Uma Pequena História da Música [41]
W. Amadeus Mozart
Todos os adjectivos são insuficientes para definir Mozart (1756-1791), um dos compositores mais influentes da história da música de todos os tempos. Foi um mestre em todos os géneros musicais que cultivou, estabelecendo padrões e referências que mais tarde inspiraram gerações de compositores.
Salzburgo, na Áustria, foi o local de
nascimento deste génio musical. O seu
pai era mestre de capela na corte do
Príncipe Arcebispo de Salzburgo e,
embora não fosse um compositor
excecional, era um bom professor. E não
encontrou melhor aluno do que o seu
pequeno Johannes Chrysostomus Wolfgangus
Theophilus Mozart (este era o seu nome
longo e verdadeiro), que tinha uma
aptidão tão prodigiosa para a música que
aos três anos já tocava piano e violino,
aos quatro tocava cravo e aos cinco
compunha. Sabia ler música, tinha uma
memória magnífica e uma grande
facilidade de improvisação.
A sua
irmã Maria Anna (apelidada de Nannerl),
três anos mais velha, era também uma
excelente tocadora de teclado. Ao ver o
que estes dois pequenos prodígios eram
capazes de fazer, o pai decidiu levá-los
numa digressão pelas principais cortes
europeias em 1762 para mostrar ao mundo
os talentos dos seus filhos.
A
GRANDE DIGRESSÃO
As cortes de Viena e
Munique foram os primeiros destinos da
digressão musical da família Mozart.
Encorajados pela extraordinária receção
que tiveram, no ano seguinte embarcaram
numa longa viagem musical que os levou a
Versalhes e a Londres. Em Londres,
Mozart (tinha apenas oito anos) conheceu
Johann Christian Bach, um dos filhos do
grande compositor, e, encorajado por
ele, compôs as suas três primeiras
sinfonias. Depois de visitar Haia, Paris
novamente, Zurique e Munique, a família
regressou brevemente a Salzburgo.
Esta longa digressão foi incómoda para
todos: condições de viagem difíceis,
longas esperas para obter autorização
para atuar e não menos longas esperas
para receber o pagamento. Mas isso não
os desencorajou e decidiram continuar
com três viagens a Itália (entre 1769 e
1773), embora nesta ocasião só viajassem
Mozart e o seu pai. Sucederam-se
sucessos: a admissão na Academia
Filarmónica de Bolonha, a nomeação como
Cavaleiro da Ordem da Espora de Ouro
pelo Papa Clemente XIV e a composição e
estreia com sucesso da ópera Mitridate, re di Ponto (1770), a que se seguiu
Lucio Silla (1772).
A DECEPÇÃO
O pai de Mozart gostaria de ter
conseguido um lugar para o seu filho em
Itália, mas não o conseguiu. Regressaram
a Salzburgo e ele conseguiu introduzi-lo
na corte como mestre de concertos. Foi
um período muito produtivo para Mozart
do ponto de vista musical, mas não muito
feliz do ponto de vista pessoal, pois
estava insatisfeito com o seu salário e
com a pressa necessária para concluir as
suas obras.
Em 1777, com vinte e
poucos anos, demite-se do seu posto e
parte numa longa viagem em busca de um
emprego mais satisfatório. Chega a
Paris, desta vez acompanhado pela sua
mãe, via Augsburgo e Mannheim. A viagem
é um fracasso; já não é um
"menino-prodígio". Para piorar a
situação, a sua mãe morre em 1778.
Desiludido, Mozart regressa a Salzburgo
em 1779 e trabalha durante dois anos
como organista para o arcebispo
Colloredo. As relações entre os dois não
eram boas, pois o arcebispo não gostava
da família do músico. No entanto, foi
durante este período que Mozart compôs
algumas das suas primeiras obras-primas.
Após os numerosos abusos e desprezos de
Colloredo, Mozart foi obrigado a
demitir-se.
ESTABELECIMENTO E
FAMA
Mais uma vez sem patrocínio,
Mozart fixou residência em Viena e a sua
situação começou a melhorar. Estreou a
ópera Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)(1782) com
grande sucesso e, no mesmo ano, casou-se
com Constanze Weber, com quem teve seis
filhos, dos quais apenas dois
sobreviveram.
Pouco depois, iniciou
uma série de concertos e espetáculos que
lhe permitiram viver confortavelmente,
continuar a aumentar a sua fama e
produzir as grandes composições que o
tornaram imortal. Finalmente, em 1787,
obteve um cargo oficial: compositor de
câmara do Imperador José II. O trabalho
era apenas a tempo parcial, e Mozart
queixava-se continuamente de que era mal
pago.
DIFICULDADES E MORTE
MISTERIOSA
Por volta de 1786, a vida
de Mozart tornou-se mais difícil. A
guerra entre a Áustria e a Turquia
exigia financiamento da aristocracia e,
como consequência, esta reduziu as suas
contribuições para a música. As atuações
e os concertos diminuíram e Mozart
viu-se obrigado a pedir dinheiro
emprestado em várias ocasiões. O músico
voltou a fazer longas viagens, como nos
seus primeiros tempos, em busca de
rendimentos e, apesar de ter tido
sucesso, dificilmente conseguiu atenuar
as dificuldades financeiras que
atravessava.
As suas preocupações não
o impediram de prosseguir uma atividade
composicional quase frenética; por
exemplo, a sua famosa ópera Die
Zauberflöte (A Flauta
Mágica) e o Requiem inacabado, entre
outros, datam do último ano da sua vida.
Mas a sua saúde estava a deteriorar-se
e, finalmente, em dezembro de 1791, com
apenas trinta e cinco anos de idade,
Mozart morreu.
A SUA OBRA
O legado de Mozart é
inestimável. No total, a sua obra
compreende mais de seiscentas criações,
incluindo sinfonias, concertos e sonatas
– especialmente para piano e violino –
música de câmara, óperas, serenatas,
marchas, adágios, divertimentos e muitas
outras, a maioria das quais reconhecidas
como grandes obras-primas da música
clássica universal. Para fazer um breve
esboço da produção musical de Mozart, é
preciso levar em conta dois aspetos
importantes. O primeiro é o perfeito
conhecimento que, graças às suas
viagens, tinha tanto das correntes
artísticas e dos artistas mais
importantes do seu tempo, como também
das grandes realizações do passado, como
as de Bach e Händel. Esta universalidade
de conhecimentos permitiu-lhe abordar
todas as formas musicais da época, o que
em parte o obrigou a fazer, e este é o
segundo aspeto a considerar, porque
nunca conseguiu um cargo importante e
teve de procurar encomendas e enfrentar
novas propostas.
PRODUÇÃO TEATRAL
E OPERÁTICA
A carreira teatral e
operática de Mozart começou em
Salzburgo, em 1766, com numerosas
encomendas do arcebispo, da universidade
e da burguesia da cidade, a maioria das
quais eram pequenas obras de Singspiel
(peças cantadas) e
ópera buffa (ópera cómica). Foi só em 1770, em Milão,
que o compositor estreou a sua primeira
ópera séria, Mitridare, re di Ponto
(1770), seguida em 1772 por Lucio Silla.
Esta última, em particular, mostra já as
características que se encontram nas
suas óperas posteriores.
A sua
primeira obra-prima do género lírico foi
Idomedeo, re di Creta (1781),
encomendada pela corte de Munique. A
partir de então, o sucesso sucedeu-se:
O
Rapto do Serralho (1782); As Bodas de
Fígaro (1786), que não entusiasmou o
público de Viena, mas que foi um êxito
estrondoso em Praga; Don Giovanni
(1787), uma versão do mito de Don
Giovanni em que este desce ao inferno
como castigo pelos seus pecados; Così
fan tutte (1790), encomendada pelo
imperador José II e que aborda com um
certo cinismo o tema da infidelidade; e
duas óperas mais sérias: La clemenza di
Tito e A flauta mágica, ambas de 1791.
MÚSICA RELIGIOSA
A maior parte da
música religiosa de Mozart, vinte missas
no total, foi escrita em Salzburgo antes
de 1780. Mais tarde, o compositor
regressou ao género sacro com a Grande
Missa em Dó menor (1782-1783) e o seu
extraordinário Requiem (1791), que nunca
chegou a completar.
MÚSICA
SINFÓNICA
A produção sinfónica de
Mozart, composta por quarenta e uma
obras, é muito variada. As primeiras
obras revelam o gosto do compositor pela
expressão dramática, como o demonstram a
Sinfonia em Dó maior K. 96 e a Sinfonia
em Sol menor K. 183.
Mais tarde, no
final de 1773, as suas peças parecem
inspirar-se no estilo galante, como a
Haffner Serenade K. 250 (1776), composta
para o casamento da filha do burgomestre
de Salzburgo. São muito notáveis: a
Sinfonia K. 365 para violino, viola e
orquestra (1780), a Sinfonia K. 385 de
Haffner (1782), na qual se pode apreciar
a influência de Haydn; a Sinfonia K. 425
de Linz (1783), com uma introdução muito
teatral, e a Sinfonia K. 504 de Praga
(1786).
Mas foram, sem dúvida, as
suas três últimas sinfonias, compostas
durante a primeira metade de 1788, nas
quais o génio criativo de Mozart, o seu
sentido dramático e lírico, e a
expressão de uma grande variedade de
sentimentos, melhor se refletem. São
elas a Sinfonia n.º 39, a Sinfonia n.º
40 em sol menor, e a Sinfonia n.º 41 em
dó maior, denominada Júpiter.
CONCERTOS
O virtuosismo de Mozart ao
piano, violino e órgão faz dos seus
concertos obras-primas do estilo
clássico, dotadas de clareza, equilíbrio
e transparência. Alguns são concebidos
no estilo de divertimento – como as
composições para violino e orquestra,
flauta e harpa, trompa e fagote, –
enquanto outros como os concertos para
piano e orquestra já definem o estilo do
compositor. Pode dizer-se que Mozart
criou o seu próprio estilo de concerto,
uma espécie de ópera sem letra baseada
na exposição de uma situação dramática.
OUTRAS OBRAS INSTRUMENTAIS
Para
além das obras instrumentais acima
referidas, Mozart compôs 19 sonatas para
teclado solo, numerosas variações, duas
fantasias e uma Suite em Dó maior.
No
domínio da música de câmara, nota-se uma
clara influência de Haydn, como na série
dos Seis Quartetos K. 168 a 173 (1773).
Dedicou ainda seis outros quartetos de
cordas a Haydn, entre os quais o
Quarteto K. 465, intitulado
Dissonâncias.
Em 1789 compôs para o rei Frederico da
Prússia os três Quartetos de Berlim,
para os quais escolheu o violoncelo como
instrumento solista. Também obras-primas
da música de câmara de Mozart são os
Quintetos de Cordas. O Requiem em Ré
menor K. 626, inacabado devido à morte
de Mozart a 5 de dezembro de 1791, foi a
sua última composição. Teve de ser
completada pelo seu aluno Franz Xaver Süssmayr.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J.L.Iriarte
Mozart: Eine kleine Nachtmusik in G major, KV 525
Concertgebouw Chamber Orchestra
Uma Pequena História da Música
- Ano V• fevereiro 2024