Uma Pequena História da Música [50]

Franz Liszt

Pianista excepcional, com a melhor técnica do seu tempo e talvez de todos os tempos, Liszt deixou um importante legado de quatrocentas obras originais, bem como muitas transcrições e arranjos. Foi o inventor do poema sinfónico e um renovador no campo formal, dotado de uma grande capacidade de descrição através da sua música.

Liszt (1811-1886) nasceu em Raiding, na Hungria. O seu pai, um oficial da corte de Nicolau II Esterházy, era um grande amante da música e tocava piano, violino, violoncelo e guitarra. Rapidamente descobriu os dotes musicais do filho e tornou-se o seu primeiro professor. Mas como isso não era suficiente para o talento de uma criança prodígio, a família mudou-se para Viena para que Franz estudasse piano com Karl Czerny e composição musical com Antonio Salieri. Em 1823, a família trocou Viena por Paris, pensando em promover o futuro do seu filho. Rapidamente se tornou um artista célebre na capital parisiense e iniciou uma digressão de concertos por França, seguida de uma digressão por Inglaterra. A morte do pai marcou o fim da sua carreira de concerto como criança prodígio.

ARTISTA DE GÉNIO
De regresso a Paris, Liszt faz amizade com Chopin e Berlioz, cuja influência foi notável na formação musical do jovem. Tal como Paganini: depois de assistir a um dos concertos do violinista, Liszt propôs-se alcançar no piano os incríveis efeitos que o virtuoso conseguia no violino. E conseguiu-o, por exemplo, nas suas impressionantes Valsas de Mefisto. Durante este período, Liszt compôs, ensinou piano e composição e viveu de acordo com o protótipo romântico, frequentando os círculos boémios, bebendo e apaixonando-se. Foi também nesta altura que, após uma desilusão amorosa, voltou a contemplar a ideia de se tornar padre, que já tinha considerado anteriormente. Estes três pilares: a música, o amor e a religião, tornar-se-iam uma presença constante na sua vida.

A CONDESSA MARIE D'AGOULT
Em 1834, Liszt iniciou o que viria a ser uma longa relação amorosa com a Viscondessa de Flavigny, Marie d'Agoult, que na altura era casada. Em 1835, após a morte do marido e muda-se para Genebra com o músico. Desta união nasceram três filhos: Blandina, Cosima (que se tornou esposa primeiro de Hans von Bülow e mais tarde de Richard Wagner) e Daniel. Entretanto, Liszt continuou a sua imparável carreira de sucesso, iniciando uma nova digressão de concertos pela Europa em 1839. O seu virtuosismo ao piano causou sensação, era admirado e as suas actuações eram aguardadas com grande expectativa. Durante esta digressão de concertos, o músico teve várias amantes e, em 1844, Liszt e Marie d'Agoult romperam definitivamente a sua relação.

WEIMAR E OS POEMAS SINFÓNICOS
Em 1847 Liszt conheceu a princesa Carolyne Sayn-Wittgenstein, com quem permaneceu quase até ao fim da sua vida. Ela convenceu-o a abandonar os concertos e a dedicar-se exclusivamente à composição e à direção de orquestra na corte de Weimar. Durante os doze anos seguintes, Liszt tornou-se num dos mais proeminentes representantes da Nova Escola Alemã, e pianistas e compositores afluíram a Weimar para terem aulas com ele. Foi um período frutuoso em que compôs grandes obras orquestrais, incluindo doze dos seus treze poemas sinfónicos, um género do qual é considerado o inventor. Mas o sucesso e a estima de que gozava em Weimar foram minados pelo escândalo da sua intenção de casar com a princesa, o que exigia que ela anulasse o seu casamento anterior, ao qual o seu ainda marido se opunha. A defesa acérrima que Liszt fazia de Wagner, na altura um exilado político, também não ajudou. Liszt abandona assim Weimar e o seu posto em 1861.

O SEU ÚLTIMO PERÍODO
Durante oito anos, reside em Roma, onde compõe sobretudo música religiosa. Em 1865, recebe as ordens religiosas menores e torna-se o "abade" Liszt, o que não o impede de se dedicar a prazeres mais terrenos. Em 1869 é convidado a ir a Weimar e, em 1871, a Budapeste, para dar aulas de piano. A partir de então, a sua vida é passada a viajar entre Roma, Weimar e Budapeste.

Franz Liszt (1811-1886) : Khatia Buniatishvili, Piano Concerto no. 2
L'Orchestre de Paris, Andrey Boreyko (dir.)


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