Uma Pequena História da Música [17]
Origens da música barroca
Se tivéssemos de escolher apenas
três palavras para definir um fenómeno
tão complexo como a música barroca, elas
seriam: bombástico, dramático e procura
de contrastes. Novas formas musicais
foram estruturadas e a divulgação da
música foi alargada a uma classe social
incipiente e florescente, a burguesia.
A música barroca é movimento,
teatralidade e drama, e também expressão
mais pessoal, desligada do coletivo que
caracterizou o Renascimento. O que
durante o Renascimento tinha sido ritmo,
simetria e harmonia, deu lugar ao gosto
pelo luxo e pela monumentalidade, à
procura do excessivo, do irregular e do
estranho, criado através de um jogo de
contrastes que se tornou uma constante.
Foi durante o Barroco que se
estruturaram as grandes formas musicais
vocais e instrumentais que se mantiveram
quase inalteradas até aos nossos dias.
Instrumentos classicamente
renascentistas, como o alaúde, a viola e
o cravo, foram desaparecendo em favor de
outros que se adaptavam melhor ao modo
de expressão barroco. Para além disso, a
orquestra ganhou protagonismo e surgiram
as salas de concerto públicas.
O
BAIXO CONTÍNUO
Nesta procura de
contrastes, os compositores do início do
período barroco desenvolveram uma nova
técnica chamada "baixo contínuo". Teve a
sua origem em certos métodos colocados
em prática no século XVI, quando certas
composições corais (como os motetes)
eram acompanhadas pelo órgão através de
uma técnica que consistia em improvisar
os acordes que melhor se adaptavam à
harmonia do conjunto. Esta técnica
atingiu o seu pleno desenvolvimento nos
dois séculos seguintes e é caraterística
do período barroco, onde foi utilizada
por compositores de referência como
Bach, Handel e Vivaldi. Neste período
atingiu um grau de maturidade
excecional, sendo transferida para o
domínio da música de câmara e
orquestral.
Basicamente, a ideia era
colocar uma ou mais partes a solo em
primeiro plano, apoiadas em segundo
plano por um acompanhamento instrumental
monódico, o baixo contínuo. Desta forma,
criavam-se dois planos musicais
distintos: o superior, que era a linha
melódica expressiva, e o inferior, que
era o suporte harmónico. Esta técnica do
baixo contínuo foi gradualmente
abandonada a partir de 1750 para dar
lugar ao acompanhamento.
O
RECITATIVO
Outra novidade da
linguagem musical barroca foi o
desenvolvimento do estilo recitativo,
uma forma a meio caminho entre o canto e
a declamação teatral destinada a
exprimir musicalmente uma ação. Não
exprimia sentimentos, apenas narrava o
que estava a acontecer e o
acompanhamento musical era mínimo. Este
estilo recitativo tornou possível o
aparecimento de novas formas dramáticas
musicais, como a ópera e a cantata, e
influenciou outras formas existentes,
como o motete e o madrigal.
A
MÚSICA BARROCA NA SOCIEDADE
Durante o
período barroco, a música assumiu um
papel social importante em toda a
Europa. Era utilizada para a oração, mas
também estava presente nas cortes reais
e nos salões nobres, e mesmo na esfera
privada. Qualquer pessoa de qualidade
tinha de saber música ou tocar um
instrumento.
Os compositores, embora
já conhecidos como criadores
individuais, estavam dependentes da
Igreja, da realeza ou da nobreza e
tinham de fornecer novas peças para cada
serviço religioso, concerto ou festival
para que eram chamados. Assim, é
compreensível que o compositor barroco
escrevesse para um público específico,
adaptando-se aos seus gostos e
exigências, sem se preocupar em
encontrar o seu próprio estilo. Esta
tendência evoluiu, sobretudo com a
abertura das primeiras salas de concerto
públicas, no final do século XVII, o que
permitiu a uma nova classe social, a
burguesia, participar ativamente na vida
musical.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
Johann Sebastian Bach: Lute Suite No. 1, BWV 996 - V. Bourrée
por Kevin Loh
Uma Pequena História da Música
- Ano V• outubro 2023