Uma Pequena História da Música [19]

Oratórios e cantatas

Embora ofuscadas pelo sucesso da ópera, as outras duas novas formas de música vocal barroca, o oratório e a cantata, também adoptaram a estética caraterística do período, com composições de alto teor dramático.

Com menos frequência do que no Renascimento, os compositores barrocos continuam a compor para coros distribuídos espacialmente em duas ou mais formações e, ao contrário dos seus antecessores, reduzem os coros a um número razoável, geralmente dois. No Barroco, as formas musicais evoluem, mas nada se perde. O Barroco trouxe três novas formas musicais de interesse para a música coral: a ópera, já abordada no capítulo anterior, e o oratório e a cantata, que serão desenvolvidas de seguida.

O ORATÓRIO EM ITÁLIA
Paralelamente ao desenvolvimento da ópera, que é um género de música secular, a escola florentina desenvolveu também uma outra forma vocal dramática, mas inspirada em textos religiosos.
Esta nova forma de música sacra era o oratório. Embora tivesse muitas semelhanças com a ópera – como o seu carácter dramático e a combinação de recitativos, árias, coros e interlúdios – o oratório diferia desta por não ser encenado, o libreto basear-se em textos bíblicos, ter um narrador que explicava a ação e ser apresentado num local sagrado.
O primeiro oratório conhecido parece ter sido Rappresentazione di anima e di corpo, de Cavalieri, estreado em 1600 no oratório romano de Santa Maria Vallicella.
Embora a obra incluísse elementos inovadores semelhantes aos experimentados na música secular com a ópera, muitos autores consideram esta obra apenas como uma aproximação ao estilo recitativo.
A verdade é que o oratório demorou muito tempo a tomar forma como um novo género e até a adotar o nome pelo qual é hoje conhecido. Só a partir de 1640 é que assume características próprias e dá origem a duas correntes diferenciadas, entre outras coisas, pela língua em que foram escritas: o oratório sacro, escrito em latim e inspirado no moteto, cujo maior representante em Itália foi Giacomo Carissimi, e o oratório vernáculo, escrito em língua vulgar e que conheceu um maior desenvolvimento a partir do último quartel do século XVII e sobretudo no século XVIII, com compositores tão importantes como Scarlatti e Handel.

O ORATÓRIO NO RESTO DA EUROPA
A sua introdução em França é muito tardia e deve-se aos esforços de um discípulo de Carissimi, Marc-Antoine Charpentier (c. 1634-1704). Compôs trinta oratórios que se diferenciam dos italianos por darem maior importância à parte instrumental. Em Inglaterra, os acontecimentos políticos provocaram o declínio da música vocal, que tinha tido tanto sucesso no período anterior e, quando esta foi retomada, a forma preferida foi o hino, uma variação do motete. O oratório só chegou no século XVIII, mas a partir dessa altura, sob a influência de Handel, teve um desenvolvimento extraordinário.
O caso da música vocal religiosa na Alemanha merece um estudo separado, tanto pela sua contribuição para os estilos iniciados em Itália como pelo carácter que lhes deu. Além disso, os seus compositores são pouco conhecidos fora do âmbito germânico, já que a magnificência de uma figura como Johann Sebastian Bach eclipsou a sua fama no resto da Europa.

A CANTATA
Como o seu nome indica, a cantata é "música para cantar". E uma música para cantar que se desenvolve tanto como género profano como sagrado. Se o texto for sagrado, a cantata assemelha-se à oratória, mas se for profano, a cantata assemelha-se a uma ópera.
A cantata, baseada no estilo recitativo, era uma forma descontínua para uma ou várias vozes, acompanhada de baixo contínuo; por vezes, podiam também ser acrescentadas partes instrumentais. O seu tema era muito vasto, variando de temas espirituais a líricos ou simplesmente descritivos. No final do século XVI, a cantata de camara tornou-se uma composição para duas ou três vozes. Composta especialmente para as igrejas, esta forma era conhecida como cantata da Chiesa (cantata de igreja).
Durante a sua primeira fase de desenvolvimento, Roma parece ter sido o principal e mais influente foco de produção, com dois compositores proeminentes: Rossi e o já mencionado Carissimi. Monteverdi e outros compositores introduziram-na em Veneza e, mais tarde, passou para Bolonha e Nápoles, onde atingiu grande estatura com figuras como Stradella e Scarlatti.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L. Iriarte

La Giuditta [Oratorio] de Alessandro Scarlatti
Cappella Neapolitana conducted by Antonio Florio
Giuseppina Perna, Giuditta; Ester Facchini, Ozia; Aurelio Schiavoni, Oloferne; Leopoldo Punziano, Capitano; Giuseppe Naviglio, Sacerdote


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