Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

Pouca-terra, pouca-terra

Exatamente um século após a conclusão da Linha do Algarve, que une de comboio Vila Real de Santo António a Lagos, eis que avança a respetiva eletrificação, há muito reclamada.

Velha reivindicação dos algarvios, finalmente a empresa Infraestruturas do Algarve meteu mãos à obra, recorrendo para o efeito a fundos europeus, prevendo-se que o derradeiro troço (Tunes-Lagos) esteja operacional lá para finais de 2024.

Desenvolvido no âmbito do programa de expansão e modernização da Rede Ferroviária Nacional, o investimento está orçado em cerca de 80 milhões de euros e engloba a eletrificação, a instalação de novos sistemas de sinalização e de telecomunicações ferroviárias, a colocação de sistemas de informação ao público em todas as estações e a supressão de passagens de nível, esses nefastos pontos negros que inúmeras vidas ceifaram e tantos transtornos causam.

A partir do momento em que a futura infraestrutura de transporte público entrar em atividade, será viável a circulação de comboios de tração elétrica, mais modernos e ambientalmente sustentáveis, possibilitando a redução do tempo de percurso dos serviços regionais até um máximo de 25 minutos na ligação de Lagos a Vila Real de Santo António, assim como acesso direto nos trajetos de longo curso, sem necessidade de transbordos, o que representará uma pequena mais-valia para quantos recorrem à CP, sejam residentes ou turistas.

Quanto ao material circulante, sobretudo no que diz respeito às composições destinadas a passageiros, tudo aponta para que sejam adquiridas ‘novas’ carruagens, maioritariamente daquelas que a Espanha está a substituir no âmbito da renovação da sua frota, prevendo-se num espaço temporal ainda demasiado vago a ligação ferroviária entre o Algarve e a Andaluzia.

Do mal, o menos, como diria a minha avozinha, que deus tenha em boa conta e recado.

Na certeza – porém - que a tão badalada região algarvia, rainha das demandas turísticas e fonte de exorbitantes receitas para o Estado, segue na cauda dos investimentos estratégicos nacionais, continuando a ver passar o comboio… só que um pouco menos lento.