em todas as suas
partituras. Entre as cantoras com quem
trabalhou nesta altura estava a espanhola
Isabella Colbran, amante de Barbaia e, mais
tarde, primeira mulher do músico.
Outra
das alterações que Rossini introduziu na
ópera para melhorar o seu desenvolvimento
dramático foi o aumento da participação da
orquestra que, através de pequenas variações
de ritmo, crescendo e acompanhando motivos
facilmente identificáveis com os sentimentos
mais básicos (medo, tristeza, alegria),
conseguia transmitir ao espectador, com
grande intensidade, toda a atmosfera da ação
cénica. Por outro lado, a partir de Otello
(1816), começou a modificar a divisão
tradicional da ópera, eliminando o
recitativo seco e alongando as árias.
O APOGEU DO GÉNERO
Com O Barbeiro
de Sevilha (1816), a mais célebre ópera
de Rossini, o compositor marcou o apogeu do
género, embora as primeiras representações
não tenham sido muito aplaudidas pelo
público, talvez porque a obra, baseada na
trilogia de Pierre-Augustin Caron de
Beaumarchais, já tinha sido musicada por
Giovanni Paisiello, um compositor da época.
Desde então, porém, tem sido aclamada como
uma das obras-primas da ópera cómica, quer
pelo tratamento do enredo, quer pelo
brilhantismo da sua música. A esta ópera
seguiram-se, entre outras, Cinderela
(1817), Armida (1817), Mosè in Egitto (1818), Semiramide (1823) e
Le comte Ory
(1828).
REFORMA BEM SUCEDIDA
Em 1829, com
trinta e sete anos, Rossini compõe aquela
que seria a sua trigésima nona ópera, e a
última da sua carreira, Guilherme Tell,
baseada no drama de Friedrich Schiller. Com esta obra,
abandonou o estilo da comédia musical e
compôs uma grande ópera dramática.
Apesar
do seu grande sucesso, Rossini decidiu
abandonar completamente a sua carreira
operática – segundo alguns, intimidado pela
crescente fama de Giacomo Meyerbeer. A
partir de então, escreveu apenas uma peça de
música sacra e algumas composições para
piano. Viveu os últimos quarenta anos da sua
vida entre Itália e Paris, e perto de Paris,
em Passy, morreu em 1868. Enquanto milhares
de vozes cantavam a oração do seu Moisés,
foi enterrado no cemitério parisiense
Père-Lachaise. Os seus restos mortais foram
transferidos em 1887 para Florença, onde
repousam na Basilica di Santa Croce.
Gioachino Rossini: The Barber of Seville, Overture
conducted by Jacopo Sipari di Pescasseroli
Qatar Philharmonic Orchestra, 2017
Uma Pequena História da Música
- Ano VI • 61 • junho 2024