à Deriva
Fernando Vieira
O sol quando nasce (não) é para todos
- Partilhar 12/09/2022
Como se não bastassem todas
as agruras e vicissitudes que nos apoquentam no
dia-a-dia, estamos a viver uma crise energética cada
vez mais preocupante e sem solução à vista.
Receio mesmo que a componente económico/politicoide
da coisa seja até muito mais grave que a redução –
irreversível – dos recursos naturais, porque o ser
humano é aquela besta irracional que tudo leva à
frente em nome da sua ganância e egoísmo… e o resto
das espécies que habitam o terceiro calhau a contar
do sol não tem a menor capacidade de contrariar esta
alucinante queda rumo ao precipício.
Vem tudo
isto a propósito da obscena carestia das fontes
energéticas mais comuns, como eletricidade,
gasolina/gasóleo, gás natural, etecetera e tal.
Visivelmente apreensivo sobre o futuro próximo
das minhas parcas economias, comecei a matutar sobre
estratégias para atenuar o forte impacto da coisa.
Embora me tenham vindo à ideia alguns truques,
seguramente de resultados pífios, não é deles que
vos quero escrever.
É que, no meio dessa
reflexão, recordei-me de um lugar-comum que se
popularizou bastante no início da década de 1990,
quando o Algarve recebia jornadas dos Jogos Sem
Fronteiras, esse programa televisivo que juntava
representantes de localidades de vários países
europeus e que chegou a ser líder de audiências.
Outros tempos, quando a região algarvia era
promovida (com sucesso) por, alegadamente, ter 300
dias de sol por ano.
Exageros e facilitismos
à parte, o foco desse chavão fez-me lembrar o
potencial de energia solar que temos por cá, para o
bem e para o mal.
No caso que me interessa
sublinhar nesta crónica, é facto que dispomos de uma
energia renovável sem fim à vista, sustentável e
“saudável”, que pode ser explorada de forma ativa,
através de painéis fotovoltaicos, ou passiva, pois
não necessita de equipamento específico como a
orientação de um prédio para o sol, permitindo a sua
captura, conversão e distribuição.
Para além
do aproveitamento que já se verifica em casas
particulares e infraestruturas industriais, ainda de
relevância bastante residual, imaginem só o uso
generalizado da energia solar, por exemplo, nos
veículos automóveis e afins, uma alternativa que vem
merecendo crescente atenção por parte de algumas
marcas de renome, que estão a equipar carros
elétricos também com painéis solares, no sentido de
poupar energia nas viagens e recarregar baterias.
Esta apenas uma de muitas outras possibilidades,
uma vez que luz solar não nos falta – o
que falta mesmo é a vontade dos decisores em tirar
real partido deste maná dos céus.
Haja alguém
que medite nisto.
- n.40 • setembro 2022