Uma Pequena História da Música
A música na Antiguidade
- PDF 01/06/2023
A música é
a arte dos sons e, como tal, uma arte
que o homem primitivo praticou desde o
início, como o demonstram as
representações de músicos e instrumentos
em pinturas e estatuetas, bem como as
informações encontradas em alguns
documentos escritos. Assim, a música na
Antiguidade era considerada como estando
ligada às divindades e tendo um carácter
ritual.
As pinturas
rupestres e os achados arqueológicos
provam que o homem primitivo criava
música com a sua própria voz e com a
ajuda de instrumentos rudimentares
feitos de ossos de animais, canas,
troncos, conchas, etc. Há provas de que,
por volta de 3000 a.C., a Suméria já
dispunha de instrumentos de percussão e
de cordas (lira e harpa). Os antigos
cânticos de culto eram antes lamentações
sobre textos poéticos.
MESOPOTÂMIA
Esta ligação entre música
e religião já se reflete nos
baixos-relevos sumérios (3000-2000
a.C.). Nos primórdios desta civilização,
os guardiões desta música eram os
sacerdotes, os astrólogos e os
matemáticos, mas pouco a pouco, para
além deste aspeto religioso e mágico, a
música entrou também na vida secular e
tornou-se um elemento essencial das
festas e dos banquetes. Os povos da
Mesopotâmia tinham grande estima pelos
músicos e dispunham de um grande número
de instrumentos fabricados com uma
grande variedade de materiais. Os mais
utilizados eram, sem dúvida, os
instrumentos de percussão, entre os
quais uma espécie de castanhola de
madeira, osso ou marfim, que reproduzia
a forma das mãos e dos pés humanos e que
soava quando era tocada uma contra a
outra.
EGIPTO
Tal como os
habitantes da Mesopotâmia, os egípcios
atribuíam uma origem divina à música e,
como tal, os seus estudiosos eram os
sacerdotes. A música estava presente nas
cerimónias religiosas dos templos, mas
também noutras atividades da vida
quotidiana, como nas sementeiras e nas
vindimas. Nestes casos, a música e a
dança tinham um significado mágico e
propiciatório de melhores colheitas. Os
músicos e os dançarinos animavam os
banquetes nobres e acompanhavam os
guerreiros nas batalhas para solicitar o
favor dos deuses. Os egípcios tinham à
sua disposição uma grande variedade de
instrumentos. Alguns dos mais comuns
eram a harpa, a lira, a flauta de bisel,
a chirimía dupla (instrumento de sopro
feito de madeira), as trompas, um
instrumento de cordas semelhante ao
banjo, e o instrumento de percussão, a
sistra, que se assemelha a um chocalho,
com uma estrutura de madeira em forma de
U e barras de metal com discos
metálicos.
GRÉCIA
Os gregos
adoravam a música e foram os criadores
da palavra mousiké, que engloba
tanto a música como a poesia e a dança.
Atribuíram-lhe um papel tão importante
que fazia parte dos conhecimentos
ensinados nas escolas. Os filósofos
dedicaram uma atenção especial ao seu
estudo, e é das suas conceções que
derivam as bases do desenvolvimento
musical posterior na Europa Ocidental,
embora as opiniões e abordagens destes
filósofos fossem muito diversas. Assim,
os pitagóricos centravam-se no seu
aspeto abstrato e teórico; Platão também
elogiava o seu estudo teórico, mas
condenava a sua utilização como fonte de
prazer; por seu lado, Aristóteles não
condenava o aspeto sensual da música,
mas desprezava o trabalho do
instrumentista. Tendo em conta o que
precede, compreende-se que os gregos
preferissem a música acompanhada de um
texto poético cantado, que provocava a
reflexão, à música puramente
instrumental, que, embora agradável, era
considerada irracional. Os instrumentos
mais utilizados eram a harpa, a lira, a
cítara (um tipo de lira maior), a
flauta, o aulo (um tipo de flauta
dupla), a sistra, os címbalos e os
pratos.
ROMA
Foi a herdeira e
transmissora da cultura grega para o
Ocidente também no domínio da música. O
seu contributo para o desenvolvimento
musical não foi tanto de substância como
de natureza estética, valorizando
aspectos como o virtuosismo, as
conotações dramáticas ou humorísticas. A
música acompanhava os espetáculos
teatrais e acrobáticos, bem como as
grandes festas, sendo também comuns os
concertos instrumentais organizados nas
mansões dos nobres.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
O aulo era um instrumento de sopro da Grécia antiga, frequentemente representado na arte e também atestado pela arqueologia. Embora o aulo seja frequentemente traduzido como "flauta" ou "flauta dupla", era geralmente um instrumento de palheta dupla, e o seu som – descrito como "penetrante, insistente e excitante" – era mais semelhante ao das gaitas-de-foles.
Uma Pequena História da Música
- n.49• junho 2023