Uma Pequena História da Música [23]
Bárbara Strozzi
Com grande talento como
compositora, bom gosto como intérprete e
uma bela voz, Barbara Strozzi
(1619-1677) gozava da admiração e do
respeito dos seus contemporâneos, numa
época em que as mulheres não tinham
habitualmente acesso aos círculos
intelectuais e artísticos.
Nascida Barbara Valle, filha de uma
criada, a vida desta compositora e
cantora não teria sido a mesma se não
tivesse sido adoptada pelo poeta,
dramaturgo e libretista Giulio Strozzi,
que gozava então de grande fama e
estatuto. É possível que Bárbara fosse
sua filha ilegítima, pois só assim se
explica o facto de ele lhe ter dado não
só o seu apelido, mas também uma
educação cuidada e o acesso aos círculos
musicais e círculos mais requintados da
época.
CAVALLI E A "ACADEMIA"
Desde muito jovem que Bárbara se
distinguia pela sua bela voz e Strozzi
decidiu fazer dela uma boa intérprete e
compositora. Para o efeito, fá-la
estudar com Francesco Cavalli e, a
partir dos quinze anos, permite-lhe
frequentar as reuniões da "Academia das
Uniões", um encontro de poetas e músicos
que se realiza na sua própria casa. Foi
aí que Barbara começou a apresentar as
suas composições e ganhou a fama e o
respeito de um círculo de intelectuais,
alguns dos quais lhe dedicaram vários
livros.
Com a morte de Strozzi, em
1652, Bárbara já se tinha tornado uma
grande intérprete e compositora, e pôde
continuar a sua atividade sob o
patrocínio de vários reis e
aristocratas, como Fernando II da
Áustria e a duquesa Sofia de Brunswick e
Lünebrug.
A SUA OBRA E O SEU
ESTILO
O género preferido de Bárbara
Strozzi foi a cantata, e é precisamente
nestas composições que melhor se podem
apreciar as influências técnicas de
Cavalli e Monteverdi, mas são mais
líricas do que as destes compositores e
mais inovadoras em termos de recursos
expressivos, possivelmente para melhor
se adaptarem à sua própria voz. Compôs
também árias para voz solo e madrigais.
Uma caraterística comum a todas as suas
obras é a imaginação e a vivacidade das
suas melodias, combinadas com a
sensibilidade e o humor dos seus
recitativos.
A produção conhecida
desta importante compositora inclui um
livro de madrigais para duas, três,
quatro e cinco vozes, seis livros de
cantatas e árias e o título Sacri
musicali affeti.
Publicou oito
volumes de obras, incluindo mais
cantatas do que qualquer outro
compositor do século XVII. Algumas das
suas obras foram publicadas como obras
conjuntas com as de outros músicos
notáveis da época.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
Barbara Strozzi: O Maria (Sacri Musicali Affetti, Op. 5)
Sophie Junker, soprano & Voices of Music
Uma Pequena História da Música
- Ano V• novembro 2023