Uma Pequena História da Música [7]
Guillaume de Machaut
Guillaume de Machaut (c.
1300-1377) é considerado o criador mais
influente e prolífico do século XIV,
tanto na poesia como na música, e é
também o principal representante da Ars
Nova, com composições musicais que
abrangem todas as formas habituais da
época.
A vida
deste prolífico compositor começou por
volta de 1300 no norte de França, na
região de Champagne; recebeu uma
educação religiosa perto de Rheims e,
aos vinte anos, tomou o hábito. Três
anos mais tarde, em 1323, entrou ao
serviço de João I, conde do Luxemburgo e
rei da Boémia, como secretário e
permaneceu com ele até 1346,
acompanhando-o frequentemente nas suas
viagens e expedições militares pela
Europa. Quando o rei morreu na batalha
de Crécy, Machaut entrou ao serviço de
outros monarcas e aristocratas, como o
duque de Berry e Carlos V de França.
Já em 1340, Guillaume de Machaut tinha
fixado residência em Rheims e foi aí,
sem abandonar o seu trabalho de
secretário, que escreveu a maior parte
dos seus poemas e composições musicais:
vinte e três motetos, uma missa a quatro
vozes, 235 baladas, setenta e seis
rondos, trinta e nove virelais, vinte e
quatro lays, dez endechas, sete canções
reais e um hoquetus duplo para três
vozes. Morreu em
Reims em 1377.
MÚSICA RELIGIOSA E SECULAR
A mais
antiga das suas composições conhecidas é
um motete escrito em 1324, dedicado ao
arcebispo de Rheims. Desde então,
Guillaume de Machaut nunca se afastou da
vanguarda, foi um dos primeiros
compositores a utilizar ritmos
sincopados e esteve na vanguarda da
experimentação rítmica, tanto na música
religiosa como na secular.
As
composições vocais de Machaut, criadas
para uma vasta gama de vozes, apresentam
também características inovadoras, como
a importância da parte vocal superior e
as entradas sucessivas das vozes.
A
maioria dos seus motetos seguiu a
estrutura tradicional, embora se note
uma certa preferência por temas
seculares e um uso muito frequente do
hoquetus, que consiste na partilha de
uma linha melódica entre duas vozes.
Apesar deste gosto pelo hoquetus, apenas
deu este nome a uma das suas
composições, Hoquetus David, uma
peça de música puramente instrumental
para três vozes.
As composições
seculares incluem baladas, rondos e
virelais, nos quais empregou tendências
características da Ars Nova, como a
métrica binária, que muito influenciou
os seus sucessores.
A MISSA DE
NOSSA SENHORA
Mas, sem dúvida, a mais
conhecida da vasta obra de Machaut é a
sua Messe Nostre Dame, que
compreende os cinco componentes do
Ordinário da Missa: Kyrie, Gloria,
Credo, Sanctus e Agnus Dei, seguidos da
peça final Ite missa est. Às três vozes
que eram habituais nas obras polifónicas
da época, Machaut acrescentou uma quarta
voz para contratenor; pela primeira vez,
as cinco são obra do mesmo compositor.
Mas essa não é a única caraterística
marcante dessa obra a quatro vozes, pois
ele também incluiu técnicas rítmicas
inovadoras que a tornaram um verdadeiro
modelo de contraponto medieval. Não é
possível saber ao certo como a obra foi
executada, mas é muito provável que
todas as vozes tenham sido dobradas por
instrumentos. Esta tese é apoiada pelo
estilo melódico do contratenor, pela
presença de pequenos interlúdios no
Glória e no Credo para tenor e
contratenor, bem como pela ausência de
texto para esta voz nalgumas das versões
manuscritas da missa. Este facto abre
também a possibilidade de estas vozes
terem sido executadas exclusivamente por
instrumentos, pelo menos durante alguns
episódios da obra.
Esta missa, criada
entre 1349 e 1363, foi a maior obra
musical de Machaut e também a única de
carácter exclusivamente litúrgico.
Adaptado por Francisco Gil,
A partir de um texto de J. L.
Iriarte
Missa de Notre Dame de Guillaume de Machaut, cantada pelo Ensemble Gilles Binchois, com direção de Dominique Vellard.
Uma Pequena História da Música
- Ano V• agosto 2023