Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

Secura

Ocorreram em março marçagão manhãs de inverno e tardes de verão? Não. Houve em abril águas mil? Também não. Está a ser maio o mês dos trovões? Até agora, não. Já atingiram as reservas aquíferas das barragens algarvias preocupantes indicadores? Sim…!

É por isso que volto a abordar o risco de seca severa e extrema que, recorrentemente, paira sobre a região algarvia.

Sem perspetivas de umas boas chuvadas nas próximas semanas, lá voltaremos a adotar medidas de contenção, que apenas podem atenuar (adiar, na verdade) esta míngua de proporções cada vez mais preocupantes, através da redução das regas nos espaços verdes, do reaproveitamento de águas residuais para usos não potáveis (por exemplo, na lavagem de ruas e de contentores) e da promoção de campanhas de sensibilização para a necessidade do uso racional da água, a que certos iluminados parecem incólumes e insensíveis.

Com uma disponibilidade aquífera bastante deficitária, segundo o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, as principais albufeiras e barragens da região exibem uma deprimente redução de volume em toda a linha, que as chuvas de finais do ano passado e inícios de 2023 pareciam compensar… só que estes três meses de secura ceifaram as expetativas mais otimistas.

Portanto, mentalizemo-nos desde já para mais um verão de grande carência e de medidas draconianas, que não deverá conhecer melhoras nos próximos tempos, ou não fosse o Algarve tão ‘geoclimaticamente’ influenciado pela corrente norte-africana.

E uma vez que esta influência não pode ser revertida, quer natural quer artificialmente, o aumento exponencial do número de visitantes/consumidores que se espera para os meses vindouros, nada preocupados com as nossas crises existencialistas, apenas virá agravar – e muito – este panorama.

Pelo sim, pelo não, vou começar desde já a colecionar uns garrafõezitos de água, antes que os especuladores entrem em cena.

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