à Deriva
Fernando Vieira
Secura
- Partilhar 15/05/2023
Ocorreram em março
marçagão manhãs de inverno e tardes de verão? Não.
Houve em abril águas mil? Também não. Está a ser
maio o mês dos trovões? Até agora, não. Já atingiram
as reservas aquíferas das barragens algarvias
preocupantes indicadores? Sim…!
É por isso
que volto a abordar o risco de seca severa e extrema
que, recorrentemente, paira sobre a região algarvia.
Sem perspetivas de umas boas chuvadas nas
próximas semanas, lá voltaremos a adotar medidas de
contenção, que apenas podem atenuar (adiar, na
verdade) esta míngua de proporções cada vez mais
preocupantes, através da redução das regas nos
espaços verdes, do reaproveitamento de águas
residuais para usos não potáveis (por exemplo, na
lavagem de ruas e de contentores) e da promoção de
campanhas de sensibilização para a necessidade do
uso racional da água, a que certos iluminados
parecem incólumes e insensíveis.
Com uma
disponibilidade aquífera bastante deficitária,
segundo o Sistema Nacional de Informação de Recursos
Hídricos, as principais albufeiras e barragens da
região exibem uma deprimente redução de
volume em toda a linha, que as chuvas de finais do
ano passado e inícios de 2023 pareciam compensar… só
que estes três meses de secura ceifaram as
expetativas mais otimistas.
Portanto, mentalizemo-nos desde já para mais um
verão de grande carência e de medidas draconianas,
que não deverá conhecer melhoras nos próximos
tempos, ou não fosse o Algarve tão
‘geoclimaticamente’ influenciado pela corrente
norte-africana.
E uma vez que esta influência
não pode ser revertida, quer natural quer
artificialmente, o aumento exponencial do número de
visitantes/consumidores que se espera para os meses
vindouros, nada preocupados com as nossas crises
existencialistas, apenas virá agravar – e muito –
este panorama.
Pelo sim, pelo não, vou
começar desde já a colecionar uns garrafõezitos de
água, antes que os especuladores entrem em cena.
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- n.48 • maio 2023