à Deriva
Fernando Vieira
Profissão: nadador-salvador
- Partilhar 12/04/2023
Se há uma atividade que
associo imediatamente à sazonalidade da indústria
turística algarvia, com tudo o que isso tem de
periclitante, essa atividade é a de
nadador-salvador, bastante dependente da época
balnear e dos critérios – tantas vezes
inconfessáveis – dos concessionários que servem.
Não me surpreende, portanto, a recente notícia
de que os concessionários de praia do Algarve estão
preocupados com a falta de nadadores-salvadores para
a época balnear que se avizinha, tão pouco atrativa
é essa função, quer em termos monetários quer ao
nível das condições de trabalho.
Alegadamente
para suprir essa lacuna, o presidente da Associação
dos Industriais e Similares Concessionários das
Praias da Orla Marítima do Algarve, Artur Simão,
veio a público defender que a exigência de dois
nadadores-salvadores por concessão seja reduzida em
períodos de menor afluxo.
Segundo o
responsável, “fora da época balnear, para qualquer
coisa abrir, tem de funcionar com dois
nadadores-salvadores. Neste momento, em que as
coisas não são rentáveis, seria de bom-tom ter só um
nadador-salvador. Várias concessões, se calhar,
abriam e as praias já tinham, em determinadas
alturas, um nadador-salvador. É melhor ter um do que
não ter nenhum”, afirmou à Lusa.
Na minha
opinião, esta postura até faz sentido, ao colocar em
causa uma daquelas normas e regras decididas por
quem está a leste da realidade, legislando sobre
matérias das quais não percebe patavina.
Uma
coisa é certa, a época balnear de 2023 está à porta
(arranca a 15 de maio em Albufeira e a 1 de junho no
resto da região) e os concessionários já se começam
a deparar com o recorrente problema da exiguidade de
pessoas dispostas a garantir a segurança no mar
fronteiro aos areais que exploram.
E se não
temos um levantamento apurado e atual sobre o número
de nadadores-salvadores necessários para suprir as
concessões autorizadas nas praias algarvias, também
escasseia gente devidamente formada, o que leva o
mercado a valer-se de imigrantes, sobretudo
brasileiros.
Tudo isto porque não há uma
aposta, estratégica e séria, na preparação de
pessoas capacitadas para acudir aos sinistrados nas
águas desta região, extremamente dependente do
turismo de sol e mar.
Essa aposta, penso eu,
deveria ser acompanhada por garantias e incentivos à
profissionalização do nadador-salvador, cujas
carências continuam a ser supridas por jovens
estudantes em tempo de férias, ou por outros
semi-voluntários que passados seis meses (ou menos…)
caem no desemprego, alimentando o nefasto fenómeno
da sazonalidade, tão pernicioso para o tecido social
algarvio.
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- n.47 • abril 2023