Uma Pequena História da Música [42]

Ludwig van Beethoven

Beethoven faz parte de um pequeno grupo de compositores considerados os maiores da história da música clássica. A sua obra, desenvolvida durante o período clássico até ao início do movimento romântico, teve uma grande influência nos compositores posteriores.

Beethoven (1770-1827) nasceu em Bona, filho de um cantor ao serviço da corte do Eleitor de Colónia. Embora o seu pai fosse alcoólico e um homem de carácter fraco, apercebeu-se rapidamente das qualidades musicais do filho e, querendo que ele imitasse Mozart como criança prodígio, ensinou-o a tocar piano, cravo e clarinete.

ENCONTRO DE GÉNIOS
Mais tarde, Neefe, o organista da corte, vendo o talento do jovem Beethoven, instruiu-o na composição musical e noutras matérias, e ajudou-o a conseguir um lugar como tocador de viola na corte. Em 1787, com o apoio financeiro do conde Ferdinand von Waldstein, mudou-se para Viena, onde conheceu Mozart, que ficou impressionado com as improvisações ao teclado do jovem Ludwig. Mas este primeiro contacto não teve continuidade porque a mãe de Beethoven morreu e ele teve de regressar a Bona. Só pôde regressar a Viena em 1792, altura em que Mozart já tinha morrido. Recorreu então a Haydn para ter aulas de composição, mas os dois homens tinham um carácter muito forte e não se entenderam. No final, foi Johann Albrechtsberger quem assumiu as suas aulas.

A FAMA COMEÇA... E A SURDEZ
Nessa altura, Beethoven começa a emergir como pianista. O que lhe faltava em termos de estudo formal, compensava-o com a sua paixão e dinamismo. A sociedade vienense rendeu-se ao seu talento em 1795, quando apresentou pela primeira vez uma obra que tinha composto: o Concerto para piano n.º 2. Seguiram-se as sonatas para piano, violoncelo e violino e, em 1800 e 1801, as suas duas primeiras grandes obras: a Primeira Sinfonia e a primeira série de quartetos de cordas. Beethoven foi o primeiro músico independente a ter sucesso em Viena. Em vez de procurar uma posição na corte, rodeou-se de amigos aristocráticos ricos, e mecenas, a quem dedicou as suas primeiras composições em troca de apoio financeiro.
No início de 1798, ao mesmo tempo que começava a colher triunfos como músico, começou a sentir um zumbido gradualmente crescente nos ouvidos, anunciando a surdez que acabaria por sofrer. Desesperou-se tanto com a ideia de ficar surdo que chegou a pensar em suicídio. Mas a convicção de que ainda tinha muita música para escrever ajudou-o a continuar.

ACTIVIDADE CRIATIVA E PROBLEMAS
Os dez anos seguintes foram um prodígio de criação e viram nascer tantas obras-primas como nunca na história da música: da Segunda Sinfonia à Oitava, os Concertos para piano n.º 4 e n.º 5, um Concerto para violino, a ópera Fidelio, os três Quartetos de Corda Razumovsky, um grande número de sonatas para piano e muitas outras obras. Em 1812, a sua produção abrandou drasticamente, uma vez que se viu envolvido em numerosos processos judiciais e disputas, tanto pessoais como sobre direitos de autor. Estas dificuldades foram agravadas pela batalha que travou para obter a custódia do seu sobrinho Karl, após a morte do seu pai, Kaspar, irmão do compositor. Entre 1815 e 1820, foram necessários cinco anos de tentativas, mas acabou por ser bem sucedido. Em 1817, atormentado por problemas financeiros, voltou a intensificar a sua atividade de compositor, mas os tempos não foram fáceis. A maior parte de 1818 foi dedicada à colossal Sonata Hammerklavier, seguida nos anos seguintes, até 1824, pelas suas três últimas sonatas para piano, as Variações Diabelli, a Missa Solemnis e a Nona Sinfonia.

SEUS ÚLTIMOS ANOS
Nos seus últimos anos, Beethoven viveu num isolamento quase total devido à sua surdez, mas não deixou de compor. Regressou aos quartetos de cordas e, entre 1825 e 1826, produziu mais cinco obras, complexas mas cheias de serenidade. Em 1826, a saúde do compositor deteriorou-se rapidamente e a miséria em que vivia não contribuiu certamente para melhorar a sua situação. Nem os cuidados da sua família, nem os remédios médicos conseguiram evitar que o grande Ludwig van Beethoven morresse na sua casa em Viena, a 26 de março de 1827. No seu funeral, o Requiem de Mozart foi tocado para as mais de vinte mil pessoas que vieram despedir-se do músico.

A SUA OBRA
Embora o estilo de Beethoven tenha sido definido pelos modelos criados por Haydn e Mozart, os outros dois grandes mestres do Classicismo, ele foi muito mais longe. A sua música foi revolucionária em todos os aspectos, tanto a nível técnico como a nível da expressão das emoções.

UMA TÉCNICA INIGUALÁVEL
O génio musical de Beethoven foi muitas vezes comparado ao de William Shakespeare na literatura, pois ambos eram mestres no domínio de todas as formas de expressão da sua arte.
Tecnicamente, Beethoven foi capaz de superar os princípios musicais estabelecidos pelos seus antecessores, especialmente Haydn e Mozart. Eles mostraram que a melodia, por mais bela que fosse, não bastava por si só para prender a atenção do público por mais de um ou dois minutos, e nas suas composições, para sustentar estruturas de grande escala, utilizavam o princípio da tensão harmónica. Beethoven alargou este conceito e assim, por exemplo, para o primeiro andamento da sua Sinfonia Heróica (1803), compôs uma única peça de música ininterrupta de uma duração sem precedentes. Além disso, era capaz de criar estruturas grandes e complexas a partir de uma figura musical simples. Por exemplo, todo o primeiro andamento da composição é derivado das quatro notas com que abre a Quinta Sinfonia (1807), representando o destino a bater à porta. Uma das formas musicais em que a personalidade inovadora de Beethoven mais se manifestou foi nas sonatas para piano, obras magníficas que podem ser consideradas de transição entre o Classicismo e o Romantismo. Particularmente brilhantes são a Sonata Waldstein (1803), dedicada ao seu amigo Conde Waldstein, uma composição à qual deu proporções sinfónicas, e a intensa Appasionata (1804-1805), na qual introduziu novos extremos dinâmicos, quebrando a calma da abertura com súbitos fortissimos.

A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES
Outra caraterística que distingue as composições de Beethoven das de outros músicos do seu tempo é a sua expressividade emocional, a mensagem pessoal e subjectiva que transmitem. Por exemplo, é muito raro que a música de Haydn ou Mozart reflicta o que se passa nas suas vidas, principalmente porque compunham para satisfazer os seus patronos ou o público. Mas o caso de Beethoven é diferente. Ele não estava sujeito a nenhum mecenas, nem sequer pensava que tinha de agradar ao público. Por isso, através das suas composições podemos acompanhar as vicissitudes da sua vida privada, bem como os seus sentimentos mais íntimos. Por exemplo, o caso da Terceira Sinfonia, Heróica (1804), é uma indicação clara de que o compositor não hesitava em mostrar as suas convicções pessoais.
Originalmente, Beethoven dedicou esta obra ao jovem Napoleão Bonaparte, a quem admirava por considerá-lo um democrata e um libertador do povo; por isso, na primeira página da partitura escreveu como subtítulo: "Em memória de um grande homem". Mas mais tarde, quando soube que Napoleão se tinha nomeado imperador, ficou furioso e retirou violentamente a dedicatória da partitura.

UMA VASTA PRODUÇÃO
A obra de Beethoven abrange quase todas as formas musicais, embora a sua maior e melhor produção pertença ao género instrumental. Compôs trinta e duas sonatas para piano, dez para piano e violino, e cinco para piano e violoncelo, nove sinfonias, dez operetas, cinco concertos para piano, um para violino e um concerto triplo para violino, violoncelo, piano e orquestra, dezasseis quartetos de cordas, uma fuga para quarteto de cordas, uma ópera (Fidelio), duas missas, três cantatas e uma série de marchas e várias danças (rondós, polonaises, minuetos e também Ländlers).
As sinfonias são talvez as obras mais populares de Beethoven. As duas primeiras, escritas entre 1800 e 1802, seguem o modelo criado por Haydn, com uma introdução lenta no allegro inicial e frequentes formas de sonata, embora Beethoven já introduza algumas modificações. A Terceira sinfonia (1804), chamada Heróica, e a Quarta (1806) marcam o nascimento da sinfonia romântica. A Quinta sinfonia e a Sexta, chamada Pastoral (ambas de 1808), são obras muito diferentes: a primeira forte e violenta, a segunda suave e lírica. A Sétima sinfonia (1813) tem um ritmo dançante e é considerada a melhor por alguns estudiosos.
A Oitava Sinfonia (1814) é mais alegre e leve do que a anterior, e a Nona Sinfonia (1824), talvez a mais famosa e declarada Património Mundial pela UNESCO, é a única que inclui uma parte coral.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte

Beethoven: Symphony No. 7
Bernard Haitink & the Royal Concertgebouw Orchestra


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