Uma Pequena História da Música [12]

Thomas Tallis

Thomas Tallis (1505-1585) foi um dos maiores compositores ingleses de música religiosa do século XVI e a sua carreira ilustra na perfeição o ambiente de contínuas transformações, ditadas pelos acontecimentos históricos, que os músicos do seu tempo tiveram de enfrentar.

Tallis é registado pela primeira vez como músico em 1532, quando foi contratado como organista no priorado beneditino de Dover, saindo em 1537 para assumir o mesmo cargo na Abadia de St. Mary, em Londres. Um ano mais tarde, mudou-se para a abadia agostiniana de Holy Cross, em Waltham, onde trabalhou como organista até 1540, data em que a abadia foi encerrada por decreto de Henrique VIII sobre a dissolução dos mosteiros. Nos dois anos seguintes, continuou o seu trabalho, mas primeiro como músico leigo, na Catedral de Canterbury e depois como gentilhomme (cavalheiro) na Chapel Royal, onde, a partir de 1572, partilhou o lugar de organista com William Byrd. As capacidades de compositor que demonstrou durante as décadas de serviço na corte granjearam-lhe uma grande reputação.
Em 1575, juntamente com William Byrd, obteve da Rainha Isabel I uma patente exclusiva para imprimir e vender as suas composições musicais, embora, ao que parece, o empreendimento não tenha sido muito bem-sucedido. A sua primeira publicação foi uma compilação de trinta e quatro motetos escritos por ambos os compositores, intitulada Cantiones sacrae. O músico morreu em Greenwich em 1585.

HABILIDADE E DIPLOMACIA
Dado que a sua carreira musical atravessou os reinados de quatro monarcas sucessivos de religiões diferentes (Henrique VIII, Eduardo VI, Maria Stuart e Isabel I) e que as perturbações e perseguições religiosas eram frequentes no seu tempo, o facto de Tallis ter conseguido prosseguir a sua carreira, ter servido bem cada um destes reis e ter obtido benefícios sob a forma de bens e riquezas dos mesmos é prova da sua habilidade, tanto musical como diplomática.
Compôs principalmente música sacra, inicialmente em latim para a Igreja Católica e mais tarde em inglês após a Reforma Protestante.

A SUA OBRA COMO UM TODO
As primeiras obras conhecidas de Tallis são antífonas devocionais à Virgem Maria. Após a rutura de Henrique VIII com a Igreja Católica, as composições de Tallis tornaram-se mais sóbrias. Reflectindo as mudanças provocadas pela Reforma, o músico optou por uma linguagem sem artifícios, muito distante da praticada pelos seus antecessores e contemporâneos, embora fosse capaz de realizar brilhantes proezas técnicas. Um bom exemplo disso é o seu moteto Spem in alium, para oito coros, que revela uma grande mestria no uso do contraponto, apresentando primeiro vinte vozes, depois outras vinte com uma melodia diferente e, finalmente, combinando todas as quarenta vozes. Pensa-se que o músico compôs esta obra por ocasião do quadragésimo aniversário de Isabel I, em 1573.
Durante o breve reinado de Maria Tudor, quando o rito católico foi restaurado, Tallis escreveu duas das suas obras mais aclamadas, Gaude gloriosa Dei Mater e a Missa de Natal Puer natus est nobis.
Com Isabel I, quando a liturgia católica foi novamente abolida e a Reforma restabelecida, o compositor aderiu à tendência puritana promovida pela rainha e escreveu, entre outras obras, nove salmos, as chamadas Lamentações do Profeta Jeremias (para o serviço pascal) e o já referido moteto Spem in alium. Como curiosidade, esta obra é mencionada numa das passagens da famosa trilogia erótica 50 Sombras de Grey, na qual, qualidades literárias à parte, a sua autora, E. L. James, faz uma excelente compilação de música clássica.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L. Iriarte

Seraphic Fire performs "Spem in alium" by Thomas Tallis
Patrick Dupre Quigley, conductor

April 28, 2023
Church of the Little Flower, Coral Gables

Seraphic Fire's performances of "Spem in alium" were generously underwritten by Daniel Perron & Jonathan Hogg. This concert was sponsored by The Clinton Family Fund, Bruce and Martha Clinton; and William Jaume.


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