Uma Pequena História da Música [36]
Georg Friedrich Händel
Falar de Händel é falar de um dos grandes compositores do Barroco e da história da música. As suas obras são um compêndio de grandeza, sentido dramático e expressividade, talvez sem fórmulas inovadoras, mas integrando recursos e uma liberdade no tratamento de estilos consagrados que tornam as suas criações únicas.
Händel (1685-1759), juntamente com
Telemann e Bach, formam o trio do que
poderíamos chamar os "grandes mestres do
Barroco". Os três contemporâneos, os
três amantes da experimentação e os três
grandes conhecedores de todos os géneros
musicais, embora a música de cada um
deles seja marcada por um cunho muito
pessoal. Assim, se Telemann exprime
melhor o seu génio com a música
instrumental e Bach, como veremos mais
adiante, com a música sacra e
espiritual, em Händel o que domina é o
drama e a paixão como forma imperativa
de expressão de sentimentos.
SEGREDOS DE CRIANÇA
Händel nasceu na
cidade alemã de Halle. O seu pai era um
barbeiro e cirurgião de grande prestígio
na sua cidade e tinha o desejo de que o
seu filho, que nasceu quando já tinha
sessenta e três anos, pudesse vir a ser
um advogado rico e famoso. Mas o pequeno
Händel gostava era de música e
estudava-a em segredo; chegou mesmo a
ter um pequeno cravo no sótão da sua
casa, com o qual praticava às escondidas
de toda a gente.
Durante uma das
visitas do pai de Händel ao Duque de
Weissenfels, de que era barbeiro
oficial, o Duque ouviu o jovem tocar
órgão e, felizmente para a história da
música, convenceu o seu relutante pai
das extraordinárias qualidades musicais
do seu filho. A partir daí, Händel
estudou direito e música, dominando o
órgão, o violino e o cravo, bem como a
composição, sob a tutela do seu mestre
Friedrich Wilhelm Zachau.
PAIXÃO
PELA ÓPERA
Em 1702, foi admitido na
Universidade de Halle e, pouco depois,
foi nomeado organista da Catedral
calvinista de Halle. Um ano mais tarde,
mudou-se para Hamburgo para integrar a
orquestra de ópera como violinista e
cravista. Foi durante o seu mandato de
três anos que escreveu as suas primeiras
óperas: Almira e Nero.
Ansioso por alcançar a fama como
compositor de ópera, Händel mudou-se
para o berço do género, a Itália. Aí
permaneceu de 1706 a 1710, gozando do
patrocínio da nobreza e do clero e
conhecendo os mais famosos compositores
de ópera da época, como Corelli, Vivaldi
e Scarlatti. Durante este período
italiano, estreou uma das suas óperas
mais executadas, Agrippina, bem
como oratórias e mais de 150 cantatas.
Em 1710, de regresso ao seu país, foi
nomeado maestro na corte de Hanôver, mas
um ano mais tarde, depois de viajar para
Londres para produzir a sua ópera
Rinaldo e na sequência do seu
sucesso, Händel decidiu estabelecer-se
definitivamente em Inglaterra e, em
1727, o rei Jorge I concedeu-lhe a
cidadania britânica.
Em 1720, foi
encarregado de criar uma casa de ópera
real em Londres, a Royal Academy of
Music, para a qual dispunha de
excelentes músicos, dos melhores
cantores da época e do apoio financeiro
necessário para que o projeto fosse um
êxito. Händel escreveu catorze óperas
para esta instituição, como Giulio
Cesare in Egitto e Tamerlano,
e tornou-se famoso na Europa.
Händel
foi um grande mestre da ópera de estilo
italiano. Embora tenha assimilado esse
estilo, e mesmo usado a sua linguagem,
as cinquenta obras líricas que compôs
durante a sua vida não são propriamente
"italianas", mas são marcadas pela sua
personalidade excecional e pela
combinação de elementos da ópera alemã e
da tragédia lírica francesa.
OS
ORATÓRIOS
O legado musical de Händel
é imenso, incluindo óperas, sonatas,
concerti grossi, suites e um outro
género que ainda não mencionámos, o
oratório. O músico compôs trinta e
quatro oratórios com uma estrutura muito
semelhante à das suas óperas, embora com
uma maior presença de coros ligados à
ação e um carácter marcadamente épico no
tratamento das canções.
Exemplos
notáveis neste género são: Saul
(1738), Sansão (1743),
Judas Macabeu (1746), Salomão
(1748), Jefté (1751) e, claro,
o famoso Messias (1741),
incrivelmente composto em apenas um mês.
O próprio Händel disse a respeito do seu
famoso Coro Aleluia: "Quando o compus,
cheguei a ver o céu e até o próprio Deus
diante de mim".
Händel: As steals the morn (L'Allegro, HWV 55)
Amanda Forsythe & Thomas Cooley, Voices of Music
Uma Pequena História da Música
- Ano V• janeiro 2024