Uma Pequena História da Música [16]

O Renascimento na Península Ibérica

A música renascentista na península Ibérica, tanto sacra como secular, tem uma caraterística muito pessoal: o domínio do sentido dramático e da expressão dos sentimentos, em oposição à construção mais intelectual que se praticava no resto da Europa. Foram figuras-chave deste período: Escobar, Morales, Guerrero e Tomás Luis de Victoria.

O Renascimento foi uma das épocas mais brilhantes da história das nações ibéricas, com um extraordinário desenvolvimento político e económico, que se reflectiu no correspondente auge das artes e da literatura, e no que ficou conhecido como a "Idade de Ouro da música" sobretudo, espanhola. Da inumerável plêiade de compositores que surgiram durante este período, destacam-se Cristóbal de Morales, Francisco Guerrero e Tomás Luis de Victoria. Em Portugal o compositor mais importante foi Pedro de Escobar. Outros houve, mas a grande maioria das suas obras não chegaram até nós, como Heliodoro de Paiva ou mesmo o grande humanista Damião de Góis, de que são conhecidas algumas obras, além de Francisco Garro, António Carreira e Filipe de Magalhães.

PEDRO DE ESCOBAR (c. 1465-1535)
Pedro de Escobar, também conhecido como Pedro do Porto, foi um importante compositor português do renascimento. O primeiro grande compositor da música portuguesa, cuja obra chegou até nós, sendo um dos primeiros e mais hábeis compositores de polifonia na Península Ibérica cujas obras sobreviveram.
São conhecidas duas missas completas de Escobar, incluindo um Requiem, o primeiro composto por um compositor ibérico. Compôs também um Magnificat, 7 motetes, 4 antífonas, 8 odes, e 18 vilancetes. A sua música era muito popular, como o provam o aparecimento de cópias das suas músicas em locais distantes. O seu motete Clamabat autem mulier Cananea foi particularmente aclamado pelos seus contemporâneos, tendo influenciado compositores posteriores.

CRISTÓBAL DE MORALES (c. 1500-1553)
Nascido em Sevilha, Morales é o mais importante compositor espanhol da primeira metade do século XVI. Depois de desenvolver a sua carreira como cantor de coro e mestre de capela em várias catedrais espanholas, em 1535 teve a oportunidade de entrar como cantor na capela papal em Roma, onde permaneceu durante dez anos. Regressou depois a Espanha e trabalhou em Toledo, Sevilha, Marchena e Málaga, onde morreu com cinquenta e três anos. Foi um compositor de grande talento e o primeiro dos compositores espanhóis a alcançar fama internacional, pois, ao contrário de outros músicos espanhóis, sempre deu grande importância à divulgação das suas criações. O seu estilo era brilhante, especialmente preocupado em realçar os matizes dramáticos do texto. A obra de Morales é quase exclusivamente de música religiosa e inclui vinte e uma missas, noventa e um motetes e uma esplêndida coleção de dezasseis magnificats.

FRANCISCO GUERRERO (c. 1527-1599)
Discípulo de Morales e pertencente, como ele, à escola andaluza, Guerrero foi um músico dotado de grande talento e um perfeito conhecedor do contraponto e das técnicas de composição do seu tempo. Antes dos trinta anos, já gozava de uma excelente reputação em Espanha e no estrangeiro, pois, tal como o seu mestre, Guerrero também compreendeu a importância da impressão das suas obras para a sua posterior difusão. A sua obra inclui dezasseis missas, cento e cinco motetos, duas paixões, trinta e quatro hinos, um ciclo de magnificats e outras composições para o ofício divino. Embora as suas obras sacras sejam as mais importantes da sua produção, devemos também mencionar as canções e as villanescas espirituais, únicos no seu género por serem escritos em espanhol.

TOMÁS LUIS DE VICTORIA (c. 1548-1611)
Foi um dos músicos mais importantes do seu século, embora os seus contemporâneos espanhóis o tenham ignorado quase por completo pelo facto de ter passado a maior parte da sua carreira em Roma. Os seus compatriotas fizeram, sem dúvida, mal em ignorá-lo, pois o estilo polifónico de Victoria era inovador e avançado, ultrapassando as fronteiras do Renascimento e tornando-se um dos precursores do incipiente Barroco.
Em Roma, foi aluno de Palestrina, a quem é frequentemente comparado pelo seu génio e técnica. A sua carreira na capital romana colocou-o em contacto com os músicos mais importantes do seu tempo e ocupou vários cargos de prestígio, como o de professor de canto no Colégio Germânico, formando toda uma geração de músicos alemães em que a influência do espanhol foi notória.
A sua obra exclusivamente religiosa totalizou cerca de 180 composições, publicadas pelo músico durante a sua vida em 15 edições, das quais as mais importantes são o Officium Hebdomadae Sanctae (1585) e o Officium defunctorum (1605). A sua produção inclui missas, motetos, salmos, magnificats e outras composições para o ofício religioso.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L. Iriarte

No pueden dormir mis ojos de Pedro de Escobar (c. 1465-1535)
Inés Alonso, soprano
Oriol Guimerá, alto
Jorge Losana, tenor
Valentín Miralles, baixo


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