Uma Pequena História da Música [31]

Jacquet de la Guerre

Na época do Rei Sol, durante o apogeu da música barroca francesa, o talento de uma mulher como compositora e tocadora de cravo abriu as portas para uma fama tradicionalmente reservada aos homens.

Elisabeth Claude Jacquet de La Guerre nasceu a 17 de março de 1665 em Saint-Louis-en-Iîle, Paris, no seio de uma família dedicada à música: o seu pai era um organista de igreja muito conhecido e os seus três irmãos também se tornaram músicos.
Diz-se que foi uma criança prodígio, começando a tocar melodias em instrumentos de corda muito cedo. Diz-se mesmo que, quando tinha apenas cinco anos, o seu pai a apresentou ao rei Luís XIV como instrumentista num concerto de cravo. O monarca ficou tão impressionado com os talentos da "pequena maravilha", como a baptizou, que a fez ficar na corte de Versalhes, ao cuidado da Madame de Montespan, que a criou com os seus próprios filhos, e onde recebeu uma educação requintada, passando a fazer parte da mais culta sociedade francesa e do universo de Versalhes.

ANOS DE DOR
Em 1684, com dezanove anos, Elisabeth casa com o organista Marin de la Guerre e deixa a corte para se mudar para Paris com o marido. Os primeiros anos foram felizes. Durante esses anos, Elisabeth conciliou aulas particulares de música com o seu trabalho de compositora e concertista, o que lhe deu a oportunidade de ser ouvida por grandes músicos da capital parisiense, que puderam apreciar a sua excelente execução no cravo. Por esta altura, em 1687, publicou a sua primeira obra impressa, Premier livre de pièces de clavessin. Compôs também um bailado, Les jeux à l'honneur de la victoire (1691) e uma tragédia lírica, Céphale et Procris (1694).
Tudo parecia correr bem, mas a partir de 1700 a sua vida sofre uma viragem abrupta. Muitos dos seus familiares próximos morreram: sua mãe, pai, marido, o irmão e o seu único filho, de dez anos, que, tal como a mãe, se tinha destacado como criança prodígio no cravo.

REGRESSO À MÚSICA
Depois de se ter afastado do mundo da música durante alguns anos, em 1707 Elisabeth retoma a sua atividade profissional, pesquisando as novas formas italianas da sonata e da cantata. Foi nesta altura que publicou várias peças de música vocal, como La musette ou les bergers de Suresne (1713), Cantates françoises (1715), Te Deum (1721) e a coleção de canções Recueil d'airs sérieux et à boire (1710-1724). Compôs também música de instrução, incluindo seis Sonatas para violino e baixo contínuo (1707). Elisabeth Jacquet morreu em 1729, quando já estava completamente retirada da vida pública.

Elisabeth-Claude Jacquet de La Guerre, Violin sonata n.1 d moll

Daria Spiridonova violin
Nikolay Martynov harpsichord
live concertgebow amsterdam september 2021


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