Uma Pequena História da Música [53]
Richard Wagner
Foi compositor e maestro, poeta, dramaturgo e ensaísta, cenógrafo, filósofo, político e criador daquilo a que chamou “drama musical” (ópera). Sem dúvida, um titã do século XIX, difícil de englobar, uma figura e uma obra que teve, e ainda tem, apoiantes e detractores.
Solitário e
idealista, agressivo e direto, com uma vida
turbulenta marcada pelo amor e pelo
desgosto, pela pobreza e, sobretudo, pelo
exílio político, Richard Wagner (1813-1833)
é uma personagem única e controversa, um
artista que esteve em conflito com todos
devido à singularidade da sua abordagem,
amado ou desprezado, mas que, apesar destes
factores contra si, alcançou importantes
realizações que tiveram um grande impacto na
história da música.
A “OBRA DE ARTE
TOTAL”
Como muitos dos seus
contemporâneos românticos, Wagner sentia uma
dupla vocação, literária e musical, e sempre
defendeu que o texto tornava a música mais
frutuosa. Mas foi mais longe do que os
outros, postulando a ideia da “obra de arte
total”, ou seja, aquela que reúne todos os
elementos da arte (palavra, música, cenário,
imagem, gesto e ação) sob a supremacia do
drama. Esta convicção conduziu-o
irrevogavelmente para a ópera, um género de
música teatral em que uma ação cénica é
harmonizada, cantada e acompanhada por
instrumentos. Os temas das suas obras
inspiravam-se em modelos românticos
(mitologia, magia e lendas populares) e as
ideias eram encarnadas em personagens, ações
ou objetos simbólicos. O conjunto da obra
tinha uma forte carga semântica, que se
exprimia musicalmente no leitmotiv.
Este termo refere-se a melodias ou
sequências tonais curtas que estavam
associadas a traços de carácter específicos,
elementos de enredo ou ideias políticas ou
filosóficas e que se repetiam ao longo da
obra. Embora alguns aspetos da conceção de
Wagner da “obra de arte total” possam ser
contestados pelos especialistas, todos
concordam com a contribuição decisiva do
músico para a harmonia e a instrumentação. A
sua nova linguagem musical assenta numa
harmonia funcional enriquecida por um
extraordinário cromatismo, e o alargamento e
a criação de novos registos e cores na
orquestra permitem-lhe uma maior riqueza e
diversidade na expressão de nuances e
atmosferas.
DRAMAS MUSICAIS
O
principal legado musical de Wagner são as
suas óperas, ou dramas musicais, como lhes
chamava. De acordo com a sua conceção de
“obra de arte total”, escreveu ele próprio
os libretos. Mandou mesmo construir a sua
própria casa de ópera em Bayreuth para
encenar as suas obras tal como as imaginava.
As óperas de Wagner podem ser divididas em
três períodos. O primeiro deles compreende
as suas obras de juventude (até cerca de
1842), que são o produto de uma síntese de
estilos existentes. Das produções desse
período, apenas Rienzi (1842)
permaneceu nos programas.
O segundo
período (1843-1851) representa a transição
da ópera romântica para o drama musical, no
qual Wagner produz as suas primeiras
obras-primas. Este período começa com a
estreia de O Holandês Voador (Der
Fliegende Holländer, 1843) e
continua com Tannhäuser (1845) e
Lohengrin (1850). Nestas obras podemos
ver claramente como o compositor evolui
progressivamente na sua orquestração,
utilização de leitmotivs e cenografia
até Lohengrin, que marca a rutura
definitiva com a ópera romântica e reúne já
todos os elementos do drama musical
wagneriano.
As óperas do terceiro e
último período (1851-1882) são, por um lado,
altamente subjetivas, como se pode ver em
Tristão e Isolda (1859), baseada num
poema arturiano de Godofredo de Estrasburgo,
e que reflecte a relação tempestuosa do
compositor com Mathilde von Wesendonck e a
angústia da separação da sua primeira
mulher, e, por outro lado, uma carga
historicista, de que a tetralogia O Anel
do Nibelungo, composta por O Ouro do
Reno (1869), A Valquíria (1870),
Siegfried (1876) e O Crepúsculo
dos Deuses (1876), é um reflexo fiel.
Os Mestres Cantores de Nuremberga
(1867), e Parsifal (1882), baseado no
poema épico medieval (século XIII)
Parzival de Wolfram von Eschenbach,
ambientado na corte do Rei Artur, também
pertencem a este período.
Richard Wagner: Der Ring des Nibelungen
conducted by Markus Stenz
Radio Filharmonisch Orkest
Uma Pequena História da Música
- Ano V • junho 2024