Uma Pequena História da Música [2]
A música antiga no Extremo Oriente
A
tradição musical das antigas
civilizações do Extremo Oriente tem
algumas características comuns baseadas
na teoria musical chinesa, uma linguagem
criada a partir dos mesmos princípios e
instrumentos muito semelhantes, e com
base nestas semelhanças, a China, o
Japão e a Índia criaram a sua própria
música particular com as suas próprias
características.
CHINA
Desde a Antiguidade, a música
ocupou um lugar muito importante na
cultura chinesa, que considerava os seus
valores essenciais para a boa ordem e
governação das sociedades. Os primeiros
achados relacionados com o
desenvolvimento desta arte datam do ano
2000 a.C. e são sinos de bronze e
pequenos instrumentos de sopro que
denotam já um gosto refinado e uma
grande mestria no tratamento dos
materiais.
A estrutura
tradicional da música chinesa era muito
rígida. A mais antiga baseava-se em 5
notas, que mais tarde foram alargadas a
doze notas, cada uma das quais associada
a proporções de pesos e medidas. A
tradição mitológica chinesa conta que o
imperador Huang Di (também conhecido
como imperador amarelo), que reinou em
2698 e 2598 a.C., ordenou ao seu mestre
de música que percorresse o seu império
para encontrar um instrumento único.
Chegado a um vale, cortou um ramo de
bambu, soprou-o e ouviu-se um som.
Imediatamente, uma fénix macho cantou
seis notas a partir do som emitido pelo
bambu; depois, uma fénix fêmea cantou
outras seis notas diferentes. E foi a
partir destes dois conjuntos de seis
notas que se formou a escala cromática
de doze notas. Construíram-se e
afinaram-se instrumentos tendo como
referência estas notas e obtiveram-se
diferentes escalas, que serviram de base
para as composições
Os
instrumentos tradicionais chineses eram
classificados de acordo com o material
de que eram feitos, sendo os mais comuns
o gongo (isolado ou em grupo), a cítara,
o guzheng (cítara de vinte e
cinco cordas), o erhu (violino
chinês de duas cordas), os tambores
(alguns com sementes de arroz no
interior), a flauta, o oboé e o sheng
(uma gaita de boca feita de bambu, que
mais tarde chegou também ao Japão).
JAPÃO
A música japonesa antiga
era uma combinação de influências
chinesas e coreanas, interpretadas,
refinadas e aperfeiçoadas pelos
elementos característicos da cultura
japonesa, resultando num estilo clássico
muito pessoal. Entre estes, os mais
antigos eram o shomyo, um tipo de
música litúrgica budista baseada na
recitação coral de sutras, com uma
melodia simples e sem acompanhamento
instrumental, e o gagaku, que era
música de corte, executada nas
cerimónias da corte imperial. Foi também
criado um repertório especial para o
teatro, um mais popular para o teatro de
marionetas e um para as representações
kabuki, que incluía peças
musicais e de dança.
Entre os instrumentos mais
característicos contam-se: o koto,
feito de cana de bambu e treze cordas;
uma espécie de alaúde de pescoço curto
chamado biwa, que utilizavam para
acompanhar as suas narrações; o
shamisen, que é um alaúde de três
cordas utilizado principalmente na
música folclórica; o shaku-hachi,
uma flauta tradicional de meditação; e o
taiko, ou tambor tradicional
japonês.
ÍNDIA
O traço mais
característico da música do
subcontinente indiano é a sua
diversidade e variedade, tal como são
diversas e variadas as religiões, etnias
e culturas dos grupos humanos que o
habitam. Mas há um elemento comum em
todas elas: a música é uma arte
essencialmente divina, criada pelos
deuses e revelada à humanidade. As
diferenças são evidentes na forma como a
música é feita nos territórios do norte
e do sul. Nestes territórios, mantém-se
a tradição pré-histórica védica em que
se baseia o hinduísmo, enquanto no
norte, a influência mais importante é a
islâmica.
Os
instrumentos mais característicos são os
instrumentos de cordas, como a cítara
(alaúde de braço longo), a tambura
ou tina (com seis cordas e duas cabaças
como caixa de ressonância), o sarangi
(com um arco e quatro cordas), a
sarinda (um violino de três cordas),
o rebab (com quatro cordas e um
plectro) e o kin (uma espécie de
harpa).
Adaptado a partir de um texto de J. L. Iriarte
O Guzheng, é um instrumento
de cordas que faz parte da família da
cítara. É o percursor do koto japonês, do
kayagum coreano, do yatag
mongaliano e o dan
tranh vietnamita. É um dos mais populares
instrumentos desde tempos antigos e é
considerado um dos principais intrumentos na
música tradicional chinesa. Desde meados do
século XIX, o reportório de Guzheng tem
crescido e envolvido um aumento da
complexidade técnica.
O Guzheng é
construído por uma caixa de madeira
proporcionando um som especial, e cordas
curvadas acentes em pontes móveis ao longo
do comprimento do instrumento com a
finalidade de poderem ser ajustadas. No
ínicio dos tempos o Guzheng era constituído
por 5 cordas, aumentando mais tarde para 12
e 13 cordas na dinastia de Tang (618 - 907
a.C.) e 16 cordas nas dinastias de Song e
Ming (secs. X e XV). Actualmente o Guzheng
tem, normalmente, entre 21 e 25 cordas.
Uma Pequena História da Música
- n.49• junho 2023