Uma Pequena História da Música [45]
Franz Schubert
A sua obra é considerada a introdutora do romantismo musical, embora Schubert ainda cultivasse algumas formas clássicas. Apesar da magnífica qualidade e beleza das suas composições, não conseguiu alcançar a fama no seu tempo, talvez devido ao seu carácter tímido e à falta de virtuosismo instrumental.
Franz Schubert (1797-1828) nasceu num
subúrbio de Viena, no seio de uma
família humilde. Aprendeu a tocar piano
e violino, mas vendo que rapidamente
ultrapassava todos os outros, os seus
pais obtiveram uma bolsa de estudos para
que estudasse música, ao mesmo tempo que
entrava no coro do Colégio Imperial de
Viena. Aí conheceu Antonio Salieri e,
sob a sua tutela, familiarizou-se com as
obras de Haydn e Beethoven, tendo
escrito os seus primeiros lieder
(canção lírica curta cuja letra é um
poema musicado e escrito para voz solo e
acompanhamento, geralmente piano.) e uma
série de quartetos. Abandonou a escola
aos dezasseis anos para regressar a casa
e trabalhar como professor na escola do
pai.
SCHUBERT E GOETHE
Nos cinco anos seguintes, para além das
suas funções de professor, dedica-se à
música e, movido pela sua inesgotável
criatividade, compõe cinco sinfonias,
seis óperas e 300 lieder, que viriam a
dar a conhecer o seu génio. Entre os
lieder deste período encontram-se várias
das suas obras-primas, como Gretchen
am Spinnrade (Gretchen na roda de
fiar, 1814) e Der Erlkönig (O
Rei Elfo, 1815), ambas baseadas em
poemas de Goethe.
A sensibilidade de
Goethe despertou o interesse de Schubert
pelos poetas do seu tempo. Combinando a
lírica com o seu sentido de melodia e
movimento, a sua capacidade única de
criar a melhor interação possível entre
o cantor e o pianista, o seu domínio da
narrativa e das nuances de mudança,
Schubert conseguiu dar ao lied um poder
e uma qualidade nunca antes alcançados.
BOÉMIA E POBREZA
Em 1816, o seu
trabalho na escola tornou-se monótono e
decidiu abandoná-lo para se dedicar
inteiramente à música. Estabelece-se em
Viena com o seu amigo Franz von Schober,
que o ajuda a divulgar as suas obras e o
introduz nos meios culturais da cidade.
Aí viveu rodeado de intelectuais e
artistas, partilhando animadas reuniões
em cafés, entregando-se ao álcool e a
amantes ocasionais, mas tudo isto não o
impediu de continuar a compor inúmeras
obras. Mas a alegria e a jovialidade de
Schubert perante os seus conhecidos não
correspondiam às difíceis condições em
que vivia. Não conseguiu publicar muitas
das suas obras, os seus recursos
financeiros eram muito escassos e viu-se
obrigado a viver da generosidade de
amigos que o acolhiam em suas casas.
UMA MORTE PREMATURA
Em 1823,
Schubert contraiu sífilis e, embora
vivesse angustiado por esta doença
deformante e pela certeza de que o seu
fim se aproximava, não deixou de compor.
Desses anos datam algumas das suas obras
mais fáceis, como o ciclo de lieder
Die schöne Müllerin (A Bela
Moleira, 1823), o quarteto de cordas
Der Tod und das Mädchen (A Morte e
a Donzela, 1824), um outro segundo ciclo
de lieder, neste caso com um tom
trágico, intitulado Winterreise
(Viagem de inverno, 1827) e várias
composições para piano, como
Impromptus e Moments Musicaux,
ambos de 1827, que serviram mais tarde
de modelo para as baladas de Chopin e
Brahms.
Schubert morreu em 1828, com
apenas trinta e um anos, aparentemente
devido a complicações de sífilis e febre
tifoide.
A MÚSICA DE SCHUBERT
O ideal
romântico permeia a música de Schubert,
como no lied Auf dem Wasser zu
singen (Para cantar sobre as
águas), em que a música consegue
refletir esse espírito do herói
atormentado, em que a paixão se conjuga
com a calma. E também se reflecte nos
poemas compostos pelo músico como
prefácio às suas sinfonias, sonatas e
peças de música de câmara.
A sua
produção inclui 600 lieder, várias
óperas, missas, quartetos, quintetos e
trios, sonatas e outras composições para
piano, dez sinfonias e três aberturas.
Ave Maria de Franz Schubert por Andrea Bocelli
Uma Pequena História da Música
- Ano V • março 2024