Uma Pequena História da Música [18]
Ópera: género barroco por excelência
O Barroco deu origem a três
novas formas de música vocal: a ópera, o
oratório e a cantata, todos originários
de Itália. Mas, das três, foi a ópera
que se tornou o género barroco por
excelência.
Nenhuma outra forma musical foi capaz de
exprimir tão bem o espírito barroco por
excelência como a ópera. Esta forma de
música profana reunia a exaltação dos
sentimentos, os temas vitais que
interessavam a todos – o amor, a vida e
a morte – e uma expressividade que era
levada ao mais alto nível através da
utilização de todos os recursos musicais
à sua disposição, como as modulações, as
dissonâncias ou os cromatismos.
AS SUAS ORIGENS
Embora já antes do
século XVIII tivessem sido
experimentadas outras fórmulas de
combinação de música, dança e cenas
teatrais, como o drama litúrgico ou as
comédias madrigais, foi só com o
nascimento da ópera, com o seu estilo
recitativo, que se consolidou este novo
género de teatro lírico.
Na cidade de
Florença, no final do século XVI, um
grupo de artistas (músicos, poetas e
intelectuais) sob o patrocínio do Conde
Bardi criou um grupo, conhecido como
Camerata Fiorentina, cujo interesse era
discutir as artes e orientar as
tendências a serem seguidas. No que diz
respeito à música, pensavam que era
necessário encontrar uma forma de
restaurar a sua capacidade de comover e
emocionar o ouvinte, capacidade que
consideravam ter-se perdido com a
polifonia renascentista. As suas
pesquisas levaram-nos a regressar às
raízes da música e do teatro gregos e a
concluir que a monodia com
acompanhamento instrumental era a base
da "nova música", de um novo estilo que
deveria combinar música, teatro, poesia
e dança. E assim nasceu a ópera.
AS PRIMEIRAS ÓPERAS
As primeiras
tentativas de criar este novo estilo
foram duas versões de Eurídice,
uma de Peri (1600) e outra de Caccini
(1603). Embora tenham sido uma novidade
no panorama musical, não chegaram a ser
verdadeiros "dramas com música". A
primeira obra em que se pode ver o
nascimento de um novo género, a ópera,
tanto do ponto de vista técnico como
estrutural, foi o Orfeo de
Monteverdi (1607). Esta obra foi o
primeiro passo para a posterior
consolidação de um género que se
estendeu gradualmente para leste, até
Veneza, e pelo centro e sul de Itália,
até Nápoles. E foi com a escola
napolitana, no final do século XVII, que
a ópera atingiu a sua maturidade.
A
partir de então, o género operático
tornou-se o grande espetáculo da música
secular, um espetáculo muito bem
recebido pelo público e pelos
compositores de todos os países
europeus, que adoptaram o modelo
italiano para as suas criações, com
exceção da França, que criou a sua
própria versão, a chamada tragédia
lírica.
PARTES DA ÓPERA
A
ópera clássica barroca começa com uma
abertura exclusivamente instrumental,
geralmente breve e que serve de
introdução à obra. A abertura é seguida
de várias partes: recitativos, árias,
coros e interlúdios. Os recitativos têm
diálogos que fazem avançar a ação e
podem ser acompanhados por baixo
contínuo a solo ou pela orquestra
completa. As árias são o verdadeiro
núcleo da ópera, onde a ação pára para
que os solistas possam exprimir os seus
sentimentos através de peças criadas
para exibir as suas vozes. Os coros são
interpretados por um grupo de
personagens. E, finalmente, os
interlúdios são partes instrumentais que
são intercaladas entre todas as
anteriores.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
L’ORFEO – CLAUDIO MONTEVERDI
Dirección
musical: Jordi Savall
Orquesta: Le
Concert Des Nations
Coro: La Capella
Reial De Catalunya
Uma Pequena História da Música
- Ano V• outubro 2023