Uma Pequena História da Música [21]
Monteverdi
Não se pode começar uma resenha
dos principais compositores do período
barroco sem mencionar um dos mais
destacados músicos da transição entre o
renascimento e a nova estética musical,
Claudio Monteverdi (1567-1643), autor da
primeira ópera considerada como tal.
Monteverdi nasceu em Cremona e parece
ter tido uma infância difícil, pois a
sua mãe morreu quando ele tinha nove
anos. Recebeu uma boa educação musical
do mestre de capela da catedral de
Cremona. Aos quinze anos publicou a sua
primeira obra, um motete, e aos
dezasseis a primeira das oito colecções
de madrigais que escreverá ao longo da
sua vida, nas quais já se pode apreciar
o seu domínio da técnica.
Aos
dezassete anos, entrou ao serviço do
poderoso Vincenzo Gonzaga, duque de
Mântua, como cantor e gambista (tocador
de viola de gamba), e nessa rica corte
ducal continuou a sua formação com o
compositor franco-flamengo Giaches de
Wert. A pouco e pouco foi subindo na
hierarquia, acompanhando o duque em
algumas das suas expedições militares na
Europa. Quando de Wert morreu em 1596,
Monteverdi tomou o seu lugar como
maestro di cappella, cargo que ocupou
até 1601.
A FÁBULA DE ORFEO
Em
1607, Monteverdi estreou La favola
d'Orfeo, um belo drama musical
considerado a primeira ópera barroca,
com textos de outro músico, Alessandro
Striggio. Embora alguns anos antes
Jacopo Peri
já tivesse composto outra obra
operática, a ópera de Monteverdi
continha todos os ingredientes que
acabariam por consolidar o novo género,
como a integração da música e do texto e
a utilização de um maior número de
instrumentos do que o habitual, que
serviam não só para acompanhar os
cantores, mas também para representar o
carácter dos protagonistas e estabelecer
a atmosfera das diferentes cenas.
Orfeo foi tão bem recebido que, no ano
seguinte, o músico estreou outra ópera,
L'Arianna, da qual apenas sobreviveu o
trecho "Lamento". Com ela, consolidou a
sua fama como compositor deste novo
género.
UM SONHO, VENEZA
Monteverdi aspirava a um cargo bem
remunerado numa igreja poderosa de Roma
ou de Veneza, e foi com esse objetivo
que, em 1610, compôs o famoso Vespro
della Beata Virgine, combinando a
polifonia vocal típica do final do
Renascimento com as novas técnicas
barrocas.
A morte do Duque de Mântua,
em 1612, permitiu ao músico realizar o
seu desejo de deixar o serviço dos
Gonzaga e procurar outro posto mais de
acordo com as suas aspirações. E os seus
sonhos foram realizados, pois em 1613
foi nomeado maestro di cappella da
Basílica de São Marcos em Veneza, um dos
postos mais importantes da Itália da
época, e mais tarde maestro di musica da
República de Veneza.
Durante este
período, estabeleceu gradualmente os
padrões do coro, encomendou um novo
repertório aos principais compositores
da época e compôs ele próprio um
conjunto de obras sacras que o tornaram
famoso em toda a Europa.
OS SEUS
ÚLTIMOS ANOS
Em 1637, foi inaugurada
a primeira casa de ópera em Veneza e
Monteverdi, sem dúvida estimulado por
esse facto, compôs uma nova série de
óperas, das quais apenas sobreviveram
O
Regresso de Ulisses à Pátria e A
Coroação de Popeia. São composições mais
completas e com maior força dramática do
que o seu Orfeo.
O seu maior
compêndio de música sacra foi publicado
em 1640: Selva Morale e Spirituale, no
qual se reflecte bem toda a gama de
estilos cultivados por este compositor.
Monteverdi morreu em 1643, em Veneza,
depois de ter sido um dos principais
protagonistas de um momento crucial na
história da música, a transição do
Renascimento para o Barroco.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
Claudio Monteverdi: Zefiro Torna , oh di soavi accenti
(N.Rial - P.Jaroussky) (L'arpeggiata Ensemble)
Uma Pequena História da Música
- Ano V• novembro 2023