Uma Pequena História da Música [47]

Hector Berlioz

Se alguma coisa se destaca em Berlioz, é a sua tendência para o drama, para a expressão teatral da sua música, que se reflete claramente nas suas melodias, na sua crítica musical e em todas as obras que produziu. Era um mestre da orquestração e o tratado que escreveu sobre o assunto serviu de guia para os músicos românticos e para a escola russa.

Berlioz nasceu numa pequena aldeia dos Alpes franceses. Desde muito cedo foi um leitor voraz, admirador de Virgílio, Shakespeare e Goethe.
Embora também gostasse de música, nunca aprendeu a tocar piano, apenas teve aulas de flauta durante um ano, e a guitarra foi o único instrumento em que fez progressos.

MÉDICO OU MÚSICO?
O seu pai era médico e, desejando que o filho continuasse essa tradição, enviou-o para estudar em Paris. Mas o jovem Berlioz não gostava dessa carreira e o seu desejo era tornar-se músico, pelo que, apesar do desagrado da família, abandonou a medicina e inscreveu-se no Conservatório de Paris para estudar composição. Aí, revelou-se um aluno problemático, pois a sua conceção da música diferia da abordagem tradicionalista da instituição. No entanto, era um músico talentoso e, em 1830, recebeu o seu primeiro reconhecimento ao ser galardoado com o Prix de Rome.

SYMPHONIE FANTASTIQUE
A primeira grande obra de Berlioz foi a Symphonie fantastique (1830), uma das composições mais originais e revolucionárias de toda a sua carreira. A inspiração para esta obra monumental foi encontrada no amor, como não poderia deixar de ser para um artista totalmente imbuído do espírito do Romantismo. A sua musa foi a atriz irlandesa Harriet Smithson, por quem se apaixonou depois de a ver representar Shakespeare num teatro em Paris. O músico escreveu-lhe cartas apaixonadas, mas a atriz rejeitou-o. Mais tarde, porém, quando ouviu a incrível sinfonia que ela tinha inspirado, retribuiu-lhe o amor e casaram-se.
A Symphonie fantastique representa muito bem a conceção musical de Berlioz: para ele, a estrutura musical só fazia sentido se fosse apoiada por um texto escrito que a justificasse. Por isso, os espectadores tinham de ler previamente o panfleto escrito pelo compositor, no qual ele explicava o "argumento" da sua sinfonia, quais tinham sido as suas intenções ao compô-la.

OUTRAS GRANDES OBRAS
Diz-se que, em 1834, Paganini encomendou a Berlioz a composição de Harold en Italie, baseada numa obra de Byron. O músico escreveu uma grande sinfonia concertante em que a maior parte dos solos eram para viola. Paganini ficou tão desiludido com a escolha do instrumento solista que nunca chegou a tocar a peça. No entanto, manteve-se amigo do músico e até lhe deu vinte mil francos em 1838 para que abandonasse qualquer outra atividade que não fosse a composição musical. E assim Berlioz o fez, e em 1837, encomendado pelo governo francês, compôs o seu monumental Requiem, uma obra cuja execução exigia uma orquestra de duzentos e vinte músicos e um coro de duzentas vozes. Em 1839 estreou Roméo et Juliette, uma sinfonia coral de grande envergadura para solistas, coro e orquestra, e em 1841 completou Les nuits d'été, um ciclo de canções com acompanhamento de piano que orquestrou em 1856, sendo esta a forma mais conhecida atualmente. É de notar que Berlioz era um mestre da orquestração e da instrumentação, apaixonado mas meticuloso, e já em 1844 tinha escrito um ensaio pioneiro sobre estes temas que continua a ser uma referência importante para os compositores de hoje.

A ÓPERA LES TROYENS
O casamento de Berlioz e Harriet terminou em 1844, e pouco depois o músico voltou a casar-se, desta vez com Marie Recio, que conhecera em 1841. Esta mudança no plano pessoal não parece tê-lo afetado muito no plano profissional, pois continuou as suas digressões de concertos na Alemanha, Inglaterra e Rússia, países onde a música de Berlioz foi durante muito tempo muito mais apreciada do que em França.
Em 1856, o compositor embarcou naquela que viria a ser uma das suas obras-primas: a ópera Les Troyens. Demorou três anos a concluí-la e parece que utilizou como modelo as óperas clássicas de Gluck e não as românticas do seu tempo. O compositor morreu em Paris em 1869 e foi enterrado em Montmartre, ao lado das suas duas mulheres, que morreram antes dele.

Hector Berlioz: Symphonie Fantastique
dirigé par Myung-Whun Chung
Orchestre Philharmonique de Radio France
Enregistré le 13 septembre 2013 à la Salle Pleyel (Paris).


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