Uma Pequena História da Música [9]

Mestres franco-flamengos
do século XV

Como já foi referido, a música do século XV, sem ser totalmente renascentista, estava já a iniciar um período de mudança e a lançar as novas bases que seriam claramente moldadas no século seguinte. Entre os seus compositores, destacam-se Dufay, Binchois e Ockeghem.

A polifonia dominou a paisagem musical do século XV. O repertório religioso era representado por duas formas musicais: a missa e o motete.
Na música secular, é a canção polifónica que atinge o seu auge. É uma canção mais íntima, refinada e culta do que a do século anterior, uma canção que, embora não despreze a narração de acontecimentos históricos, prefere inspirar-se em assuntos corteses e é um reflexo fiel do estilo de vida e da pompa das cortes reais. A forma musical preferida é o rondó.

GUILLAUME DUFAY (1400-1474)
Este compositor franco-flamengo foi uma figura decisiva no estabelecimento do estilo harmónico renascentista. Não se sabe ao certo o seu local de nascimento, mas sabe-se que foi educado em Cambrai, onde foi membro do coro da catedral. Os seus dotes musicais atraíram a atenção do bispo, que se encarregou de lhe dar uma boa educação musical com vários mestres. Já adulto, viveu e trabalhou em várias cortes europeias (Roma com o Papa, Saboia, Florença, Este, Ferrara, Borgonha), até se estabelecer finalmente em Cambrai, quando já era um compositor e músico de renome.
O seu estilo musical, fruto de influências diversas, combina a tradição francesa do período tardio da Ars Nova com o estilo renascentista incipiente que encontrou durante as suas estadias em Itália. As suas composições mais importantes incluem missas, motetos e canções polifónicas. Nas missas, alcançou maior originalidade e foi o primeiro compositor a utilizar nelas temas seculares (por exemplo, em L'homme armê), prática que mais tarde se tornaria comum. As suas composições mais célebres são as canções polifónicas, muitas vezes escritas a três vozes, mas com uma grande variedade de pormenores a ornamentar cada peça.

GILLES BINCHOIS (1400-1460)
Este compositor flamengo é considerado um dos melhores melodistas do século XV. A sua arte íntima e fresca e a sua grande fexibilidade melódica colocam-no entre os principais músicos do seu tempo. Embora tenha escrito numerosas peças de música religiosa, a sua fama deve-se sobretudo às suas canções, das quais compôs cinquenta e cinco e com as quais lançou as bases do chamado estilo "borgonhês".
Binchois escreveu principalmente música de corte, canções de amor e de cavalaria, que era a música preferida dos duques de Borgonha, o que o tornou muito estimado por eles. Considerado, juntamente com John Dunstable e Guillaume Dufay, um dos pilares da música do século XV, ultrapassou-os em termos de inventividade melódica, mas manteve-se mais conservador do que os seus ilustres colegas. Quando faleceu, foi enterrado na igreja de Soignies a 20 de setembro de 1460.

JOHANNES OCKEGHEM (1410-1497)
Foi, sem dúvida, este compositor franco-flamengo que atingiu os maiores patamares de expressividade melódica. Embora não tenha sido um revolucionário, também não pode ser considerado um tradicionalista rígido; estava consciente das novas mudanças que tinham surgido e utilizou-as nas suas composições, que têm uma sensibilidade muito de acordo com os gostos modernos. É sobretudo nas suas criações de música sacra que melhor se detecta a sua amplitude melódica caraterística: linhas longas e flutuantes que englobam frequentemente todas as vozes de uma peça. Para tal, é necessário não só imaginação musical, mas também talento e engenho, de modo a garantir o carácter de uma peça "bem elaborada".
Nas suas composições de música secular, reflecte a tradição borgonhesa e, tal como na música sacra, utiliza as longas linhas flutuantes para as várias vozes, empregando várias das novas técnicas para criar uma "pintura" sonora expressiva de grande beleza. A emoção contida, profunda ou melancólica, expressa numa linguagem hábil e variada, é a marca deste músico respeitado e influente.

Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L. Iriarte

Missa sine nomine: Kyrie
℗ 1996 Sono Luminus
Choir: Capella Alamire
Conductor: Peter Urquhart
Composer: Johannes Ockeghem (1410-1497)


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