Uma Pequena História da Música [22]

Escola de Veneza: Cavalli e Cesti

O pai da ópera italiana, Claudio Monteverdi, encontrou na escola veneziana um digno discípulo e sucessor na figura de Francesco Cavalli. Contemporâneo deste último e partilhando os seus triunfos, foi Antonio Cesti.

A contribuição de autores como Cavali e Cesti, e de muitos outros compositores, ajudou a criar um género único com características próprias, a chamada "ópera italiana".

FRANCESCO CAVALLI (1602-1676)
Como outros grandes compositores da época, Cavalli revelou desde cedo um talento musical invulgar, que no seu caso era acompanhado por uma voz dotada. Estas qualidades facilitaram a sua entrada na capela de São Marcos, em Veneza, onde se tornou aluno de Monteverdi e conheceu outros músicos da época. Trabalhou como organista em San Giovanni e Paolo e Santa Caterina, como empregado assalariado de um nobre veneziano e como músico e cantor em festas de igreja. Estas condições desfavoráveis para a composição melhoraram relativamente quando contraiu um casamento vantajoso.
Cavalli era um músico com um temperamento apaixonado e uma personalidade muito forte, como as suas obras reflectem. Estreou a sua primeira ópera em 1639 e, desde essa data até 1666, a sua produção operática foi abundante. Entre as suas obras contam-se: Os Amores de Apolo e Dafne (1640), Dido (1641), O Ormindo (1644), Jasão (1649), Calisto (1651), Statira, Princesa da Pérsia (1655) e Hércules Apaixonado (1662), algumas delas com libretos de Busenello, um dos impulsionadores da ópera histórica.
Em todas as suas óperas, e sobretudo nas últimas, o compositor demonstra um grande interesse pela profundidade dramática e pelo domínio das variações rítmicas; soube também tirar partido de todas as possibilidades de interpretação melódica oferecidas pelo recitativo para acentuar o dramatismo exigido por certas partes da obra. Para além do recitativo, concentrou também estes recursos expressivos na ária. Em contrapartida, nem o coro nem a orquestra desempenham um papel importante nas suas óperas. Todos estes recursos são particularmente evidentes em Il Giasone, que está repleta de cenas cómicas e recitativos.

ANTONIO CESTI (1623-1669)
Contemporâneo de Cavalli, foi o outro compositor mais proeminente da Escola de Veneza, embora o seu estilo não possa ser considerado estritamente veneziano. Embora tenha utilizado alguns dos procedimentos composicionais de Monteverdi e Cavalli, soube combiná-los com os da cantata romano-napolitana, conseguindo óperas mais elaboradas do que era comum na época. O seu objetivo era emocionar o público, entusiasmá-lo com a música e manter os seus olhos em cena. Para isso, utilizou uma grande orquestra, numerosos coros e dispositivos mecânicos para conseguir efeitos espectaculares. Esta forma de expressão, juntamente com a primazia da ária sobre o recitativo, fez das suas óperas autênticos espectáculos de grande beleza musical e visual, mas com menor força dramática.
E não há dúvida de que Cesti atingiu o seu objetivo de encantar o público, pois as suas óperas, das quais escreveu mais de uma centena, foram das mais populares. Por exemplo, Orontea, representada pela primeira vez em 1649, foi representada até dezassete vezes nos trinta anos seguintes. Outras que obtiveram grande sucesso foram La Dori (1663) e A Maçã de Ouro (1667), representada por ocasião do casamento do Imperador Leopoldo I de Habsburgo.
A partir do estilo desenvolvido por Cesti e das primeiras produções da escola napolitana, desapareceu a variedade de estilos que até então dominava a produção operática e estabeleceu-se um estilo único e unificado do género.
Para além dos já referidos, muitos outros compositores se destacaram no panorama da música barroca italiana do século XVII. É o caso de Luigi Rossi, que ganhou merecida fama em toda a Europa pelas suas cantatas de câmara, mas que também cultivou o género operático, e foi precisamente isso que o tornou conhecido em França.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L. Iriarte

Mezzo-soprano Anna Dowsley sings 'Intorno all'idol mio' by Antonio Cesti from the opera, Orontea, presented by Pinchgut Opera.


Uma Pequena História da Música

Índice [ veja aqui...]