
à Deriva
Fernando Vieira
Pouca-terra, pouca-terra
- Partilhar 10/01/2023
Exatamente um século após a
conclusão da Linha do Algarve, que une de comboio
Vila Real de Santo António a Lagos, eis que avança a
respetiva eletrificação, há muito reclamada.
Velha reivindicação dos algarvios, finalmente a
empresa Infraestruturas do Algarve meteu mãos à
obra, recorrendo para o efeito a fundos europeus,
prevendo-se que o derradeiro troço (Tunes-Lagos)
esteja operacional lá para finais de 2024.
Desenvolvido no âmbito do programa de expansão e
modernização da Rede Ferroviária Nacional, o
investimento está orçado em cerca de 80 milhões de
euros e engloba a eletrificação, a instalação de
novos sistemas de sinalização e de telecomunicações
ferroviárias, a colocação de sistemas de informação
ao público em todas as estações e a supressão de
passagens de nível, esses nefastos pontos negros que
inúmeras vidas ceifaram e tantos transtornos causam.
A partir do momento em que a futura
infraestrutura de transporte público entrar em
atividade, será viável a circulação de comboios de
tração elétrica, mais modernos e ambientalmente
sustentáveis, possibilitando a redução do tempo de
percurso dos serviços regionais até um máximo de 25
minutos na ligação de Lagos a Vila Real de Santo
António, assim como acesso direto nos trajetos de
longo curso, sem necessidade de transbordos, o que
representará uma pequena mais-valia para quantos
recorrem à CP, sejam residentes ou turistas.
Quanto ao material circulante, sobretudo no que diz
respeito às composições destinadas a passageiros,
tudo aponta para que sejam adquiridas ‘novas’
carruagens, maioritariamente daquelas que a Espanha
está a substituir no âmbito da renovação da sua
frota, prevendo-se num espaço temporal ainda
demasiado vago a ligação ferroviária entre o Algarve
e a Andaluzia.
Do mal, o menos, como diria a
minha avozinha, que deus tenha em boa conta e
recado.
Na certeza – porém - que a tão
badalada região algarvia, rainha das demandas
turísticas e fonte de exorbitantes receitas para o
Estado, segue na cauda dos investimentos
estratégicos nacionais, continuando a ver passar o
comboio… só que um pouco menos lento.
- n.44 • janeiro 2023