Uma Pequena História da Música [27]
Antonio Vivaldi
É impossível tentar captar em tão poucas linhas a importância deste compositor, que foi não só uma das figuras mais importantes do período barroco, mas também de toda a história da música, mas se tivesse de destacar apenas um contributo, seria o de ter consolidado o género do concerto.
Há quem diga que a principal razão pela
qual podemos hoje apreciar o génio de
Antonio Vivaldi (1678-1741) foi o seu
pai, Giovanni Battista, que abandonou o
ofício de padeiro, tradicional na sua
família, para se dedicar à música. Quer
esta afirmação seja verdadeira ou não, o
facto é que foi ele que incutiu no filho
o amor pela música, o seu primeiro
professor, e que o encorajou a tomar o
hábito. Assim, o "padre vermelho",
alcunha pela qual António era conhecido
(era um padre de cabelo ruivo), acabou
por se tornar um homem religioso mais
preocupado com a música do que com os
seus deveres devocionais.
UMA
VIDA, QUATRO ETAPAS
A primeira delas
foi quando se tornou conhecido em toda a
Europa com a publicação de duas
colecções de sonatas para violino e duas
colecções de concertos para o mesmo
instrumento, nas quais o seu carácter
inovador já era evidente.
O segundo
período é marcado pelo seu contrato como
mestre de violino e maestro no Ospedale
della Pietá, um orfanato para raparigas
na cidade de Veneza, cargo invejado por
outros compositores. A relação de
Vivaldi com esta instituição foi
bastante complicada, mas isso não
impediu que a sua fama como compositor,
e mais ainda como violinista virtuoso,
continuasse a crescer.
O terceiro
período foi repleto de grandes sucessos
como compositor e empresário de ópera.
As suas composições são exuberantes e
cheias de dramatismo, dando grande
importância à voz, o que levou alguns
cantores à fama.
Muitas vezes
reservava para si um solo de violino, o
que causava a admiração de quem o ouvia.
Como empresário, desenvolveu uma tarefa
até então quase desconhecida, pois
produziu tanto as suas próprias óperas
como as de outros compositores. Estas
foram as chaves do seu sucesso: inovar e
surpreender.
O que é considerado a
sua quarta etapa corresponde à sua
consagração como compositor privado,
tanto de música instrumental como de
música vocal secular e religiosa. Foi um
período de grande atividade e produção,
e também muito lucrativo, graças a
numerosas encomendas a mecenas
abastados.
Finalmente, em 1740,
Vivaldi instalou-se em Viena e morreu um
ano depois. Após a sua morte, a sua obra
e o seu virtuosismo caíram no
esquecimento, depois de ter percorrido
toda a Europa sob o aplauso e a
admiração do público, até que, no século
XIX, alguns estudiosos trouxeram de novo
à luz as qualidades deste génio musical.
UMA OBRA COM UM CUNHO PESSOAL
Durante a sua vida, Vivaldi compôs cerca
de setecentas e setenta obras, das quais
quatrocentas e setenta foram concertos,
setenta sonatas, quarenta e seis óperas,
quarenta e cinco cantatas de câmara,
vinte e cinco motetos, oratórios e
outras composições vocais e
instrumentais. Esta abundante produção
permite-nos apreciar a facilidade de
escrita do compositor e a sua prodigiosa
invenção melódica.
Embora em todas as
suas obras se encontrem magníficos
exemplos da sua arte, são os concertos
que mais se destacam, pois foi com eles
que estabeleceu finalmente as
características deste novo género. Os
dois terços eram para vários
instrumentos solistas: violino, flauta,
violoncelo, oboé, fagote, bandolim, etc.
A sua principal inovação foi dar-lhes um
carácter mais dramático, criando um
forte contraste entre o allegro e o
adagio central. Mostrou também a sua
originalidade nos temas escolhidos e na
técnica instrumental, para a qual
desenvolveu solos de violino de grande
virtuosismo. A resenha da obra deste
compositor não pode terminar sem
mencionar o seu concerto mais popular e
mais conhecido, As Quatro Estações, uma
composição em que o instrumento solista
carrega todo o peso da melodia e a
composição e a orquestra fazem apenas o
acompanhamento.
QUATTRO STAGIONI
Possivelmente a obra mais conhecida do
grande público foi publicada pela
primeira vez em 1725, em Amesterdão, por
Michel-Charles Le Cène, mas o próprio
Vivaldi indicou, em vida, que os
manuscritos iniciais tinham sido
escritos antes, em homenagem ao Conde
Morzi.
É um exemplo típico de música
puramente descritiva. Por exemplo, o
"inverno" é frequentemente pintado com
cores escuras e sombrias, ao contrário
do "verão", que evoca o calor opressivo,
ou uma tempestade no seu último
andamento. Para a composição dos quatro
concertos, Vivaldi inspirou-se em quatro
sonetos escritos por um poeta anónimo
que descrevem os diferentes aspectos das
estações do ano.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
Vivaldi Four Seasons: L'Inverno
Hanneke van Proosdij
& David Tayler, directors
Cynthia Miller Freivogel, baroque violin,
Maria Caswell, baroque viola, Lisa Grodin, baroque violin,
Katherine Heater, baroque organ,
Carla Moore, baroque violin,
Maxine Nemerovski, baroque violin, Farley Pearce, violone,
Hanneke van Proosdij, Italian single manual harpsichord, Elisabeth Reed, baroque cello, David Tayler, archlute, Tanya Tomkins, baroque cello,
Gabrielle Wunsch, baroque violin
Uma Pequena História da Música
- Ano V• dezembro 2023